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Após crescimento modesto, setor de serviços fica estável em abril e maio

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O setor de serviços no País ficou estável entre em abril e maio, segundo a PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) publicada, nesta sexta-feira (12), pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre março e abril, o volume de serviços chegou apresentar ligeiro avanço de 0,5% após três quedas consecutivas que chegaram acumular perda de 1,6%.

O volume de serviços, de acordo com a PMS, cresceu 4,8% na comparação com maio do ano passado, 5,1% no acumulado do ano e 4,3% no acumulado de 12 meses. Já a receita nominal do setor cresceu 0,6% na comparação com abril, 9,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, 5,1% no acumulado do ano e 4,3% no acumulado de 12 meses.

No período pesquisado, quatro das cinco atividades pesquisadas cresceram, com destaque para o ramo de serviços de informação e comunicação com 1,7% positivo. Também foram identificados avanços em outros serviços (2,6%), serviços profissionais, administrativos e complementares (0,7%) e serviços prestados às famílias (0,5%).

Contudo, os transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio recuaram 0,6% e foram o único setor a apresentar taxa negativa na área de serviços. Para o gerente de pesquisa, Rodrigo Lobo, se levar em consideração os cinco primeiros meses do anos, s transportes, principalmente o rodoviário, representaram os principais entraves para o crescimento do setor de serviços.

“Existe um movimento de aderência entre o setor de transportes e a indústria. Como grande parte da nossa produção é escoada pelas estradas, à medida que a produção industrial não cresce, não há necessidade de contratar o serviço de transporte de cargas”, disse. (Com informações do IBGE e agências de notícias).

Fernando Gabeira: Perigos de uma campanha precoce

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A reforma da Previdência e o acordo comercial com a União Europeia são dois temas que podem animar a economia. Mas não se pode superestimá-los. Um trabalho de reconstrução demanda um trabalho diuturno. O clima de campanha política não é o melhor para desenvolver essas tarefas. Bolsonaro falou duas vezes em concorrer de novo em 2022. Espera entregar um País melhor em 2026, mas parece ignorar que passará pelo grande julgamento no final do primeiro mandato. O vazamento entrou na campanha. Moro decidiu por uma saída política, contando com a ambiguidade: os diálogos podem ou não ser verdadeiros. Bolsonaro abraçou a Lava Jato com o mesmo entusiasmo com que levantou a taça da Copa América.

Duas estratégias podem ser desenhadas. A de Bolsonaro, manter o apoio, independentemente do que digam a Justiça e a opinião pública no fim do processo. Sabe que uma independe da outra e que a fidelidade popular à Lava Jato se tem mantido a ponto de ainda ser a melhor escolha eleitoral. Já a estratégia da esquerda, que recusou uma autocrítica, conta com o desgaste da Lava Jato para consagrar a sua tese de que a operação foi uma grande manobra para derrotá- la. Mas o Brasil não se resume a esses dois grandes blocos. No caso específico da Lava Jato, nem todos os que a apoiam compartilham as teses ultrapassadas de Bolsonaro.

Assim como nem todos os que questionam Moro necessariamente acreditam na inocência da esquerda. Ainda haverá uma decisão da Justiça baseada nesses vazamentos. Andará alguns passos. Um deles é verificar a autenticidade do material. O outro, creio, é examinar todas as frases dentro do seu contexto. Isso se for vencida a etapa inicial: reconhecer ou não as provas obtidas ilegalmente. A Lava Jato é, de longe, a mais importante operação contra o desvio de dinheiro público no Brasil. Pelo número e pela importância dos condenados, pelo dinheiro devolvido, pela repercussão continental na política. Outro dia viajei com um motorista peruano. Contei que cobri a eleição de Ollanta Humala contra Keiko Fujimori. “Pois é, ambos presos”, comentou.

A operação dispôs-se a realizar seu trabalho sob a legalidade e submeteu seus principais passos ao Supremo. Passou por esse teste. Mas agora se vê diante de um novo desafio. Seus documentos públicos e oficiais não são escrutinados, mas, sim, as conversas pessoais colhidas num aplicativo. Era uma operação para desmontar uma organização criminosa, conforme definiu o próprio ministro Celso de Mello. Depois de algumas vitórias e alguns embates, não me surpreende que houvesse um vínculo entre juiz e promotores conscientes de que estavam lutando contra algo muito forte. Diante de uma organização criminosa só seria eficaz um enfoque sistemático. Não se pode ignorar que era composta de indivíduos com seus direitos. Nesse caso, haveria um desvio autoritário.

Mas ignorar que existia uma quadrilha e que eram mais do que indivíduos vulneráveis diante do Estado, no meu entender, é uma visão romântica. Os sucessivos fracassos das operações anteriores à Lava Jato esbarraram em procedimentos legais. Trata-se de operações realizadas no universo político, em que o filtro é mais rigoroso. Colocam o problema básico: como combater uma organização criminosa dentro desse universo, no qual a grande barreira são o rigor e as filigranas jurídicas? Fora do crime político não há grande inquietação. Os processos contra o PCC, o Comando Vermelho ou a Família do Norte são desconhecidos nos detalhes, no seu curso legal, quanto mais nas trocas de mensagens pessoais dos seus agentes.

Pouco sabemos dos juízes forçados a viver com escolta armada. Como as coisas aconteceram num mundo mais sofisticado, o debate é sobre o Estado de Direito em sua visão mais rigorosa. Num primeiro e cauteloso artigo sobre o material vazado afirmei que, na minha opinião de leigo, o juiz poderia indicar provas, sobretudo quando estivesse diante de uma organização criminosa e sua omissão a favorecesse. O material da Veja traz uma frase em que Moro lembra ao procurador a necessidade de inclusão de um cheque nas provas. No artigo, escrevi também: o juiz precisa ter serenidade para avaliar a prova, mesmo tendo pedido a sua inclusão. Pode rejeitá-la no contexto da sentença.

No caso mencionado pela Veja, Moro, um especialista em crimes financeiros, teria pedido a prova e depois absolvido o réu. O que era apenas uma hipótese no artigo, escrito muito antes de o caso vir à tona, parecia confirmar-se ali. No entanto, Moro desmentiu o diálogo vazado e afirmou que seria esquizofrênico incluir provas e absolver a pessoa em seguida. Em síntese, para não repetir o adjetivo de Moro, meu argumento parece estapafúrdio. Ou, então, apenas fora de lugar numa batalha marcada pelo cálculo político que aciona as paixões nas redes. Não acredito que no final desse episódio as conquistas da Lava Jato sejam anuladas. No entanto, está em jogo também um modelo de combate ao crime organizado.

O núcleo combatido pela Lava Jato teve a assistência de talentosos advogados, que produziram um cipoal de interpelações e recursos. Nunca se viram tantas táticas na Justiça comum. Nenhum outro processo atual foi tão discutido em instâncias superiores. A Lava Jato sobreviveu e tem sobrevivido no STF e na gratidão pública, apesar dos vazamentos envoltos em suspense e de uma dose de sensacionalismo. Sua vulnerabilidade atual é aparecer como aliada de Bolsonaro. É um instrumento do Estado e deveria ter seus métodos próprios de defesa. Todos sabemos o que é uma campanha política no Brasil. Uma campanha precoce, então, leva para as profundezas o nível do debate. (O Estado de S. Paulo -12/07/2019)

Humberto Saccomandi: Ambiente ameaça sim o acordo UE-Mercosul

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O governo Bolsonaro prometeu abrir o Brasil ao comércio e flexibilizar as regras ambientais do país. Esses compromissos podem se mostrar incompatíveis, ao menos no caso do acordo UE-Mercosul. O crescente lobby ambientalista europeu ameaça inviabilizar o principal acordo comercial já negociado pelo Brasil. É provável que, nalgum momento, o governo tenha de escolher qual é sua prioridade. Deveria ser comércio aberto com proteção ambiental.

O acordo, pelo que se sabe, formaliza a adoção de dispositivos ambientais num tratado comercial, algo que é debatido há décadas e que era já esperado. Esses dispositivos Humberto Saccomandi: Ambiente ameaça sim o acordo Upodem facilmente se chocar com a política ambiental praticada até agora no governo Bolsonaro.

A conclusão das negociações, após 20 anos, foi anunciada há duas semanas. O texto final do acordo, porém, ainda não está disponível. Está passando por avaliação jurídica dos dois lados, o que deve levar alguns meses, já que é normal que surjam divergências de interpretação.

Em seguida começa o processo de assinatura e ratificação, o que deverá ser o maior desafio. Na UE, o primeiro passo é a aprovação pelo Conselho Europeu (que reúne os líderes dos 28 países do bloco). Como é preciso consenso, qualquer país pode barrar o acordo. Se aprovado, o texto vai para o Parlamento Europeu. Se de novo aprovado, o Conselho pode colocar o acordo em vigor, total ou parcialmente. Mas, para ele ser finalmente aceito, o texto precisa ainda ser ratificado pelos Parlamentos dos 28 países e por alguns Parlamentos regionais.

É um processo complexo, politicamente difícil e pouco transparente. Ou seja, é muito sujeito à ação de lobbies. E, além do lobby agrícola europeu, que nunca viu com bons olhos a negociação com o Mercosul, soma-se agora o cada vez mais poderoso lobby ambientalista.

Partidos verdes estão em alta na Europa. Eles participam do governo de alguns países, como Suécia, Dinamarca e Finlândia. Segundo pesquisas, os Verdes são hoje o segundo maior partido alemão em intenção de voto. O bloco verde tem a quarta maior bancada no recém-eleito Parlamento Europeu. Além disso, outros partidos não querem ser vistos como antiambientais.

“A UE pode não ratificar. No Brasil se dá a entender que a ratificação são favas contadas. Não é assim. Corremos o risco de preparar os agentes econômicos, a sociedade, o Congresso para o acordo, e ele não acontecer”, diz o embaixador José Alfredo Graça Lima, que foi o principal negociador comercial do Brasil entre 1998 e 2002. “O acordo é um avanço significativo [para o Brasil], mas pode ficar parado até que a UE o ponha em vigor.”

Para satisfazer esse poderoso lobby ambientalista, o acordo UE-Mercosul, pelo que se sabe, inclui dois dispositivos. Um é a obrigatoriedade de os países permanecerem no Acordo do Clima de Paris. Bolsonaro havia prometido deixar esse acordo, mas já não fala mais nisso. Permanecer, porém, significa cumprir os compromissos assumidos pelo Brasil. E, neste momento, o governo não sinaliza nessa direção. Pelo contrário, há um desmanche dos órgãos que deveriam implementar e fiscalizar esses compromissos.

O segundo dispositivo é o princípio da precaução, que permite limitar o comércio de produtos prejudiciais. Com isso, a UE pode, por exemplo, barrar bens (carne, soja) produzidos em áreas desmatadas no Brasil, pois o desmatamento provoca danos globais (pelo princípio, não é preciso provar o dano, mas apenas ter evidências científicas que sugiram essa possibilidade).

Desde a conclusão das negociações, houve uma forte reação contrária ao acordo na Europa. Grupos ambientalistas dizem que ele não tem dentes, isto é, que não traz mecanismos para punir um país em caso de violação ambiental. Essa versão tem circulado também no Brasil.

Mas não é bem assim. “Se o acordo tiver um mecanismo de solução de controvérsias, qualquer percepção de que ele está sendo violado pode ser levada ao mecanismo. A parte derrotada será obrigada a aceitar a decisão”, disse Graça Lima, que é vice-presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Autoridades na UE dizem que exportar padrões ambientais aos países sul-americanos é uma das metas do acordo. E é argumento forte em favor da sua aprovação.

O Brasil reagiu agressivamente a essa preocupação ambiental dos europeus. Bolsonaro disse que não iria ao G-20 ser advertido e chegou a cancelar uma reunião (depois realizada) com o francês Emmanuel Macron. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, disse aos europeus para irem “procurar a sua turma”.

Esse tipo de reação amplia as suspeitas na Europa sobre as intenções do Brasil, cada vez mais visto como um vilão ambiental. O dado de desmatamento não ajudou. Divulgado logo após o anúncio do acordo, ele indicou aumento de 88% em junho.

Mas a proteção ambiental joga contra o desenvolvimento do Brasil? Possivelmente não. No caso do comércio, diz Graça Lima, “situação hoje é muito diferente da do início dos anos 90, quando havia a necessidade absoluta de acesso a mercado, com o temor de que exigências ambientais afetassem isso”.

Pelo contrário, essas exigências podem hoje favorecer o Brasil na concorrência com emergentes, como China e Índia, que têm matriz energética mais suja, desafios ambientais mais graves, e necessidade maior de ampliar a geração de energia elétrica. Os custos desses países para cumprir seus compromissos ambientais serão maiores. Vão implicar em custos maiores de produção, com vantagem para o Brasil.

“O Brasil não é só uma potência agrícola, é uma potência agro-ambiental. A ministra Tereza Cristina tem consciência disso, talvez mais do que o Ministério do Meio Ambiente”, diz Graça Lima. “Com cláusulas ambientais, o Brasil ganha duas vezes. Ganha para si e ganha para o comércio.”

Para a UE, diz um experiente diplomata europeu, a questão ambiental-climática é interesse comum, como um clube. E, se um membro do clube não cumprir com suas obrigações, não pode usufruir dos benefícios comuns. “Se não pagar a mensalidade, não pode frequentar a piscina.”

No acordo UE-Mercosul, essa mensalidade inclui obrigações ambientais. O benefício sob ameaça é o comércio. “Estamos para ver ainda como as questões ambientais podem ter efeito negativo no acordo”, diz Graça Lima. “Mas esses compromissos [do governo Bolsonaro, de liberalizar o comércio e flexibilizar as regras ambientais] podem sim ser incompatíveis.” (Valor Econômico – 12/07/2019)

Humberto Saccomandi é editor de Internacional. Escreve mensalmente às sextas-feiras – E-mail: humberto.saccomandi@valor.com.br

Previdência: Câmara aprova regras especiais de aposentadoria de policiais da União

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O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta sexta-feira (12), por 467 votos a 15, a emenda do Podemos que reduz a idade mínima de aposentadoria para os policiais que servem à União. Policiais federais, policiais legislativos, policiais civis do Distrito Federal, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários e socioeducativos federais, entre outros, poderão aposentar-se aos 53 anos (homens) e 52 anos (mulheres).

A redução da idade, no entanto, só valerá para quem cumprir um pedágio de 100% do tempo de contribuição que falta para aposentar-se: 25 anos para mulher e 30 anos para homem. Dessa forma, se faltarem três anos de contribuição pelas regras atuais, o policial terá de trabalhar seis anos para reduzir a idade mínima.

A medida vale apenas para os profissionais que estão na regra de transição. Para os futuros policiais e agentes de segurança da União ou quem optar por não cumprir o pedágio, foi mantida a idade mínima de 55 anos e o tempo de serviço policial de 15 anos para os dois sexos.

Apresentada pela bancada do Podemos, a emenda tinha acordo para ser aprovada. As condições são as mesmas apresentadas na semana passada na comissão especial, onde o destaque havia sido rejeitado.

Destaques

Ainda faltam nove destaques e emendas para serem votados. Líderes de alguns partidos concordaram em formar um bloco para unificar as orientações de voto, com o líder de um partido falando em nome dos demais, para acelerar a sessão. Em alguns casos, o bloco abrirá mão de encaminhar a orientação única.

A discussão dos destaques começou por volta das 17h30 e só vai terminar na madrugada desta sexta (12). Os deputados ainda têm nove destaques e emendas para votar. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prevê encerrar a votação, em segundo turno, na sexta-feira à noite ou na manhã de sábado (13). (Agência Brasil)

70% da população reprova proposta de Bolsonaro para porte de arma, mostra Datafolha

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Plano de Bolsonaro para porte de arma é reprovado por 70% da população

Rejeição à posse oscila e chega ao ápice em seis anos, mostra Datafolha

Angela Pinho – Folha de S. Paulo

O projeto do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para facilitar o porte de armas no país é reprovado por 70% da população. A constatação está em pesquisa Datafolha realizada nos dias 4 e 5 de julho, que também revela crescimento, no limite da margem de erro, da maioria favorável à proibição da posse de armas (a possibilidade de ter uma em casa ou no trabalho).

Essa parcela da população, que diz concordar com a afirmação de que “a posse de armas deve ser proibida, pois representa ameaça à vida de outras pessoas”, oscilou de 64% para 66% entre abril e julho, chegando ao índice mais alto desde novembro de 2013 (68%). Após recuo entre 2013 e 2017, o índice de rejeição avança continuamente desde junho daquele ano.

Por outro lado, recuou de 34% para 31% a parcela dos que assentem com a frase “possuir uma arma legalizada deveria ser um direito do cidadão para se defender”.

O levantamento do Datafolha ouviu 2.086 pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

As entrevistas foram feitas pouco mais de uma semana após a gestão Bolsonaro revogar os decretos sobre armas que havia editado anteriormente e de publicar outros três, além de anunciar um projeto de lei com tramitação em regime de urgência para facilitar o porte de armas, ou seja, a possibilidade de o cidadão levá-las consigo.

A medida foi tomada pelo governo pouco antes de uma derrota iminente no Congresso, que poderia derrubar os decretos anteriores. Um deles já havia sido rejeitado pelo Senado.

Entre os textos revogados, está o que autorizava o porte de arma para uma extensa lista de categorias profissionais, de advogados a caminhoneiros e jornalistas que participam de cobertura policial, por exemplo.

Foram mantidos, por sua vez, pontos como o aumento da potência das armas liberadas, o que, segundo críticos, abre brecha para que cidadãos tenham artefatos de uso restrito da polícia.

A norma em vigor permite ainda que atiradores profissionais possam ter até 60 armas, e colecionadores, 10.

Em acordo feito com o Legislativo, o governo Bolsonaro ficou de enviar um projeto de lei em regime de urgência para facilitar o porte de armas, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), comprometeu-se a colocar o texto em votação em agosto.

A tramitação por meio de projeto de lei serve para contornar questionamentos jurídicos sobre a possibilidade de uma mudança como essa na legislação ser feita por meio de decreto.

A proposta, porém, além de ser rejeitada por 70% da população, é reprovada pela maioria dos segmentos ouvidos na pesquisa Datafolha.

As exceções são as pessoas que têm como preferência partidária o PSL (72% são a favor do projeto), partido do presidente, os que se declaram empresários (55%) e os entrevistados que avaliam o governo como ótimo ou bom (52%).

Entre os que afirmam ter votado em Bolsonaro na eleição de 2018, há empate técnico: 47% se dizem a favor, e 50%, contra.

Para Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, esse resultado é coerente com levantamentos feitos no final do ano passado, que já apontavam um descolamento entre a agenda de Bolsonaro e a opinião pública.

Pesquisas feitas na época mostraram que pontos chave da pauta do então presidente eleito, como o Escola sem Partido, a posse de armas e aproximação com o governo dos Estados Unidos eram rejeitados pela maioria da população.

A explicação para essa disparidade, que se reflete novamente na pesquisa Datafolha, está na complexidade dos fatores que levam o eleitor a decidir o seu candidato.

“Nem todos os que votaram em Bolsonaro o fizeram pelas propostas e pela postura”, afirma Paulino. “O voto foi em grande medida para derrotar um projeto político que deixou de agradar a população.”

De forma coerente com o resultado eleitoral, a pesquisa Datafolha aponta ainda que o índice de pessoas favoráveis ao projeto que facilita o porte de armas é relativamente maior no Sul, alcançando 38%, ante 23% no Nordeste, região que mais rejeita a medida —e também a única em que Fernando Haddad (PT) obteve mais votos que Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018.

Não há diferença entre os índices dos que moram em regiões metropolitanas e os que vivem no interior.
A rejeição à facilitação do porte de armas também é maior entre mulheres (78%), pretos (74%), pardos (72%) e indígenas (82%) e ainda entre os mais pobres.

No segmento dos entrevistados com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, 75% são contra o projeto. No de dez salários mínimos, o índice cai para 51%.

Considerando-se a idade, a reprovação à facilitação do porte de arma fica entre 70% e 72% entre todas as faixas etárias, mas é menor na de 25 a 34 anos (63%).

Entre religiões, a rejeição à proposta é maior entre os evangélicos neopentecostais (76%), um dos grupos mais cortejados politicamente pelo presidente. Em seguida, vêm espíritas (75%) e adeptos de religiões afrobrasileiras. Como a amostra de entrevistados é menor nesses casos, os números devem ser lidos como tendência, diz Paulino.

IBGE: Vendas do varejo caem 0,1% de abril para maio

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O volume de vendas do comércio varejista no País teve um recuo de 0,1% na passagem de abril para maio. De março para abril, o setor já havia tido uma queda de 0,4%.

Segundo dados da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), divulgada nesta quinta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o varejo também caiu 0,1% na média móvel trimestral.

Nos demais tipos de comparação temporal, no entanto, o comércio teve crescimento: 1% na comparação com maio de 2018, 0,7% no acumulado do ano e 1,3% no acumulado de 12 meses.

Na passagem de abril para maio, a queda foi puxada por apenas duas das oito atividades do varejo pesquisadas: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,4%) e combustíveis e lubrificantes (-0,8%).

Por outro lado, seis atividades tiveram crescimento e evitaram uma queda maior do setor no período: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,4%), tecidos, vestuário e calçados (1,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,9%), móveis e eletrodomésticos (0,6%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,2%) e livros, jornais, revistas e papelaria (0,4%).

Varejo ampliado

O varejo ampliado, que também leva em consideração os setores de materiais de construção e de venda de veículos e peças, teve alta de 0,2% no volume na passagem de abril para maio, apesar das quedas de 1,8% dos materiais de construção e de 2,1% dos veículos, motos e peças.

O varejo ampliado cresceu 0,5% na média móvel trimestral, 6,4% na comparação com maio de 2018, 3,3% no acumulado do ano e de 3,8% no acumulado de 12 meses.

A receita nominal do varejo cresceu 0,8% de abril para maio, 0,5% na média móvel trimestral, 5,8% na comparação com maio do ano passado, 5% no acumulado do ano e 5,3% no acumulado de 12 meses.

Já a receita do varejo ampliado cresceu 0,9% na passagem de abril para maio e na média móvel trimestral, 10% na comparação com maio de 2018, 6,7% no acumulado do ano e 7% no acumulado de 12 meses. (Agência Brasil)

Luiz Carlos Azedo: Um pouco de Gramsci

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NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

Parafraseando o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, autor de A Grande Família e Rasga Coração, a propósito do pessedismo (a manha política das velhas raposas liberais do antigo PSD), um pouco de Gramsci também não faz mal a ninguém. Mesmo que desperte a ira da patrulha ideológica contrária ao chamado “marxismo cultural”. Na verdade, o republicanismo laico e o primado da política em relação à fé são fundamentos de Nicolau Maquiável, que escreveu O Príncipe em 1513. A obra seminal da política moderna, publicada postumamente em 1532, promoveu a ultrapassagem do Estado teológico medieval. Antecede Karl Marx e seus discípulos.

O filósofo marxista italiano pode nos ajudar a entender o que está acontecendo a partir do colapso do presidencialismo de coalizão. A expressão foi usada a primeira vez há mais de 30 anos, no título de um artigo acadêmico do cientista político Sérgio Abranches, para explicar o funcionamento do presidencialismo brasileiro num ambiente de fragmentação partidária. Para governar, o presidente da República precisa costurar uma ampla maioria, frequentemente contraditória em relação ao programa do partido no poder, com grande potencial de conflitos ideológicos e políticos. O maior dilema institucional seria o aprisionamento do presidente da República pelas forças hegemônicas do Congresso, no vácuo de uma Constituição de viés antiparlamentarista.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para justificar suas alianças, recomendava aos amigos lerem Um estadista no Império, de Joaquim Nabuco, um tratado sobre a política de conciliação do Marquês de Paraná, que garantiu estabilidade política a D. Pedro II durante seu reinado. Em 1853, para formar o gabinete do Conselho de Ministros, o mineiro Honório Hermeto Carneiro Leão buscou conciliar as ações políticas dos dois partidos do Império, o Conservador e o Liberal, em torno de interesses comuns. Com isso, conseguiu conter as insatisfações liberais e isolar os republicanos. O ponto de encontro era a aproximação dos liberais que também defendiam os interesses latifundiários escravistas como os conservadores, todos embalados pelo avanço das lavouras de café. O maior crítico desse modelo foi Capistrano de Abreu, para quem política de conciliação era um “termo honesto e decente para qualificar a prostituição política de uma época.”

Grande política

A gênese dessa política foi um discurso do conselheiro Nabuco de Araújo, intitulado a “Ponte de Ouro”, no qual anunciou a estratégia dos conservadores que haviam sido derrotados pelos liberais nas eleições: se manteriam em oposição nas províncias, mas apoiaram a aliança imperial com os liberais no Conselho de Ministros. A conciliação política marcou o apogeu do período Imperial, financiado pelos recursos financeiros advindos da exportação do café. Mas a Guerra do Paraguai (1864-1870) e as ações pela abolição da escravidão levariam à criação do Partido Republicano por setores liberais abolicionistas, em 1870. Entretanto, a partir do Senado, mesmo assim, se tornou uma cultura política que atravessou a República Velha e a Segunda República, renascendo das cinzas depois da redemocratização do país, em 1985.

Ao contrário do que muitos imaginavam, o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fez uma ruptura com a política de conciliação, apenas inverteu as posições, para isolar o PSDB e o antigo PFL, eixos do presidencialismo de coalizão no governo FHC. Em seu lugar, Lula pôs o MDB e os partidos do Centrão, administrando as tensões entre esses aliados e suas bases petistas nos estados, muitas vezes em oposição, como no Maranhão. O patrimonialismo e o fisiologismo das velhas e novas oligarquias políticas não somente sobreviveram como adquiriram uma nova escala de organização sistêmica. O resultado todo mundo conhece: o modelo entrou em colapso no governo Dilma Rousseff e, nesse vácuo, Jair Bolsonaro se tornou alternativa de poder e venceu as eleições à Presidência. Também houve grande renovação na composição do Congresso.

Como Gramsci volta à prosa? Na separação entre a “grande” e a “pequena” políticas. Uma das características do presidencialismo de coalizão era o monopólio da “grande política” pelo Executivo, legando ao Congresso a “pequena política”. Para o filósofo italiano, Maquiavel examinou sobretudo as questões de grande política, compreendida como “as questões ligadas à fundação de novos Estados, à luta pela destruição, pela defesa, pela conservação de determinadas estruturas orgânicas econômico-sociais”. A pequena abarca “as questões parciais e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura; estabelecida em decorrência de lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe política”.

Ao liquidar o presidencialismo de coalizão e promover uma ruptura com a política de conciliação, Bolsonaro parece inverter esses papéis, dando exagerada atenção à pequena política, inclusive no terreno diplomático. Ao contrário, o Congresso, que havia perdido o papel de mediador dos conflitos da sociedade, resgata esse protagonismo, parece tomar gosto pela situação e se assenhora cada vez mais da grande política, como é o caso agora da reforma da Previdência. (Correio Braziliense – 12/07/2019)

Na Folha, Marcos do Val critica indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixada nos EUA

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Oposição vê nepotismo em indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixada nos EUA

Já presidente da comissão de Relações Exteriores da Casa diz que deputado deve dar sequência a alinhamento com Washington

Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

Representantes da oposição na CRE (Comissão de Relações Exteriores) do Senado, colegiado que aprova ou rejeita nomes de embaixadores indicados pelo Palácio do Planalto, contestaram a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro (PSL) indicar o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um de seus filhos, para comandar a embaixada do Brasil nos Estados Unidos.

Eles dizem se tratar de nepotismo e alguns membros afirmaram que a indicação desrespeita a carreira diplomática.

“Não sou favorável. Tem os profissionais que dedicam sua carreira a isso. Não vejo de forma nem um pouco positiva. Os filhos [de Bolsonaro] não podem ter este protagonismo que estão tendo porque você confunde. É a família que está no comando do governo federal?”, afirmou o vice-presidente da CRE, senador Marcos do Val (Cidadania-ES).

Líder da minoria e também integrante da comissão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que a indicação do nome de Eduardo Bolsonaro é um escárnio e anunciou que vai ingressar com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) caso a possibilidade anunciada por Jair Bolsonaro se confirme.

“É um escândalo total. Tenha certeza que o governo Bolsonaro terá o primeiro caso de rejeição de embaixador. É um caso flagrante de nepotismo que não pode ser aceito”, declarou.

O senador Angelo Coronel (PSD-BA) disse que “será uma indicação terrível”, mas que quer sabatinar Eduardo para aferir sua qualificação para o posto.

“A relação familiar e falar a língua do país não significa que a pessoa tenha todos os predicados para a função”, disse Coronel.

“Se antes Eduardo Bolsonaro já operava como chanceler de fato, sua indicação ao posto de embaixador nos EUA por seu pai atesta o completo desprestígio do Ministério das Relações Exteriores no governo Bolsonaro. O filho do presidente não esconde sua admiração incondicional e subserviência completa ao governo dos Estados Unidos e já vinha rasgando os princípios constitucionais que regem as relações internacionais do Brasil em sua atuação na presidência da CRE. Agora, se confirmado embaixador nos EUA, o desejo entreguista de Eduardo Bolsonaro se somará a sua ausência de preparo ou experiência para o posto: uma mistura perigosa para os interesses do povo brasileiro”, afirmou Ivan Valente, líder do PSOL na Câmara.

Em nota, o PSOL declarou que a indicação viola a Constituição, o decreto de proibição de nepotismo e a súmula vinculante 13 do STF. “Diante disso, a bancada do PSOL pedirá providências à Procuradoria Geral da República para verificar a legalidade da indicação.”

O PSL, partido de Bolsonaro, tem como titular na comissão o líder da legenda no Senado, Major Olímpio (SP). Irmão de Eduardo, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) é suplente no colegiado.

Presidente da CRE, Nelsinho Trad (PSD-MS) reagiu às críticas dos colegas de comissão.

“Quem está chiando, vai se candidatar, leva facada, ganha e aí indica quem quiser”, disse Trad à Folha, fazendo referência ao atentado à faca sofrido por Bolsonaro durante sua campanha presidencial, em 2018.

O senador disse não ver problemas na indicação.

​”Uma embaixada desta importância e um ato como este, que é discricionário do presidente, ele vai por alguém que é da coronária dele. Acabou indicando uma pessoa, se é que isso vai se concretizar, que é muito próxima dele e deve dar sequência a este alinhamento notório que se tem com os Estados Unidos”, disse Trad.

As indicações de embaixadores têm que ser aprovadas pelo Senado. Segundo Trad, quando a mensagem do presidente chegar ao Senado e for lida em plenário pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), é automaticamente encaminhada à CRE.

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (12/07/2019)

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MANCHETES

O Globo

Câmara suaviza regras para mulheres e pensões
PDT e PSB avaliam expulsar infiéis que apoiaram reforma
Bolsonaro pretende indicar seu filho para embaixador nos Estados Unidos
MEC anuncia 108 escolas ‘cívico-militares’

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro diz que vai indicar filho para embaixada nos EUA
Câmara ameniza regras para policiais e mulheres
Rodrigo Maia vira o ‘Senhor Reforma’
MEC lança plano para criar 108 escolas cívico-militares
Liberação de verba deve levar mais de 1 ano
Meio século sem Julio de Mesquita Filho
Comissão aprova MP da Liberdade
FHC critica pedido de expulsão de Aécio
Barragem transborda e alaga cidade de Bahia
Trump manda ‘caçar’ imigrantes

Folha de S. Paulo

Bolsonaro vai indicar filho para embaixada nos EUA
Alteração na Previdência beneficia mulheres
Ministro da AGU é bom nome para STF, diz Bolsonaro
Comissão aprova mudanças em 36 artigos da CLT
Passaporte terá de novo ‘pai’ e ‘mãe’, afirma presidente
Recusa a porte de arma mais fácil vai a 70%, diz Datafolha
MEC prevê 108 escolas militares em áreas carentes até 2023

Valor Econômico

Equipe econômica pretende unificar reformas tributárias
Bolsonaro quer nomear filho embaixador
BRF e Marfrig abandonam plano de fusão
‘Ignorância é mortal’, diz cientista
Dasa compra laboratório argentino
Oferta de ações cresce 325% no 1º semestre
O espírito de Bretton Woods está sob ataque
MP 881 prevê ‘Carf’ para multas trabalhistas

EDITORIAIS

O Globo

O poder de convencimento da crise da Previdência

Votação do projeto revelou o enfrentamento do controle ideológico exercido por partidos

No rescaldo da votação em primeiro turno do projeto de reforma da Previdência, um ponto alto é o surpreendente apoio de 379 deputados, 71 a mais do que o mínimo necessário de 308 votos. As expectativas mais otimistas apostavam em 360.

Terminou indo bem mais além. Não se discute que uma das causas foi o competente trabalho político do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que soube ocupar os espaços deixados pela falta de coordenação por parte do Planalto, quase sempre enredado em questões menores, picuinhas ideológicas. Ou “besteiras”, nas palavras do general Santos Cruz, em entrevista à revista “Época”, depois de ser demitido da Secretaria de Governo, devido a tensões geradas no Palácio pela excessiva interferência familiar junto ao presidente Bolsonaro.

Tamanha margem de apoio na votação deve ter outras explicações. Não se pode menosprezar a influência das bases, a considerar que recente pesquisa Datafolha sinaliza que a aceitação popular da reforma ultrapassa numericamente a rejeição.

A diferença (47% a 44%) ainda está dentro da margem de erro, mas é significativo que este placar possa ser virado. Há incontáveis especulações sobre os motivos. Por exemplo, a maciça cobertura do assunto feita pelo jornalismo profissional.

Seja como for, houve um volume grande de desobediências no PSB e PDT, partidos de esquerda que fecharam questão contra a reforma.

De nada adiantou: no PDT, oito da bancada de 27 deputados (29%) votaram a favor da reforma, entre eles a jovem Tabata Amaral, que obteve expressiva votação em São Paulo; no PSB, o dissenso foi maior, tendo contrariado a ordem do partido 11 dos 32 deputados da legenda (34%).

Espera-se como se comportarão as direções partidárias, sob o risco de ficarem bem menores no Congresso caso expulsem os deputados. Este tipo de questão, porém, não contaminou os partidos de fé ideológica rígida, à beira da religiosidade: PT, PCdoB e PSOL.

Diante da patrulha, Tabata usou a rede social para explicar que não vê a reforma como do governo, e que ela é urgente e necessária. Também para reduzir as desigualdades, pois entende que o atual sistema previdenciário transfere renda de pobres para ricos.

A deputada diz que estudou o assunto. Certamente viu levantamentos oficiais que mostram a disparidade entre aposentadorias do funcionalismo público e dos empregados do setor privado, bem como as elevadas cifras que o Tesouro —leia-se, os contribuintes —transfere para bancar os benefícios dessas castas.

Não faltam estatísticas para provar o descalabro a que chegou a Previdência brasileira, que além de ser um instrumento de concentração de riquezas — a elite do funcionalismo aposentado está nas faixas de renda mais elevada— já representa mais da metade de todos os gastos da União, sem considerar o pagamento de juros.

Os deputados que rejeitaram a camisa de força do fechamento de questão apenas foram racionais.

O Globo

Prisão de dois suspeitos de integrar máfia no país é alerta na segurança

É preciso desvendar ligações da organização com facções que controlam venda de drogas

A prisão, pela Polícia Federal, na segunda-feira, de dois italianos suspeitos de integrar um braço da máfia conhecido como Ndrangheta, na América do Sul, leva a um outro patamar a atuação das organizações criminosas no Brasil. Se antes o grande desafio era minar o poder das facções, responsáveis pelos alarmantes índices de violência no país, agora ele passa a ser bem maior, à medida que acrescenta a máfia a esse cenário já explosivo.

A dupla foi presa num condomínio de luxo em Praia Grande, litoral paulista, durante operação da PF do Paraná batizada de Barão Invisível. Segundo as investigações, os italianos, da região da Calábria, controlariam 40% dos envios globais de cocaína. Ainda de acordo com a PF, os dois seriam o elo entre produtores de coca na América do Sul e a passagem pelo Brasil.

Grandes quantidades de droga apreendidas nos portos de Paranaguá
(PR) e Santos (SP), inclusive batendo recordes históricos, já tinham chamado a atenção dos policiais. Havia a suspeita de que organizações criminosas internacionais estariam por trás do negócio. Agora, não há mais dúvida.

A prisão resultou de um bem-sucedido trabalho de inteligência e cooperação com o governo italiano. Como deve ser. Foragidos desde 2014, os suspeitos moravam num prédio equipado com sofisticadas câmeras de vigilância. O apartamento de cobertura tinha paredes falsas, onde eles escondiam drogas, dinheiro e armas — a PF apreendeu duas pistolas, uma quantia não especificada em espécie e documentos falsos usados pelos italianos.

O STF decidirá se eles poderão ser extraditados para a Itália. Mas certamente o caso não se encerra aí. Ainda há fatos a esclarecer sobre a atuação desse braço da máfia no Brasil, especialmente no que diz respeito à ligação da organização com as facções criminosas que controlam a venda de drogas no país.

O que parece claro é que não há lugar para amadorismo no combate às organizações criminosas. Sucessivos governos negligenciaram o papel da União nesse processo. Apenas no governo Michel Temer foi criado o Ministério da Segurança e, mesmo assim, sem orçamento. O presidente Jair Bolsonaro o fortaleceu, criando a superpasta da Justiça e Segurança Pública, sob comando do ex-juiz Sergio Moro, dando ao governo federal o necessário protagonismo no enfrentamento do crime.

É inegável que para combater organizações criminosas, algumas com ramificações no exterior, é preciso que União e estados trabalhem de forma cada vez mais integrada, com inteligência, tecnologia, uso de forças-tarefas — a exemplo da Lava-Jato — e a indispensável cooperação internacional. Somente assim será possível fazer frente ao avanço da criminalidade que, pelo visto, é mais complexo do que se pensara.

O Estado de S. Paulo

Vitória do bom senso

Até pouco tempo atrás, a reforma da Previdência era considerada um tema politicamente tóxico, que poucos candidatos a cargo eletivo tinham coragem de defender – malgrado sua evidente necessidade. Agora, no entanto, o que não falta são políticos a reivindicar a paternidade da vitória acachapante no primeiro turno da votação da reforma da Previdência na Câmara. A notável mudança de atitude provavelmente deriva da construção de um consenso, no País, sobre a urgência do saneamento do sistema de aposentadorias, e esse processo não aconteceu de uma hora para outra nem dependeu de uma só pessoa.

É preciso lembrar, por exemplo, que o mais recente esforço em favor da reforma começou no governo de Michel Temer, que assumiu o ônus de enfrentar esse tema espinhoso mesmo sob pena de ampliar ainda mais sua já enorme impopularidade. Depois, o presidente Jair Bolsonaro teve de superar suas próprias convicções antirreformistas e, mesmo de modo hesitante, encaminhou uma proposta ainda mais ousada que a do ex-presidente Temer, incentivado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Assim, ainda que o próprio governo não tenha se empenhado como deveria e poderia em favor da reforma, o tema praticamente monopolizou o debate nacional, do qual participaram formadores de opinião e funcionários do governo bastante qualificados e que conseguiram, à custa de muita perseverança, derrubar uma a uma as mistificações em torno da Previdência e alertar o País para os riscos de não reformar o sistema de forma abrangente.

Mesmo com atrasos causados pelas confusões protagonizadas pelos articuladores do governo, a reforma avançou e chegou ao plenário sem ter sido substancialmente desidratada, o que foi uma vitória dos deputados reformistas contra os grupos organizados interessados em manter privilégios de corporações – algumas das quais apoiadas explicitamente por deputados governistas e pelo próprio presidente Bolsonaro. Nessa fase, já estava ficando claro para todos que a reforma já não era mais do governo, que em vários momentos parecia querer sabotá-la, e sim do Congresso, o que foi reafirmado diversas vezes pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seu grande fiador.

Rodrigo Maia assumiu a liderança das negociações para arregimentar apoio à reforma, muitas vezes sob duras críticas de Jair Bolsonaro e dos filhos do presidente, sempre dispostos a criar antagonismos com o que chamam de “velha política”. Sem ter a caneta presidencial para liberar cargos, verbas e poder, Maia teve de convencer seus pares a assumir o protagonismo de uma reforma sem a qual o País quebraria. A julgar pelo placar do primeiro turno, foi muito bem-sucedido nessa empreitada: foram 379 votos a 131, ou seja, 71 votos além do necessário para a aprovação do projeto. Houve apoio inclusive de vários deputados de oposição, o que, de quebra, ajudou a isolar ainda mais a esquerda corporativista radical formada pelo PT e por seus satélites, agarrados à pauta única do “Lula livre”.

Trata-se de grande demonstração de força, que Rodrigo Maia procurou capitalizar em discurso no plenário: “Não haverá investimento privado sem democracia forte. Investidor de longo prazo não investe em país que ataca as instituições”, disse o presidente da Câmara, em referência nada sutil aos seguidos ataques que Bolsonaro faz ao Congresso. E completou: “Nossos líderes são desrespeitados, são criticados de forma equivocada, mas são esses líderes que estão fazendo as mudanças no Brasil”.

A despeito da justificada celebração, a reforma da Previdência, mesmo em sua melhor forma, está incompleta. Não incluiu Estados e municípios, responsáveis por parte considerável do déficit do sistema. Há também concessões exageradas a esta e àquela categoria profissional e é possível que mais benefícios sejam criados ou ampliados até a última etapa de votação. Obstáculos não faltam. Por essa razão, Felipe Salto, diretor executivo da Instituição Fiscal Independente, do Senado, calcula que será necessário fazer uma nova reforma em no máximo dez anos. O que importa, contudo, é que o desfecho do primeiro turno de votação é um forte indicador da mudança de humor da sociedade brasileira em relação às reformas. E ainda há muito a reformar.

O Estado de S. Paulo

O morticínio chavista

O recente informe sobre a Venezuela do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos nada diz de novo, mas torna mais difícil aos apoiadores do chavismo justificar seu descolamento da realidade ou hipocrisia. Desde 2016, o “Estado de exceção” decretado por Nicolás Maduro se renova a cada 60 dias, conferindo poderes amplos, vagos e discricionários a seus militares, milícias e militantes. Em 2018, segundo dados oficiais, foram executadas extrajudicialmente 5.287 pessoas, uma média de 14 por dia, a maioria pelas Forças de Ações Especiais – a “Gestapo venezuelana”, segundo um general da reserva. O Comissariado constata um padrão: os esquadrões bloqueiam as ruas vestidos de preto, sem identificação, e “invadem as casas, tomam seus pertences, exercem violência sexista contra mulheres e meninas, incluindo nudez forçada”, sequestram os dissidentes e os executam.

Críticos do regime e seus familiares, em especial mulheres, são detidos, sem acesso a advogados, e interrogados “sob uma ou mais formas de tortura ou crueldade, tratamento ou punição desumana ou degradante, incluindo eletrochoques, sufocamento com sacos plásticos, afogamento, espancamentos, violência sexual, privação de água e comida, posições excruciantes e exposição a temperaturas extremas”. Segundo o informe, poucas pessoas recorrem à Justiça por medo de retaliação e o Ministério Público “contribui para a retórica oficial estigmatizando e desacreditando os críticos do governo”.

Não se sabe quantas pessoas morreram por fome ou doença. Em metrópoles como Caracas faltam de 60% a 100% de medicamentos essenciais e as famílias dos hospitalizados têm de prover água, luvas e seringas para seus parentes. Em quatro meses, 1.557 morreram por falta de suprimentos nos hospitais. Só os apagões de março mataram 40 pessoas. Doenças erradicadas ou controladas, como sarampo e difteria, reemergiram. Em muitas regiões faltam contraceptivos. As doenças sexualmente transmissíveis se alastram e em três anos a gravidez adolescente aumentou 65%.

Desde 2013, quatro anos antes das sanções norte-americanas, o PIB encolheu 44% e a inflação alcançou inacreditáveis 3.000.000%. O salário mínimo de US$ 7 paga 4,7% da cesta básica. Sete milhões de venezuelanos, ou um quarto da população, precisam de assistência humanitária, a qual, diz o relatório, o governo administra com negligência e parcialidade. Quatro milhões fugiram do país; 3,7 milhões, em maior medida crianças e grávidas, estão desnutridos. As filas por comida tomam em média 10 horas por dia e muitas mulheres são coagidas a pagar com sexo. Comunidades indígenas são escravizadas para a extração ilegal de ouro.

A oposição pediu que o relatório fosse encaminhado à Corte Penal Internacional. Maduro protestou: “Há inumeráveis imprecisões e erros”. Tem razão. Com a transparência peculiar do governo e a imprensa venezuelana sufocada – às vezes literalmente –, o retrato traçado pela insuspeita socialista Michelle Bachelet é seguramente bem menos brutal que a realidade. Sua fórmula mais recorrente é: “Necessário investigar mais”.

Os entusiastas do regime responderam com um silêncio ensurdecedor, a começar pelo PT, logo ele, que alardeia qualquer memorando de alguma subsecretaria não colegiada como “Declaração da ONU”, desde que abone seu chefe – que manipulou como ninguém a máquina estatal e o dinheiro dos brasileiros para abastecer o chavismo. Por uma constrangedora ironia, aquilo que as esquerdas tanto denunciam na polícia brasileira – legitimar sua truculência acusando suas vítimas de “resistência à autoridade” – é a maior blindagem legal da polícia bolivariana para suas chacinas.

A declaração protocolar do Comissariado é que “a única solução é o diálogo”. Se for, deveria começar no Conselho de Segurança da ONU com os sustentáculos do regime venezuelano, Rússia e China. Mas a menos que esse diálogo leve à deposição do ditador e suas quadrilhas para que respondam por seus crimes, não levará a lugar algum além do abismo.

O Estado de S. Paulo

Estados em busca de equilíbrio

Em Nota Técnica sobre a situação fiscal dos Estados, a Secretaria da Fazenda Federal afirma: “O equilíbrio fiscal é um ativo importante para assegurar avanços na prestação dos serviços à população, além de trazer um ambiente seguro para novos investimentos privados, criando mais oportunidades de emprego e renda”. Se fosse só por isso, a Secretaria não teria feito mais que constatar o óbvio – o que não é pouco, considerando- se as políticas fiscais heterodoxas ou simplesmente irresponsáveis adotadas por tantos Estados. Mas a nota traz dados que mensuram o quão verdadeira é esta constatação.

Muitos Estados chegam a comprometer entre 70% e 80% de sua receita com gasto de pessoal. “Esse descontrole fiscal,” ressalta a Secretaria, “foi agravado (mas não determinado) pela forte crise econômica enfrentada pelo País desde 2014”, quando as fontes de arrecadação começaram a secar. No ano passado, enquanto os Estados destinaram R$ 94 bilhões a 2,3 milhões de servidores inativos, gastando em média mais de R$ 40 mil com cada um deles, o investimento em toda a população, de 200 milhões de pessoas, foi quase quatro vezes menor (R$ 25 bilhões), com gasto médio de R$ 125 por pessoa.

O boletim do Tesouro Nacional aponta que entre os casos mais graves de descontrole estão Minas Gerais, com quase 80% da receita comprometida com despesa de pessoal, Mato Grosso do Sul (77%), Rio Grande do Norte (72%), Rio de Janeiro (71%) e Rio Grande do Sul (69%). Entre as consequências estão os atrasos nos salários dos servidores e nos pagamentos dos fornecedores e a depreciação da infraestrutura, uma vez que os recursos são cada vez mais contingenciados para cobrir o déficit previdenciário e os salários dos servidores.

Para avaliar o impacto do ajuste fiscal sobre os Estados, a Secretaria analisou dois grupos: um dos que passaram a controlar despesas com pessoal desde o início da crise e outro dos que não alteraram a sua trajetória. O primeiro é formado por Alagoas, Ceará e Espírito Santo. O segundo, por Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

A comparação é relativamente desigual, já que os três últimos Estados têm maior infraestrutura e grandes mercados. Mas chama a atenção que, mesmo com esta diferença de tamanho, os Estados apontados como exemplos de boa gestão fiscal alcançaram melhores resultados econômicos e sociais. Apesar de ter um PIB cinco vezes menor, este grupo faz, em valores brutos, mais investimentos com recursos próprios que o grupo dos Estados em desequilíbrio. Em termos per capita a diferença é maior: em 2018, enquanto o grupo dos equilibrados investiu R$ 381 por pessoa, os desequilibrados investiram apenas R$ 91,7.

Outro indicador é o desempenho educacional. A Secretaria constata que não só mais gastos com pessoal não implicam melhor desempenho, como parece haver justamente uma correlação inversa. Cotejando- se o ranking do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica entre 2013 e 2017, Espírito Santo, Ceará e Alagoas subiram entre seis e nove posições, ao passo que os três Estados desequilibrados caíram entre seis e doze posições.

O mesmo diagnóstico de desequilíbrio se verifica na União: “Muitos recursos alocados para pagamento de pessoal ativo e inativo e poucos recursos restando para o investimento para toda a população”, diz a nota. Entre 2010 e 2019, a proporção da receita líquida gasta com pessoal saltou de 60% para 80%, enquanto o gasto com investimentos caiu pela metade: de 12% para 6,5%.

O governo anunciou que prepara para o segundo semestre um projeto de reforma administrativa do funcionalismo, aproveitando algumas propostas já estudadas no governo Michel Temer. Não só por uma questão de ajuste, mas de justiça, essa reforma precisa ser feita. Para que seja bem feita – contra o empenho das piores forças do funcionalismo – será indispensável o empenho das melhores forças da sociedade civil.

Folha de S. Paulo

Reforma para todos

Senado fará bem em adequar servidores estaduais e municipais às regras previdenciárias votadas na Câmara; empenho de governadores é essencial

Com a reforma da Previdência perto da aprovação definitiva pela Câmara dos Deputados, são animadoras as notícias de que no Senado já se discutem propostas para adequar servidores estaduais e municipais às novas regras.

Os governos regionais acabaram excluídos do texto votado na quarta (10) em razão de uma combinação de mesquinharias políticas. Governadores de oposição, em especial do Nordeste, relutaram em apoiar publicamente a reforma, enquanto parlamentares favoráveis a ela se recusaram a ajudar administrações de adversários.

Há meios de reparar o dano, embora o entendimento partidário possa se mostrar difícil. Estuda-se a apresentação de uma proposta de emenda constitucional específica para os demais entes federativos, de modo a não atrasar a tramitação do projeto original.

Fato é que em boa parte dos estados as despesas previdenciárias já ameaçam diretamente a prestação de serviços básicos à população.

Segundo estudo da Instituição Fiscal Independente, órgão consultivo ligado ao Senado, em 2017 o déficit dos regimes estaduais chegou a R$ 89 bilhões, valor equivalente a nada menos de 14,7% da receita.

Em alguns casos, como os de Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o rombo fica entre 25% e 30% da arrecadação. É absurdo que tamanha parcela dos recursos disponíveis se destine a um estrato diminuto da sociedade — enquanto carências em educação, saúde e segurança afetam a todos.

Observa-se hoje um óbvio desequilíbrio entre o número de funcionários que contribuem para a Previdência e o de inativos. A relação é de apenas 1,13 para 1, e em pelo menos quatro estados os aposentados e pensionistas já superam em quantidade os que estão na ativa.

Corporações influentes, como fiscais de renda, procuradores e membros do Judiciário continuam a ignorar restrições orçamentarias. Outras, como professores e policiais, numerosas e importantes, gozam de regras mais benevolentes.

Entre 2006 e 2015, o valor da remuneração média dos servidores estaduais cresceu 50,8% acima da inflação, ao passo que o benefício médio pago aos inativos subiu 32,7%. Em muitos casos ainda se permitem integralidade (aposentadoria com o último salário) e paridade (correções de benefícios equivalentes às dos salários da ativa).

Com déficits explosivos e serviços em colapso, não há mais espaço para subterfúgios. O mais simples e rápido é incluir todos os entes federativos na reforma nacional. Caso não seja possível, os Executivos e Legislativos locais precisam enfrentar o problema.

Em qualquer hipótese, os governadores, especialmente os de oposição, devem se dedicar mais a expor publicamente a situação de suas contas e a urgência dos ajustes.

Folha de S. Paulo

Terror venezuelano

A ex-presidente chilena Michelle Bachelet, socialista, não pode em sã consciência ser chamada de direitista ou agente do imperialismo. Toda pessoa que preze democracia e direitos humanos, qualquer que seja sua inclinação ideológica, deveria espantar-se com o relatório que produziu sobre a Venezuela.

À frente do Alto Comissariado para Direitos Humanos da ONU, Bachelet visitou Caracas entre 19 e 21 de junho. Sua equipe colheu 558 testemunhos de venezuelanos sobre violações de garantias individuais e a situação socioeconômica do país. O panorama deles extraído é acabrunhante.

Não que os excessos da ditadura de Nicolás Maduro fossem propriamente desconhecidos. Mesmo assim, choca ver tantas desgraças reunidas sob a frieza dos números.

Em 17 meses, de janeiro de 2018 a maio de 2019, ao menos 6.856 pessoas acabaram mortas por supostamente resistir à prisão. Segundo organizações não governamentais, entretanto, o total alcançaria 9.647.

Pelos relatos amealhados, a maioria dos casos seria de execuções extrajudiciais perpetradas por razões políticas. Esquadrões da morte invadem residências de opositores sem mandados, matam homens e despem ou violentam mulheres.

Houve ainda 80 pessoas mortas em protestos, duramente reprimidos pela Guarda Nacional Bolivariana e a Polícia Nacional Bolivariana, e mais de 15 mil detidos por motivos políticos. Não faltam os relatos de torturas.

Um regime de terror, não resta dúvida, ao menos para quem não tem os olhos anuviados pela cegueira ideológica. Não bastassem a repressão abjeta e a supressão das liberdades, a população da Venezuela sofre com o estado terminal da economia sob a gestão de Maduro.

O relatório Bachelet não poupa cifras do descalabro: o salário mínimo de US$ 7 mensais não compra nem 5% da cesta básica; gastam-se dez horas por dia em filas por alimentos; em quatro meses, ocorreram 1.557 mortes em hospitais por falta de suprimentos.

Caem no ridículo as alegações de Maduro de que tudo decorre do embargo dos Estados Unidos e de uma fantasiosa conspiração fascista. Sua ditadura sanguinária fracassou em todas as frentes, mas não cede no ânimo de manter amordaçados os venezuelanos.

Evidência disso são as limitações impostas a duas dezenas de presos políticos libertados depois das denúncias da ONU. Embora livres do cárcere, lideranças como a juíza Maria Lourdes Afiunie o jornalista Braulio Jatar estão impedidos de viajar, dar entrevistas ou de frequentar redes sociais.

Com voto do Cidadania, mulheres terão 100% de aposentadoria com 35 anos de contribuição 

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O plenário da Câmara aprovou, nesta quinta-feira (12), por 344 votos a 132, a emenda que muda as regras de cálculo no texto da Reforma da Previdência para a aposentadoria das mulheres, permitindo que elas possam se aposentar com 100% do benefício após 35 anos de contribuição.

Com a alteração, o benefício passa a ficar maior já a partir dos 15 anos de contribuição, subindo 2% a cada ano.

Ao encaminhar voto do Cidadania pela aprovação da emenda, a deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania-SC) destacou a importância da proposta para fazer avançar a luta das mulheres brasileiras pela afirmação dos seus direitos.

“Reduzir o tempo de contribuição não é nenhum favor. Temos dupla, até tripla jornada de trabalho. Esta emenda é apenas uma pequena conquista diante das diferenças de tratamento entre homens e mulheres. As desigualdades continuam gigantescas. Apesar de sermos apenas 77 mulheres aqui nesta Casa, mas vamos continuar lutando pelos direitos das mulheres brasileiras”, afirmou.

A aprovação da emenda da Bancada Feminina envolveu um acordo suprapartidário, do qual Carmen Zanotto teve participação destacada nas articulações.

Com a negociação, o texto aprovado contempla também as viúvas, que não poderão receber pensão por morte menor do que um salário mínimo, desde que elas não possuam rendimento formal.

Proteção à maternidade

A emenda retoma redação da Constituição sobre a Previdência Social atender a proteção à maternidade, retirando do texto-base da reforma a referência a “salário-maternidade”.

“A proteção à maternidade é um conceito mais amplo. Contempla inclusive as mulheres adotantes e a primeira infância, que um das bandeiras da Bancada Feminina”, explicou Carmen Zanotto.