Para alguns democratas, o Governo Lula precisa se sair bem para não alimentar o retorno do bolsonarismo
Acho difícil esse governo dar certo. Por uma razão: não tem programa, não tem linha. Quase quarenta ministérios não é lá muito sério. É um governo para acomodar os conchavos. Gostaria de estar enganado. E essa declaração do Presidente criticando o teto de gastos é, no mínimo, irresponsável.
Sem falar que o clima de polarização se mantém.
Não corremos o menor risco de o Governo Lula, esse terceiro Governo Lula, representar algo parecido sequer com uma Frente Ampla. Alguns observadores têm se apressado nesse julgamento. Na verdade, estamos diante de mais um governo do PT e nada além disso.
O Governo Bolsonaro não se pautou pelo respeito às normas democráticas. Mas também não conseguiu reverter a Democracia, essa é que é a verdade. E isso se deve à reação das instituições democráticas. O ministro Alexandre Moraes teve um papel central nesse processo.
Muitos votaram em Lula temendo um retrocesso democrático ou uma volta da ditadura militar. Essa é que é a verdade também. Ou seja, votaram na Democracia e não em Lula ou no PT. Os petistas parecem ter dificuldades em lidar com esse quadro.
O fato disso ter ocorrido não transforma Lula da Silva em democrata de uma hora para outra. As circunstâncias é que foram determinantes. Getúlio Vargas não tinha sequer catinga de democrata, mas foi levado a abrir o país com o término da Segunda Guerra Mundial, anistiando os comunistas e outros opositores. Décadas depois, João Figueiredo trilhou o mesmo caminho. Nenhum dos dois era propriamente comprometido com a ordem democrática. Como Lula da Silva tampouco.
Lula e o PT tiveram várias oportunidades de afirmar seu comprometimento com a Democracia e não o fizeram. A lista é grande, desde que o PT foi legalizado pela ditadura militar, contrariamente aos comunistas do PCB e do PC do B, sem esquecer os socialistas do PSB. Só para lembrar, o PT se recusou a comparecer ao Colégio Eleitoral, em 1984. Era puro demais para isso. Mais: boicotou a votação da nova Constituição Federal, em 1988. E ainda foi contrário ao parlamentarismo, no plebiscito de 1993, instituiu o chamado mensalão e classificou de Golpe de Estado o impeachment de Dilma Rousseff, fiscalizado o tempo todo pelo Supremo Tribunal Federal. Esse pano de fundo nos obriga a, pelo menos, manter um pé atrás em relação a esse quinto governo do PT.
Para alguns democratas, o Governo Lula precisa se sair bem para não alimentar o retorno do bolsonarismo. Penso o contrário: a única maneira de impedir a volta do populismo dito de “direita” consiste em lutar, desde já, pela formação de um Campo Democrático de oposição progressista e crítica ao lulismo, ao populismo dito de “esquerda”.
Ivan Alves Filho, historiador