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Lula indica Dino e Gonet, mas pode entregar Justiça ao PT

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NAS ENTRELINHAS

O presidente Lula não levou em conta as pressões do PT e anunciou, ontem, as indicações do ministro da Justiça, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal (STF), e do procurador Paulo Gustavo Gonet Branco à Procuradoria-Geral da República (PGR). Os dois eram nomes muito cotados para o cargo, mas sofreram com o “fogo amigo” do PT, principalmente Dino. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou que os dois nomes serão apreciados até 15 de dezembro.

O primeiro obstáculo à aprovação dos nomes é a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), que se aliou à bancada de oposição para voltar à Presidência do Senado. Nos bastidores do Senado, os senadores bolsonaristas já se articulam para tentar barrar a aprovação do nome de Flávio Dino. A rejeição de Igor Roberto Albuquerque Roque para o cargo de defensor público-geral federal da Defensoria Pública da União (DPU), por 35 votos a favor e 38 contrários, além de uma abstenção, em outubro passado, foi o recado de que Dino terá dificuldades.

Para a aprovação do nome de Dino são necessários 41 votos. Não é uma missão impossível obter apoio da maioria dos senadores, mas há um rito a ser cumprido: o beija-mão dos senadores por parte dos indicados, gabinete por gabinete. Um senador eleito teria mais facilidades, mas acontece que Flávio Dino logo se licenciou do cargo para ser ministro da Justiça, não tem amplo trânsito entre os pares.

Quando o nome de Dino passou a ser cotado para o STF, logo se armou contra ele uma campanha dos bolsonaristas nas redes sociais, retroalimentada pelo “fogo amigo” petista.

Dono de um estilo “lacrador”, Dino assumiu a linha de frente da defesa do presidente Lula após a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Por isso, seu nome agrada muito aos ministros do Supremo Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte. Essa sintonia se manteve desde então e foi decisiva para sua indicação. A questão é saber se Lula costurou a indicação com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o presidente da CCJ, Alcolumbre. Supõe-se que sim, pois Lula não faria essa indicação para “queimar” seu ministro da Justiça.

Para interlocutores, Lula manteve distância regulamentar em relação à polêmica PEC que limita os poderes monocráticos dos ministros do Supremo para agradar a Pacheco e Alcolumbre, embora o STF tenha reagido duramente à decisão do Senado.

Dino é um ex-juiz que deixou a toga para ser político, elegendo-se governador do Maranhão pelo PCdoB, partido que trocou pelo PSB. Desde que seu nome surgiu como opção, enfrentou a concorrência do advogado-geral da União, Jorge Messias, apoiado pelo PT, e do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, apoiado pelo MDB. Ambos saudaram sua indicação.

Ministério Público

Agora, está aberta a disputa pela vaga de Dino na Esplanada. O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, nunca escondeu o desejo de substituir o chefe. Mas o PT tem um forte candidato à pasta: o advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, que teve importante atuação na campanha eleitoral de Lula.

Na montagem da equipe ministerial, porém, acabou preterido por Dino. A saída salomônica defendida pelo PT é a divisão do ministério em duas pastas: Justiça e Segurança Pública. A primeira ficaria com Carvalho, a segunda, com Cappelli, que, desde o 8 de janeiro, vem se destacando nessa área.

A aprovação do nome de Dino pelo Senado pressupõe algum risco por causa de suas posições políticas e combatividade, que tendem a reforçar o grupo de ministros do STF acusado de “extrapolar” suas atribuições em relação aos demais Poderes.

O ministro da Justiça, por exemplo, fez uma veemente defesa do Supremo e criticou o Senado por aprovar a PEC que limita os poderes monocráticos dos ministros, num momento em que os senadores desejam também limitar os mandatos do Supremo, seja ao estabelecer uma idade mínima para seus ministros, seja seu tempo de duração.

Em contrapartida, a aprovação do nome do subprocurador-geral Paulo Gustavo Gonet Branco para o cargo de procurador-geral da República é mais tranquila. É a primeira vez que Lula não escolhe um dos integrantes da lista tríplice elaborada pela associação dos procuradores; nos mandatos anteriores, o petista indicou o mais votado. Desde 2001, as listas tríplices elaboradas pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) subsidiaram as indicações.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o primeiro a desconsiderar a lista ao indicar o procurador-geral Augusto Aras. Gonet é integrante da cúpula do MPF e responde como vice-procurador-geral eleitoral desde 2021. Enfrentará a oposição dos bolsonaristas no Senado, por causa do seu parecer a favor da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entretanto, é católico e conservador, por exemplo, no tema do aborto. (Correio Braziliense – 26/11/2023)

IMPRENSA HOJE

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Veja as manchetes dos principais jornais (28/11/2023)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Lula indica ao STF seu aliado histórico Flávio Dino
STF tem maioria para aval à quitação antecipada de R$ 95 bi em precatórios
Filosofia e Sociologia no ensino médio na berlinda
Americanas fecha acordo com credores e terá aporte de R$ 24 bi
Entrevista/Mosab Hassan Yousef – ‘Hamas se tornou um monstro’
Ausência de notícias de brasileiro angustia família
Crise no Oriente Médio – Trégua é estendida por mais dois dias

O Estado de S. Paulo

Indicação de Flávio Dino para o Supremo acentua o perfil político da Corte
‘Ministro influencer’, Dino acumulou polêmicas
Conservador, Gonet foi a favor de tornar Bolsonaro inelegível
Ex-STF, Lewandowski é cotado para a Justiça
STF tem maioria para que governo regulariza precatórios
Americanas fecha acordo com bancos; trio de acionistas vai entrar com R$ 12 bi
Sindicatos mantêm greve do transporte; Justiça do Trabalho exige operação
Genro de Roger Abdelmassih e dois suspeitos morrrem em tiroteio
Israel e Hamas ampliam trégua e fazem 4ª troca de reféns e presos

Folha de S. Paulo

Lula indica Dino a STF e Gonet a PGR com costura no Senado
STF tem maioria por pagamento de precatórios
Preisente vai ao Qatar e à Arábia por petrodólares
Metrô paulista e CPTM devem parar hoje; rodízio é suspenso
Estados calculam perda com ICMS de R$ 109 bilhões
Ações levam a gasto recorde com Cannabis medicinal em SP
Engavetamento com 12 veículos deixa 6 mortos na Fernão Dias em MG
Estudos científicos citam mais homens do que mulheres
Israel e Hamas estendem trégua por mais 2 dias

Valor Econômico

Lula indica Flávio Dino ao STF e Paulo Gonet à PGR
Americanas fecha acordo com bancos credores
Bom dividendo faz patrimônio dos Fiagro crescer 78% em 2023
Alpargatas sofre com prejuízo e deve trocar CEO
Israel e Hamas ampliam trégua por mais 2 dias

Cidadania/MA realiza congresso extraordinário e define novos membros do diretório estadual e pré-candidaturas

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O diretório do Maranhão do Cidadania reuniu filiados, militantes, representantes da sociedade civil organizada e liderança políticas no sábado, (25) na Câmara de Vereadores de São Luís, para realização do Congresso Extraordinário do partido. O evento teve como objetivo definir novos membros do partido, pré-candidaturas a prefeito e vereador nas eleições municipais do próximo ano e também confirmar a nova direção do núcleo da juventude.

Mais de 150 pessoas tiveram reunidas no plenário da capital maranhense, lideranças de mais de 50 cidades estiveram presentes. Durante o seu discurso, o presidente estadual da legenda, Eliel Gama, destacou a importância do momento. “Estamos num momento de organização e reestruturação natural da nossa legenda, já com vista para 2024 quando precisamos oferecer a sociedade maranhense a oportunidade de melhor gerir o seu município. Nosso partido faz parte da base do governador Carlos Brandão, fazemos parte de um grupo que tem transformando a realidade do estado em todos os setores. Desta forma, vamos nos manter, sempre escutando, dialogando com nossos aliados e debatendo com a sociedade do Maranhão. Assim é o Cidadania”, pontuou Eliel.

O secretário Chefe da Casa Civil do Governo do Maranhão e presidente estadual do PSDB, Sebastião Madeira, parabenizou a gestão do Cidadania pela pluralidade dos seus quadros e núcleos. “Estou impressionado com capilaridade do Cidadania, são representantes de todas as partes. O Cidadania não deveria nem ser chamado de partido, porque partido tem relação com parte, e aqui eu vejo todos os setores da sociedade representados. É um trabalho de organização impressionante do presidente Eliel que está de parabéns, assim como todos os membros do Cidadania”.

Representante do Cidadania na Câmara de São Luís, o vereador Ribeiro Neto também ressaltou as bandeiras do partido, as conquistas da legenda através do seu mandato e o quatro qualificados de pré-candidatos. “ Tenho a certeza que no próximo ano muitos dos companheiros que estão aqui neste congresso podem estar comigo nesta casa defendendo a população e lutando pela nossa cidade”.

O presidente Eliel Gama, durante Congresso do Cidadania-MA

 

O presidente nacional da legenda, Comte Bittencourt, não pode estra presente, mas mandou um recado aos congressistas. “Momento importante da política brasileira, especialmente agora que se avizinham as eleições de 24. Momento estratégico para o nosso Cidadania, nossa reorganização. A reorganização da nossa força política e a nossa força política está nas cidades, é nas cidades que acontecem o dia a dia da vida das pessoas, é na cidade que as principais políticas públicas são desenvolvidas”.

Na ocasião, Neto Egito assumiu a Executiva Estadual da Juventude. “ Satisfação em poder representar esse jovem cheio de ideias e com gana de discutir políticas públicas para a nossa cidade, para o nosso Maranhão e para o país. Agradeço ao presidente Eliel Gama pela confiança. Orgulho de fazer parte de um partido ético, organizado e comprometido”.

Também estiveram presentes no evento outras lideranças do Cidadania como o ex-vice-governador Pastor Porto, o ex-secretário de Turismo Paulo Matos, representantes dos núcleos da Mulher, da Adversidade, da Igualdade e dos Evangélicos 23. Ao final do evento, foram aprovadas pré-candidaturas a prefeito em municípios do interior e de vereadores também.

A paz na Palestina ainda terá um longo caminho

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NAS ENTRELINHAS

A guerra de Gaza mantém Netanyahu no poder, até a população se cansar. Também mantém o prestígio político, as fontes de financiamento e a revolta social que retroalimentam o Hamas

Após mais de um mês de negociações em sigilo, intermediadas por Catar e Estados Unidos, começou na sexta-feira a troca de reféns em poder do Hamas por prisioneiros palestinos em Israel. Foram libertadas inicialmente 24 pessoas, sendo 13 mulheres e crianças israelenses, 10 cidadãos tailandeses e 1 filipino em Gaza. Israel libertou 39 palestinos da Cisjordânia que já estavam presos, antes mesmo de a guerra começar, e iniciou a trégua de quatro dias na guerra de Gaza.

O grupo sob poder do Hamas em Gaza, desde os ataques terroristas de 7 de outubro, foi entregue à Cruz Vermelha, que coordenou a operação de travessia da fronteira entre Gaza e o Egito, pela cidade de Rafah. Recebidos por médicos e especialistas em comunicação com reféns, foram levados de volta ao território de Israel por helicópteros do exército. Os tailandeses e o filipino receberão atendimento médico antes de voltarem para seus países.

Nos próximos dias, outros reféns devem ser liberados, na base de três prisioneiros palestinos, menores de idade e mulheres, para cada refém israelense, num total que deve chegar a 150 palestinos por 50 israelense. A suspensão recíproca dos ataques, como resultado de negociações que duraram mais de 30 dias, é uma demonstração de que uma paz duradoura é possível se houver vontade política em torno de objetivos exequíveis. A criação do Estado Palestino exigirá negociações mais complexas e demoradas, mas continua sendo a condição para a paz definitiva.

O acordo de Paris para o fim da guerra do Vietnã, negociado entre o Vietnã do Norte e os Estados Unidos, resultou de quatro anos de negociações, após a ofensiva do Tet (Ano Novo Lunar) de 1968. Iniciadas em janeiro de 1969 e concluídas somente em 27 de janeiro de 1973, somente foram exitosas porque havia um ambiente interno nos Estados Unidos contra a guerra, uma correlação de forças internacional favorável, mesmo em meio à guerra fria, e a vontade política do conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos Henry Klissinger e do líder comunista Le Duc Tho. Ambos receberam o prêmio Nobel da Paz, mas o segundo recusou. Alegou que a paz não havia sido alcançada completamente.

Kissinger e Duc Tho foram artífices de negociações muito complexas. O primeiro cessar fogo ocorreu em 1972, quando os Estados Unidos se retiraram do Vietnã, em troca de libertação de 566 prisioneiros americanos preso em Hanoi. A segunda parte do acordo, a permanência dos governos do Norte e do Sul até as eleições, fracassou, porque as tropas do Vietnã do Norte permaneceram no Sul.

Em retaliação, o presidente Richard Nixon determinou o bombardeio de Hanoi e da cidade portuária de Haiphong, nas quais foram lançadas 100 mil bombas, o equivalente a cinco bombas nucleares. Mas as negociações continuaram e a reunificação do Vietnã acabou ocorrendo, após a autodissolução do exército do Vietnã do Sul.

Vontade política

Ao contrário do que aconteceu no Acordo de Paz de Paris, não há interlocutores em Israel e no Hamas interessados na paz duradoura, com a criação do Estado palestino, em troca de pleno reconhecimento do Estado de Israel, respectivamente. O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, já declarou que o cessar-fogo é uma “pausa breve” e os combatentes continuarão de “modo intensivo”, no mínimo dois meses. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que as tropas do país continuarão em Gaza até “trazer de volta todos os reféns e liquidar o Hamas”.

Netanyahu pretende manter o controle definitivo sobre a Faixa de Gaza após as Forças de Defesa de Israel (FDI) eliminarem o Hamas. A libertação de reféns não deveria incentivar a continuação da guerra. O cessar-fogo deu ao Hamas mais tempo para se reorganizar e fazer mais exigências nas negociações para libertar os 190 que ainda permanecem em seu poder, o que vai aumentar a pressão das famílias e dos Estados Unidos sobre Netanyahu.

Hahaha Sinwar, comandante do Hamas em Gaza, tenta ganhar tempo com o argumento de que precisa ainda localizar os demais reféns, que estariam distribuídos entre diversas facções. Sinwar retornou a Gaza em 2011, libertado na troca de mil prisioneiros pelo soldado israelense Gilad Shalid, depois de 23 anos preso. Seis anos depois, foi eleito para chefiar o território, cargo que ocupa indefinidamente.

Os jovens palestinos libertados na sexta-feira foram recebidos como heróis e não escondiam a gratidão ao Hamas. Os 14 mil palestinos civis mortos, dos quais 10 mil são mulheres e, principalmente, crianças, são tratados como mártires da independência da Palestina, muito mais do que vítimas de uma guerra insana, iniciada por uma ação terrorista do Hamas.

A guerra manterá Netanyahu no poder, até a população se cansar. Também manterá o prestígio político, as fontes de financiamento e a revolta social que retroalimenta o Hamas. Defendida pelos Estados Unidos e pela União Europeia, a solução de dois Estados é a única possível para o conflito, mas está muito longe de ser alcançada. Netanyahu não aceita a criação do Estado palestino, assim como o Hamas, apoiado pelo Irã, não reconhece o Estado de Israel. (Correio Braziliense – 26/11/2023)

IMPRENSA HOJE

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Veja as manchetes dos principais jornais (27/11/2023)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Milei convida Lula para posse e defende laços com o Brasil
Governo trava verba acordada com Congresso
Base de seis governadores resiste a aumento do ICMS
Crédito para empresas brasileiras volta a crescer
STF vai definir parâmetros para liberdade de expressão
Vandalismo destrói e também mata no Rio
Obituário/Alberto da Costa e Silva – O escritor que aproximou a África do Brasil
Em 3 dias de trégua, 58 reféns e 117 prisioneiros liberados

O Estado de S. Paulo

Milei convida Lula para posse e defende ‘construção de laços’
Argentino se reunirá com governo Biden
Teles se reiventam para buscar novas fontes de receita
Bancos estudam adoção de IA para indicar investimentos
Congressistas querem ‘blindar’ emendas e ameaçam reverter meta de déficit
Raios matam mais de 80 pessoas por ano no Brasil, revela estudo
Israel sofre pressão para estender trégua após nova libertação de reféns

Folha de S. Paulo

Lula define nome de Dino para o STF e de Gonet para a PGR
Milei manda carta para petista e propõe ‘construção de laços’
Projeto de lei quer a volta do BNDES a obras no exterior
Prorrogar desoneração custaria quase R$ 19 bi
Governo estuda dar mais auxílio ante crise climática
Exploração do pré-sal em Macaé ameaça maior área contínua de restinga do país
Ato bolsonarista na Paulista faz trituto a morto na Papuda
Yossi Halevi – É falha moral igualar resposta de Israel a atentados do Hamas
Grupo terrorista liberta mais 17 reféns em trégua

Valor Econômico

Vendas decepcionam e Black Friday é a segunda pior da história
Aumenta o desafio para regulamentar a reforma
Javier Milei convida Lula para a posse
STJ permite a execução de aval a empresa em recuperação
Clima afeta a negociação de fertilizantes

Duas grandes perdas

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à esquerda, Olga Sodré (foto extraída do site da prefeitura de Itú/SP) e à direita Alberto da Costa e Silva (Foto: Leo Martins / Agencia O Globo)

Durante dois anos, entre 1998 e 2000, eu integrei a Unesco, realizando projetos e participando de seminários em Portugal e na França.

Em determinada oportunidade, tive a honra de expor um trabalho meu em um seminário voltado para o exame da escravidão nas Américas. Apenas 17 historiadores foram convidados para o evento internacional. Presentes pesquisadores de várias partes do mundo. Nós, brasileiros, éramos a delegação mais numerosa: quatro integrantes. Então presidente da Academia Brasileira de Letras, o embaixador Alberto da Costa e Silva era o principal representante do nosso grupo. Convivi com ele por dez dias nesse Seminário, realizado em Évora. Tinha uma cultura extraordinária. Grande humanista, eu o considerava o maior escritor do Brasil. Estive com ele por algumas vezes ainda na ABL.
Alberto da Costa e Silva fará falta.

Acabo de receber a notícia do falecimento de Olga Sodré. Eu a conheci há cerca de 50 anos. Ainda muito jovem, recém formada em Sociologia, Olga atuou na Revista da Civilização Brasileira, em uma época marcada pela presença de intelectuais do porte de Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Antônio Houaiss, Ênio Silveira e Nelson Werneck Sodré, este último seu querido pai.

Tive a honra de assinar um livro com Nelson Werneck Sodré em 1998, intitulado Tudo é Política. Foi um lançamento memorável, realizado na Livraria Dazibao, então situada no Paço Imperial. Centenas de pessoas estiveram presentes. Exatamente nesse belo prédio foi lido, de uma de suas janelas, a 9 de janeiro de 1822, o Manifesto por excelência da da nossa Independência, o Fico. Não haveria local mais adequado para Nelson Werneck Sodré, um lutador das nossas mais significativas causas populares e nacionais, divulgar sua obra.

Olga Sodré dedicaria os últimos anos de sua existência ao importante e generoso trabalho de divulgação do acervo de seu pai. Muito católica, ela sempre enalteceu o espírito de abertura de Nelson, um ateu convicto.

Descanse em paz, minha amiga Olga.

Ivan Alves Filho é historiador.
26 de novembro de 2023

O dramático desafio educacional

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A alfabetização funcional pesa como um rochedo nas costas do País, cuja população, para piorar, não se dá conta disso

A constatação está na mesa há décadas: vivemos sob um apagão educacional. São poucos os brasileiros que dominam a Língua Portuguesa e conseguem elaborar um pensamento concatenado. A maioria da população não é composta por leitores sistemáticos, escreve pouco e mal. O despreparo é geral. A alfabetização funcional pesa como um rochedo nas costas do País, cuja população, para piorar, não se dá conta disso. Ouçamos as vozes das ruas, as entrevistas dos jogadores de futebol, a conversa dos motoristas e passageiros dos ônibus, a algazarra das brincadeiras infantis, os papos de bar. É uma sucessão de erros crassos nas linguagens escrita e oral. O cenário causa arrepios.

Não podemos, claro, exigir que os brasileiros sejam todos intelectuais. Mas devemos fazer algo para ao menos minimizar a tragédia cultural que nos assola. O fato é que o brasileiro médio não domina a linguagem, lê pouco, escreve menos ainda, desconhece o bê-á-bá e, por consequência, distancia-se dos meandros da reflexão ponderada e da vocalização minimamente elaborada. Nem me refiro aos números, à história, à geografia, às ciências, às questões climáticas e ambientais. Também não penso na educação cívica: na capacidade de compreender a política. Prendo-me somente ao domínio do letramento.

Há algo de muito errado numa sociedade que não consegue, em pleno século 21, ter uma população bem alfabetizada e em condições de se elevar às esferas do pensamento abstrato, ao domínio da técnica e da tecnologia, à compreensão, mesmo que simplificada, do terrível e complexo mundo em que vivemos.

O problema passa pelas escolas, evidentemente, mas não se esgota nelas. Afeta em particular os jovens, pondo em xeque seu futuro. Mas atinge o conjunto da população, os governos, os políticos, as políticas públicas, a democracia. A precariedade da educação anda de mãos dadas com a desigualdade social, que separa poucos brasileiros bem escolarizados de uma esmagadora maioria de pessoas que mal sabem conversar sobre os temas que lhes dizem respeito. Caminha junto com a rusticidade da chamada “classe política”. É um circuito envenenado, que impede a formação de um sistema educacional consistente. Há uma cultura negacionista que rejeita a escola, despreza os professores, bloqueia o futuro do País. Incrustada nela, há também uma profusão de manobras identitaristas que desejam estabelecer regras dogmáticas para reeducar professores, formatar currículos e punir os desobedientes. A escola não tem conseguido responder bem a essa situação, que a sufoca e desafia.

Hoje mesmo, se procurarmos um projeto amplo que valorize de fato a escola pública, prepare o professorado, direcione a atuação escolar, defina metas claras e forneça os meios para viabilizá-las, não encontraremos nada. As promessas e os discursos são muitos, mas ficam ao sabor de providências políticas, da ação e dos recursos de governos municipais e estaduais, cada um deles seguindo uma rota. A desigualdade vai, assim, se aprofundando. Mesmo os pesquisadores da área têm dificuldades para traduzir o quadro e fornecer soluções para ele.

Temos, ainda, um complicador adicional: a vida digital, a frequência às redes sociais, cujos apps incentivam o uso de poucas palavras, de uma comunicação simplificada ao extremo, que rouba capacidade de reflexão, dispensa o uso da linguagem e dificulta o processamento do turbilhão de informações que circulam pelas mídias. Toda uma geração vem crescendo com esse padrão, desabituando-se de ler textos mais complexos e escrever com mais qualidade e rigor. Isso empobrece a compreensão do mundo atual, com seus desafios e suas exigências. Como não se valoriza o ensino técnico e profissionalizante, complica-se o ingresso no mercado de trabalho.

Num artigo publicado na revista Veja (10/11/2023), o ex-senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque observou que “as falhas da educação brasileira são um fracasso de décadas”. Passaram governos, avanços tópicos aconteceram, mas o País continua com a pior e mais desigual educação quando comparado com outros países. Hoje nos conformamos com correr atrás de cumprir com “a simples promessa de alfabetizar alunos aos 8 anos de idade”.

O diagnóstico é amargo. Faltam metas ambiciosas e instrumentos políticos e administrativos para executar projetos estratégicos. Para Cristovam, três características da sociedade travam essa estratégia: “primeiro, educação de máxima qualidade não é um objeto de desejo político nem uma prioridade maior do eleitor brasileiro; segundo, a igualdade não faz parte do caráter nacional; terceiro, o imediatismo impede que os governos olhem para um futuro posterior aos seus mandatos”.

O que assusta é saber como atravessaremos o século 21 com este rochedo nos incapacitando. Sem um sistema público nacional único, que permita a plena alfabetização dos brasileiros e os insira de modo inteligente na contemporaneidade, continuaremos a derrapar como país e a assistir ao derramamento da desigualdade entre nós. (O Estado de S. Paulo – 25/11/2023)

Marco Aurélio Nogueira, professor titular de Teoria Política da Unesp

Viva o Zé Letrinha

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O país precisa de uma campanha para a educação como a da vacina

A característica mais visível do Brasil é a desigualdade como a população tem acesso aos benefícios econômicos e sociais — renda, moradia, serviços urbanos, saúde, educação e alimentação. Nossa cara é a concentração, não a distribuição. Única característica universal é a vacinação contra os vírus que contaminam sem respeitar fronteiras de classes: para proteger a parcela rica foi preciso vacinar a parcela pobre. Em 1973, ainda no governo militar, o Brasil criou o Programa Nacional de Imunizações. Em 1986, iniciou o sistema de vacinação simbolizado pelo personagem Zé Gotinha, com a estratégia de vacinar as crianças de todas classes sociais no mesmo dia em todo o território nacional. Começava não apenas uma campanha de vacinação, mas uma filosofia e um instinto nacional para vencer a poliomielite e outras doenças transmissíveis. O país venceu a batalha graças ao envolvimento de todos os partidos, meios de comunicação, cientistas, pais e mães, todos irmanados usando a capacidade logística de transporte terrestre, aéreo e marítimo em uma mesma luta, com um propósito comum.

Este compromisso, contudo, não existe em relação aos problemas que atingem apenas a população pobre. Não fizemos esforço pela educação de qualidade para todos, porque imagina-se que a deseducação não é transmissível. Os educados não seriam contaminados pelo abandono educacional dos outros. Isso impediu, até aqui, uma campanha nacional pela educação universal, nos moldes da vacinação. Não há um instinto nacional que convoque todos os brasileiros para alfabetizar 10 milhões de adultos que não sabem ler, e para assegurar a conclusão do ensino médio com qualidade para todas as crianças e jovens do Brasil, independente da renda e do endereço da família.

“Não há um instinto nacional que convoque 10 milhões de adultos que não sabem ler”

Essa ilusão de imunidade ignora que a deseducação contamina, provoca baixa produtividade, limita a renda nacional, causa desigualdade e pobreza, afeta a qualidade de vida, gera ineficiência nos serviços e nas indústrias, onde os profissionais de nível superior não conseguem dialogar tecnicamente com seus auxiliares. Em ambiente deseducado, ninguém se beneficia plenamente de sua própria educação.

O Brasil inteiro precisa entender que não basta educar alguns em universidades e deixá-los contaminados pela deseducação em geral, definir estratégia para superar a contaminação deseducativa, promover consciência nacional pela educação, como se conseguiu para a imunização sanitária; impregnar em cada brasileiro o valor da escolaridade de cada brasileiro como uma necessidade do país inteiro, não apenas de cada pessoa. Precisamos, inclusive, de um movimento alimentado também por campanhas de divulgação. Foram publicitários, especialmente Washington Olivetto, que criaram no Brasil a mania de “Mexa-se”, levando os brasileiros a descobrir a importância da ginástica e o valor das academias. Está na hora de eles criarem um mexa-se para promover a importância da educação e o valor das escolas.

O presidente da República precisa convidar nossos publicitários para juntos superarmos a ilusão de que deseducação não contamina os educados. Que tal desenharem um Zé Letrinha que seja símbolo da aglutinação nacional pela alfabetização? Uma figura que ajude os brasileiros a concluir o ensino médio com o mais alto padrão de qualidade, independente da renda e do endereço. (Revista Veja – 24/11/2023)

Executiva Nacional aprova o fim do pagamento obrigatório da anuidade de filiados

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A Executiva Nacional do Cidadania aprovou neste sábado, 25/11/2023, alterações em seu estatuto que foram determinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Reunião online da Comissão Executiva Nacional do Cidadania em 25/11/2023

Ao analisar o estatuto que foi aprovado no último Congresso Nacional do Cidadania, em março de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral determinou que fosse abolida a cobrança da taxa anual obrigatória, de 20 reais, que era cobrada de todos os filiados. A partir de agora o partido só poderá receber contribuições voluntárias.

Outro ponto que a Corte determinou que fosse alterado no estatuto diz respeito à indicação de delegados pelas convenções inferiores para as convenções de níveis superiores. Como essa possibilidade existia na versão anterior do estatuto e foi suprimida no último congresso do Cidadania, o Tribunal Superior Eleitoral pediu que a mesma fosse restabelecida, como forma de ampliar a participação de delegados na escolha de candidatos da agremiação.

O presidente Comte Bittencourt explicou que a cobrança de anuidade já foi interrompida e que as alterações aprovadas serão encaminhadas para o devido registro.