“Aprendemos ao longo de um século de história. Erramos e acertamos. Mas não deixamos de olhar pro futuro nem abrimos mão de princípios”, diz Freire
100 anos não são 100 dias. De uns anos para cá, tornou-se uma convenção avaliar governos pelos seus primeiros 100 dias de gestão. Em termos históricos é muito pouco, mas o suficiente para dizer se as sementes da mudança foram plantadas.
E se elas se transformarão, mais tarde, em combate a pobreza, elevação de emprego e renda, controle da inflação e responsabilidade fiscal, crescimento econômico, educação e saúde de qualidade.
Enfim, se o projeto vitorioso nas urnas aponta para um futuro mais próspero, capaz de colocar o Brasil na rota da superação de problemas de décadas, com mais inclusão e igualdade de oportunidades, celebrando a diversidade que sempre nos fez únicos.
O que dizer então de 100 anos? Em termos históricos, é período suficiente para mudar para sempre os rumos da História. Nos últimos 100 anos, vimos a população mundial sair de cerca de 2 bilhões para mais de 7 bilhões de pessoas; a ascensão e a queda do nazifascismo, uma segunda guerra mundial e os horrores do holocausto.
A fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a morte de Lênin, a ascensão de Stálin, a denúncia dos crimes de Stálin, as Revoluções Chinesa e Cubana.
A exploração imperialista europeia na África e a abjeta segregação e violência extrema do apartheid. O fim do colonialismo. A “queda” do Império Britânico e a ascensão dos Estados Unidos como a maior potência econômica e militar do mundo, com suas guerras, como as do Vietnã e do Iraque.
Vimos a emergência da Coréia capitalista e da China comunista como potências. Gorbachev, a Perestroika e a Glasnost. A queda da URSS e do muro de Berlim. O socialismo real derrotado pela história. De um mundo bipolar para um mundo multipolar. De uma guerra fria para outros conflitos provocados pela busca de hegemonias por parte de potências mundiais.
Revoluções tecnológicas nas mais diversas áreas. Da saúde, com as pessoas vivendo cada vez mais, em que pese a imensa desigualdade mundial, à indústria, globalizada, descentralizada, robotizada. A conquista do espaço por Iuri Gagarin e da inteligência artificial por Marvin Minsky. A prosperidade na cooperação.
No Brasil, também a luta dos comunistas e as conquistas operárias e sindicais, que ditaram mudanças profundas na sociedade, como direito à greve, férias, salário-mínimo, licença maternidade e paternidade.
De 1922 até hoje, 2022, o Partido Comunista Brasileiro, o PCB, também partidão, resiste.
Resiste em seus ideais. Ideais do humanismo. Da democracia como valor absoluto. Da igualdade e da fraternidade. Do pacifismo. Das liberdades. Ideais que, ao longo desses 100 anos, permanecem inalterados.
E com os quais marcamos a história do país com o Sistema Único de Saúde, do qual Sérgio Arouca, um comunista, foi artífice.
Resistimos nos ideais. Embora a visão de mundo tenha mudado.
Mudou quando não acreditou na luta armada como meio de combater a ditadura, enquanto revoluções tentavam introduzir o socialismo pelo mundo. Mudou, dando lugar ao Partido Popular Socialista, quando reconhecemos a derrota do socialismo real pela história.
Mudou quando, já em 1989, víamos concessões e privatizações como meios de garantir um Estado mais eficiente em áreas que não precisavam nem deveriam ser atividade de responsabilidade direta do Estado.
Mudou quando entendemos que a política saiu dos sindicatos e das organizações tradicionais para o mundo em rede. Quando os partidos começaram a deixar de fazer sentido para uma parcela significativa da população e nos tornamos Cidadania.
E quando, agora, diante da necessidade de oferecer ao Brasil uma alternativa democrática a Bolsonaro e Lula, nos unimos ao PSDB para refundar a Social-Democracia brasileira, retomando o diálogo com liberais sociais e ambientalistas. Se as circunstâncias mudam, mudamos nós, mas sem abrir mão de nossos princípios.
O principal deles: cidadania. Cidadania a todos os brasileiros, irrestritamente. Acabar com a verdadeira guerra que ceifa dezenas de milhares de vidas todos os anos, 78% delas de jovens negros. Pôr fim a essa espécie de apartheid racial e social que ainda vigora no país.
Derrubar o muro que ainda nos opõe ao mundo e aos avanços das novas sociedades e que está de pé na cabeça de certa esquerda ultrapassada, que é prisioneira da guerra fria. Algo evidente na visão distorcida e no apoio absurdo que dão à agressão das tropas de Vladimir Putin na invasão da Ucrânia.
Apoio a um expansionismo russo que vem especialmente da eXquerda latino-americana, do chavismo, bolivarianismo, peronismo, sandinismo, lulismo e outros ismos afeitos ao autoritarismo.
Fazer uma revolução na Educação, única forma de libertar e emancipar o povo.
Tornar o Estado eficiente e resgatá-lo do sequestro que que lhe aplicou uma extrema-direita inepta. E que dele se assenhorou para vender facilidades, tal como milicianos que dominaram imensos territórios do Rio de Janeiro e fazem caixinha com serviços de utilidade pública.
Inserir o Brasil definitivamente no Século XXI, com economia verde, preservação da floresta em pé, biotecnologia, digitalização dos serviços públicos, da sociedade da inteligência artificial, do Homo Deus de Yuval Harari.
100 anos não são 100 dias.
Giocondo Dias! Luís Carlos Prestes! Astrojildo Pereira! Portinari! Drummond! Laudelina de Campos Melo! Claudino José da Silva! Jorge Amado! Solano Trindade! Abigail Paschoa! Grando! Sérgio Arouca! Givaldo Siqueira!
Dentre os vivos, podemos aqui homenagear o homem Francisco Inácio de Almeida e a mulher Dina Lida, e, na pessoa deles, a todos os homens e todas as mulheres que estão hoje ainda aí contando a nossa história.
Novos e antigos integrantes desta agremiação. Todos imbuídos do espírito da cidadania, construído na luta e nas ideias.
Como escreveu nosso poeta maior, Ferreira Gullar, que está nessa lista, éramos apenas pouco mais de 70 lá no início, em 1922.
Aqueles 70 e poucos sabiam de marxismo, mas tinham sede de justiça e estavam dispostos a lutar por ela.
Hoje, somos centenas de milhares.
Eu sou apenas um deles.
Disse ainda nosso poeta – que também era comunista:
“O PCB não se tornou o maior partido do Ocidente, nem mesmo do Brasil. Mas quem contar a história de nosso povo e de seus heróis tem que falar dele. Ou estará mentindo”.
Nós aprendemos ao longo de um século de história. Erramos e acertamos.
Mas nunca deixamos de olhar para o futuro. Nunca abrimos mão dos nossos princípios.
É chegada a hora de liderarmos o Brasil rumo a um século de luzes!
Quem viver verá!
Em honra e memória dos que se foram. E pelos que ainda estão por vir.
Viva o PCB! Viva o Cidadania!
Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania