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Calero diz que fala de Bolsonaro intimida senadores e humilha chanceler brasileiro

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O deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ) disse, nesta segunda-feira (5), que o presidente Jair Bolsonaro desrespeitou as instituições ao insinuar que poderia indicar o próprio filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), para o cargo de ministro das Relações Exteriores, caso o Senado reprove o nome de Eduardo para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos.

“Tentativa de intimidação dos senadores, deboche com as instituições do país, humilhação imposta ao ministro Ernesto Araújo e nepotismo, baseado em visão voluntarista, caprichosa e autoritária do cargo que ocupa”, afirmou Calero em uma rede social.

A fala do presidente ocorreu neste domingo, na saída do Palácio da Alvorada. Bolsonaro chamou de “hipocrisia” as críticas sobre nepotismo diante da disposição dele nomear o próprio filho para ser embaixador.

Calero, que é diplomata de carreira, acrescentou que a resposta do mandatário brasileiro para esta questão mostra seu despreparo no cargo.

“Em fala de 30 segundos, Jair Bolsonaro escancara toda sua incapacidade”, criticou o deputado federal.

Orlando Caldeira do Cidadania de MG é eleito o novo prefeito de Itabirito

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A população de Itabirito, município localizado na região central de Minas Gerais, elegeu, neste último domingo (5), em eleição suplementar para a prefeitura da cidade, Orlando Amorim Caldeira, do Cidadania. Caldeira obteve 14.421 votos (53,87%) e terá como vice Elio da Mata Santos, também do Cidadania. Eles serão diplomados até o dia 23 de agosto e ficarão no cargo até dezembro de 2020.

Orlando Caldeira agradeceu a confiança dos eleitores e, sobretudo, dos militantes do partido no estado, em especial, ao dirigente Paulo Elisiário.

“Dedico está vitória ao nosso companheiro Paulo Elisiário, que na oportunidade da minha filiação no então PPS, era o nosso presidente. Ele dos despertou a vontade de fazermos diferente a nossa política local com a apresentação de propostas e ideias. Esta vitória é do Cidadania, que nos ajudou e despertou a possibilidade de vencer o impossível. Foram 12 anos de caminhada, mas afora o Cidadania 23 se desperta para um futuro melhor para nossa Itabirito”, disse.

O pleito foi realizado após o TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral) cassar os mandatos do ex-prefeito, Alex Salvador (PSD) e do vice, Wolbey Olveira (PSD). Eles foram acusados de abuso de poder econômico e captação ilícita de recursos financeiros na campanha eleitoral.

Na eleição suplementar ficou em segundo lugar a chapa formada por Arnaldo Pereira dos Santos (MDB) e Rodrigo do Porco (PSD), que receberam 11.568 votos (43,22%). Já a chapa formada por Luiz Niquini e Marina Pedrosa (Democracia Cristã) tiveram 779 votos (2,91%).

Fernando Henrique Cardoso: Falta fazer

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No artigo anterior escrevi sobre o Plano Real. E no pós-Real? Muita coisa mudou na economia, na política e na sociedade. O pesadelo da inflação e da dívida externa ficou no passado. Políticas universais de educação e saúde se estruturaram e programas de transferência de renda para os mais pobres se estabeleceram. Houve alguma melhoria – nunca suficiente – na renda do trabalho. Falta ainda algo essencial: taxas de crescimento contínuas que – mesmo sem serem espetaculares – permitam oferecer mais emprego e renda. Para isso o ordenamento das contas públicas, conquista perdida nos governos do PT, é condição necessária.

Os passos iniciais para sua recuperação foram dados com a reforma da Previdência. Nem tudo, porém, depende só de nós. Exemplifico: foi o entendimento dos Estados Unidos com a China, levado a efeito pela dupla Nixon-Kissinger, que assentou as bases da estabilidade e do crescimento mundial nas décadas seguintes. Os benefícios plenos daquele entendimento se concretizaram depois que Gorbachev desencadeou um processo de mudança que resultou na Queda do Muro de Berlim e no colapso da União Soviética, facilitando a ampliação da União Europeia e pondo fim à guerra fria. Nesse contexto, aos poucos, a ideologia terceiro-mundista foi se debilitando, abrindo espaço para uma nova era de convivência entre os países: a da globalização.

Com ela a pobreza mundial diminuiu, houve intensificação do comércio internacional e algumas nações da periferia mundial aproveitaram para se integrar às cadeias globais de valor. Entre nós, os efeitos da estabilização e da maior integração econômica tornaram possível difundir políticas sociais inclusivas e introduzir tecnologias de ponta na agricultura, na mineração, nos setores financeiros, bem como em alguns processos industriais. Nossas exportações, que ainda são modestas, tiveram chance de expansão, em particular durante o boom das commodities. Em conjunto, isso deu a sensação de que “chegara a vez do Brasil”. Infelizmente, a má condução da economia, na última parte do governo Lula e no de Dilma, mergulhou o País na pior recessão de sua História, da qual nos recuperamos lentamente, a despeito dos esforços do governo Temer.

É cedo para ver se o atual governo logrará retomar o crescimento econômico e praticar políticas inclusivas. O desaguisado inicial lança dúvidas sobre tal desfecho. Faltam estratégias que deem ao povo o sentimento de que “desta vez vamos”. Mais ainda. Na era da globalização as tecnologias de produção e comunicação estão sujeitas a renovações constantes. Tudo depende de avanços científicos e tecnológicos e da capacidade dos governos de os anteverem e criarem condições para sua vigência. Os sinais dados até agora são desanimadores. O futuro é incerto: há retrocesso no plano internacional. Além de a vaga populista de direita ser crescente, o entendimento sino-americano tropeça na rudeza “trumpista”, com a qual fazem coro os autoritários da direita mundial.

Abrem-se assim espaços para a reaproximação da Rússia com a China. Imaginava-se em passado recente que no Ocidente predominariam os valores de um liberalismo progressista, com a aceitação das diferenças, a valorização da pessoa humana e o apoio a políticas sociais inclusivas. Acreditava-se que os mercados, instrumentos do êxito econômico, não implicariam o desfazimento da ação política e do papel dos Estados. Era o sonho da Terceira Via. Vê-se agora a revitalização de forças opostas a essa visão. Forças que não são liberal-conservadoras, normais nas democracias, mas reacionárias, atrasadas. É nesse contexto que, com realismo e sem utopias regressivas, as agremiações políticas brasileiras terão de se reposicionar. Diante do liberal-autoritarismo é preciso insistir no liberal- progressismo.

Este não pensa apenas nas pessoas e em sua liberdade (valor essencial), mas também no conjunto da população. Supõe, consequentemente, uma ação pública sinalizadora para os mercados e redutora de desigualdades da sociedade. Ações que, sem arbitrariedades políticas, promovam a capacidade e o bem-estar das pessoas, redistribuam renda e preservem o meio ambiente. Há muito a pensar e fazer. Não basta a boa economia, é preciso o bom governo e a boa sociedade. Sem isso as nuvens do mundo, já carregadas, despejarão mais água na chama de um futuro melhor para o País e as pessoas. Nossos partidos políticos ficaram aquém das expectativas. Sem falar na desilusão que foi o PT, mesmo o PSDB e o PMDB – um, social-democrata, o outro, democrático-popular – se enredaram na teia das corrupções, magnetizados pelo estatismo, fiador do patrimonialismo.

A social-democracia envelheceu sem responder aos desafios das “sociedade em redes”: os contatos diretos voltaram a valorizar as pessoas, as novas formas de produção estagnaram a renda das classes médias e aumentaram as desigualdades. O populismo do passado, integrador das massas na política, deu passo à arrogância do populismo de direita, que espalhou o medo do imigrante, da violência e das mudanças. Os movimentos políticos renovadores estão se organizando fora dos partidos. Entretanto, a democracia política requer formas institucionalizadas de ação. Que fazer? Renovase a pergunta. Ainda haverá partidos capazes de se reinventar? A “nova política”dispensará partidos e será simbolizada apenas por líderes? Esse impulso carismático escapará de ser outra versão de fascismo? Duvido. Chegou a hora de refazer percursos, de reconhecer erros e assumir, sem oportunismo, posições políticas condizentes com o estilo de produção, sociabilidade, comunicação e modo de agir contemporâneos. Em vez de aderir de corpo e alma ao “trumpismo” ou de sonhar com um estatismo caduco, é melhor agir em defesa dos interesses nacionais e populares, com postura não agressiva, mas altiva. Mãos à obra, repito.

SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Arnaldo Jordy: Altamira, o nosso Carandiru

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Mais uma vez, o Pará está nas manchetes dos jornais do Brasil e do mundo de forma negativa, depois do segundo pior massacre em presídios brasileiros – só perde para o do Carandiru, em São Paulo, com 111 mortos -, na segunda-feira, 58 detentos foram trucidados por membros de facções rivais em um banho de sangue no Centro de Recuperação Regional de Altamira, e quando autoridades diziam que tudo estava resolvido, no dia seguinte, outros quatro foram assassinados durante a transferência de Altamira para Belém, dentro de um caminhão da Susipe, somando 62 mortos na rebelião.

O massacre expõe as entranhas do sistema penal brasileiro, cujas unidades são dominadas, da porta para dentro, por facções do crime que disputam territórios e rotas para o tráfico. É de conhecimento das autoridades que a facção Comando Classe A, ligada ao PCC, responsável pelos ataques, tem bases fortes em Manaus e Altamira, que disputam de forma sangrenta com o Comando Vermelho as rotas da cocaína que entra no Brasil ou que passa por aqui em direção à Europa, o que precisa ser combatido com inteligência e planejamento, e não apenas abarrotando as prisões, verdadeiros depósitos de seres humanos que, para sobreviver, precisam aderir a uma ou outra facção. Não há quase nada no sistema penitenciário que permita a recuperação dos presos, o que há são realidades absurdas que agravam sua agressividade, como mostram as 16 decapitações havidas em Altamira.

É preciso lembrar que 35% dos presos em Altamira são provisórios, não foram julgados e, portanto, não tem sentença condenatória. E mesmo que fossem, estão sob a tutela do Estado e não deveriam ser mortos, mas cumprir suas penas. Não há pena de morte no Brasil e não se pode aprofundar ainda mais a barbárie.

O Complexo Penitenciário de Altamira tinha 343 presos para apenas 163 vagas. A superlotação é consequência da explosão da violência no município. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostra que Altamira passou da média de 16,8 mortes por 100 mil habitantes em 2000, para 105 mortes por 100 mil habitantes em 2015, um aumento de 600% em 15 anos. A população cresceu de 77 mil pessoas em 2000, para 113 mil em 2018, quase dobrando, sem as devidas condições de infraestrutura, já que os apelos pelas condicionantes foram desprezados durante o governo Dilma.

A imprensa nacional descobriu horrorizada que no local do massacre não há enfermaria, biblioteca, oficinas de trabalho ou salas de aula. A Norte Energia, responsável por Belo Monte, tem culpa nisso, porque deveria ter concluído em 2015 as obras do Complexo Penitenciário de Vitória do Xingu, parte das condicionantes sociais da obra, tanto que o Ministério Público Federal abriu nesta quinta-feira ação para investigar o atraso.

Também se espera do Governo Estadual seriedade ao tratar do problema. Foi estranho e contribuiu para isso a substituição do antigo diretor do Complexo Penitenciário, um militar experiente, por uma advogada que nunca exerceu função semelhante e não conhece tão bem a área, por questões de amizade e compadrio político.

A questão da segurança pública, aliás, tem que ser tratada de maneira menos midiática e mais efetiva, afinal, só este ano, 26 policiais militares foram mortos e outros 16 feridos em atentados e confrontos com bandidos, entre eles, uma policial grávida. Para efeito de comparação, São Paulo, com cerca de 100 mil policiais, teve 14 mortes este ano. E a policia que morre nas mãos de bandidos também mata: só este ano, foram 415 mortos em ações policiais, com a média de duas mortes por dia.

É uma guerra que não aparece na propaganda oficial. As promessas de valorização da PM e novo concurso precisam sair do papel, porque o processo de treinamento desses policiais é demorado, e há um déficit de 14 mil policiais, o dobro do que seria coberto pelo concurso anunciado, as delegacias continuam sem funcionamento durante 24 horas, o déficit de vagas no sistema prisional é gritante, os roubos espetaculares a bancos no interior continuam e falta estrutura para as polícias, enquanto a população continua sitiada pela criminalidade.

Arnaldo Jordy é advogado e ex-deputado federal

Luiz Carlos Azedo: Romantismo, ciência e fé

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Nas entrelinhas

“Diante da revolução tecnológica global, a subordinação da ciência à religião e da razão à fé não tem a menor chance de dar certo”

O romantismo não foi apenas um movimento artístico e cultural, cujos grandes expoentes foram o espanhol Francisco Goya e o francês Eugène Delacroix, na pintura, o inglês Lord Byron e o alemão Johann Wolfgang von Goethe, na literatura. Foi também um movimento político e filosófico, que surgiu na Europa em meados do século 18 e durou quase todo o século 19. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo e ao Iluminismo, marcadamente nacionalista, que viria a ter um papel importante na consolidação dos estados nacionais, inclusive no Brasil. O romantismo valoriza o individualismo, a criatividade e a imaginação popular, a inspiração fugaz e a fé para remover os obstáculos da vida.

O teólogo alemão Friedrich Schleiermacher, professor da Universidade de Berlim, bebeu das águas do romantismo na virada do século 18 para 19. Ao morrer, em 1934, deixou duas obras radicais sobre teologia — Sobre a religião e A fé cristã – e uma nova doutrina, o liberalismo teológico, que teve grande influência na Europa e nos Estados Unidos. Seu esforço intelectual foi voltado para dar uma resposta à Teoria da Evolução de Charles Darwin, que, ao publicar sua obra-prima, A origem das espécies, gerou a grande tensão entre a visão conservadora da Bíblia e a ciência que permanece até hoje. Essa tensão era preexistente, remonta à teoria do astrônomo polonês Copérnico, publicada em 1543, na qual já afirmava que a Terra gira em torno do Sol e não o contrário, embora haja quem ainda acredite que a Terra é plana.

Durante certo período da Idade Média, a convivência pacífica entre a ciência e a religião foi estimulada pela Igreja Católica, sob inspiração de Tomás de Aquino, para quem uma compreensão maior da Criação levaria ao entendimento melhor do Criador. Entretanto, quando cientistas e teólogos começaram a chegar a conclusões diferentes, o confronto se instalou, como aconteceu, por exemplo, em relação ao cálculo infinitesimal estudado pelos monges católicos, que abalava os fundamentos da geometria aristotélica. No fim do século 18, com o avanço da ciência e do Iluminismo, os teólogos foram em busca de novas explicações para os fenômenos que preservassem a coexistência entre a religião e a ciência, a razão e a fé, para evitar que o cristianismo fosse ultrapassado pelo materialismo.

O pulo do gato de Schleiermacher foi equiparar a crença aos sentimentos, seguindo a trilha do romantismo, que colocava a emoção acima da razão, em vez de utilizar os mesmos critérios do conhecimento científico, equiparando experimentação e “revelação”, para provar a verdade do cristianismo. A ciência usa a razão humana para descobrir as coisas do mundo e explicar como ele existe; a Bíblia registra a experiência religiosa de seus autores, explica por que o mundo existe como ele é. Como e porque são perguntas complementares, logo, na visão do teólogo alemão, o avanço da ciência não invalidava a Bíblia.

Reino de Deus

Schleiermacher redefiniu a natureza da religião, estabelecendo três níveis para a vida humana: o conhecimento, a ação e o sentimento. Dessa forma, a ciência pertence ao conhecimento, a ação à ética e o sentimento, à religião. “Deus existe” é um sentimento que depende de algo maior do que nós mesmos, não precisa de comprovação. Essa visão foi batizada como “liberalismo protestante”, mas acabou sendo muito contestada por teólogos neo-ortodoxos, porque afastava a autoridade religiosa do âmbito público, já que sentimentos são atributos pessoais. Qual seria o lugar do Reino de Deus?

Por essa razão, o teólogo suíço Karl Barth, na sua Carta aos Romanos, no começo do século 20, criticou duramente Schleiermacher por sua indiferença às necessidades do mundo externo. Os fatos corroboraram os riscos desse alheamento: o liberalismo protestante foi acusado de omissão diante do nazismo, do genocídio, da corrida nuclear e do armamentismo. Na sequência do debate, a polêmica avançou para discussão se Deus existe fora dos limites do tempo, ou seja, se é capaz de prever o futuro. A teologia tradicional lhe atribui onisciência (ou seja, total conhecimento do passado, do presente e do futuro), mas teólogos modernos questionam esse entendimento de que o futuro a Deus pertence. Nesse caso, a presciência comprometeria a bondade divina, pois Deus nada faz para evitar o mal. Se assim fosse, argumentam, de nada adiantaria rezar. Quando o futuro é aberto, a reza funciona como ferramenta da mudança, uma construção humana.

Esse debate parece apartado da nossa política, mas não é, quando nada porque o governo Bolsonaro é “terrivelmente evangélico”. Não apenas no bordão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, que adota desde a campanha eleitoral. Em suas decisões, predominam a emoção, a intuição, as ideias preconcebidas, os preconceitos e a fé, em detrimento da razão, da experiência vivida, dos indicadores estatísticos e das pesquisas científicas que, na gestão democrática e moderna, fundamentam as políticas públicas. Diante da revolução tecnológica global, a subordinação da ciência à religião e da razão à fé não tem a menor chance de dar certo.“Eppur si mueve!”, esse é o dilema teológico desde o julgamento de Galileu Galilei pela Inquisição Católica. (Correio Braziliense – 04/08/19)

José Henrique Mariante: É a ecologia, estúpido!

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São Paulo- Uma das maiores redes de hotéis do mundo vai deixar de oferecer os pequenos frascos de xampu e condicionador, aqueles que usamos e levamos para casa. Serão substituídos por recipientes reutilizáveis de cerâmica até o fim de 2021. Intercontinental, Holiday Inn e Crowne Plaza abrem mão de 200 milhões de potinhos/ano, um milhão de quilos de plástico. Correm atrás do Marriott, que já cortou o mimo em 1.500 de seus estabelecimentos.

Em editorial de capa, The Economist diz que o “Brasil tem o poder de salvar ou destruir o mundo”. Escreve que as políticas do governo Jair Bolsonaro aceleram o desmatamento da Amazônia e que o processo pode alcançar ponto irreversível.

A revista lembra ainda que o “mundo deveria deixar claro a Mr. Bolsonaro que não tolerará seu vandalismo” e que consumidores precisam pressionar as empresas de alimentos a recusar carne e soja produzidas em áreas desmatadas, como já fizeram nos anos 2000.

Rascunho de relatório em discussão no IPCC (painel do clima da ONU), ao qual o Guardian teve acesso, afirma que a crise climática não é mais possível de ser resolvida apenas cortando emissões de veículos, fábricas e usinas. Humanos, que exploram 72% da superfície não congelada do planeta, precisam alterar o modo como produzem comida.

Para tanto, diz o texto, o manejo da terra precisa ser sustentável, com a recuperação de florestas e áreas alagadas; as sociedades precisam caminhar em direção a dietas mais vegetarianas e veganas — teria o presidente lido o documento?

Tudo isso aconteceu na semana passada. Se o leitor não vê relação entre a extinção dos potinhos e a da floresta, ou entre o tom de Bolsonaro e o da Economist, sem problema. Se concorda com o pânico em relação ao clima ou acha exagero, conspiração, globalismo, tanto faz.

Não importa o que achemos. O mundo desenvolvido há tempos acordou para o risco ambiental. E já acordou para o risco Bolsonaro.

Vamos pagar caro. (Folha de S. Paulo – 05/08/19)

Fernando Gabeira: Cordiais cortadores de cabeça

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Nossa geração foi educada na crença de que os brasileiros são cordiais. Um profeta popular como Gentileza e sua frase “Gentileza gera gentileza” pareciam confirmar essa tese. Se acreditasse nisso, estaria, como algumas senhoras da minha idade, postando fotos do sol nascente com a frase “Mais um dia maravilhoso em nossa vida”. Ultimamente, temos decapitado muito. Constatei isso em Pedrinhas, no Maranhão, em Manaus e, agora, dizem os jornais que dos 58 mortos em Altamira 16 foram decapitados. Não conheço lugar do mundo em que isso aconteça com tanta intensidade. O Estado Islâmico, que usou a decapitação como espetáculo, parece que encerrou a temporada.

Lembro-me de alguns casos no Haiti, mas isso num período de intensa luta política. A novidade no caso é que o presidente do país não condena essas execuções e aconselha a pensar nas vítimas dos decapitados, e não nas suas cabeças cortadas. Isso nos dá uma sensação de barbárie. Mesmo os defensores da pena de morte a aceitam depois de um julgamento legal. No Brasil de hoje, as grandes organizações criminosas acabam ganhando o direito de matar, após um julgamento sumário. Na mesma semana, Bolsonaro resolveu, sem nenhuma base, desenterrar um morto para desonra-lo. Todos os que acreditam no respeito humano protestaram. Ao remover o passado para soprar as cinzas e fazer algum fogo, Bolsonaro questiona um dos fundamentos do nosso processo de democrático.

Ele se fez num quadro conciliatório de anistia geral. Os atores radicais da época perceberam que estavam envoltos nas turbulências da Guerra Fria e expressavam internamente aqueles conflitos da época. De agora em diante, muitas divergências não desapareciam, mas a novidade é que seriam resolvidas pacificamente num processo democrático. Mais ainda: apesar das divergências que eventualmente sobrevivem, havia um imenso campo para trabalhar lado a lado para resolver alguns problemas do Brasil. Por que Bolsonaro revolve as cinzas de uma fogueira extinta e sopra tentando reanimar as chamas? Não estamos mais naquela época, ele mesmo sabe.

Bolsonaro tem Trump como ídolo, e parece que seu guru é Steve Bannon, cuja visão é a de promover uma guerra contínua a partir do próprio governo. Na esquerda, já se discutiu isso em outro contexto e outro nível de profundidade, quando Trotski defendia a tese de uma revolução permanente. Muitos afirmam que as táticas de Trump e Bolsonaro têm uma grande eficácia eleitoral. Isso ainda não foi demonstrado, uma vez que não houve nova eleição. A situação do Brasil é diferente. Vivemos ainda numa grande crise econômica, o presidente não tem um Partido Republicano no Congresso. E, finalmente, o fator subjetivo: nosso temperamento é diferente não só pela cultura como pelo fato de não termos enfrentado tantas guerras como eles.

É muito possível que a tática de Bolsonaro o leve à sua verdadeira dimensão política: o líder de uma ala radical da direita longe de ser aprovado pelos 57 milhões de eleitores. Ele não só rompeu com uma espécie de acordo no qual o presente e o futuro importam mais que o passado. Busca destruir uma política ambiental de quase três décadas. Não é perfeita, tem lacunas imensas como o saneamento básico, mas ainda merecia respeito internacional. A tese dos que veem eficácia na guerra permanente de Bolsonaro não leva muito em conta o potencial de seus eleitores compreenderem seus erros. O que se coloca pela frente não é apenas brigar com Bolsonaro.

O essencial hoje é pensar em como sobreviver à sua passagem, construindo um horizonte que passa pela reconstrução econômica, mas vista como algo maior. Não é possível crescer sem uma política adequada de educação. Muito menos com uma visão destrutiva do meio ambiente. Esses temas não têm um condão mágico. Mas quem os subestima abertamente tende a um isolamento relativo, entra em confronto com a ciência, nega valores humanos, flerta com a barbárie.

E acaba contando apenas com a ideia de uma guerra permanente. Umberto Eco, no seu livro “O fascismo eterno”, revela com ironia: “Em maio ouvíamos dizer que a guerra tinha acabado. A paz me deu uma sensação curiosa. Tinham me dito que a guerra permanente era a condição normal de um jovem italiano.”

Após oito anos, pessoas físicas voltam a ser 20% na Bolsa

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Queda da Selic e saída de estrangeiros explicam alta na fatia de pequenos poupadores que investem em ações

Júlia Moura – Folha de S. Paulo

São Paulo- Em julho, 20% do volume de compra e venda da Bolsa brasileira veio de pessoas físicas. Tamanha fatia não era alcançada desde 2011, quando a movimentação vinda de CPFs era de 21,44%.

O aumento advém não só de mais pessoas que investem em ações, mas, principalmente, da saída de estrangeiros.

Neste ano, a B3 bateu a marca de cerca de um milhão de CPFs cadastrados, recorde histórico. O número não é preciso pois aproximadamente 5% do total são de pessoas que possuem conta em mais de uma corretora.

De 813 mil investidores pessoa física em 2018 (17% do total) a Bolsa brasileira conta agora com 1,16 milhão.

Já a participação dos estrangeiros saiu de 47,2% para 43,7%, com saldo de investimentos negativo em R$ 10,4 bilhões ao fim de julho. O número se aproxima da balança de 2018, quando R$ 11,5 bilhões deixaram a Bolsa.

“O estrangeiro tem saído desde a segunda metade de 2018, que foi o primeiro ano que tivemos mais saída de fluxo do exterior do que entrada, devido a uma grande incerteza com as eleições”, afirma Victor Cândido, economista-chefe e sócio da Journey Capital.

“Havia a dúvida se Jair Bolsonaro iria conseguir implantar um governo liberal.”

Segundo Cândido, a menor diferença da história entre os juros brasileiro e americano também impulsiona essa saída. Com os cortes da semana passada, as taxas de juros agora são de 6% no Brasil e de 2% a 2,25% nos Estados Unidos.

A queda na Selic brasileira, por outro lado, contribuiu para que apessoa física migrasse o investimento da renda fixa para a variável, o que explica a maior participação na Bolsa.

“Esse aumento vem de pessoas que já investem em outras classes de produtos. Um cara que estava no fundo de Dl e foi para ações. Temos que ver se essa mudança é permanente ou passageira.”

“Dada a reforma da Previdência, a classe média deve buscar mais a previdência privada, e esses fundos, por sua vez, têm mais alocações em ações. Pode ser que a compra direta de brasileiros caia, mas a participação deles nas carteiras que contam com ações cresça”, diz Cândido.

Outro catalisador da entrada de pessoas físicas no mercado de ações são as corretoras e fintechs (startups do setor financeiro), que ampliaram a atuação nos últimos anos com uma oferta maior de produtos, em movimento puxado pela XP Investimentos.

“As plataformas digitais permitem a quem tem pouco recurso investir. Mas a abertura do mercado, com bancos digitais e novas corretoras, além de oportunidades, traz golpe e nem todo mundo percebe esses riscos”, diz Bruno Mo-ri, planejador financeiro certificado (CFP) pela Planejar.

Mori cita campanhas publicitárias de investimentos que não são prefixados e mesmo assim garantem rentabilidade, o que é ilegal.

A dica do planejador é se atentar a reputação da corretora, há quanto tempo ela está no mercado e se tem autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e do Banco Central para atuar.

Ele também recomenda investir em ações só após ter uma reserva de emergência garantida. Segundo Mori, o ideal é acumular uma quantia equivalente à totalidade de gastos em um ano.

“Há uma valorização burra do mercado financeiro. As pessoas olham ganhos dos outros, veem filmes sobre o mercado de ações, e falam “quero isso para mim” sem pensar nas conseqüências, no risco”.

Para Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa de 2001 a 2008, a educação financeira dos brasileiros também é uma responsabilidade da B3.

“A imagem de casa de jogo, coisa de risco, ainda não se dissipou e isso depende do esforço da Bolsa de se aproximar da população. Mas isso não muda rápido, especialmente o valor cultural”, afirma Magliano.

Para ele, o desenvolvimento do mercado de capitais depende do aumento da participação da população e da quantidade de companhias de capital aberto. No momento, são 608 empresas listadas na B3.

“Tínhamos que ter 2 mil para nos aproximarmos das Bolsas estrangeiras”.

Magliano defende que a aplicação em ações na Bolsa de Valores seja vista como uma forma de inclusão social, com a distribuição de dividendos — lucro das empresas repartido entre os acionistas.

“Mas o dinheiro do brasileiro vai para o consumo, não para o investimento. Já a renda média nos Estados Unidos é muito maior, não dá pra concorrer de igual para igual”.

Bolsonaro assume nomeação de parentes em cargos públicos

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‘Botei parentes no passado, sim’, diz Bolsonaro

Ao comentar reportagem que mostrou a nomeação de 102 pessoas com laços familiares entre si nos gabinetes da família Bolsonaro, presidente diz que não cometeu ilegalidades e que respeita súmula do STF sobre nepotismo

BRUNO GÓES – O Globo

O presidente Jair Bolsonaro defendeu em entrevista coletiva ontem a nomeação de parentes para cargos públicos e reiterou sua intenção de indicar seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal, para o cargo de embaixador brasileiro em Washington, nos Estados Unidos. Reportagem publicada na edição de ontem do GLOBO mostrou que ele e seus três filhos políticos empregaram em seus gabinetes parlamentares 102 pessoas com laços de parentesco entre si ou com a própria família Bolsonaro, de 1991 até 2018. — Que mania que todo parente de político não presta. Eu tenho um filho que está para ir para os Estados Unidos e foi elogiado pelo (Donald) Trump. Vocês massacraram meu filho, a imprensa massacrou, (chamou de) fritador de hambúrguer — disse Bolsonaro.

O presidente inicialmente rebateu a reportagem dizendo nem ter 102 parentes, mas quando os repórteres o alertaram de que a matéria trata também de familiares de funcionários, o presidente disse ter nomeado parentes seus apenas antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) editar, em 2008, a súmula que define casos de nepotismo (nomear cônjuges ou parentes de até terceiro grau em cargos de comissão). A reportagem mostrou que Bolsonaro já empregou em seu gabinete na Câmara seus ex-sogros. — Já botei parentes no passado, sim, antes da decisão de que nepotismo seria crime. Qual é o problema? —disse o presidente.

MINISTROS COM PARENTES

Bolsonaro sustentou ser “natural” substituir funcionários por parentes destes em caso de pedidos de demissão ou falecimento: — É natural quando alguém vai embora do meu gabinete… Quando morre, no velório já tem dez pedidos de emprego de quem está do meu lado. E é natural colocar quem está do seu lado. O presidente reclamou de a reportagem ter levado em conta nomeações desde quando ele entrou para a vida pública. Disse ainda que, no caso de uma de suas ex-mulheres, Ana Cristina Siquei Valle, os parentes teriam sido empregados antes de seu casamento.

— Vocês foram procurar funcionária que eu empreguei em 1989. Faz as contas aí. 30 anos. E outra coisa: quando eu botei os parentes da Ana Cristina, eu não era casado com ela. Casei uns dez, nove anos depois. E aí? Vou devolver o salário de todo mundo? O levantamento mostra, no entanto, que os parentes de Ana Cristina estiveram lotados em gabinetes do clã Bolsonaro enquanto ela e o presidente estavam juntos e também depois.

Bolsonaro lembrou o fato de que sua atual esposa, Michelle, já era funcionária da Câmara em outro gabinete quando começou o relacionamento. Disse que questionou a Casa se deveria “renunciar” ou se ela deveria se demitir. Por fim, após um tempo lotada no gabinete do próprio Bolsonaro, ela deixou a função. Sem dar detalhes, o presidente afirmou que algum ministro pode ter parentes empregados em funções públicas. O atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Antonio Francisco de Oliveira, também teve familiares empregados nos gabinetes dos Bolsonaro. Foram três — pai, mãe e tia —em períodos distintos entre 2001 e 2015.

— Se você for procurar, com certeza tem ministro que tem parente empregado por aí —disse Bolsonaro. Na manhã de ontem, Bolsonaro foi à Igreja Fonte da Vida, em Brasília, onde participou de um culto. O presidente foi chamado de “mito” pelos fiéis e se emocionou ao abraçar o pastor César Augusto. No discurso na igreja, Bolsonaro se referiu à reportagem do GLOBO. — A imprensa diz muito que eu ainda estou no palanque. Eu devolvo: a imprensa ainda está na oposição. — afirmou. — Por muitas vezes não leio jornal para não começar o dia envenenado.

Câmara dos Deputados retoma nesta semana análise da reforma da Previdência

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Governo monta estratégia para votar Previdência

Na Câmara, governo vai destacar gasto elevado com pensão por morte

GERALDA DOCA, MANOEL VENTURA E MARCELLO CORRÊA – O Globo

BRASÍLIA- Na semana em que a Câmara dos Deputados retoma a reforma da Previdência, para a votação em segundo turno, a estratégia do governo para bloquear mudanças no texto será apresentar estudos sobre os gastos elevados com benefícios no Brasil. Um dos pontos que mais preocupa a equipe econômica é a pensão por morte. No primeiro turno de votação, o tema foi bastante explorado pela oposição, que defende que o benefício não possa ser inferior a um salário mínimo.

Durante as discussões em plenário, o governo vai apresentar estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 36 países. O levantamento mostra que os gastos com pensão por morte no Brasil correspondem a 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB), sem considerar as Forças Armadas. É o maior índice entre os países analisados. A média na OCDE para esse tipo de benefício é de 1%.

O Brasil gasta mais com pensão até mesmo que países com população idosa, como Itália e Grécia, em que essas despesas equivalem a 2,6% do PIB. Na comparação com países de perfil demográfico semelhante ao do Brasil, a diferença é ainda maior. No Chile, os gastos com pensão representam 0,9% do PIB; na Colômbia, 0,4%; e no México, apenas 0,2%.

DESPESAS CRESCENTES

O estudo revela ainda que os gastos do Brasil com pensões representam 44% das despesas com aposentadorias, enquanto a média na OCDE é de apenas 13%. Além disso, em cada cem aposentados brasileiros, 46 são pensionistas — número muito acima da média de outros países, de 22 pensionistas.

Para o secretário de Previdência do Ministério da Economia, Leonardo Rolim, essa discrepância se deve às regras mais benevolentes da pensão no Brasil, como vinculação ao salário mínimo, valor integral e permissão para acumular benefícios. São esses pontos que a reforma pretende atacar.

— O Brasil gasta mais com pensão do que qualquer outro país. É medalha de ouro —afirmou Rolim.

De acordo com dados da secretaria, entre 2000 e 2018 os gastos com pensão cresceram nove vezes, saltando de R$ 15,3 bilhões para R$ 135,2 bilhões. Nesse período, as despesas com esse benefício passaram de 1,3% para 2% do PIB. O texto aprovado pelo plenário da Câmara em primeiro turno vai assegurar ao governo uma economia de R$ 139,3 bilhões em dez anos.

E, mesmo que com a mudança no pagamento de pensões, essa despesa continuará subindo. A projeção é que, em dez anos, haja um aumento real no gasto com pensões de R$ 113,1 bilhões.

A reforma prevê a redução do valor da pensão da viúva ou viúvo, hoje integral, para 60%, mais 10% por dependente. Com isso, o benefício poderá ser inferior a um salário mínimo (R$ 998). Se a pensão for a única fonte de renda formal da viúva, o valor continua atrelado ao piso nacional. Um dos argumentos do governo para defender a proposta é que, nos países da OCDE, o valor da pensão corresponde, em média, a 56% do benefício.

Outro ponto que também preocupa o governo diz respeito a uma possível mudança na regra de cálculo da aposentadoria. A reforma prevê o cálculo com base na média de todas as contribuições feitas pelos trabalhadores para o sistema. Os partidos da oposição querem manter a fórmula atual, mais vantajosa, pois considera 80% das maiores contribuições, descartando as 20% menores. Essa alteração terá impacto de R$ 186,9 bilhões em dez anos.

TRABALHO COM LÍDERES

O governo pretende trabalhar como presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com líderes dos partidos que apoiam a reforma para repetir o placar do primeiro turno, de 379 votos a favor e 131 contra. Isso vai exigir a presença de mais de 500 dos 513 deputados no plenário. São necessários 308 votos favoráveis para a proposta avançar.

Depois de aprovado o texto caso, o governo precisa de 308 votos em cada destaque para manter o texto-base, que renderá ao governo uma economia de R$ 933,5 bilhões.

Para evitar sustos durante a votação, os técnicos que cuidam da reforma foram escalados para dar expediente na Câmara. Segundo o secretário de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, a estratégia inclui tentar evitar que as discussões se alonguem: — Vamos ficar atentos, conversar com líderes dos partidos e bancadas. A ideia é evitar discussões muito demoradas.

Partidos que fazem parte do centrão mantêm a bandeira da reforma como uma iniciativa do Congresso e não do governo. Para o líder do Podemos, deputado José Nelto (GO), quem votou no primeiro turno não pode mudar de lado: — Senão, pega mal para o deputado.

O líder do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), garante que a legenda vai repetir os 34 votos a favor da reforma no primeiro turno: — Não haverá mudança de voto dentro do MDB.

OPOSIÇÃO TENTARÁ OBSTRUIR

Já a líder da minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse que a oposição vai tentar obstruir a votação e apresentar os nove destaques a que os partidos têm direito. Entre eles, propostas para mudar a regra da pensão e a fórmula de cálculo da aposentadoria.

O líder da oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), disse que os parlamentares contrários à reforma da Previdência irão insistir na aprovação de dois destaques para alterar trechos da proposta. Um deles pretende manter o piso de um salário mínimo para pensões de viúvas. Outro quer permitir que quem trabalhou por um mês em um serviço intermitente (por exemplo, não cumpriu as oito horas diárias) possa contar esse período como tempo de serviço.

— Nosso foco no segundo turno vai ser tirar as maiores crueldades do texto. O principal objetivo é garantir o piso de um salário mínimo para as viúvas. Mas a gente acha que tem chance de aprovar os dois destaques — disse Molon.

A expectativa é que o texto siga para o Senado já no fim desta semana. Os senadores terão até 30 dias para analisar a proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Entretanto, técnicos da secretaria-geral da Casa explicam que é comum, quando há maioria, as discussões serem resolvidas mais rapidamente.

Na CCJ, o texto pode receber emendas. Depois, segue para votação em primeiro e segundo turnos. Aprovada nos dois turnos, a PEC é promulgada em sessão do Congresso.

A inclusão de estados e municípios seria desmembrada em uma nova proposta, a chamada PEC paralela. Só esse texto retornaria à Câmara.