É indecorosa, absurda e antidemocrática a convocação de uma manifestação por partidários do presidente da República – e pelo próprio Jair Bolsonaro – contra as instituições republicanas no dia 7 de setembro, inclusive com ameaças de invasão e depredação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional.
O Cidadania, como não poderia deixar de ser, é contra esse movimento convocado por arruaceiros e golpistas ditos conservadores que de conservadores não têm nada. Apenas agem contra a ordem, insuflando a indisciplina, a quebra de hierarquia e o motim nas nossas forças de segurança pública. Preparam o terreno para um regime autoritário.
Que Bolsonaro gostosamente se entregue a essa obscenidade faz parte de sua história, amante da ditadura e de torturadores que é. Nada disso condiz com os princípios que defendemos no Cidadania. Na verdade, os contrariam frontalmente. Quem estiver na rua em manifestação convocada por seus áulicos lá estará para defender crimes comuns e de responsabilidade praticados em série pelo capitão.
Nós, do Cidadania, a favor da vida, do emprego, dos direitos humanos, da previsibilidade econômica que gera crescimento e renda, contra a fome e a corrupção nas vacinas, estaremos na rua no dia 12 de setembro. É preciso protestar e estar atento para que o golpe não se consuma.
O que o partido defende e trabalha é pra que se abra um pedido de impeachment de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados por todos os seus crimes, inclusive os que, antecipadamente anuncia, serão cometidos no Dia da Independência do Brasil. Sobre esse evidente despautério, segue como leitura – obrigatória para os democratas- editorial desta terça-feira (24) do jornal O Estado de São Paulo.
Como se sabe, o Estadão é um veículo de comunicação de posições historicamente conservadoras. E alerta para o risco que a democracia corre neste momento no país.
Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania
Editorial O Estado de São Paulo – A convocação do golpe
24 de agosto de 2021
O objetivo das manifestações de 7 de setembro não é manifestar apoio a Jair Bolsonaro. É para invadir o STF e o Congresso
Como os próprios organizadores têm alertado, o objetivo das manifestações bolsonaristas previstas para o dia 7 de setembro não é manifestar apoio ao presidente Jair Bolsonaro. A convocação não é para expressar determinada posição política – defender, por exemplo, a aprovação da reforma administrativa ou do novo Imposto de Renda –, e sim para invadir o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso.
“Vamos entregá-los (STF e Congresso) às Forças Armadas, para que adotem as providências cabíveis”, disse um dos organizadores, que se apresenta como coronel Azim, em vídeo que circula nas redes sociais.
“Ninguém pode ir a Brasília simplesmente para passear, balançar bandeirinhas, tampouco ficar somente acampado”, advertiu o coronel Azim. No vídeo, menciona-se que a ação do dia 7 de setembro está sendo coordenada por alguns militares da reserva, com experiência em formar grupamentos de pessoas. “Vamos juntos adentrarmos no STF e no Congresso”, disse.
Segundo os organizadores, os manifestantes bolsonaristas não admitem que lhes impeçam de entrar no STF e no Congresso. “Iremos organizados e queremos entrar na paz, mas, caso haja reações, nós vamos ter que enfrentar, mesmo com a força. O que tiver lá para nos impedir nós poderemos atropelá-lo”, avisou o tal coronel Azim.
Em nenhum país civilizado, esse tipo de convocação é considerado “manifestação de pensamento” ou “expressão de opinião política”. Trata-se não apenas de incitação à violência contra as instituições – o que já configura crime –, mas de convocação para o golpe. Os organizadores estão dizendo abertamente que querem fechar o Supremo e o Congresso, entregando-os às Forças Armadas.
Desmentindo quem tenta relativizar as ameaças bolsonaristas às instituições – estaria havendo, segundo essas vozes, uma criminalização da opinião –, o coronel Azim explicitou o objetivo dos manifestantes bolsonaristas no dia 7 de setembro. “Eu não vou a lugar nenhum se não for para tomar atitude. Ficar no blá-blá-blá, no mimimi, dizendo vou fazer isso, vou fechar aquilo… isso aí não. Eu quero essa compreensão de todos os caminhoneiros”, pediu no vídeo o militar da reserva. “O mais importante é o nosso planejamento da ação. (…) Gente, chega de nós estarmos apenas amedrontando.”
As ameaças são gravíssimas pelo mero fato de terem sido feitas, e reclamam a atuação das autoridades correspondentes. Não se pode assistir passivamente à organização de uma manifestação cujo objetivo é invadir o Supremo e o Congresso, para “entregá-los às Forças Armadas”. A agravar a situação, o presidente Jair Bolsonaro em nenhum momento desautorizou a convocação golpista. Ao contrário, tem fomentado a adesão popular aos atos bolsonaristas de 7 de setembro.
Perante esse quadro, não basta a existência de um inquérito no STF para investigar organizações criminosas de ataque à democracia. É urgente que o Congresso reaja e que o Ministério Público acione a Justiça, de forma a impedir a ação criminosa contra as instituições.
Impõe-se o realismo. Depois de tudo o que já foi divulgado, eventual tentativa de golpe no dia 7 de setembro não será nenhuma surpresa. Será a estrita realização das táticas e objetivos anunciados, repetidas vezes, por bolsonaristas.
A quem reclama de falta de liberdade de expressão, caberia sugerir que experimente fazer na Alemanha ou na Inglaterra o que os bolsonaristas estão fazendo aqui, anunciando a invasão e o fechamento da Corte Constitucional e do Legislativo. O respeito às instituições democráticas não é uma opção, e sim um grave dever, cujo descumprimento acarreta severas consequências.
No Brasil, tem havido uma irresponsável tolerância com atos contrários à lei, a consolidar uma sensação de impunidade. Veja, por exemplo, a atuação política nas redes sociais do coronel Aleksander Lacerda, afastado da chefia do Comando de Policiamento do Interior-7 da Polícia Militar de São Paulo. Polícia que faz política está fora da lei – e merece ser responsabilizada com rigor, sem nenhuma indulgência.
(Publicado na edição de 24 de agosto de 2021 do jornal O Estado de São Paulo)