Debatedores defendem aprovação de projeto de Eliziane Gama que cria fundo para amparar órfãos da Covid-19

Senadora propõe a criação de um fundo especial direcionado aos municípios brasileiros para o fortalecimento de ações voltadas à infância (Foto: Reprodução/TV Senado)

Senadores e convidados de audiência pública realizada nesta sexta-feira (18) na Comissão Temporária da Covid-19 discutiram a situação de invisibilidade de crianças e adolescentes órfãs da doença e a aprovação de projeto que institui um fundo de amparo para viabilizar o acolhimento dessas pessoas que ficaram vulneráveis.

Autora do requerimento para a realização do debate e também de um dos projetos (PL 2180/2021) que prevê a criação do Facovid (Fundo de Amparo às Crianças Órfãs pela Covid-19), a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) citou estudo da economista Ana Amélia Camarano, técnica do IPEA (Instituto de Pesquisas Aplicadas ), identificando — caso as mortes por Covid-19 continuassem na média de mil pessoas por dia — que cerca de 4 milhões de adultos e um milhão de crianças poderiam ficar na pobreza com a perda de idosos que sustentavam suas famílias.

De acordo com a senadora, o cenário é muito pior do que o previsto pela pesquisadora já que famílias inteiras estão indo a óbito em razão da pandemia, necessitando que o Estado atue na defesa dessas pessoas mais vulneráveis.

“Nós apresentamos um projeto para atender essas crianças e adolescentes, criando um fundo especial que poderá ser direcionado aos municípios brasileiros para o fortalecimento do Fundo Nacional da Infância. Portanto, uma ajuda a mais, um “plus” para essas crianças e adolescentes em todo o Brasil”, disse Eliziane Gama.

Esforços para viabilizar fundo

O projeto da senadora do Cidadania foi inspirado na ideia legislativa apresentada pelo jornalista Walberto Maciel, no Portal e-Cidadania. Durante a participação na audiência, Maciel informou que vários parlamentares estão apoiando e apresentando propostas no sentido de criar um financiamento para o acolhimento das crianças e adolescentes e que, neste momento, é necessário reunir os esforços para concretizar a medida.

“O que eu gostaria que acontecesse no Senado é que todos os senadores, independentemente de partido, independentemente de linha política, se unissem a um projeto, fizessem um projeto em conjunto e aprovassem esse projeto para socorrer essas crianças. Isto é mais do que urgente urgentíssimo, isto é para ontem, porque já morreram, de ontem para hoje, mais de 2,7 mil pessoas, e, pelas estatísticas, pelo menos 30% dessas pessoas deixam filhos e filhas desamparados”, argumentou Maciel.

Políticas públicas

Além de garantir o financiamento que possa auxiliar as famílias no acolhimento dos novos órfãos, o Promotor de Justiça da Infância e da Juventude de São Luís, Márcio Marques, defendeu a atuação do Poder Público em três eixos: a desinvisibilidade dessas crianças e adolescentes com estudos que identifiquem onde estão, suas demandas e quais características; a garantia de uma rede (seja familiar ou não) que ira acolhê-la e a adequação dos direitos e garantias já estabelecidos pelo Estatuto da Criança e Adolescência a essa nova necessidade. Para ele, é preciso estar atento, principalmente, para os órfãos na primeira infância.

“Por que é na primeira infância que nós temos as janelas de desenvolvimento integral, em especial, o cognitivo e o desenvolvimento afetivo, e a ausência completa dos pais desses órfãos vai comprometer a potencialização desse desenvolvimento. Quer dizer, é preciso que a gente estabeleça, seja num redimensionamento de programas como o da Criança Feliz ou de outros, que não haja essa perda da oportunidade desse desenvolvimento integral”, afirmou Marques.

Adoção

A representante do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), Silvana Moreira, informou que atualmente 29.979 crianças e adolescentes estão acolhidas em entidades de acolhimento em todo o Brasil. Destas, 14.503 estão nessa situação há mais de três anos, quando o Estatuto da Criança e do Adolescente determina o acolhimento máximo de 18 meses.

Na avaliação de Silvana, a legislação para agilizar os processos de adoção não precisa ser alterada e sim, fazer com que as varas da infância e adolescência não sofram com acumulação de competências para que, desta forma, consigam cumprir os prazos e obrigações estabelecidos pelo estatuto da Criança e do Adolescente.

“Hoje, por exemplo, aqui no Rio de Janeiro, é infância, juventude e idoso. Em Minas Gerais: infância, juventude e criminal. No Maranhão, eu não sei se as varas têm competência exclusiva em criança e adolescente. Não sei também se cada vara tem, para cada 200 mil habitantes, um psicólogo, um assistente social e um pedagogo. Então, como dar prioridade para crianças e adolescentes se sequer o Judiciário cumpre o que é emanado do Conselho Nacional de Justiça?”, cobrou.

Ainda segundo Silvana, o número de adoções vem caindo no País. Em 2020, no período de janeiro a março, foram 683; em 2021, foram 289.

Agilização de procedimentos

A necessidade de agilizar e correr com esses processos também foi defendido pelo Defensor Público e presidente da Condege (Comissão de Promoção e Defesa da Criança e do Adolescente), Rodrigo Azambuja Martins.

“Não há necessidade disso. Há necessidade desse atendimento integral, como muito bem demonstrou o doutor Marcos, para prover cuidados a esses meninos e meninas, seja ele através de um apoio financeiro, como já previsto no projeto de lei mencionado, seja através de outras ações intersetoriais com os Cras [Centro de Referência de Assistência Social] e com os Creas [Centro de Referência Especializado de Assistência Social], para, então, promover o desenvolvimento saudável desses meninos e meninas que perderam seus pais e suas mães”, observou.

Orçamento

Na visão das senadoras Zenaide Maia (Pros-RN) e Eliziane Gama, os avanços para atender aos órfãos da Covid-19 com a adequação das políticas públicas de assistência social só poderá se tornar prioridade no País quando o governo assim os priorizar dentro do Orçamento Geral da União. (Com informações da Agência Senado)

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