Em entrevista ao programa Roda Viva, senador comentou os desdobramentos de meses de investigações promovidas pela CPI da Pandemia sem poupar críticas ao presidente e ao procurador-geral, Augusto Aras (Foto: Reprodução/TV Cultura)
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) participou, nesta segunda (18), do programa Roda Viva, da TV Cultura (veja aqui), e comentou os desdobramentos de meses de investigações promovidas pela CPI da Pandemia, no Senado Federal, e eventuais imputações ao presidente Jair Bolsonaro que devem ser apresentadas em seu relatório final.
Suplente da CPI, o parlamentar disse na entrevista que faltou coragem para a convocação do general Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da Repúlica, na comissão, criticou o procurador-geral, Augusto Aras, e lamentou a ‘inércia’ dos órgãos fiscalizadores do governo. Ele participou da entrevista ao lado do também senador Fabiano Contarato (Rede-ES).
Ao ser questionado pela apresentadora do programa, jornalista Vera Magalhães, sobre o indiciamento de Bolsonaro no relatório final da CPI, Alessandro Vieira elencou uma série de crimes que formam cometidos pela presidente durante a pandemia.
“Crime de epidemia, agravado pelo resultado morte, me parece muito claro. Bolsonaro apostou na imunidade de rebanho natural, gerou uma aceleração da pandemia e teve milhares de mortes. Estudos indicam que poderiam se evitar de 120 a 400 mil óbitos. Você também tem o crime de responsabilidade na medida que nega o acesso a saúde pública e o direito a vida. Tem o crime contra a humanidade devido ao número de mortes evitáveis”, explicou o senador.
Ele também citou alguns crimes de escala menor, como o desrespeito à medidas sanitárias e incitação ao crimes, quando ele propõe a população desrespeitar ordens de prefeitos e governadores.
“Acredito que o senador Renan [Calheiros, relator da CPI] e o conjunto de senadores vão buscar o meio-termo e garantindo o fato. A gente está aqui discutindo se o presidente da República merece ser condenado a 50 ou a 150 anos. Convenhamos que não faz diferença. É um criminoso do mesmo jeito”, afirmou.
Calheiros acredita que está clara e comprovada a participação de Bolsonaro em pelo menos 11 crimes ao longo do período de combate à pandemia de Covid-19, mas Alessandro Vieira aponta cinco.
“O colegiado, na sua imensa maioria, não tem formação jurídica e nem experiência em investigação. Então o que a gente fez ali foi dar uma norte. A partir daquilo ali a gente pode ter uma composição total, de mais tipificações. Por exemplo: o Fabiano [Contarato] vê configuração de genocídio [contra Bolsonaro]. Eu não vejo. E ele argumenta e mostra tecnicamente. A gente está fazendo uma coisa muito séria. Você acusar ou indiciar uma pessoa por um crime é muito sério”, disse.
Braga Netto
Alessandro Vieira foi questionado pelo repórter Cezar Feitosa sobre uma possível vista grossa a algum político durante a CPI da Pandemia. Segundo o senador, ninguém foi blindado, mas a investigação teve dificuldade em achar focos.
“A maioria dos senadores não tem experiência com investigação e alguns deles tem o temor da repercussão política de cada ato. Uma situação como a que a gente investigou, que é a situação de lobby com interferência dentro do Estado, só acontece quando tem um agente político forte que dê respaldo. Nós identificamos dois caminhos, um foi o da família do Presidente da República […] A CPI talvez não tenha feito o dever de casa em chamar essas pessoas, para mostrar para o brasileiro como as coisas acontecem no País”, avaliou.
Apesar de não identificar blindagem, para Alessandro Vieira faltou coragem para fazer o enfrentamento de Walter Braga Netto. Segundo o senador, o general não foi convocado pela decisão de alguns colegas.
Augusto Aras
O jornalista Weslley Galzo perguntou ao senador do Cidadania se há chances de Augusto Aras não investigar as denúncias contra o presidente, fazendo com que a CPI da Pandemia acabe “em pizza”. Na visão de Alessandro Vieira, há diversos caminhos para levar essas investigações para frente e não depender apenas da PGR (Procuradoria-Geral de República).
“Existem mecanismos para superar uma possível inércia do Augusto Aras, que é a ação privada subsidiária pública. Ela nunca foi utilizada nesse nível, com uma omissão do PGR. Mas quando você tem uma figura como Aras, um político vestido de Procurador-Geral da República, é preciso pensar nas alternativas”, disse o senador do Cidadania.
Ao longo de sua resposta, Alessandro Vieira lamentou a ‘inércia’ dos órgãos fiscalizadores do governo e que é obrigação dos parlamentares usar todos os recursos da constituição para lutar contra a corrupção. (Com informações da TV Cultura e agências de notícias)