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Jair Bolsonaro peca por sentir-se com mais legitimidade que o Congresso, afirma Cláudio Oliveira

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Presidentes eleitos nas últimas décadas enfrentaram dificuldades, cada um em seu tempo, para governar. Mas Jair Bolsonaro peca por se sentir com mais legitimidade do que o Congresso. A análise é de Cláudio Oliveira, jornalista e cartunista, em artigo publicado na sexta edição da revista Política (veja aqui), produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania, novo nome do PPS (Partido Popular Socialista).

De acordo com o autor, Juscelino Kubistchek foi eleito presidente em 1955 pelo PSD em aliança com o PTB. Abriu negociações com a opositora UDN, atraiu o apoio do PDC e estabeleceu diálogo com o PSB. Na campanha, segundo Oliveira, tiveram apoio do ilegal PCB. Promoveu uma política desenvolvimentista e conseguiu avançar na modernização do país. Seu sucessor, Jânio Quadros, do nanico PTN, em aliança com a UDN, foi eleito em 1960.

Sem compromisso com os partidos, numa manobra obscura, conforme lembra o autor, apresentou carta renúncia à Câmara, aceita pelo presidente da Casa. João Goulart, o vice, assumiu e depois de idas e vindas com mudanças no sistema de governo, assentou sua Presidência no PTB, PSB e no PCB, minoritários no Congresso. San Tiago Dantas, seu ex-ministro da Fazenda, propôs acordo com o PSD, o maior partido da Câmara, em torno de um programa de reformas moderadas.

“A proposta foi bombardeada pela esquerda, então capitaneada pelo deputado Leonel Brizola. O ex-governador gaúcho pediu o fechamento do Congresso e a convocação de uma Constituinte”, afirma Oliveira.

“Porém, em 1964, um golpe de Estado derrubou o presidente. Fernando Collor foi o primeiro presidente pós-Constituição de 1988, eleito pelo nanico PRN. Tentou uma Presidência plebiscitária, acreditando que sua expressiva votação lhe dava autoridade sobre o Congresso. Teve várias derrotas parlamentares até receber o impeachment em 1992”, escreveu.

Ainda de acordo com o autor, após a reeleição em 2014, incomodado com a dependência ao PMDB no Legislativo, o PT tentou desalojar os peemedebistas do comando da Câmara e perdeu para Eduardo Cunha. O déficit público explodiu, as revelações da Lava Jato chegaram ao auge, a recessão se agravou, vieram os ajustes e as manifestações que levaram ao impeachment da presidente.

“Temer assumiu numa espécie de semiparlamentarismo. Consegui aprovar medidas importantes, mas perdeu força política com as denúncias de seu envolvimento no esquema da Friboi. Bolsonaro se elegeu e parece se sentir com mais legitimidade do que deputados e senadores, igualmente saídos da vontade das urnas. Montou um ministério à revelia das direções partidárias e agora tem dificuldades em organizar uma base parlamentar para aprovação das reformas do Estado, várias das quais exigem mudanças constitucionais e demandam apoio de 3/5 dos parlamentares”, disse. (Asssessoria FAP/Cleomar Almeida)

Gasto público ineficiente no Brasil gera perda de US$ 68 bi por ano

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Os gastos públicos ineficientes no Brasil geram prejuízos de US$ 68 bilhões por ano ou 3,9% de tudo o que o País produz – PIB (Produto Interno Bruto).

É o que conclui estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). A publicação faz parte da série de estudos denominada Desenvolvimento nas Américas.

Segundo o organismo, há ineficiências na alocação de recursos públicos e na forma de execução de programas e projetos, como compras governamentais, na gestão do funcionalismo público e nas transferências de recursos.

Para promover a eficiência do gasto público no Brasil, o estudo sugere melhorar a gestão de investimento público, com prioridade a projetos de maior impacto fiscal e que garantam o crescimento do País.

As recomendações incluem maiores investimentos em crianças em relação a idosos, aprimorar a gestão do funcionalismo públicos a partir de meritocracia e revisão de carreiras e salários, fortalecer os sistemas de compras públicas e criar mecanismos que assegurem as transferências de recursos para aqueles que realmente necessitam.

Reforma da Previdência

O estudo também cita a necessidade de reforma da Previdência. Segundo o BID, o gasto no Brasil com previdência é, em termos relativos, o mais alto da região – gasta-se sete vezes mais com a população mais velha que os mais jovens.

Se mantidos os níveis atuais de gastos, diz o Banco Interamericano de Desenvolvimento Mundial, os sistemas de previdência poderiam aumentar dos atuais 40% do orçamento para 138% em 2065, inviabilizando o equilíbrio fiscal.

O BID diz ainda que o aumento de gastos do governo dificilmente ajudará a fechar a lacuna de desigualdade do país se as ineficiências na redistribuição não forem corrigidas.

No Brasil, os impostos diretos e os programas de transferências de renda às famílias reduzem a desigualdade em uma média de 8,3% contra 38% em uma amostra de países desenvolvidos, embora o país gaste valores semelhantes em relação ao PIB, diz o levantamento.

Para o BID, o Brasil também poderia melhorar indicadores de saúde mantendo seu orçamento e direcionando os gastos para serviços mais eficientes, gerando, por exemplo, um aumento na expectativa de vida no nascimento de 5,5 anos.

Outro ponto citado é que parte do gasto dos governos estaduais e municipais é financiado por meio de transferências intergovernamentais – 49% das despesas totais ou 9,9% do PIB. Segundo o BID, estudos empíricos mostram que mais transferências e menor proporção de impostos locais tendem a ser gastas em maior nível de salários e em menores níveis de eficiência na provisão de serviços e infraestrutura básica.

Educação

O BID recomenda que um maior gasto por aluno seja acompanhado de medidas de resultado, como as provas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), assim como maior nível de formação de professores e de ajuste salarial baseado no desempenho.

Segurança pública

O Banco Interamericano de Desenvolvimento cita que o setor de segurança absorve 3,7% dos orçamentos fiscais no Brasil, contra 3,3% de países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O estudo sugere melhorias nas áreas de organização e eficiência policial, evitando a subdivisão em muitos departamentos. Outra proposta é o melhor gerenciamento dos programas de prevenção de crime, e maior foco em pontos, pessoas e comportamentos de alto risco. (Agência Brasil)

Luiz Carlos Azedo: Os gatos no telhado

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NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

A aprovação da reforma administrativa do governo Bolsonaro — que será discutida hoje na Comissão Mista do Congresso encarregada de examinar a medida provisória que mudou a estrutura da Esplanada dos Ministérios — é mais um teste de forças entre o Executivo e o Congresso. Ontem, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), relator da medida provisória da reforma ministerial, apresentou relatório em que propõe uma série de mudanças no texto original do governo, que foram acordadas com o chamado Centrão, entre as quais a recriação dos ministérios da Integração e das Cidades. Entretanto, a grande batalha será a permanência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O acordo para isso é frágil, muitos parlamentares querem que o órgão volte para a alçada do Ministério da Economia.

Além do desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional, Bezerra propõe a volta da Funai, que hoje está vinculada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, ao Ministério da Justiça. A demarcação das terras indígenas, porém, segundo o relatório, continuará subordinada ao Ministério da Agricultura. A reforma ministerial havia reduzido o número de ministérios de 29 para 22, mas agora pode passar a ter 24, porque deputados da chamada “Bancada da Bala” também querem recriar o Ministério da Segurança Pública. Depois de aprovada pela comissão, a reforma precisará ser aprovada em plenário pela Câmara e pelo Senado.

Nos bastidores da comissão, são intensas as articulações para tirar o Coaf do controle do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e ainda reduzir o poder dos auditores fiscais. Somam forças a favor da volta para o âmbito do Ministério da Economia parlamentares enrolados na Operação Lava-Jato e também aqueles que veem excessos da força-tarefa e de juízes de primeira instância por defenderem princípios jurídicos, a maioria advogados. Também querem reduzir o poder de Moro os parlamentares que são policiais e policiais militares, que pretendem controlar a política de segurança pública.

A força do acordo negociado pelo líder do governo, senador Fernando Bezerra, depende de um prévio acerto com Bolsonaro para indicação de um político para o Ministério das Cidades, que controla o programa Minha Casa, Minha Vida e a Caixa Econômica Federal. Sem esse acordo, dificilmente o Coaf permanecerá sob controle do Ministério da Justiça. Como Bolsonaro se elegeu com o discurso de que não haverá loteamento da Esplanada dos Ministérios entre os partidos, a ideia é um nome com amplo trânsito no Congresso, que não possa ser caracterizado como indicação do Centrão.

Ordem unida

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, anunciou ontem que os militares vão virar a página e deixar de responder aos ataques do escritor Olavo de Carvalho, considerado um ideólogo do seu grupo político. Ou seja, receberam ordens para ficarem calados e suportarem os ataques que sofrem nas redes sociais. No Congresso, porém, houve solidariedade generalizada aos militares.

Bolsonaro enquadrou os militares e passou a mão na cabeça de Olavo de Carvalho, a quem atribui o papel de mentor político do grupo que o levou ao poder. O escritor respondeu às críticas do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas, general que hoje ocupa um cargo de assessor especial no GSI, com ataques de baixíssimo calão. No meio da rajada de impropérios, no Twitter, sintetizou as divergências do grupo político de Bolsonaro com os generais. “O problema inteiro é muito simples: a pauta do Bolsonaro, e de todo o povo que o elegeu, é nacionalista, conservadora, cristã e anticomunista. A dos generais é contra TUDO isso. Será que alguém não entendeu ainda?”, escreveu.

O epicentro do conflito é o controle da política de comunicação do governo, entre o ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, e o filho de Bolsonaro, vereador Carlos Bolsonaro, o 02, responsável pela estratégia de marketing que levou seu pai ao poder. Nos ritos palacianos de Brasília, o militar está sendo fritado pelo clã Bolsonaro. Enquanto a política de comunicação do Palácio do Planalto estiver sob sua guarda, a crise não se resolverá, até porque Bolsonaro deixou claro que ninguém no governo vai controlar a atuação do seu grupo político nas redes sociais. Acontece que o general, hoje, tem prestígio entre os políticos no Congresso. (Correio Braziliense – 08/05/2019)

Alessandro Vieira promove projeto “Sua voz no Senado” em Lagarto e Estância

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Com o projeto “Sua Voz no Senado”, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) visitou os municípios sergipanos de Lagarto, região centro-oeste, e de Estância, região sul do estado, na última sexta-feira (03). O evento contou com a participação dos deputados estaduais Kitty Lima (Cidadania), George o Passos (Cidadania) e Dr. Samuel Carvalho (Cidadania).

De acordo com o senador, o objetivo é escutar a população, entender suas necessidades e produzir um diagnóstico participativo dos municípios.

“Esse diagnóstico será a base para a destinação das emendas parlamentares. A riqueza desses encontros está também no fortalecimento da participação dos cidadãos”, destacou Alessandro Vieira.

Os encontros realizados pela manhã no Rotary Club de Lagarto e à tarde na Câmara de Vereadores de Estância reuniram diversos segmentos da sociedade num diálogo aberto sobre as demandas e potencialidades de cada região. A deputada estadual Kitty Lima ressaltou a importância do senador estar em contato direto com a população.

“O senador Alessandro mostra que veio para fazer diferente, e está provando que é possível mudar as práticas políticas. Os cidadãos estão acostumados a ver os políticos só de 4 em 4 anos para pedir voto. Alessandro está desde o começo do mandato visitando os municípios e povoados sergipanos e já disse que quem vai definir para onde vão as verbas das emendas é a população, que está aprovando essa iniciativa. Para mim é uma honra estar ao lado dele, porque é dessa forma que o trabalho político dá certo”, afirmou a deputada.

Para a estudante Jéssica Aline, representante da Asefe (Associação dos Estudantes Federais de Estância), o evento “Sua voz no Senado” foi bastante proveitoso e promoveu um debate inovador, reunindo cidadãos e instituições.

“Foi um evento transformador. Eu particularmente nunca tinha visto um senador ter uma proximidade tão grande com o povo. Foi muito importante, ele colheu as demandas da área central e dos povoados de Estância, ouvindo todas as classes, e isso é fundamental para o desenvolvimento do estado como um todo, e principalmente de Estância”, pontuou Jéssica.

A iniciativa do senador Alessandro Vieira foi vista com bons olhos pela população sergipana. Segundo o parlamentar, a ideia é que o projeto “Sua voz no Senado” aproxime a população do mandato, permitindo que os cidadãos colaborem na elaboração de projetos de lei, emendas parlamentares e nas votações do Senado Federal. (Assessoria do Parlamentar)

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (08/05/2019)

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MANCHETES

O Globo

Decreto amplia liberdade de uso de armas de fogo
Governo vai recriar pastas da Integração e das Cidades
Déficit dos estados com Previdência já é de R$ 88 bilhões
Weintraub quer universidades com parceiros privados
Museu Nacional exibe peças e cobra R$ 1 milhão do MEC
Moradores relatam tiros de aeronave na Maré
Polícia leva à prisão mais de 2 mil venezuelanos

O Estado de S. Paulo

Em troca de apoio, Bolsonaro cede e recria 2 ministérios
Governo retém 44% da verba das Forças Armadas
Decreto facilita porte de arma para caçador e colecionador
Registro de armas sobe 3,6%
STF manda soltar turco acusado de terrorismo
Para BID, gasto público beneficia ricos no País

Folha de S. Paulo

Projeto restringe conceito para acidente de trabalho
Planalto cede e aceita recriar 2 ministérios para políticos
Ao defender guru, presidente mantém crise com militares
‘Fomos no limite da lei’, diz Bolsonaro sobre decreto de armas
Fundo para a educação básica vive indefinição
STF decide libertar turco preso após pedido de extradição
Estudo do governo aponta necessidade de mais radares
Lucro da Petrobras cai 42% no 1º trimestre, para R$ 4 bilhões
Com desigualdade em alta até entre negros, África do Sul vai às urnas

Valor Econômico

Corte nas universidades não é linear e vai até 52%
EUA mantêm bloqueio ao Brasil na OCDE
Pacote de privatizações prevê aporte de R$ 38 bi
Plano de saúde sobe quase o dobro da inflação
Arrancada da JBS eleva seu valor para R$ 55 bi

EDITORIAIS

O Globo

Bolsonaro precisa dizer de que lado está

Sequer ataque deplorável de Olavo de Carvalho a Villas Bôas recebe do presidente resposta à altura

O que na campanha apareceu como uma possibilidade, a interferência dos filhos do presidente Bolsonaro no governo, causando instabilidades, se confirma e até excede as expectativas. Com o “02”, Carlos, no comando, uma milícia digital bolsonarista ataca quem o grupo considere ameaça ao atingimento de algum objetivo, com o ideólogo Olavo de Carvalho na condição de inspirador-mor. Hoje está claro que existe um bolsão de extrema direita ávido por poder atrás das cortinas da atuação do grupo. Já indicou, de forma clara, dois ministros — Ernesto Araújo, para o Itamaraty, e controla o MEC, no qual substituiu o nada inspirado Ricardo Vélez pelo linha-dura de direita Abraham Weintraub; avançou sobre a agência Apex e, desde a montagem do governo, tem especial atração pela Comunicação do Palácio.

É esta predileção que levou Carlos e Olavo a atacarem com fogo concentrado o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, sob a qual está a Secom. Foi executada uma operação típica de criação de fake news para atingir Santos Cruz: tiraram de contexto uma frase sensata do ministro sobre o uso das redes sociais por grupos ideologicamente extremados e espalharam que ele deseja censurá-las. Um despropósito. Seria apenas mais uma manobra do grupo — já grave e deplorável — se o presidente Bolsonaro não reforçasse de forma enviesada a interpretação de que houve defesa de censura, afirmando — o que é bem-vindo — que, no seu governo, não haverá censura à qualquer mídia.

Mas pareceu um aval à distorção da frase de Santos Cruz, que no domingo foi ao Alvorada conversar com o presidente Na segunda, Bolsonaro, como tem feito, tentou minimizar o problema, mas, desta vez, a ação de Olavo — até já condecorado pelo presidente — e Carlos ultrapassou os limites. Santos Cruz, general da reserva, é mais um dos militares do governo, atacados pela milícia digital. Antes, já fora o próprio vice-presidente, Hamilton Mourão, outro general da reserva. Para agravar a crise, o ex-comandante do Exército Villas Bôas, hoje assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional, divulgou nota sensata em favor da unidade do governo, sem deixar de identificar Olavo como “verdadeiro Trotski de direita”, um paralelo com o russo que defendia a revolução permanente.

Olavo, em resposta, cometeu ato de extrema deselegância e agressividade, para dizer o mínimo, tratando o ex-comandante do Exército como um “doente preso a uma cadeira de rodas” — Villas Bôas sofre de doença degenerativa. Não é mais possível Bolsonaro continuar no jogo de tentar se manter distante de absurdos que partem da própria família, sem defender seus auxiliares. O presidente, na verdade, tem de estar na defesa do governo, por óbvio, e num momento grave em que assuntos de extrema relevância tramitam no Congresso, como a reforma da Previdência. Bolsonaro sequer respondeu à nota ignóbil de Olavo na devida altura. E ainda elogiou o ideólogo, chamando-o de “ícone”, mesmo depois do ataque vil feito a Villas Bôas. Outra atitude reprovável. Bolsonaro precisa definir de que lado está.

O Globo

A tragédia de quem vive em áreas dominadas por milicianos no Rio

Carta de morador da Muzema com denúncias sobre quadrilhas deve servir de alerta às autoridades

Uma carta anônima, escrita por um morador da comunidade da Muzema, e mostrada anteontem em reportagem do “RJ2”, expõe de forma contundente o drama de quem vive em áreas sob controle de milícias — estima-se que cerca de dois milhões de pessoas no município do Rio estejam nessa situação. Deveria ser lida por autoridades dos três níveis de governo, para que soubessem o que se passa nessas regiões, apartadas de qualquer vestígio do estado democrático de direito. O anonimato é o primeiro sinal de que as leis que vigoram no país não cabem ali. Na Muzema, impera o medo. E voltar-se contra as perversas regras locais pode significar a morte, como se depreende das entrelinhas do texto.

“Estão nos obrigando a pagar mensalidades, seguro de vida. Se não pagar os impostos, perde a casa, ou paga com a própria vida. Ninguém denuncia, com medo de morrer”, diz trecho da carta, que assinala ainda: “a maioria não tem condição de pagar. É expulsão ou mala do carro. Ninguém viu, ninguém vê”. O autor descreve ainda um ambiente de total intimidação por parte das quadrilhas de milicianos, à medida que bandidos de comunidades vizinhas, como Taquara, Rio das Pedras e Gardênia, monitoram e ameaçam constantemente os moradores.

“Não podemos contar com a PM. Estão juntos como chefe da facção”, afirma. Sabe-se que milicianos movem seus negócios extorquindo dinheiro de moradores, por meio de cobranças de taxas de serviços como segurança, gás, sinal de TV e internet, transporte etc. Mas surpreende que isso continue a ocorrer na Muzema, que está sob os holofotes desde 12 de abril, quando dois prédios construídos irregularmente por milicianos desabaram, provocando a morte de 24 moradores.

Policiais, bombeiros, funcionários da prefeitura e até militares do Exército estiveram na Muzema nessas últimas semanas. Mas nada parece ter mudado. Fica claro que o poder público ali é apenas visitante de ocasião. O poder verdadeiro é o paralelo, da milícia. Nas tragédias, o Estado entra, retira os corpos, eventualmente derruba um ou outro prédio irregular, e vai embora. Tudo volta ao anormal. É preciso que se ouça o apelo desesperado desse morador: “o poder público nos abandonou há muitos anos. Também estou correndo risco de vida. Que esta carta vaze para as autoridades. Urgente”. O autor não fala só por ele, mas por alguns milhões de “desprivilegiados”.

O Estado de S. Paulo

Partido não é só um nome

Uma reportagem publicada no domingo passado pelo Estado mostrou que, nos últimos anos, cinco dos dez maiores partidos do Congresso já mudaram ou estudam mudar de nome. Em alguns casos, trata-se de tentar fazer o eleitor esquecer os escândalos de corrupção nos quais algumas dessas legendas se envolveram; em outros, é uma forma de buscar se reconectar com os cidadãos, em meio ao descrédito generalizado de que padece a política.

De uma forma ou de outra, é o reconhecimento, na prática, de que os partidos em geral há muito tempo não conseguem oferecer-se como representantes dos anseios e das demandas dos brasileiros. Em resumo, salvo raríssimas exceções, já não são partidos, com perfil ideológico e programático facilmente identificável, mas sim amontoados de interesses particulares – e cujos caciques só enxergam o poder como oportunidade de bons negócios para si e para os seus.

Já há até mesmo quem diga que os partidos – entendidos como entidades que representam ideias políticas abrangentes – estão com os dias contados. “O mundo exige outra forma de organização. Os partidos vão deixar de existir”, disse o ex-deputado Roberto Freire, fundador e líder do Cidadania, ex-Partido Popular Socialista, que um dia já foi Partido Comunista Brasileiro. “A comunicação direta com o eleitor é uma nova realidade. Hoje é só pelas redes. Ninguém espera mais uma articulação partidária por células em sindicatos de base”, disse o experiente político – cujo partido tirou o “socialista” do nome para conseguir atrair movimentos de renovação política, como o Agora, o Livres e o Acredito, todos de viés liberal.

Raciocínio semelhante desenvolveu a deputada federal Renata Abreu (SP), presidente do antigo Partido Trabalhista Nacional, rebatizado de Podemos: “Somos cidadãos do século 21, mas lidamos com instituições concebidas no século 18. O que mobiliza hoje a sociedade não é mais a ideologia de esquerda ou direita, mas as causas, que são muito dinâmicas”. A ser verdadeira essa análise, estamos caminhando para a formação de partidos políticos à la carte, que defenderão “causas” à medida que surjam, e não princípios gerais, que não variam ao sabor das circunstâncias.

Parece óbvio que nem todas as legendas que trocaram de nome o fizeram em razão dessa suposta revolução na representação política. Algumas delas tinham problemas bem menos teóricos para resolver, como, por exemplo, o desgaste de imagem causado por desmandos, corrupção ou completo descaso pelo eleitor. Em todos os casos, porém, os partidos trocaram ou trocarão de nome na esperança de reduzir a rejeição a seus antigos rótulos – mas é improvável que o eleitor “compre” esse velho produto que tenta se fazer passar por novo, pois, por trás da aparência de rejuvenescimento, seus antigos defeitos continuam evidentes.

Quando o MDB estuda trocar de nome pela segunda vez em menos de dois anos (era PMDB até 2017 e agora pode se tornar apenas “Movimento”), o partido serve de exemplo eloquente de que um nome, por melhor que seja, não mudará a natureza de uma legenda que há muito tempo deixou de ter princípios e ideias discerníveis – a tal ponto que já se perdeu na memória o passado do MDB como representante da oposição durante o regime militar e como vanguarda da luta pela redemocratização.

O mesmo se pode dizer do PSDB, partido que há anos não é mais nem sombra da agremiação cuja plataforma social-democrata conquistou uma parte considerável da classe média. Ao discutir uma troca de nome e de identidade partidária para superar a sequência de fiascos eleitorais e dar novo rumo à legenda, os tucanos podem perder o pouco que resta de seu patrimônio político, sem ter nenhuma garantia de que conquistarão novos eleitores.

Mesmo dentro do PT cogitou-se uma mudança de nome. Embora prontamente descartada, a mera hipótese indica que até o partido mais sólido do ponto de vista programático sofreu a tentação de troca de identidade como paliativo para sua crise.

De tudo isso fica a certeza de que o sistema partidário do País está sendo triturado – resultado de décadas de alheamento da elite política em relação às verdadeiras necessidades dos eleitores.

O Estado de S. Paulo

A boa notícia do Inmetro

Em uma iniciativa sensata, a presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), Angela Furtado, anunciou um projeto de revisão do emaranhado de regras relacionadas à qualidade, à segurança e ao desempenho dos produtos comercializados no País. A autarquia é vinculada ao Ministério da Economia e o projeto faz parte de um amplo programa de modernização da legislação sobre a ciência da medição, que afeta o cotidiano das empresas e dos cidadãos.

A ciência da medição envolve o cálculo da velocidade de um automóvel, do tempo de cozimento de alimentos, da temperatura de uma geladeira e do consumo de energia elétrica, por exemplo. Também permite saber se a quantidade de arroz na embalagem é a mesma mencionada no rótulo e se os valores informados na bomba de combustível ou na balança de um supermercado e de uma padaria são corretos.

Atualmente, há em vigor cerca de 300 regulamentos baixados pelo Inmetro. Eles cobrem 647 tipos distintos de produtos, o que dá mais de uma regra para cada duas categorias. Na área de produtos para crianças, por exemplo, existem quase 300 mil marcas certificadas pelo órgão. Segundo as estimativas do Inmetro, o volume de vendas de produtos que estavam dentro de sua jurisdição regulatória, em 2015, totalizou R$ 460 bilhões.

A implementação do projeto está prevista para o segundo semestre e a primeira medida será a desburocratização dos processos de registro e autorização de produtos. A estratégia foi inspirada no modelo de regulação adotado na União Europeia. Em vez de ter um regulamento específico para cada produto, como ocorre entre nós, a ideia é ter regras e dispositivos mais amplos, abrangendo categorias de produtos.

Hoje, brinquedos, berços e artigos de festas têm um regulamento específico para cada item. Já na União Europeia, com apenas 22 regulamentos gerais, eles integram a categoria de produtos infantis. Dependendo do setor, como o químico, o elétrico e o metalúrgico, os regulamentos gerais podem, quando for o caso, ser eventualmente complementados por normas específicas.

Com a desburocratização e a substituição de regulamentos específicos por normas gerais, o Inmetro pretende mudar sua forma de atuação. Em vez de concentrar a atenção no controle prévio de cada produto, que resulta num imenso cipoal regulatório, o objetivo é adotar uma vigilância posterior mais rigorosa, por meio de acordos de fiscalização com entidades de classe e entidades privadas. “Regulação mais flexível não se confunde com bagunça e anarquia”, afirmou a presidente do Inmetro em entrevista ao jornal Valor.

Quando a implementação do projeto estiver concluída, diz ela, os fabricantes ou importadores poderão fazer uma autodeclaração de que seus produtos estão de acordo com a regulamentação. Pela legislação em vigor, esses certificados dependem de testes e ensaios em laboratórios, o que leva tempo e tem um alto custo. Em média, um registro no Inmetro demora pelo menos seis meses. E, dependendo do setor, o prazo pode chegar a dois anos, o que é incompatível com os produtos que têm um ciclo de vida útil de três anos.

Pelo projeto, quando houver necessidade, fabricantes e importadores poderão fazer testes numa rede de 2 mil laboratórios autorizados pelo órgão. Só os produtos com riscos específicos, como os dos setores químico e elétrico, passarão obrigatoriamente pelo processo de certificação com base em ensaios. Já o trabalho de vigilância será feito com base na análise de bancos de dados com informações sobre acidentes de consumo e no monitoramento de plataformas digitais que divulgam reclamações e avaliações de consumidores.

A iniciativa do Inmetro se insere no rol de reformas microeconômicas de que o Brasil tanto necessita para reduzir os custos de produção e diminuir a insegurança jurídica causada por uma malha normativa anacrônica e asfixiante. Ela favorece consumidores e produtores, ao mesmo tempo que propicia melhorias no ambiente de negócios.

O Estado de S. Paulo

Derrapando na crise argentina

A crise argentina tem um custo enorme para o Brasil, porque a indústria brasileira, em especial a automobilística, depende excessivamente do mercado vizinho, o terceiro maior parceiro comercial do País. As montadoras exportaram neste ano, até abril, 45% menos que nos primeiros quatro meses de 2018. A demanda interna foi 10,1% maior que a de um ano antes, mas o efeito desse aumento foi praticamente anulado pela redução das vendas externas.

No balanço geral, a produção foi 0,1% menor que a de janeiro a abril do ano passado. Tradicionalmente, 70% ou mais dos veículos exportados pelo Brasil vão para a Argentina. Com recessão, inflação disparada e crise cambial, esse mercado encolheu dramaticamente nos últimos dois anos. Efeitos dessa crise são visíveis nas cifras do comércio exterior e nos balanços e no total de empregados de muitas fábricas em operação no Brasil.

O País faturou de janeiro a abril US$ 26,33 bilhões com a exportação de manufaturados, valor 7,3% menor que o de um ano antes, pela média dos dias úteis. A recessão e a crise cambial na Argentina explicam boa parte dessa retração.

As vendas para o segundo maior país do Mercosul caíram de US$ 6,06 bilhões há um ano para US$ 3,25 bilhões no primeiro quadrimestre de 2019, com redução de 46,5%. Manufaturados correspondem a pelo menos 80% dessas exportações. O terceiro maior parceiro comercial do Brasil – China e Estados Unidos são o primeiro e o segundo – é também um dos mais importantes compradores de bens industriais elaborados. No caso do mercado americano, também muito relevante para a indústria brasileira, manufaturados têm correspondido, regularmente, a mais de metade do valor vendido pelo Brasil. Mas a proporção é menor que no caso dos embarques para a Argentina.

A indústria automobilística é um dos segmentos mais dependentes do mercado argentino. Há uma dependência mútua, consolidada a partir de um acordo automotivo firmado, reformado e prolongado por anos. Esse acordo, com regime de reciprocidade alterado em várias ocasiões, foi uma das marcas da relação comercial entre as duas maiores economias do Mercosul no século 21.

Na prática, esse acordo se converteu num pacto de acomodação entre as indústrias de veículos e de componentes instaladas nos dois países. Poderia ter sido parte de uma história de expansão em outros mercados, se o Mercosul tivesse cumprido uma de suas mais importantes missões originais.

O bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai deveria ter sido, por meio da integração e da cooperação entre os quatro países, uma plataforma para inserção competitiva na economia global. Mas o Mercosul mudou de rumo e de ambição, a partir da instalação do petismo e do kirchnerismo nos governos brasileiro e argentino. Falou-se de um resgate da vocação inicial do bloco regional, os presidentes Mauricio Macri e Michel Temer chegaram ao poder, mas pouco se avançou nessa direção.

Dirigentes do setor automobilístico e de outros segmentos da indústria têm pedido ao governo medidas para aumento de competitividade. Com a crise argentina, as dificuldades de ação internacional ficaram mais evidentes. Poucas indústrias têm sido capazes de concorrer fora da região.

Vários fatores de competitividade importantes dependem do governo. Isso inclui a expansão e a melhora da infraestrutura, a boa prestação de serviços públicos, a segurança jurídica, a oferta de financiamento, a qualidade da tributação e a formação de capital humano, para só mencionar alguns itens. O setor privado pode e deve participar de algumas dessas tarefas. Mas também é preciso a busca de produtividade e de inovação dentro de cada setor produtivo.

A indústria aeronáutica e o agronegócio são exemplos de sucesso nesses quesitos. Igualmente visível tem sido o fracasso de programas baseados em subsídios fiscais e financeiros e em protecionismo. Produtividade é um bom tema para conversações entre indústria e política. Quem está interessado em conversações desse tipo – com seriedade?

Folha de S. Paulo

Fábrica de crises

Jair Bolsonaro tornou-se fonte de instabilidade: atiça futricas sobre o nada e adula uma facção amalucada em cruzada delirante contra militares

Como Brasil ameaçado pelo retorno da recessão, já deveria estar clara para as lideranças a relação entre fiasco econômico e instabilidade política. Deveria, mas não está, como o demonstra o comportamento do presidente da República.

Jair Bolsonaro (PSL) é fonte de incertezas. Sob seu comando, o Planalto desponta como a mais prolífica fábrica de crises nacionais.

O supremo mandatário estimula bate-bocas sobre o nada, promove futricas acerca de coisa nenhuma, desperdiça tempo a adular uma facção amalucada, na qual estão incluídos seus filhos, que deliram numa cruzada de botequim contra a elite das Forças Armadas.

Neste fim de semana, a comunicação do presidente da República foi o veículo de nova estocada dessa banda de lunáticos contra o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).

Instado pela exumação de trecho de uma entrevista velha do general e pela leitura enviesada também inventada por aquela franja de boçais, de que ele ali defendera o controle de mídias sociais, o chefe do Executivo publicou uma admo-estação oblíqua ao seu ministro.

Seu governo, escreveu Bolsonaro, não promoveria regulação das redes sociais. Àquela altura, Santos Cruz já era alvo de mais uma campanha de insultos, promovida entre outros pelo ideólogo Olavo de Carvalho, que nada costuma fazer apartado dos filhos do presidente,em especial do vereador Carlos.

A incapacidade, ou a falta de vontade, de Jair Bolsonaro de colocar um freio na sua turma reforçou-se nesta terça (7), quando voltou a divulgar palavras de admiração a Olavo, que fora criticado pela maior liderança moral do Exército, o ex-comandante e general da reserva Eduardo Villas Bôas.

O tal guru presidencial não se fez de envergonhado e pôs-se novamente a enxovalhar o comando do Exército, criticando-o por escudar-se num “doente preso a uma cadeira de rodas” — Villas Bôas sofre de uma doença degenerativa.

De um copo d’água, Jair Bolsonaro conseguiu fazer outra tempestade. Inimigos do Congresso, do Supremo e dos corpos regulares do Estado, os celerados do Twitter esfregam as mãos. Com a ajuda do presidente, expuseram oficiais das Forças Armadas, dentro e fora do governo, à humilhação.

A saída do governo de quadros como Santos Cruz significaria um triunfo para esse nicho autoritário. A sua permanência, no entanto, torna-se cada vez mais custosa, dada a doçura que o chefe de Estado dispensa aos arruaceiros que orquestram a difamação dos oficiais.

Tudo isso reforça a percepção geral de bagunça e falta de rumo no governo federal. 0 Brasil não retomará o crescimento nesse ambiente. Arrisca-se, pelo contrário, a enveredar por uma nova espiral de destruição de renda e empregos.

Folha de S. Paulo

Lava Jato no escuro

Empresas atingidas pela Operação Lava Jato deram contribuições decisivas para o esclarecimento dos inúmeros casos de corrupção descobertos nos últimos cinco anos.

As maiores empreiteiras revelaram como se organizaram para fraudar licitações públicas, apontaram políticos e servidores que corromperam e explicaram como o dinheiro sujo chegou até eles.

Acionistas e ex-funcionários dessas empresas também cooperaram, fornecendo informações que os investigadores dificilmente teriam obtido sem sua colaboração.

As empresas não agiram assim por filantropia, mas porque se viram encurraladas pelo avanço da Lava Jato e perceberam que não conseguiriam voltar a fazer negócios como setor público se não cooperassem com as investigações.

Em troca, obtiveram abatimento nas multas previstas pela legislação e abriram o caminho para voltar a participar de licitações — e se levantar do tombo que levaram após a exposição de seus crimes.

Infelizmente, porém, elas alcançaram esses benefícios em negociações a portas fechadas com as autoridades, conduzidas de forma opaca para a população.

Como esta Folha noticiou, a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) decidiram manter sob sigilo documentos cruciais para o entendimento dos acordos que fecharam com empresas investigadas.

Anexos que detalham os fatos relatados pelas empreiteiras e a maneira como se calcularam suas multas foram preservados assim.

Procedimento similar tem sido adotado pelo Ministério Público Federal, que também negociou acordos de leniência com essas pessoas jurídicas, antes do governo.

Como os procuradores da Lava Jato, a AGU e a CGU dizem que precisam manter o segredo para não prejudicar investigações em curso. Mas muitas informações, como os critérios para o cálculo das multas, nada têm a ver com isso.

O sigilo ajuda a proteger os negociadores de críticas, impedindo a comparação dos benefícios obtidos pelas empresas e das concessões feitas para chegar aos acordos.

Também beneficia as empresas, que esticaram por mais de duas décadas os cronogramas de pagamento de suas multas e vêm tentando preservar até mesmo contratos que confessaram ter obtido de maneira fraudulenta.

Os acordos de leniência se revelaram essenciais no combate a malfeitos, mas a falta de transparência mina sua credibilidade. Se o objetivo é mesmo virar a página da corrupção, melhor que empresas e autoridades façam isso às claras.

CPI do BNDES: Paula Belmonte questiona procurador sobre compra de frigorífico pelo grupo JBS

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A deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) levantou, na CPI do BNDES, o caso do frigorífico Marfrig, comprado pela JBS com dinheiro do banco, cujas ações no mercado financeiro valiam R$ 6,44 e que foram adquiridas com dinheiro público da instituição por R$ 22 cada. A parlamentar perguntou ao procurador da República no Distrito Federal Ivan Cláudio Garcia Marx por que esse episódio não foi denunciado pelo Ministério Público Federal.

Marx respondeu que a Operação Bulish, pela qual ele é responsável, investigou outras operações do grupo JBS com o BNDES, mas defendeu que sejam reabertas investigações de casos como este, do Marfrig, que não foram selecionados no curso das apurações. O contrato referente ao negócio está sob sigilo. Só um juiz pode liberá-lo.

“Nossa justiça faz com que a justiça não aconteça”, disse Paula Belmonte. O procurador concordou: “O próprio estado comete irregularidades e se autoprotege”, disse ele.

Marx explicou que os contratos dos irmãos Joesley e Wesley Batista na compra do Marfrig estavam cobertos pelo sigilo determinado pelo banco de desenvolvimento. A intenção, segundo ele, era fugir dos órgãos de transparência e investigação. Era uma prática corriqueira para esconder um grande esquema de corrupção envolvendo o ex-presidente Lula e os ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci no BNDES.

Um dos casos analisados por Marx na reunião da CPI foi o dos empréstimos a Angola. Naquele tempo, era comum o então presidente viajar em jatinhos da empreiteira Odebrecht para, conforme justificava, vender o Brasil. O procurador disse que as palestras que Lula proferia no exterior eram “subterfúgios” para esconder o conluio. Depois da palestra, ele se reunia com o presidente do país e oferecia empréstimo do BNDES a juros subsidiados.

Liberado o empréstimo, o tomador contratava a Odebrecht, que sublocava uma pequena empresa, de propriedade do sobrinho de Lula, Taiguara. O procurador, que denunciou o esquema, informou que a própria empreiteira admitiu, em acordo de leniência, ter pago propina. Negou, entretanto, ter se beneficiado da negociata.

A compra da Swift americana pela JBS, em 2007, também foi uma operação arranjada. O BNDES novamente pagou ágio nas ações do grupo brasileiro. No caso da National Beef, outra empresa americana, a JBS deu um prejuízo de R$ 500 mil ao banco. “Todos os indicativos apontam para uma fraude no BNDES em favor da JBS”, apontou o procurador da República.

Ele disse que, em 2009, a JBS pagou propina a Mantega para conseguir vantagens no BNDES.

“A cada vez que o BNDES fizesse um aporte, havia um pagamento de propina”, afirmou.

Já o escritório de Palocci tinha contratos com taxa de êxito sobre empréstimos do BNDES. Ele, junto com Mantega, Luciano Coutinho, ex-presidente do banco, foram denunciados pelo procurador.

Paula Belmonte quer junta comercial do DF enxuta, ágil e transparente

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A deputada federal Paula Belmonte (DF), vice-líder do Cidadania, conclamou, no plenário da Câmara, os deputados do Distrito Federal a criar uma junta comercial enxuta, digital, com transparência e agilidade. A parlamentar encaminhou a votação que decidiu pela transferência do órgão da União para o governo local. A matéria foi aprovada.

“Nós temos oportunidade de fazer algo do zero para que a gente possa simplificar e trazer o setor produtivo. Quando a gente aumenta o custo, quem paga o preço é o contribuinte”, argumentou a deputada. Paula Belmonte não quer que a junta comercial do DF se torne um cabide de empregos.

Daniel Coelho: Governo trilha caminho do atraso com cortes na educação

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O deputado federal Daniel Coelho (PE), líder do Cidadania na Câmara, disse nesta terça-feira (07) que o governo trilha o caminho do atraso se mantiver a decisão de cortar 30% no orçamento das universidades públicas e institutos federais.

“É extremamente preocupante a maneira grosseira e sem nenhum planejamento que o presidente e o governo estão tratando o tema da educação”, afirmou.

O parlamentar disse ainda que é preciso buscar, de forma criativa, recursos para a melhoria da qualidade de vida através da educação.

“Não podemos ir para esse movimento simplista para cortar nas universidades para puni-las porque ali não há maioria de apoio ao governo”, disse.

Daniel Coelho ressaltou que nem todos no mundo acadêmico comungam das opiniões da esquerda.

“Ali tem esquerda, centro, direita, progressistas, conservadores, como em qualquer ambiente democrático acadêmico”, disse.

Para o deputado do Cidadania, é um “erro absurdo” a “retaliação” que o governo faz às universidades públicas. Ele exortou o presidente e o ministro da Educação a ouvir o plenário, onde deputados e partidos de todas as tendências, à exceção dos governistas, criticaram os cortes orçamentários.

Para Daniel Coelho, também não tem sentido a argumentação de que se vai encurtar o orçamento do ensino superior para fazer investimentos em creches e educação básica.

“Qual é o debate e o planejamento que a gente tem para a primeira infância, creches e educação básica? Nenhum”, afirmou.

O caminho escolhido pelo governo, diz o parlamentar, vai de encontro também ao comportamento de países liberais, como o Chile e a Coreia do Sul, que cortaram gastos no governo e fizeram investimentos maciços em educação, ciência e tecnologia.

Eliziane Gama: Ministro da Educação não apresenta proposta para o País

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A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA), disse que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não apresentou nenhuma proposta para o setor, nesta terça-feira (07), durante audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte da Casa para debater as diretrizes e programas prioritários da Pasta.

“No geral, o ministro não apresentou uma proposta para o Brasil. O que a gente percebeu é que ele tentou se vitimizar em algumas situações, colocando sempre em segundo plano o debate principal, que é o da Educação. Não conseguimos ter um aproveitamento à altura porque o ministro não respondeu aquilo que é importante, como o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação], que será extinto em 2020, mas ainda não sabemos o que o governo pensa em relação a isso”, disse.

Apesar de a senadora ter feito perguntas bem direcionadas ao ministro sobre a situação das políticas educacionais de comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas, ela não conseguiu obter respostas afirmativas de Weintraub.

“Em relação a autonomia universitária ele respondeu de uma forma meio que superficial. Para mim, ficou claro o entendimento de que o governo quer intervir e mudar a legislação federal no se refere a autonomia das universidades brasileiras”, disse.

Ao ser questionado por Eliziane se é favorável à presença de armas nas escolas, o ministro foi evasivo ao responder que “às vezes eu acho que a linguagem é pior que armamento”.