Para senadora, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde deu a entender em depoimento à CPI da Pandemia que aceitou tratar formalmente de negociações para a aquisição da vacina indiana (Foto: William Borgmann)
A líder do bloco parlamentar Senado Independente, Eliziane Gama (MA), disse que o depoimento do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, à CPI da Pandemia nesta quarta-feira (07) não foi convincente ao dar a entender que aceitou tratar formalmente de negociações para a aquisição de vacinas da Covaxin, quando ainda era diretor do Ministério da Saúde, a partir de encontro no restaurante Vasto em Brasília, em 25 de fevereiro, de forma inesperada para ele.
“O senhor não acha coincidência demais? O senhor vai a um shopping num restaurante, com um amigo [José Ricardo Santana, ex-secretário executivo da diretoria de regulação do Mercado de Medicamentos da Anvisa] que tem expertise exatamente nessa área. Lá o senhor encontra por acaso um negociante oferecendo 400 milhões de vacinas ao lado de um ex-assessor seu [o coronel Marcelo Blanco]. Um negócio de R$ 30 bilhões. É muita coincidência, e o negociante [Luiz Paulo Dominghetti] estava hospedado num hotel em frente ao shopping e já havia apresentado propostas à pasta. E tudo é agendado rapidamente para que o senhor receba essa pessoa no dia seguinte no ministério. Não consigo acreditar na sua versão, me desculpa”, disse a senadora, representante da bancada feminina na CPI.
Roberto Dias foi exonerado na última quarta-feira (30) após suspeitas de pedido de propina de US$ 1 por dose para a contratação da vacina da AstraZeneca pelo governo federal. Ele negou à comissão as acusações feitas pelo vendedor e policial militar Luiz Paulo Dominghetti, o qual ele disse ‘trata-se de um picareta que tentava aplicar golpes em prefeituras e no Ministério da Saúde’.
“Roberto Dias vai tomar um chopp num sábado e por ‘acaso’ se encontra com Blanco e Domingueti. Na mesa do bar lhe oferecem 400 milhões de doses de vacina. Dias leva o lobista no dia seguinte ao ministério. Que falta de sorte da Pfizer: precisou tentar 101 vezes”, postou Eliziane Gama na rede social, ao mencionar a demora do governo federal na compra de vacinas contra a Covid-19.
Ao jornal Folha de S. Paulo, Dominghetti afirmou que Dias pediu US$ 1 de propina por dose da vacina. Em seu depoimento à CPI, o vendedor reafirmou o que revelou ao jornal. Durante sua oitiva, realizada na última quinta-feira (1º), Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, disse ter recebido o pedido de propina para a compra de 400 milhões de doses do imunizante.