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Em sessão solene, Carmen Zanotto defende políticas consistentes para pescadores

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Neste 6 de agosto, dia em que a Câmara dos Deputados realizou sessão solene para homenagear o pescador, Carmen Zanotto (Cidadania-SC) defendeu políticas públicas consistentes para os profissionais que têm importância significativa para a economia brasileira. O setor produz mais de 760 mil toneladas de pescado por ano.

“Uma luta antiga”

“Precisamos olhar para o nosso pescador como olhamos para o homem do campo. Precisamos, sim, de políticas consistentes, financiamento e reconhecimento desta profissão”, disse a parlamentar no plenário.

Zanotto disse que a luta da categoria para conseguir do Estado melhores condições de trabalho é “antiga” e que o pescador enfrenta risco diariamente, ao buscar o alimento para as famílias.

“Que este momento seja o momento de renovar as esperanças. Porque esta luta não é de agora. É uma luta antiga. O homem que entra para o mar vai buscar o alimento para nos colocar na mesa. É muito fácil ir ao mercado adquirir o produto quando a gente não lembra do sofrimento, dos riscos e das inúmeras vidas perdidas no mar buscando sustento”, acrescentou a parlamentar catarinense.

Carmen Zanotto disse ainda que os profissionais de pesca podem continuar contando com o mandato dela em prol da categoria

Previdência: Inclusão de estados e municípios via PEC paralela é essencial, defende Rubens Bueno

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A inclusão de estados e municípios na Reforma da Previdência por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) paralela é fundamental para que todos os entes da Federação, e não apenas a União, consigam alcançar um equilíbrio financeiro. A defesa foi feita nesta terça-feira (06) pelo deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR), para quem está na hora dos parlamentares que se dizem municipalistas abraçarem de vez essa causa.

“De nada adianta se dizer municipalista e na hora que os municípios mais precisam não garantir o voto para que eles sejam incluídos na reforma da Previdência. Grande parte das cidades brasileiras está com uma fatia enorme do Orçamento comprometida com o pagamento de aposentados, faltando recursos para investimentos em saúde, educação e infraestrutura. É improvável que os próprios municípios façam sua reforma a curto prazo, ainda mais num período pré-eleitoral, pois temos eleição no ano que vem. O melhor é fazermos uma reforma por inteiro”, defendeu o deputado.

Rubens Bueno, que vem participando de reuniões no Senado sobre o tema, acredita que o melhor caminho é incluir estados e municípios por meio de uma PEC paralela. “Para não atrasar a reforma que já foi aprovada em primeiro turno pela Câmara, essa estratégia de incluir estados e municípios por meio de outra PEC é a mais viável. Aí veremos quem são os parlamentares que verdadeiramente tem compromisso com os municípios”, disse.

O deputado também acredita que nesta semana a Câmara consiga finalizar o segundo turno da Reforma da Previdência sem alterações significativas no texto aprovado na primeira votação.

Luiz Carlos Azedo: Volta aos trilhos

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Nas entrelinhas

“A retomada da votação da Previdência é uma volta aos trilhos da boa política, pois muda o foco dos “factoides” ideológicos para o que é realmente mais importante”

A Câmara dos Deputados retoma hoje o processo de discussão da reforma da Previdência, que deve ser aprovada ainda nesta semana, em segunda votação, seguindo então para o Senado. O clima já não é o mesmo do primeiro semestre. Houve muito diversionismo do Palácio do Planalto duramente o recesso e nenhum empenho para mobilizar a própria base na retomada dos trabalhos legislativos. Perdeu-se tempo, por falta de quórum, na semana passada e ontem, quando havia menos de 51 deputados na Câmara. Como ainda há um interstício de duas sessões para a votação, o que poderia começar a ser decidido hoje, na melhor das hipóteses, só se iniciará na noite de amanhã.

De qualquer forma, a retomada da votação da Previdência é uma volta aos trilhos da boa política, pois muda o foco dos “factoides” ideológicos para o que é realmente mais importante. A inclusão de estados e municípios na reforma da Previdência deve voltar à pauta no Senado, mas como nova emenda constitucional, a chamada PEC paralela, para não atrasar o que já foi aprovado pela Câmara. Há maioria no Senado para isso, porém, persiste a dificuldade na Câmara. A maioria dos deputados não quer arcar com o ônus da reforma junto aos servidores públicos estaduais e municipais; avalia que isso é problema dos governadores e prefeitos, deputados estaduais e vereadores.

Ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afinaram a viola com o ministro da Economia, Paulo Guedes, não só sobre a tramitação da reforma da Previdência, mas também em relação ao passo seguinte: a reforma tributária. Os três almoçaram na residência oficial de Alcolumbre. Dois projetos diferentes já estão tramitando no Congresso Nacional: um na Câmara e outro, no Senado. Guedes prepara uma terceira proposta. Os secretários estaduais de Fazenda também deram um passo adiante: na semana passada, aprovaram sugestões ao projeto da Câmara, de autoria de Bernardo Appy. O tema que mais interessa aos estados é a composição do comitê gestor para o Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS), a ser criado pela reforma.

Ainda nos trilhos das reformas, hoje será instalada por Rodrigo Maia a comissão especial da Câmara que discutirá o novo marco regulatório das parcerias público-privadas, concessões públicas e fundos de investimento em infraestrutura, cujo relator será o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP). Depois da Previdência e da reforma tributária, será a agenda mais importante para a economia, principalmente porque uma das grandes queixas dos investidores é a falta de segurança jurídica para os negócios com o Estado.

Governadores

O presidente Jair Bolsonaro foi ontem a Sobradinho, na Bahia, inaugurar uma usina de energia solar flutuante no Rio São Francisco e voltou a falar sobre suas divergências com os governadores do Nordeste. Pela segunda vez, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), evitou se encontrar com Bolsonaro, que negou discriminar o Nordeste, mas continua atirando: “Não estou aqui com colegas nordestinos para fazer média. Não existe essa história de preconceito. Agora, eu tenho preconceito com governador ladrão que não faz nada para o seu estado”, disse.

O contencioso com os governadores nordestinos é maior com o governador baiano, de quem Bolsonaro voltou a se queixar diretamente: “O meu relacionamento é com o povo do Nordeste. Ninguém proibiu o governador de estar aqui. Da vez passada, quando estive em Vitória da Conquista, ele determinou que a Polícia Militar não participasse”, justificou. Bolsonaro perdeu a eleição para o petista Fernando Haddad nos estados do Nordeste, por isso mobiliza os setores que o apoiam de olho nas próximas eleições municipais.

O conflito se instalou quando uma conversa de Bolsonaro com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi captada pelo áudio de gravação da TV Brasil, antes de uma solenidade oficial, e acabou viralizando nas redes, o que provocou forte reação dos governadores nordestinos. Num comentário sobre eles, Bolsonaro chamou-os de “paraíbas” e disse que um deles, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), não receberia nenhuma verba federal. Diante da reação dos dois governadores e seus colegas da região, desde então, o presidente da República tenta minimizar o estrago político que a declaração causou junto à opinião pública.

O problema é que os números corroboram as queixas dos governadores. Em 2019, até julho, a Caixa Econômica Federal (CEF), que gerencia os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), autorizou novos empréstimos no valor de R$ 4 bilhões para estados e municípios de todo o país. Para o Nordeste, porém, foram fechadas menos de 10 operações, que totalizavam, naquela data, R$ 89 milhões, ou cerca de 2,2% do total. (Correio Braziliense – 06/08/19)

Eliane Cantanhêde: A ricos e aliados, tudo

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O presidente Jair Bolsonaro confirma, dia sim, outro também, sua visão peculiar e sectária do que sejam direitos. Diz a Constituição que “todos são iguais perante a lei”. Dizem as democracias que os direitos e deveres são iguais para todos. Para Bolsonaro, não. No seu governo, como na sua fala, uns têm mais direitos do que outros: os ricos, donos do capital. Num país campeão de desigualdade social, com milhões de pessoas sem direito a emprego, educação, saúde, moradia, transporte, igualdades de condições e respeito, o presidente jamais usa a palavra “social” e está preocupado é com os direitos dos empresários, que chama de “heróis”: “É horrível ser patrão no Brasil”, prega.

Bem pior, presidente, é ser pobre. Assim, Bolsonaro defende trabalho infantil, produz frases dúbias sobre trabalho escravo e estuda devolver terras desapropriadas. E corta, ops!, contingencia verbas do Ministério do Desenvolvimento Social e da Educação. Entre a proteção da Amazônia e a ganância de madeireiros ilegais, adivinhem quem ele defende? Em desacordo com a lei, impediu a destruição de caminhões que derrubavam árvores, criminosamente, na floresta. Entre o direito ancestral dos índios e o desejo de “tarados” americanos de explorar minérios em terras indígenas, adivinhem o que ele prefere? E a ideia de liberar Angra dos Reis para empresários criarem “uma Cancún”? Entre o Coaf, que identifica movimentações financeiras atípicas, e o interesse do filho Flávio Bolsonaro, cujo gabinete no Rio foi um dos flagrados, adivinhem o que ele faz? O chefe do Coaf cai, o filho Flávio fica feliz da vida.

Aliás, cadê o Queiroz? Sempre crítico à política, Bolsonaro se deu o direito de estar nela há 29 anos e garantir mandatos não só para Flávio, mas também para o “02”, Carlos, e o “03”, Eduardo. Por que será? Essa pergunta, que nunca quis calar, pode estar sendo respondida pelo jornal O Globo, que identificou 286 assessores do clã nessas três décadas, 102 da família Bolsonaro ou de famílias amigas. Alguns receberam a média de R$ 7,3 mil, ou R$ 10,7 mil, durante 14, 15 anos, sem dar as caras no trabalho. Uma era oficialmente “do lar”, outra declarou-se “babá” na Justiça e vai por aí afora. Será que os salários não eram para elas? E qual o direito dos Bolsonaro de fazer isso? Há também os cartões corporativos: a sociedade tem o direito de saber como são gastas as verbas oficiais, mas Bolsonaro mantém o “direito” de gastar sem dizer onde, para quê, com quem. E não é pouco dinheiro, não.

Quem, por ofício, checa diariamente a agenda do presidente sabe os que têm acesso a Bolsonaro e para quem ele está efetivamente governando. Ele vai a toda e qualquer solenidade militar, frequenta cultos e despacha com pastores evangélicos, leva ministros a estádios de futebol e abre as portas do gabinete a multinacionais, grandes empresários, ruralistas, políticos aliados, a “bancada da bala”. Aos aliados e ao capital, enfim. Onde ficam as outras religiões, os ambientalistas, as comunidades LGBT, os professores, os defensores de direitos humanos, os cientistas, os cineastas, os escritores, os artistas, os intelectuais, os índios, os quilombolas, os especialistas em trânsito e em desarmamento? E os representantes de trabalhadores? No mundo de Bolsonaro, o capital tem todos os direitos, o trabalho e as minorias só têm deveres.

A uns, a defesa. Aos outros, a cobrança. Mais ou menos como no caso dos Estados: aos governadores aliados, tudo; aos nordestinos, as migalhas. Entra aí o “direito” do jovem deputado Eduardo de ser embaixador na mais importante embaixada do planeta, a dos EUA. “Indicado tem de ser filho de alguém. Por que não meu?”, indagou papai Bolsonaro. O que responder, minha gente?! (O Estado de S. Paulo – 06/08/19)

Merval Pereira: O eterno duelo

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O embate entre desenvolvimentistas e ambientalistas é constante nos últimos dez anos, e não importa se o governo é de esquerda ou de direita. As discussões são recorrentes, a disputa entre a agricultura e o meio ambiente persiste, e os problemas e soluções são semelhantes. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sempre foi uma pedra no sapato dos governantes. A crise gerada pelos números sobre o desmatamento da Amazônia, que levou à demissão do presidente do Inpe, se repetiu, por exemplo, em 2008, quando o então presidente Lula desacreditou os números do órgão, negando que o país estivesse passando por um novo surto de desmatamento. Não chegou a demitir seu presidente, mas atribuiu ao órgão números errados que colocou “sob investigação”. Para o presidente, houve “alarde na divulgação dos números”.

Lula criticou o Ministério do Meio Ambiente, que era comandado por Marina Silva, e as ONGs, e disse que não se pode culpar a agropecuária, os produtores de soja e os sem-terra assentados pelo aumento do desmatamento na Amazônia. Lula afirmou ainda que pretendia “comprar briga” com as organizações não governamentais (ONGs) se elas insistissem em ligar o crescimento da agricultura ao desmatamento. O desenvolvimento da região sempre foi uma preocupação de Lula, que a certa altura, em discurso na inauguração de uma usina de biodiesel no Mato Grosso, afirmou que queria levantar todos os “entraves que eu tenho com o meio ambiente, todos os entraves com o Ministério Público, todos os entraves com a questão dos quilombolas, com a questão dos índios brasileiros, todos os entraves que a gente tem no Tribunal de Contas, para tentar preparar um pacote, chamar o Congresso Nacional e falar:

‘Olha, gente, isso aqui não é um problema do presidente da República, não. Isso aqui é um problema do país’”. As diversas organizações ambientalistas, daqui e do exterior, criticaram Lula por opor o meio ambiente ao desenvolvimento. Na assinatura da concessão para a construção da Usina de Belo Monte, Lula disse: “Vocês nem imaginam quantos discursos fiz contra a construção de Belo Monte. E é exatamente no meu governo que ela acontece”.

O presidente lembrou na ocasião diversos casos de obstáculos a obras na região, desde uma caverna que seria inundada para a construção da usina Tijuco Alto, uma “machadinha” que sinalizaria um sítio arqueológico ou a “perereca” que atrasou as obras de duplicação da BR-101, no Rio Grande do Sul. Sem falar dos bagres do Rio Madeira, que tanto incomodavam Lula na construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. O ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, queria usar o Fundo Amazônia para indenizar proprietários rurais em unidades de conservação, para fazer a regularização fundiária. Os críticos o acusam de estar favorecendo os grileiros em áreas protegidas.

Pois o então ministro Mangabeira Unger, do Planejamento Estratégico, quando assumiu o Programa da Amazônia Sustentável (PAS), teve a mesma proposta. Aliás, o fato de Lula ter dado a Mangabeira o projeto para a Amazônia foi a gota d’água para a saída da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, assim como, anteriormente, o então deputado federal Fernando Gabeira havia deixado o PT devido a divergências, especialmente pela política ambientalista. Foi editada uma medida provisória que regularizava a posse de terra na Amazônia, muito criticada como nociva à preservação ambiental.

Para Mangabeira, “nada na Amazônia vai avançar, nenhum aspecto do desenvolvimento sustentável includente, se não resolvermos o problema da terra”. Mangabeira tinha à época o mesmo argumento que Salles tem hoje: “Vamos poder regularizar a situação de 500 mil famílias urbanas e 400 mil famílias rurais. Essa é a população que construiu a Amazônia, que está construindo a Amazônia”. Mangabeira Unger dizia que chamá-los de grileiros é o mesmo que chamar de grileiros os que ocuparam e construíram os Estados Unidos ou a Austrália.

A disputa entre Agricultura e Meio Ambiente é outra situação recorrente. Lula chegou a ter na sua base de apoio o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, o maior plantador de soja do mundo, a quem a ONG Greenpeace concedeu a Motosserra de Ouro pelo desmatamento da Amazônia, e Marina Silva no Meio Ambiente. (O Globo – 06/08/19)

Congresso Nacional quer projeto único sobre reforma tributária

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Reforma tributária terá projeto unificado

MARCELLO CORRÊA

BRASÍLIA – O Globo

Câmara dos Deputados e Senado trabalharão com o governo para chegar a uma proposta de reforma tributária consensual. A informação foi dada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), após o almoço que teve ontem com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes.

— O governo, o Senado e a Câmara discutirão e aprimorarão esse texto para fazermos uma reforma que possa de fato simplificar e desburocratizar essa estrutura de cobrança de arrecadação de impostos e encargos do governo federal, dos governos estaduais e municipais —declarou Alcolumbre em sua residência oficial.

Atualmente, há pelo menos cinco propostas de reforma tributária em discussão. A mais avançada é a que tramita na Câmara, que propõe a unificação de cinco impostos. Uma semelhante foi apresentada no Senado com a previsão de substituir nove tributos por apenas um. Correm por fora uma proposta alternativa do governo, ainda não formalizada, um texto apoiado por empresários com a ideia de um imposto único incidindo sobre movimentação financeira e um projeto alternativo costurado por governadores.

Alcolumbre não disse que texto será a base para o consenso. Segundo auxiliares, a estratégia é manter a tramitação dos textos na Câmara e no Senado. O que avançar mais rápido dará origem ao texto único.

Rosa Weber dá 15 dias para Bolsonaro explicar fala, diz O Globo

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Pedido foi feito por Dilma após presidente dizer nos EUA que quem ocupava o governo teve ‘suas mãos manchadas de sangue’

RAYANDERSON GUERRA – O Globo

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu um prazo de 15 dias para que o presidente Jair Bolsonaro, caso queira, esclareça uma declaração feita durante sua viagem a Dallas, nos Estados Unidos, em maio, na qual Bolsonaro afirmou que “quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada”. A ministra atendeu a um pedido da ex-presidente Dilma Rousseff. Bolsonaro fez a declaração durante a entrega do prêmio personalidade do ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos:

— Quem até há pouco ocupava o governo tinha suas mãos manchadas de sangue da luta armada, matando inclusive um capitão, como eu. Eu rendo homenagem aqui ao capitão Charles Chandler, um herói americano. Talvez um pouco esquecido na história, mas que escreveu sua história passando pelo Brasil — afirmou Bolsonaro, na ocasião, sem citar nomes. No discurso, o presidente se referia ao capitão do Exército americano Charles Rodney Chandler, assassinado por grupos de esquerda que participavam da luta armada durante a ditadura militar, em outubro de 1968.

À época, Dilma divulgou uma nota rebatendo o presidente: “Declaração mentirosa e caluniosa sobre minha história política”. A petista afirmou que não participou “de atos armados ou ações que tivessem ou pudessem levar à morte de quem quer que seja”. Entre 1967 e 1972, a ex-presidente militou em duas organizações de luta armada contra a ditadura, em São Paulo, no Rio e no Rio Grande do Sul. Para fugir da perseguição da polícia e do Exército, usou documentos falsos, transportou armas e dinheiro roubado, foi presa, torturada e ficou quase três anos na cadeia.

Não há registros, no entanto, de que Dilma tenha participado diretamente de ações armadas. Ao recorrer ao STF, a defesa de Dilma quer que Bolsonaro esclareça se a declaração era direcionada à ex-presidente, se a intenção dele foi dizer que Dilma teria matado Charles Chandler e se Bolsonaro sabe quem são os responsáveis pela morte do capitão e possui algum documento que indique qualquer acusação formal contra Dilma sobre fatos que envolvem a morte de Charles Chandler. Se as explicações não forem suficientes, o autor do pedido pode decidir ajuizar uma ação sobre as declarações.

VERSÕES DO PRESIDENTE

Rosa Weber é a segunda ministra a pedir explicações a Bolsonaro em menos de uma semana. O ministro Luís Roberto Barroso também deu prazo de 15 dias para que o presidente, caso queira, responda questionamentos feitos pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre a morte do pai do presidente da entidade, Felipe Santa Cruz. Fernando Santa Cruz militava em um movimento contrário à ditadura militar e desapareceu enquanto estava sob custódia do estado. Na semana passada, Bolsonaro disse que, se Felipe Santa Cruz quisesse, poderia contar a ele em que condições ocorreu o desaparecimento de seu pai. Ainda naquele dia, sugeriu que Fernando Santa Cruz teria sido morto por outros militantes, versão que não condiz com o resultado da investigação da Comissão Nacional da Verdade: ele teria sido morto por órgãos de repressão da ditadura militar.

Guerra comercial entre EUA e China preocupa mercados

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Guerra comercial se agrava, e mercados refletem tensão

Bolsas dos EUA têm o pior dia do ano com intensificação da guerra comercial; dólar dispara e fecha a R$ 3,96

Folha de S. Paulo

A guerra comercial entre os EUA e a China entrou em uma fase mais perigosa nesta segunda-feira (5), quando Pequim permitiu que sua moeda se desvalorizasse, as empresas chinesas suspenderam compras de produtos agrícolas americanos e o Departamento do Tesouro do governo Donald Trump americano qualificou o país asiático de “manipulador cambial”

A escalada abalou os mercados, com investidores buscando lugares seguros onde deixar seu dinheiro e fugindo dos mercados emergentes.

Wall Street sofreu seu pior dia do ano, com o índice S&P 500 fechando em queda de quase 3%. As vendas foram especialmente pesadas no setor de tecnologia, sensível ao comércio internacional, nos bens de consumo discricionário e nos setores industriais.

A Apple, que tem grande parte de sua produção na China, perdeu US$ 69,2 bilhões em valor de mercado desde o anúncio de Trump, na quinta-feira (1°), de que imporia tarifas de 10% sobre mais US$ 300 bilhões em produtos chineses.

O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA, que sobe em contraposição à redução dos preços dos papéis, caiu, quando os investidores saíram em busca de segurança.

Os principais índices da Ásia e da Europa também caíram a A Bolsa de Londres caiu 2,47%, a de Paris, 2,2%, e a de Frankfurt, 1,8%.

O índice CSI300, que reúne as Bolsas chinesas de Xangai e Shenzhen, recuou 1,9%. Tóquio caiu 1,7% e Hong Kong teve uma queda mais expressiva, de 2,85%, pressionada pela greve geral desta segunda.

Com o Brasil não foi diferente: a Bolsa quase perdeu o patamar de 100 mil pontos, atingido pela primeira vez em 19 de junho, e fechou a 100.097 pontos após um tombo de 2,5%. O dólar avançou 1,60% e fechou a R$ 3,9560, maior cotação desde 30 de maio, quando amoeda bateu R$ 3,98.

As commodities também foram impactadas pelo receio da desaceleração da economia com a piora da guerra comercial. O minério de ferro recuou 4,86%, a US$ 100,55, menor patamar desde junho. As ações da Vale acompanharam e cederam 3,84%, a R$ 46,00.

O barril de petróleo Brent caiu 3%, a US$ 59,97, também o menor valor desde junho. As ações preferenciais, mais negociadas, da Petrobras recuaram 3,65%, a R$ 25,55.

No domingo (4), o banco central da China permitiu que sua moeda caísse abaixo da barreira dos 7 yuans por dólar, uma marca psicologicamente importante, pela primeira vez em uma década.

Numa declaração franca, o banco culpou o “unilateralismo e medidas de protecionismo comercial e a imposição de tarifas ampliadas sobre a China” por Trump pela queda.

No fim da tarde desta segunda, Tesouro dos EUA adotou medida incomum de rotular a China como um manipulador de moeda —a primeira vez que o fez desde 1994.

A ação, basicamente simbólica, exige que os EUA consultem o FMI (Fundo Monetário Internacional) para tentar eliminar vantagens que medidas monetárias deem a um país. Mas a China deverá encarar a medida como uma repreensão e aumentar ainda mais a tensão pressões entre os países.

A decisão de Trump de impor tarifas adicionais a produtos chineses também levou as empresas da China a suspender a compra de produtos agrícolas americanos, de acordo com a agência estatal de notícias Xinhua, que classificou as tarifas propostas pelo presidente como uma “séria violação” do acordo a que ele chegou em junho com o dirigente chinês, Xi Jinping.

As posições endurecidas sublinham o caminho duro para a resolução da disputa comercial, que começou a causar danos à economia mundial.

Negociadores americanos e chineses se reuniram em Xangai na semana passada, no primeiro encontro face a face desde o colapso das negociações comerciais em maio, mas fizeram pouco progresso na solução das diferenças entre os países.

A questão agora é se Pequim tentará neutralizar o impacto das tarifas de Trump permitindo que sua moeda caia significativamente diante do dólar. Um yuan mais fraco pode baixar o preço de venda dos produtos chineses no exterior, o que permitiria que empresas e consumidores digerissem com mais facilidade o tributo adicional que Trump impôs aos produtos chineses.

Se a China permitir que sua moeda caia ainda mais, os países do Leste e do Sudeste Asiático que concorrem em setores similares podem enfrentar pressão de mercado por desvalorização de suas moedas.

Essas espirais de desvalorização podem resultar em alta da inflação, compressão dos gastos domiciliares e transferências desordenadas de dinheiro através de fronteiras. Também podem levar a novas tarifas ou outras medidas de restrição do comércio.

A escalada na guerra comercial ameaça pôr fim a um período que parecia estar registrando modesta expansão mundial. A economia americana ainda parece forte, mas o crescimento nos setores de serviços e indústria está se desacelerando.

A economia europeia também está fraca, porque a guerra comercial pesa sobre economias dependentes das exportações.

O crescimento da China foi prejudicado pela guerra comercial, que agravou alguns dos problemas internos do país. Outros países dependentes da voraz máquina económica chinesa, como o Japão, também sofreram.

Trump também continua a pressionar o Fed por cortes de juros, o que se repetiu nesta segunda. “A China derrubou o preço de sua moeda a uma baixa quase histórica”, tuitou Trump. “O nome disso é ‘manipulação cambial. Você está ouvindo Federal Reserve? Essa é uma grande violação que enfraquecerá muito a China com o tempo!”

O Fed cortou os juros na semana passada pela primeira vez em dez anos, medida tomada em parte para ajudar os EUA a aguentarem o impacto da guerra comercial. Mas as políticas comerciais de Trump estão contrabalançando alguns dos esforços do Fed para estimular a economia.

As tarifas americanas sobre a China reduzem o crescimento chinês, enfraquecem a moeda chinesa e tornam o dólar relativamente forte. Um dólar mais forte corta a inflação nos EUA e pode forçar o Fed a baixar mais as taxas de juros.

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (06/08/2019)

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MANCHETES

O Globo

Bolsonaro quer novo projeto para respaldar ação de policiais
Caixa libera cronograma de saques do FGTS
Militar assume o Inpe como diretor interino

O Estado de S. Paulo

‘Governadores do Nordeste agem para dividir o País’
Coronel promete ‘transparência total’ no Inpe
Governo quer Previdência votada até o mês que vem

Folha de S. Paulo

Guerra comercial se agrava, e mercados refletem tensão
Bolsonaro usa Cade para obter apoio do Senado
‘Maus brasileiros’ divulgaram dados mentirosos, diz presidente
120 municípios têm metade dos homicídios do país

EDITORIAIS

O Globo

Segurança jurídica é abalada por inquérito no STF

Investigação feita pelo Supremo aguça divisões, e a PGR registra que STF vira ‘tribunal de exceção’

O polêmico inquérito aberto em março no Supremo pelo presidente da Corte, Dias Toffoli, nomeando o ministro Alexandre de Moraes para presidi-lo, continua a demonstrar grande capacidade de propagar insegurança jurídica. Desde seu início, o inquérito é alvo de juristas, entre outros motivos, por passar ao largo do Ministério Público, instituição responsável por encaminhar denúncias à Justiça. Caso prospere esta tentativa de via rápida judicial, o Supremo terá de julgar acusados por ele mesmo.

Ao ser aberto o processo, com alegada base no regimento interno da Corte, para investigar ameaças e fakenews contra ministros do STF, o presidente do inquérito determinou que a revista digital “Crusoé”, do site “O Antagonista”, retirasse do ar uma informação específica. A de que, segundo a delação premiada do empreiteiro Marcelo Odebrecht, o “amigo do amigo do meu pai”, Emilio, de quem Lula se aproximara, era Dias Toffoli — nomeado pelo então presidente da República como o responsável pela Advocacia- Geral da União (AGU). A revelação, tachada de fake news e portanto incluída no escopo do inquérito, foi, na verdade, uma ação de censura, contrária a dispositivos constitucionais. Terminou sendo revogada por Moraes.

Não por isso, mas porque de fato havia um documento nos autos com essa referência, mas retirado posteriormente a pedido do próprio MP, por considerar que ele não tinha relação com aquele processo. O inquérito paira como ameaça sobre a sociedade, a depender do que determine o relator Alexandre de Moraes, à margem do MP. À época de sua instalação, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, fez um pronunciamento contra a iniciativa de Toffoli e pediu formalmente o seu arquivamento, rejeitado pelo presidente do Supremo.

Na semana passada, ao se manifestar sobre mandado de segurança pedido pela Associação Nacional dos Procuradores da República pela nulidade do inquérito, Raquel Dodge registrou que, em decorrência dele, o Supremo se transforma em um “tribunal de exceção”. A guerra deflagrada em torno da questão foi ampliada pela prisão dos hackers que teriam invadido os celulares do ex-juiz Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, entre outros. O material das mensagens trocadas entre Moro, Dallagnol etc., não reconhecidas pelos dois, foi enviado a Alexandre de Moraes, por determinação da Justiça Federal, a pedido do ministro.

Haveria mensagens que citariam ministros do Supremo passíveis de serem usadas como provas pelo menos contra Dallagnol. Já que a amplitude do inquérito Toffoli/Moraes é suficientemente grande para incluir todo tipo de denúncia que envolva o Supremo. Delineia-se em todo este imbróglio talvez o mais agudo ataque à Lava-Jato, da qual Dallagnol é chefe em Curitiba. A procuradora-geral da República já se pronunciou contra a retirada do procurador das investigações. Mais conflitos à frente, portanto. Aguçam-se também as divisões dentro do Supremo.

O ministro Luís Roberto Barroso disse publicamente que não entende a “euforia” que tomou conta de alguns “diante dessa fofocada produzida por criminosos”. Os hackers, por exemplo. Também deve-se acompanhar como a divisão na Corte entre“ garantistas” e “punitivistas” pode passar por uma revisão ou radicalização, devido à crise deflagrada por este processo. Os “garantistas” são conhecidos por defender a aplicação estrita da letra da lei, sem condenações a qualquer custo. Mas os “punitivistas” parecem estar à frente do inquérito.

O Rio é prova do erro de não se estender reforma à Federação

Crivella pede aos vereadores mais recursos para aposentadorias e pensões, mas este poço é sem fundo

O fim do recesso do Congresso e a volta aos trabalhos do Legislativo, com a votação em segundo turno, na Câmara, da reforma da Previdência, levam a que se retome o debate da máxima importância sobre a inclusão dos estados e municípios na abrangência das mudanças. A situação de penúria de alguns entes da Federação — como o Rio de Janeiro, cidade e estado; Minas e Rio Grande do Sul — reforça a evidência de que a reforma precisa ser aprovada pelo Congresso para todos, e não só a União.

A intenção do prefeito Marcelo Crivella de obter da Câmara carioca mais R$ 1 bilhão por ano para pagar pensões e aposentadorias, sem desequilibrar ainda mais o Fundo de Previdência do Município (Funprevi), é um caso exemplar de como a crise atinge toda a Federação. Crivella já teve de injetar R$ 4 bilhões no fundo para manter em dia os compromissos previdenciários. Mas este é o chamado buraco sem fundo. Jamais será tapado pela transferência de novos recursos.

A solução virá apenas quando o Rio, ou qualquer outro município e estado, fizer o ajuste do projeto da reforma. Há situações ruins e outras piores. Portanto, a reforma é inexorável para elevar contribuições, ajustar pensões à realidade do país e reverter aposentadorias precoces, entre outros objetivos. Não há alternativa. O problema é também político. Prefeitos que planejam buscar a reeleição, como Crivella, não falam em reforma previdenciária, porque só pensam em votos.

E deputados em Brasília apoiam ou não a inclusão de estados e municípios na reforma a depender de seus interesses regionais. A não extensão da reforma a toda a Federação, no primeiro turno de votação da reforma, foi lapidar demonstração de miopia e desprezo pelo interesse público por parte da classe política. Mas ela terá chance de fazer o que é certo, com a proposta do Senado de aprovar um projeto de reforma constitucional exclusiva para estados e municípios. A Câmara poderá reparar seu erro, quando for examinar esta PEC.

O Estado de S. Paulo

Queda das exportações reduz superávit

A perda de dinamismo do comércio exterior global ajudou a derrubar, em julho, tanto as exportações como o saldo da balança comercial do País (diferença entre exportações e importações). Com vendas externas de US$ 20,1 bilhões e compras de US$ 17,8 bilhões, o saldo comercial foi positivo em US$ 2,3 bilhões, 54,1% inferior ao do mês anterior e 40,8% menor que o de julho de 2018. Foi o resultado do mergulho das exportações, com média por dia útil de US$ 871,9 milhões, inferior em 14,8% à de julho de 2018 e em 8,1% à de junho deste ano.

Entre os únicos pontos positivos de julho está o aumento das exportações para os EUA e para os países do Oriente Médio. Entre os meses de julho de 2018 e de 2019, as vendas para os EUA aumentaram seu peso nas exportações totais de 10,7% para 13,3%, atingindo US$ 2,7 bilhões. Entre os primeiros sete meses de 2018 e de 2019, a participação das vendas para os EUA passou de 11,4% para 13,4%, chegando a US$ 17,4 bilhões. Isso ajuda a explicar o empenho em avanços no comércio bilateral, enfatizados pelo governo brasileiro durante a visita do secretário norte-americano de Comércio, Wilbur Ross, ao Brasil.

Em escala inferior à do comércio com os EUA, aumentou a participação das vendas para o Oriente Médio, de 4% para 5,6%, entre julho de 2018 e julho de 2019, e de 3,9% para 5,1%, entre os primeiros sete meses de 2018 e de 2019. Pelo critério de fator agregado, caíram, entre julho de 2018 e julho de 2019, as exportações brasileiras de produtos básicos (-16,7%), manufaturados (-12,3%) e semimanufaturados (-4,6%). As quedas de básicos foram lideradas por petróleo bruto, soja em grão e farelo, minério de cobre, carnes de frango e bovina. Também caíram as vendas de motores e turbinas de aviação, veículos de carga, autopeças, suco de laranja e automóveis de passageiros, além de celulose, açúcar em bruto e semimanufaturados de ferro e aço.

O recuo das exportações para a China, para o Mercosul e para a América Central e Caribe foi relevante para a piora do comércio exterior. É provável uma recuperação nos próximos meses, mas os dados de julho bastam para afetar a conta corrente do balanço de pagamentos. Em 12 meses, até julho, o saldo comercial foi de US$ 52,5 bilhões, 10,1% menor que o dos 12 meses anteriores, pelo critério de média diária.

A pauta que interessa

O Congresso retoma seus trabalhos hoje, depois de 20 dias de recesso, tendo em sua pauta diversos temas de grande relevância para o País. A Câmara pode encerrar o segundo turno de votação da reforma da Previdência já nesta semana, encaminhando a matéria para o Senado. Também estarão em discussão propostas para uma reforma tributária, além da revisão do marco regulatório para o saneamento básico. Tudo isso está sendo negociado com escassa participação do governo federal.

No período em que o Congresso não funcionou, o presidente Jair Bolsonaro não tocou em nenhum dos assuntos que serão apreciados pelos parlamentares. Passou as últimas semanas a dar declarações polêmicas sobre as mais variadas questões, com entrevistas e manifestações públicas diárias, causando mal-estar aqui e no exterior em diversos momentos. Em condições normais, tal comportamento por parte do presidente da República poderia tumultuar o processo legislativo, especialmente diante de uma agenda tão politicamente espinhosa como a que se apresenta agora para os parlamentares.

Pelo que se observa até aqui, no entanto, os arroubos presidenciais não têm sido capazes de abalar de modo significativo o ambiente no Congresso nem o empenho das lideranças parlamentares em tocar os projetos de interesse do País. É uma situação peculiar. Algumas das grandes crises nacionais do passado se deram em razão da dificuldade de superar impasses entre Executivo e Legislativo, momentos em que a agenda política foi dominada por interesses imediatistas e particulares em detrimento do coletivo e do longo prazo. Hoje, aparentemente, não existe esse impasse, pela simples razão de que a relação entre Executivo e Legislativo é pouco menos que protocolar, ainda que sujeita a alguns acidentes.

Desde a posse de Jair Bolsonaro, ficou claro que o Executivo, por decisão do presidente, não teria nenhuma base no Congresso. Bolsonaro até ensaiou uma aproximação com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, e também com os líderes de partidos potencialmente governistas, mas a maioria dessas tentativas se revelou desastrosa. Em lugar de construir pontes para facilitar a aprovação dos projetos de interesse do governo, tais reuniões serviram para deixar claro aos parlamentares que Bolsonaro não estava disposto a dividir com eles o ônus da aprovação de medidas que exigirão sacrifícios da população.

O resultado disso foi a mobilização dos parlamentares, capitaneada por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, para que o Congresso passasse então a ser o protagonista das reformas. Nesse processo, aliás, não foram poucas as vezes em que os líderes reformistas tiveram que enfrentar o próprio presidente da República quando este procurou defender os interesses de corporações para preservar privilégios no sistema de aposentadorias. Assim, se não ajuda, o presidente Bolsonaro poderia se esforçar um pouco para atrapalhar menos. No curto período de recesso parlamentar, o presidente ofendeu governadores do Nordeste e os nordestinos, vilipendiou a memória de um perseguido pela ditadura militar, atacou a imprensa e prejudicou a imagem do Brasil no exterior na área ambiental, entre outros desatinos.

Tal comportamento, naturalmente desagregador, não costuma render votos no Congresso. Felizmente, ao que parece, o Congresso tem se mostrado indiferente aos rompantes do presidente. Mais do que isso: tem enfrentado as grandes questões nacionais sem esperar as propostas do Executivo – que, quando finalmente são encaminhadas, ou chegam tarde, ou vêm carregadas de irregularidades. É evidente que essa situação sui generis não pode perdurar. Num regime presidencialista, é o presidente da República que conduz o debate político, porque foi eleito com uma plataforma de governo apoiada pela maioria dos eleitores. No entanto, se o presidente se ausenta desse debate, ou se prefere intoxicá-lo com impropérios e temas de pouca relevância, resta torcer para que o Congresso continue a fazer sua parte, a despeito da desorientação dos governistas, da vocação fisiológica dos oportunistas de sempre e da escassez de uma oposição digna do nome.

Ganhador certo, o Tesouro

Se o governo esperava criar algum otimismo com as medidas de estímulo econômico recém-anunciadas, terá de esperar mais um pouco ou de tentar novamente. Só um grande beneficiário, o Tesouro, foi claramente identificado até agora, graças ao corte de juros determinado pelo Banco Central (BC). Com a taxa básica reduzida de 6,50% para 6%, o governo terá um custo menor para rolar a enorme dívida pública. Quanto aos trabalhadores e empresas, principalmente as pequenas e médias, deverão continuar com muita dificuldade pelo menos em 2019 e 2020, pelas avaliações do mercado.

A economia, segundo as apostas mais frequentes, continuará em marcha lenta ainda por um bom tempo. Neste ano o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá apenas 0,82%, segundo a mediana das projeções coletadas na pesquisa Focus divulgada ontem pelo BC. Esse número é o mesmo de quatro semanas antes. Mas o cenário do próximo ano piorou, com as estimativas, também expressas pela mediana, caindo de 2,20% para 2,10%. O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou em 23 de julho as primeiras medidas de estímulo – liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep.

A partir de setembro as famílias terão acesso ao dinheiro. Deverão usá-lo principalmente para pagar dívidas e para algum consumo adicional. Com isso, e com regras novas de acesso ao FGTS a partir de março, o PIB poderá crescer nos próximos 12 meses 0,35 ponto porcentual a mais do que aumentaria sem os estímulos agora instituídos. Uma consultoria chegou a um resultado melhor, 0,55 ponto de crescimento adicional. Os economistas do setor financeiro e das grandes consultorias, contatados semanalmente pelo BC, mantiveram as projeções de crescimento do PIB e até rebaixaram as estimativas de expansão da indústria.

Este detalhe é especialmente significativo, porque o avanço da produção industrial seria um dos principais benefícios de uma reanimação do consumo. A mediana das projeções para a indústria caiu de 0,50% para 0,23% em 2019 e de 3% para 2,75% em 2020. Se essas expectativas se confirmarem, dificilmente haverá melhora significativa no quadro do emprego. Muito tempo ainda será necessário para a mudança de condição dos cerca de 25 milhões de desocupados, subempregados e desalentados. Dias depois de o Ministério da Economia apresentar suas medidas, o BC anunciou a esperada redução da Selic, a taxa básica de juros, de 6,50% para 6%.

Mudanças desse tipo em geral beneficiam o mercado de ações e, em certas circunstâncias, facilitam o crescimento econômico por meio da maior oferta de crédito. Mas para isso é necessário haver consumidores e empresários dispostos a tomar empréstimos para ir às compras ou para dinamizar seus negócios. Não está claro se reações como essas ocorrerão no Brasil a curto prazo. Mas o Tesouro certamente será beneficiado, porque parte de sua dívida é vinculada à Selic. Para os bancos isso deverá representar uma perda, segundo a agência Moody”s de classificação de crédito. Emprestar dinheiro ao governo tem sido um excelente negócio para as instituições financeiras, mas o quadro tem mudado a partir da redução gradual dos juros iniciada no fim de 2016. Em dezembro daquele ano, segundo a Moody”s, o investimento em títulos públicos proporcionou 35% da receita dos bancos.

Em março deste ano essa parcela ficou em 27%. Foi uma redução notável, mas o governo superendividado continua sendo, sem dúvida, uma excelente fonte de ganhos para quem financia o Tesouro. Juros menores poderão levar as instituições financeiras a uma competição mais intensa, segundo a Moody”s. Se isso ocorrer, a economia poderá ser impulsionada. Mas a análise é cautelosa: maior expansão do crédito, se confirmada, só deverá começar em 2020. Mesmo as projeções moderadas têm como pressuposto um avanço na agenda de reformas. Isso parece garantido, por enquanto, pela disposição de parlamentares importantes. Mas permanece o risco de alguma ação desastrada do governo.

Uma novidade promissora

A ampla renovação do Congresso Nacional ocorrida nas eleições do ano passado trouxe a expectativa de um Poder Legislativo mais probo, mais responsável e mais eficiente – em suma, mais cônscio de seu papel para a sadia evolução dos negócios do País. Junto a essa lufada de esperança, havia certa de dúvida. Por mais alta que tivesse sido a taxa de renovação, não se sabia se a mudança de nomes representaria uma efetiva mudança das práticas políticas, que é o que realmente importa. Em muitas eleições passadas, caras novas no Parlamento serviram apenas para dar continuidade a velhos e deploráveis costumes.

Decorridos mais de seis meses da nova legislatura é possível afirmar que ela é muito diferente da legislatura anterior. E não apenas os nomes são novos. As práticas de fato mudaram. Trata-se de uma novidade realmente espetacular, seja pelo que essa mudança pode proporcionar ao País, seja porque foi uma alteração profundamente democrática, originada das ruas. O que se observa no Congresso é resultado direto do voto depositado nas urnas. Ou seja, as eleições de outubro de 2018 mostraram que, ao contrário do que tantas vezes se ouve, o voto individual pode mudar os rumos da política e do País.

A democracia não é uma enganação coletiva. Quando se quer – quando de verdade se quer –, é possível mudar. Não convém desperdiçar essa lição tão positiva das eleições passadas: o voto individual é decisivo e merece ser escolhido com a máxima responsabilidade. A atual legislatura tem três características especialmente positivas, que a tornam muito diferente das antecedentes, especialmente da imediatamente anterior. Em primeiro lugar, vê-se que o Congresso trabalha a partir de uma agenda de prioridades. Esse trabalho coordenado, especialmente importante num Poder colegiado, ficou muito evidente pelo modo como as reformas da Previdência e do sistema tributário são tramitadas. A despeito de suas dificuldades típicas, assuntos complexos vêm sendo enfrentados de forma operativa, com a formação dos necessários consensos e maiorias.

A segunda característica está relacionada ao fato de que a atual legislatura se mostra muito mais sintonizada com o interesse público. As atuais prioridades do Congresso são temas popularmente difíceis, que de modo algum podem ser classificados como populistas ou de interesse particular dos parlamentares. Observa-se, tanto na Câmara como no Senado, uma clara preocupação com o País. Não menos importante é a terceira característica da atual legislatura. Ela é mais proba, não se movendo primariamente em função do toma lá dá cá. Pelo que se viu no primeiro semestre, a Câmara e o Senado não foram transformados num balcão de negócios. Talvez essa maior probidade não tenha sido suficientemente notada por um equívoco dos próprios parlamentares que estão fora das extremidades do espectro político.

Apesar das evidentes diferenças com o que ocorria na legislatura anterior, esses políticos continuam denominando seu lugar político de “centrão”, o que inexoravelmente remete, entre outras tristes lembranças, aos costumes do sr. Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara. Tão enganoso quanto não ver as melhoras ocorridas na atual legislatura, seria achar que no atual Congresso não há gente interesseira ou desonesta. É imperioso continuar com o saneamento da política, que é renovação dos costumes e dos critérios de atuação. A continuidade desse processo virtuoso se deve dar nas eleições municipais do ano que vem, quando o eleitor terá condições formais de promover uma profunda melhoria da política local, com a escolha de representantes honestos e competentes para o Executivo e para o Legislativo.

Tal passo é decisivo, seja para que o cidadão incorpore cada vez mais a necessidade da responsabilidade na hora de votar, seja para que partidos e políticos também tomem consciência de que o eleitor, com o seu protagonismo, está mudando a política. Há espaço – e cada vez deve haver mais – para gente honesta e competente. A atual legislatura confirma tal realidade.

Folha de S. Paulo

Entulho burocrático

Governo acerta ao simplificar normas obsoletas que regulam a segurança no trabalho, em debate com representantes de empresas e empregados

A tarefa de reduzir o custo de fazer negócios no Brasil e facilitar a geração de empregos é multidisciplinar. Pode depender de reformas de grande envergadura, como a trabalhista, mas no mais das vezes pequenas alterações, acumuladas, fazem a diferença.

Depois da ampla flexibilização da CLT, ainda em sedimentação na jurisprudência e na prática cotidiana, o governo agora se debruça num esforço de simplificação do cipoal de dispositivos infralegais que regulam as relações entre empresas e contratados.

O plano passa pela modernização das 36 Normas Regulamentadoras (NR), que tratam de saúde e segurança e dão margem a mais de 6.000 possibilidades de autuação, pela consolidação de 160 decretos em apenas quatro textos e p ela revisão de centenas de instruções normativas e portarias.

Em relação às NR, o governo anunciou alterações em duas delas, 1 e 12, que dispõem, respectivamente, sobre regras gerais e normas relativas a máquinas e equipamentos. Também foi revogada a de número 2, que exigia inspeção prévia de fiscais do trabalho em novos estabelecimentos.

As mudanças, em termos gerais, buscam adaptação aos novos tempos e redução de custos de conformidade, sem prejuízo para a segurança. Exigências ineficazes e pouco racionais foram revistas.

No caso da NR 12, havia distanciamento em relação a padrões internacionais — que encareciam a implantação de maquinário importado, mesmo o mais sofisticado.

Segundo o governo, apenas a revisão desses regulamentos permitirá economia de R$ 68 bilhões em dez anos. Ainda que cálculo tão grandiloquente deva ser encarado com cautela, não resta dúvida quanto às vantagens que podem resultar de um esforço sistemático de remoção de burocracias.

Pode parecer que ganhos desse tipo implicarão prejuízos para a segurança do trabalhador. Quando se observam algumas das exigências agora eliminadas, contudo, a impressão se desfaz.

Não faz sentido, em exemplo mencionado pelo Secretário de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, que uma simples loja de roupas precise gastar R$ 1.500 a R$ 3.000 por ano em prevenção contra riscos químicos e biológicos.

Regras do gênero só beneficiam, até onde se percebe, firmas que fornecem o serviço fixado no papel.

Outra constatação importante é que as alterações promovidas não suscitam controvérsia. Ao contrário, resultam de entendimento unânime da comissão tripartite formada para analisar o tema, que reúne representantes de governo, empresas e trabalhadores.

Eis uma prova de que substituir regras obsoletas constitui agenda de interesse geral, de fácil aceitação, e que deve ser aprofundada.

Comissão esvaziada

Ainda em meio aos ecos de um assomo de destempero verbal por parte do presidente Jair Bolsonaro (PSL), publicou-se no Diário Oficial a troca de 4 dos 7 integrantes da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Segundo o mandatário, o motivo da mudança, que confere ao colegiado um perfil mais conservador e simpático ao regime militar, foi o fato de que se elegeu no país um governo de direita — “ponto final”.

A comissão remonta ao primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando foi aprovada a lei 9.140/95, que reconhecia a existência de mortos por agentes dos governos militares.

A legislação instituía a CEMDP, com o encargo de apurar os casos ocorridos até 1979. Posteriormente, ampliou-se o período para o ano simbólico de 1988, quando foi promulgada a atual Constituição.

Tais decisões representaram uma necessária resposta da redemocratização ao arbítrio de um regime que acobertou assassinatos de oponentes num contexto de repressão política e supressão de garantias constitucionais dos cidadãos.

Num país em que a anistia política, em nome da reconciliação, foi estendida a agentes do Estado, corria-se o risco de que um manto de silêncio terminasse por encobrir os desmandos autoritários.

A iniciativa do governo FHC deu caráter oficial a uma remição histórica que já se desenhava em projetos da sociedade civil, como o grupo Tortura Nunca Mais, organizado na década de 1980. Ligada ao atual Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a comissão lista em seu site 362 mortos e desaparecidos.

A reforma da entidade foi anunciada num momento conturbado, na sequência dos comentários insidiosos de Bolsonaro acerca do destino do pai do presidente da OAB, que desapareceu sob a guarda do regime na década de 1970.

Tanto o presidente quanto a ministra Damares Alves afirmaram, entretanto, que a mudança vinha sendo preparada havia meses, tratando-se a proximidade dos fatos de simples coincidência.

As características dos novos integrantes — ligados às Forças Armadas e ao partido do presidente — não permitem maior dúvida quanto ao intuito da reformulação. Impossibilitado de extinguir com uma canetada a CEMDP, criada por lei, o chefe do Executivo optou por desfigurá-la na prática.

São consideráveis as chances de o órgão, a exemplo de outros transformados pelo governo, tornar-se meramente decorativo. Perde o país com essa tentativa infeliz e retrógrada de revisionismo da história.

Roberto Freire: Massacres nos EUA evidenciam riscos da liberação da posse e porte de armas

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O presidente do Cidadania, Roberto Freire (SP), lamentou os massacres ocorridos nos EUA que vitimaram 29 pessoas e feriram mais de 50. Os ataques ocorreram nas cidades de El Passo, no Texas, e em Dayton, Ohaio. Para Freire, a tragédia evidencia o risco associado a liberação da posse e porte de armas no País norte-americano.

“Mais uma tragédia. A liberação da posse e porte de armas no EUA facilita a ocorrência. As estatísticas mostram que em 2019, os EUA tiveram mais de 200 episódios de massacres com armas de fogo. Enquanto na totalidade dos países do chamado mundo ocidental, o Brasíl incluído, não teve mais do que 10”, afirmou.

Roberto Freire criticou a postura de Jair Bolsonaro aos episódios e afirmou que o presidente da República não demonstra solidariedade com as vítimas de ambas as tragédias e aos seus familiares. Segundo o dirigente, Bolsonaro, pelo contrário, defende o “indefensável. Ao comentar os massacres, Bolsonaro teria dito que “não é desarmando que vai evitar”.

“O presidente Bolsonaro não demonstra a mínima empatia/solidariedade com o povo americano. Apenas aproveita [os episódios] para defender o indefensável. Bolsonaro tenta imitar e adotar no Brasil a mesma política armamentística praticada nos EUA. OS armamentistas brasileiros em nada são afetados na sua insana busca de imitar a leviana política de armas estadunidense. E tudo sob a liderança do inepto Bolsonaro”, destacou.

Os ataques

O primeiro tiroteio ocorreu, por volta das 14h do sábado, em supermercado da cidade causando 20 mortes e deixando 26 feridos. O suspeito, Patricl Crusius, de 21 anos, foi preso pela polícia. As autoridades afirmam que o acusado chegou postar conteúdos racistas antes do ataque.

Já em Ohio, o tiroteio ocorreu 12 horas após o primeiro ataque em uma região de bares causando nove mortes e 26 feridos. As autoridades identificaram Connor Betts como suspeito do crime. Entres os mortos está a irmã do atirador. A arma, nesse caso, foi comprada legalmente por meio da internet. O atirado foi morto pela polícia.

O número de mortes ainda pode aumentar já que muito dos feridos ainda se encontram em estado grave.