Para a senadora, depoente da CPI da Pandemia mancha a imagem de pastores Brasil afora realmente dedicados à missão evangelizadora (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
A líder do bloco parlamentar Senado Independente, Eliziane Gama (Cidadania-MA), repreendeu nesta terça-feira (3), no retorno dos trabalhos da CPI da Pandemia, o autointitulado reverendo Amilton Gomes, que mentiu e omitiu informações durante o depoimento à comissão sobre a intermediação da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitárias) na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde.
Filha de pastor, a parlamentar do Cidadania observou que o presidente Jair Bolsonaro e pessoas como o reverendo estabeleceram uma relação promíscua entre governo e Estado, e disse que a postura de Amilton mancha a imagem de pastores Brasil afora realmente dedicados à missão evangelizadora
“Temos hoje centenas de pastores no Brasil que, com todo respeito ao senhor, não têm essa postura. A gente percebe claramente que o senhor mente e omite em algumas situações. O que estamos vendo ultimamente é que, em nome de Deus, se propaga o armamento; em nome de Deus, se propaga a perpetuação da doença; em nome de Deus, em vez de se buscar, por exemplo, a vacina, se obstruía a busca por vacinas. Não basta pegar numa Bíblia ou ir à Igreja como o presidente da República faz. Ser a imagem e semelhança de Cristo não é isso”, protestou.
Eliziane Gama se disse triste com a atuação do reverendo e registrou como ela difere da postura de seu pai e dos milhões de evangélicos brasileiros.
“Fico pessoalmente muito triste pela sua posição. Lhe digo isso porque meu pai é pastor há mais de 40 anos. Quando eu nasci, ele já era pastor. E eu sei o que é um pastor, um ministro, sei o que é a luta e o que eles representam pra uma sociedade. No início do Ministério dele, meu pai andava 10 quilômetros pra realizar um culto, nas condições mais insalubres que se possa imaginar. Então esse é o pastor que eu conheço, que eu aprendi a respeitar”, argumentou.
A senadora ainda defendeu o Estado laico e sustentou que é preciso respeitar a separação entre Igreja e governo, junção que resultou, na Idade Média, na Santa Inquisição e na morte de mais de 100 mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças. As Igrejas, pontuou, podem e devem ajudar na execução de políticas públicas, de responsabilidade do Estado.
Segundo ela, “não adianta ir na igreja, pegar um bíblia e falar de Deus igual o presidente faz” mas é preciso também ter ações de fé.
“Seu ministério caiu em descrédito”, disse Eliziane Gama.
“Milhares de pastores e reverendos levam muito a sério a missão que receberam”, disse.
Eliziane Gama concluiu sua participação na sessão de hoje da CPI lendo uma passagem bíblica como um recado ao reverendo e um desagravo aos evangélicos.
“Quero finalizar deixando para o senhor 2 Coríntios 6:3, que diz o seguinte: ‘Não damos motivo de escândalo a ninguém, em circunstância alguma. Para que o nosso Ministério não caia em descrédito’. O seu Ministério caiu em descrédito, senhor reverendo. Preciso fazer esse registro em nome de 30% evangélicos desse país e por milhares de pastores e reverendos que, assim como meu pai, levam muito a sério a missão que receberam. O senhor tem uma responsabilidade dupla como cidadão e como pastor, de ser de fato uma diferença na sociedade brasileira”, cobrou.
‘Usado’ pela Davati
Amilton Gome disse que mandou um e-mail pedindo com urgência uma reunião com a SVS (Secretara de Vigilância em Saúde) do Ministério da Saúde. E, mesmo antes de receber qualquer resposta, foi à SVS para participar do encontro.
“Não dá para acreditar”, reagiu Eliziane Gama.