Avaliação de lideranças do Cidadania é de que presidente da República tentará saída autoritária diante da derrota cada vez mais provável em 2022
A Executiva Nacional do Cidadania se reuniu nesta quarta-feira (18) para discutir o cenário político atual, agravado nas últimas semanas pelas declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de um contragolpe no país, e pelas intensas ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de impeachment dos ministros Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
“Precisamos atuar para defender as nossas liberdades. Bolsonaro perde, a cada momento, perspectivas de uma possível manutenção do seu governo e de sua reeleição. Ele fala de contragolpe como narrativa de que as liberdades de expressão, de ir e vir, todas as liberdades individuais, estivessem sendo atacadas e limitadas por ação do STF, que se tornou alvo. O que obviamente não é verdade”, argumentou o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire.
Para ele, o STF está sendo ameaçado não só por setores da bolha bolsonarista “como se fosse ativista político que interfere na vida política nacional para além das competências constitucionais”. “Tratam como se a Corte estivesse impedindo o governo de governar”, disse Freire, para quem, esse espaço foi aberto na esteira da desmoralização da Lava Jato e da soltura do ex-presidente Lula, decidida pela 2ª turma do STF.
“Temos uma fera acuada que ruge defendendo o que sempre embalou seus sonhos: um governo ditatorial, de autoritarismo, militarismo, que não respeite as instituições. Não vejo bom tempo para o Brasil se não conseguirmos o impedimento desse presidente. Ao chegar na eleição, teremos problema. O que aconteceu no Capitólio foi brevemente preparado. Se aquilo foi feito nos EUA, evidentemente aqui está sendo feito”, acrescentou.
O líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE), também acredita que Bolsonaro deve caminhar para uma tentativa de golpe. “Tem consciência de que não vai conseguir chegar às eleições de 2022 em condições razoáveis de disputa, seja pela perda de popularidade, porque a crise se agrava, e principalmente por conta dos vários processos a que ele responde. Ele inclusive vai sair da CPI indiciado”, apontou.
Vieira mencionou que está entrando hoje com uma queixa crime no STF em face do Procurador Geral da República Augusto Aras por prevaricação.
“Essa soma de fatores leva à conclusão de que Bolsonaro vai tentar um autogolpe. Acho que ele não consegue uma tomada do poder pela violência. Vai ter resistência do Congresso, do Judiciário e de uma parcela significativa das Forças Armadas, mas acho que ele vai tentar. É a linha de raciocínio de Bannon e do grupo do Trump que assessora Bolsonaro”, ponderou.
O vice-líder do Cidadania na Câmara deputado Daniel Coelho (PE) acredita que o manifesto assinado por mais de 200 empresários contra falas de Bolsonaro já começa a alcançar outros setores, como o do agronegócio. Ele também vê um movimento na direção da derrota do presidente em 2022.
“Considerando o desgaste que Bolsonaro já tem na sociedade como um todo, nas camadas populares, na classe média e com a perda de apoio de setores empresariais, não vejo a menor chance de Bolsonaro vencer. A proposta ontem derrotada de reforma tributária, que aumenta a carga tributária no Brasil, também ajudou a desmontar o apoio de Bolsonaro nessa elite empresarial. Esse é um elemento do jogo político e da eleição. O nosso desafio é dar uma opção ao eleitor pra que ele tenha uma chance de optar por outro candidato. Temos chance de nos posicionarmos corretamente, de colocarmos um candidato no segundo turno e vencer a eleição”, defendeu.