Nosso Javier Milei e nossos erros

É possível que nosso Milei não consiga os votos necessários para barrar a reeleição do Lula

Milei Lula Bolsonaro

Em algum lugar já está se preparando o Milei brasileiro para 2026, ainda não sabemos seu nome, mas sabemos o que ele poderá dizer para atrair votos. Não será fechar o Banco Central, nem dolarizar a economia, porque este primeiro ano do Lula III parece querer repetir a responsabilidade fiscal de seus mandatos anteriores. Nosso Milei deverá trazer, pela direita, propostas para superar fraquezas das forças progressistas: enfrentamento da violência e da criminalidade; tolerância com os privilégios e promiscuidade entre os três poderes; falta de gestos para combater a corrupção e quebrar a polarização política, e de propostas com esperança para um futuro diferente no desenvolvimento brasileiro.

Javier Milei teve votos porque preencheu a impotência do governo democrático argentino diante da inflação; o Milei brasileiro vai ganhar votos se acenar que a esquerda governo brasileira é impotente para enfrentar a violência urbana e a criminalidade em geral. No lugar de propor fechamento do Banco Central, o Milei brasileiro vai propor o fim do papel do Ministério Público e do Poder Judiciário como defensores dos Direitos Humanos, especialmente para proteger e soltar suspeitos e condenados por crimes; propor a implantação de pena de morte para certos crimes; a redução da maioridade penal e adoção do trabalho forçado para detentos; além do fim de direitos dos presos, como visita íntima, saídas especiais e remissão de pena por estudo. Não vai chegar ao ponto de dizer que acaba com habeas corpus, mas vai apresentar propostas para reduzir o poder dos juízes outorgarem este direito. Dirá fazer um governo voltado para o fortalecimento das polícias em vez do respeito ao poder judiciário.

Ele trará de volta o velho discurso da caça aos marajás de 1989, dizendo que enquanto o povo passa fome, a cúpula do Estado nos três poderes aumentou seus privilégios, benesses e mordomias usando recursos públicos com a conivência e locupletação das forças progressistas. Vai dizer que no primeiro dia de seu mandato fará decretos, projetos de lei e propostas de reforma da Constituição para ninguém receber mais do que o teto salarial previsto para o setor público, eliminando todos os indecentes penduricalhos, e ainda vai reduzir o valor deste teto. Lembrará que nos 40 anos de democracia, mais da metade com governos progressistas nada foi feito para enfrentar privilégios. Dirá também que no seu governo não vai negociar com partidos e que acabará com o orçamento secreto e as emendas parlamentares, orientando estes recursos para investir em educação, saúde e segurança..

Vai propor tirar o país da atual polarização politica não pelo diálogo que os democratas defendem e não praticam, mas pela redução na força dos partidos e dos políticos. Irá propor medidas sobretudo contra os grupos identitários.

No que se refere ao futuro, vai garantir a continuidade do Bolsa Família, talvez até aumentar seu valor, mas vai impor condicionalidades e oferecer planos para que no prazo de alguns anos ninguém mais precise desta ajuda, porque terá emprego e renda. Não suspenderá cotas, mas vai prometer educação com qualidade para todos, tornando desnecessário o tratamento especial para alguns. No lugar da conservação florestal, vai propor plano de metas, lembrando o presidente Juscelino, para dinamizar a economia verde, respeitando o meio ambiente.

Diante da experiência eleitoral no Brasil e do descumprimento de promessas ou fracasso do argentino é possível que nosso Milei não consiga os votos necessários para barrar a reeleição do Lula, mas sua força estará na fragilidade dos progressistas para enfrentar a violência e a criminalidade, eliminar privilégios, combater corrupção, pacificar politicamente o país e acenar para um Brasil diferente no futuro. Tanto quanto Milei foi eleito na Argentina pelos erros da esquerda, o Milei brasileiro poderá ser eleito por nossos erros. (Blog do Noblat/Metrópoles – 24/12/2023)

Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

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