Alessandro Vieira: Um ano depois, as crianças

Enquanto 79% da população brasileira é a favor da vacinação infantil, governo federal age ao contrário e espalha insegurança e medo, diz, em artigo, pré-candidato do Cidadania à Presidência

O comovente cenário da vacinação infantil para crianças de 5 a 11 anos, que começou neste meado de janeiro em alguns municípios e grandes capitais, espelha o início de uma monumental — ainda que protelada, e devemos lembrar, graças à inépcia do governo federal —, campanha nacional de vacinação iniciada há um ano. Graças, primeiro, aos brasileiros, ao Sistema Único de Saúde, (SUS) e a uma rede de profissionais da saúde e cientistas e pela mídia em geral, o Brasil se aproxima do patamar de 70% da população com as duas doses, enquanto 15% receberam a dose de reforço. Para as crianças nessa faixa, a expectativa é que a Pfizer entregue ao Brasil 20 milhões de doses até o fim de março e a CoronaVac reforçará a campanha para as crianças de até 7 anos, permitindo que seja executada com maior agilidade. Mesmo com a variante ômicron nos lembrando que é preciso estar alerta ainda por muitos anos, especialmente com a desigualdade global na distribuição das vacinas, é possível confiar que venceremos esse desafio sem precedentes.

Por aqui, um presidente negacionista e antivacina e os atrasos que custaram milhares de vidas, levaram este Senado a criar uma comissão parlamentar de inquérito histórica — da qual fiz parte —, que, no ano passado, ajudou a frear o tamanho da tragédia brasileira ao expor a política de saúde pública polifraturada. Desde então, foi criado um sistema de vigilância permanente, com alerta contra malfeitos e lambanças, com a ajuda de uma rede de profissionais de saúde respeitados, além de influenciadores de todas as áreas, que se tornaram nossos conhecidos nas mídias e redes sociais, e que soam as trombetas quando um militante do negacionismo, dentro ou fora do governo, tenta agir.

Esse alerta soou no fim de 2021, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a vacinação de crianças, seguida por uma reação voraz do governo federal para impedir que tal liberação ocorresse na agilidade necessária. O presidente da Anvisa, o almirante Antônio Barra Torres, foi categórico ao reafirmar o compromisso com a ciência e a missão de salvar vidas da entidade. A vacinação contra covid para crianças de 5 a 11 anos tem o apoio de 79% da população brasileira com 16 ou mais anos de idade, segundo pesquisa do Datafolha. Esse percentual equivale a 132,5 milhões de pessoas no país. No Nordeste, 78% são a favor e 18% contra.

Inseguranças com remédios e vacinas sempre existiram. Cabe aos líderes públicos informar a população, garantir que tenha acesso a todos os dados relacionados à eficácia, que conheça os riscos e efeitos colaterais associados e, principalmente, passar a segurança necessária para que a população possa ser imunizada e a doença aniquilada. O governo federal age ao contrário, de forma irresponsável confunde a população e espalha insegurança e medo.

Parece um governo preso na própria armadilha de desinformação, incapaz de distinguir estudos científicos sérios de correntes malucas de redes sociais. Só para alienados plenos ou criminosos cruéis, faz sentido a tese delirante de que o mundo todo está errado e só os gênios incompreendidos da web estão certos. Bolsonaro é parte destacada desse cenário surreal e a história vai apontar em qual das duas categorias o presidente brasileiro se enquadra. Parafraseando recente nota da Anvisa: vacinas salvam vidas. Por um Brasil imunizado, vacina, vacina, vacina! (Correio Braziliense – 31/01/2022)

Alessandro Vieira (Cidadania-SE) é líder do Cidadania no Senado

Leia também

“Vocês ainda vão sentir saudades do Sarney”

NAS ENTRELINHASSeu maior legado é a Constituição de 1988,...

Lula manda Casa Civil se entender com Lira

NAS ENTRELINHASMas o governo se dispõe a manter apenas...

Lula não tem empatia com o centro conservador

NAS ENTRELINHASExiste um problema de desempenho nos ministérios, mas...

A luz do poeta Joaquim Cardozo na arquitetura de Brasília

NAS ENTRELINHASMuitos arquitetos e engenheiros vieram para Brasília com...

Lira teme efeito Orloff ao deixar comando da Câmara

NAS ENTRELINHASO presidente da Câmara se tornou uma espécie...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!