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Brasil registra o mais longo período de aumento da desigualdade e disparada da pobreza

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País vive o ciclo mais longo de aumento da desigualdade

GABRIEL MARTINS – O GLOBO

O Brasil vive o ciclo mais longo de aumento da desigualdade de sua história. Estudo do economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, mostra que a concentração de renda cresce no país há 17 trimestres, pouco mais de quatro anos.

A piora na desigualdade, segundo Neri, é resultado do aumento do desemprego no país, que ainda aflige 12 milhões de pessoas:

— O principal fator que influencia o aumento da desigualdade é o desemprego, que, embora apresente sinais de alguma recuperação, ainda é grande no país.

O economista pondera que, quando o desemprego aumenta, o mercado de trabalho tende a diferenciar ainda mais os trabalhadores de acordo com o grau de instrução. Os mais capacitados têm mais chance do que os de baixa escolaridade.

A desigualdade é medida pelo índice de Gini, que mostra a concentração de renda e varia de zero a 1. Quanto mais próximo de 1, mais desigual é a distribuição de renda. No Brasil, o indicador segue tendência de alta desde o quarto trimestre de 2014, quando estava em 0,6003, até o segundo trimestre deste ano, quando alcançou 0,6291. A concentração de renda avançou no período que abrange os governos de Dilma Rousseff, Michel Temer e o primeiro semestre da gestão de Jair Bolsonaro.

Para João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ, a precariedade do mercado de trabalho é uma das causas que explicam o aumento da desigualdade no país.

— O que esses números mostram é a disparidade no mercado de trabalho. O índice de Gini abarca todas as fontes de renda, sejam elas formais ou informais. Sendo assim, inclui trabalhadores que têm renda irregular e os registrados, com salário fixo. O mercado ainda não consegue absorver o contingente de trabalhadores disponíveis. E, quando absorve, é de uma maneira muito desigual — explicou Saboia.

IMPACTO MAIOR PARA JOVENS

De acordo com o estudo, nem mesmo em 1989, pico histórico de desigualdade brasileira, alimentada pela inflação galopante, houve um período de concentração de renda por tantos trimestres consecutivos.

Outro indicador do avanço da desigualdade no país é a análise do comportamento dos rendimentos do trabalho de acordo com a faixa de renda. No período de 2014 a 2019, a renda da metade mais pobre da população caiu, como antecipou o colunista do GLOBO Ancelmo Gois. A perda foi de 17,1%. No mesmo período, a renda da parcela que compreende o 1% mais rico avançou 10,11%.

O levantamento tem como base a renda do trabalho per capita familiar, ou seja, considera todos os trabalhos de todos os integrantes da família, divididos pelo número de pessoas do domicílio. O cálculo desconta a inflação do período.
Os mais pobres não foram os únicos que viram seu rendimento encolher no período. Os mais jovens, com idade de 20 a 24 anos, registraram queda de 17,7% no período. As pessoas sem instrução tiveram recuo de 15%.

— Uma das explicações para a queda na renda dos jovens é que eles não conseguem inserção no mercado de trabalho. Com a crise e as demissões de chefes de família, jovens passaram a procurar ainda mais emprego. Os resultados mostram que quem mais perdeu nesta crise foram as pessoas com pouca experiência ou com pouca instrução — destaca Neri.

Segundo o estudo, o desemprego foi o principal responsável pela queda no poder de compra das famílias. “Desemprego é sinal de desajuste do mercado de trabalho e de frustração. A maioria dos ocupados passa a temer cair no desemprego, e, por precaução, reprime sua demanda por bens e serviços”, diz o o estudo.

23,3 MILHÕES NA POBREZA

Além da disparidade crescente de renda entre os trabalhadores, o número de pobres no Brasil aumentou. De acordo com o levantamento, entre 2015 e 2017, a população pobre brasileira aumentou de 8,3% para 11,1% do total. Assim, este contingente representa uma parcela de 23,3 milhões de pobres no Brasil, pessoas que vivem com menos de R$ 233 por mês.

Em dois anos, o Brasil passou a ter mais 6,2 milhões de pobres. Uma das causas para esta situação de aumento da pobreza, ressalta o diretor do FGV Social, é a falta de expansão de programas sociais:

— Ao passo que o desemprego aumentou e mais pessoas perderam suas fontes de renda, as políticas públicas não conseguiram incorporar esse novo contingente de desassistidos. Um exemplo é o Bolsa Família. Foram feitas medidas para evitar fraudes e melhorar o cadastramento, mas a expansão do programa não foi suficiente para impedir o aumento significativo na pobreza do Brasil.

Veja as manchetes e editorais dos principais jornais hoje (16/8/2019)

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O Globo

País vive mais longo ciclo de aumento da desigualdade
Aliados pró e contra projeto que pune abuso pressionam Bolsonaro
Caixa vai usar IPCA para corrigir o financiamento
Presidente suspende uso de todo tipo de radar móvel
Egípicio desafia FBI a provar acusação
Argentina poderá rever acordos com FMI e UE

O Estado de S. Paulo

Situação das contas da Oi piora e Anatel estuda intervenção
Bolsonaro sofre pressão para vetos em lei sobre abuso
Presidente suspende uso de radar móvel em estradas
Planos de saúde ‘falsos coletivos’ crescem 58%
Palocci relata R$ 333,6 milhões em propinas
Noruega suspende repasse para Amazônia

Folha de S. Paulo

Aperto orçamentário traz risco de paralisia de programas federais
Mais de 3 milhões estão sem trabalho há ao menos 2 anos
Bolsonaro avalia vetos a projeto sobre abuso de autoridade
Ex-OAS delatou propina de R$ 1 milhão a Rodrigo Garcia
Bolsonaro avalia vetos a projeto sobre abuso de autoridade
Presidente é um ingrato que nada saba, diz Frota
Radares móveis em rodovias federais são suspensos
Acordo com organização social cabe ao reitor, diz secretário do MEC
Noruega anuncia corte de verba do Fundo Amazônia
China faz exercícios militares perto da fronteira com Hong Kong

Valor Econômico

CNJ abre depósitos judiciais de R$ 500 bi a banco privado
Noruega suspende doações à Amazônia
Balanço ruim faz Ultra perder R$ 1,8 bi na B3
‘Valor’ premia na terça empresas campeãs do ano
Movimento de capitais indica aflição do mercado
Acusada de fraude, GE se diz vítima de manipulador

EDITORIAIS

O Globo

Déficit dos estados não para de aumentar

Dados do Tesouro reforçam a importância da extensão da reforma da Previdência

Na passagem pela Câmara do projeto da reforma da Previdência, interesses políticos paroquiais contribuíram para a retirada dos estados e municípios do alcance das mudanças. Uma série de conflitos regionais impediu o óbvio, para que governadores e prefeitos —estes às portas de uma campanha eleitoral —não sejam obrigados a enfrentar em cada estado e cidade as mesmas corporações que atuam em Brasília contra a reforma. Em geral, grupos de pressão de servidores públicos, categoria privilegiada pelos sistemas de seguridade.

Para não atrasar a tramitação de um assunto urgente, imprescindível para permitir a abertura de um novo ciclo de mudanças na economia, chegou-se ao entendimento de que a extensão da reforma a toda a Federação será feita a partir do Senado, por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional específica, a “PEC Paralela”. Evita-se, assim, que todas as alterações já aprovadas na Câmara deixem de seguir seu curso, para serem votadas e aprovadas sem demora, como exige a situação de emergência fiscal em que se encontra o país.

Espera-se que senadores e deputados, principalmente estes, superem dificuldades políticas com governadores e prefeitos, a fim de que toda a Federação possa fazer o ajuste em suas contas. A Câmara, ao aprovar a proposta da reforma, depois da devida negociação em cima do projeto, já demonstrou entender o que significam cinco anos consecutivos de déficits na União, causados principalmente pelos desequilíbrios previdenciários.

A crise que governadores e prefeitos enfrentam, sejam da situação ou oposição, é a mesma. Devido à incontornável tendência da Previdência de acumular resultados negativos, à medida que a idade média da população sobe, não demorará para que todos os entes federativos passem a fechar suas contas de gastos com pessoal no vermelho, fora dos parâmetros estabelecidos na Lei de Responsabilidade Fiscal. E assim contrariam a necessária prudência na gestão das finanças públicas.

Estatísticas atualizadas sobre a questão, divulgadas quarta-feira pelo Tesouro, confirmam o desastre em curso. Por isso, pelo país afora há um número crescente de casos de serviços básicos em pane. Na saúde, na falta de manutenção das cidades, na ausência de investimentos, e muito mais.

A Previdência dos servidores estaduais fechou o ano passado com um resultado negativo de R$ 101 bilhões, 8% a mais que os R$93,9 bilhões de 2017. Governadores tentam maquiar estatísticas, mas não escondem a realidade: 12 estados deixaram de cumprir o limite de 60% das receitas líquidas estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal para os gastos com pessoal, entre os quais estão aposentadorias e pensões. Entre eles, o Rio de Janeiro.

Os dados chegam em momento oportuno, quando a reforma começa a ser discutida no Senado.

O Globo

Populismo quebrou Argentina, agora preocupada com as suas instituições

Volta de Cristina ameaça quem atuou em investigações de casos de corrupção na era kirchnerista

Os argentinos terminaram a semana cerca de 20% mais pobres do que estavam no último sábado. É o efeito da crise de confiança no país, refletida no abrupto aumento da inflação e desvalorização da moeda, o peso, depois dos resultados das eleições primárias de domingo passado. Nelas, o candidato oposicionista Alberto Fernández obteve mais de 47% dos votos, superando com larga vantagem o atual presidente Mauricio Macri, com 32%, num resultado imprevisto por vencedor, derrotado e todos os institutos de pesquisa.

Na raiz do pânico financeiro após as eleições há um nome e sobrenome: Cristina Kirchner, ex-presidente, líder de uma ala do peronismo, que escolheu Fernández para liderar a chapa presidencial e ficou com a candidatura à Vice-Presidência.

Ela encarna o símbolo de um período (2003-2015) de populismo iniciado por seu falecido marido, Néstor, durante o qual o gasto público da Argentina quase duplicou — passou de 23% para 43% do Produto Interno Bruto, segundo dados do Fundo Monetário Internacional. Como ocorreu em outros países, inclusive no Brasil de Lula e Dilma, o salto nas despesas governamentais ocorreu durante um ciclo de valorização das commodities.

Passada a bonança, veio a conta do desperdício. Cristina entregou a Macri um país falido. Ele errou ao optar pela lassidão com as reformas necessárias ao Estado argentino. Sua política gradualista não foi suficiente para conter a inflação. A consequência política foi o voto de protesto nas primárias, contra a reeleição de Macri.

A simples possibilidade de retorno a uma era de populismo fiscal semeou pânico em investidores e deflagrou uma ascensão inflacionária já percebida nos corredores dos supermercados — a clássica cena de consumidores comprando alimentos para estocar. Inflação não tem partido nem ideologia e seu impacto deverá ser decisivo na eleição presidencial de outubro, tanto para o atual quanto para o futuro governo, seja qual for.

Nas últimas 48 horas cresceu na Argentina uma preocupação adicional, com um suposto plano kirchnerista para dominar o Poder Judiciário, substituindo juízes e procuradores que nos últimos quatro anos investigaram casos de corrupção nos governos Kirchner. A captura de tribunais e de órgãos de controle é item primordial na cesta básica dos governos autoritários. Pode entusiasmar alguns, por algum tempo, mas é essencialmente corrosiva para as instituições de uma sociedade onde a maioria há muito tempo decidiu pela democracia.

O Estado de S. Paulo

Todos sob a lei

Finalmente o Congresso aprovou um projeto de lei que criminaliza o abuso de autoridade. Era uma necessidade institucional de longa data, reconhecida, por exemplo, em abril de 2009, por ocasião do II Pacto Republicano de Estado por um Sistema de Justiça mais acessível, ágil e efetivo, assinado pelos chefes dos Três Poderes. Entre as matérias prioritárias de estudo, o pacto incluiu a “revisão da legislação relativa ao abuso de autoridade, a fim de incorporar os atuais preceitos constitucionais de proteção e responsabilização administrativa e penal dos agentes e servidores públicos em eventuais violações aos direitos fundamentais”.

O projeto de lei aprovado pelo Congresso tem dois grandes méritos. O primeiro é a inclusão de todos os cidadãos, também as autoridades dos Três Poderes e os membros do Ministério Público, sob o império da lei. Com a entrada em vigor da nova lei, haverá consequências jurídicas claras – estão previstas sanções penais – para quem dolosamente utilizar o cargo público para finalidades estranhas à lei.

Por exemplo, o primeiro crime previsto no projeto de lei é “decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais”, ao qual se atribui pena de detenção de um a quatro anos, além de multa. Tal previsão é uma necessária manifestação de respeito à liberdade de todos os cidadãos. É muito grave, exigindo a intervenção penal do Estado, que uma autoridade, mesmo sabendo que não poderia atuar assim, utilize seu cargo para prender ilegalmente uma pessoa.

A inclusão das práticas abusivas por parte das autoridades no rol dos tipos penais é muito pedagógica para toda a sociedade. Ao prever consequências jurídicas para os casos de abuso, reafirma-se um ponto fundamental da República. Os órgãos e cargos públicos estão destinados a servir o interesse público, de acordo com as competências, limites e controles previstos em lei. O poder estatal tem uma finalidade determinada, e é crime o seu doloso desvirtuamento.

O segundo grande mérito do projeto de lei sobre abuso de autoridade aprovado pelo Congresso é ter excluído explicitamente qualquer hipótese de crime de hermenêutica. Nenhuma autoridade será punida por dar uma determinada interpretação à lei na hora de aplicá-la. Tal ponto era essencial para o equilíbrio do projeto, já que um texto dúbio sobre essa matéria poderia dar brecha para pressões e achaques contra as autoridades. Da mesma forma que a lei deve punir autoridades que abusem dolosamente do poder próprio do cargo, a lei deve assegurar que as autoridades possam exercer todo o poder próprio do cargo.

Esse equilíbrio – de punir o abuso e, ao mesmo tempo, evitar que a possibilidade de punição se converta em ameaça contra o exercício da função pública – foi encontrado pela expressa menção no primeiro artigo do projeto das seguintes ressalvas. “As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal”, diz o texto. E para que não pairasse nenhuma dúvida o legislador ainda estabeleceu que “a divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura, por si só, abuso de autoridade”.

De acordo com o projeto de lei aprovado, pode responder pelos crimes de abuso de autoridade todo agente público, servidor ou não, da administração direta e indireta dos Três Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. Estão incluídos, assim, os servidores públicos e militares, as pessoas a eles equiparadas, bem como os membros do Legislativo, do Executivo, do Judiciário, do Ministério Público e dos Tribunais de Contas. É equivocado, portanto, afirmar que o projeto seria uma reação do Legislativo – dos políticos – contra o Judiciário e o Ministério Público. A lei atinge a todas as autoridades dos Três Poderes.

Já havia no Direito brasileiro o crime de desacato à autoridade. Faltava o outro lado – o crime de abuso de autoridade.

O Estado de S. Paulo

A gestão errática da educação

Um mês e quatro dias após ter lançado o documento Compromisso Nacional pela Educação Básica, com medidas importantes a serem adotadas até 2022, o Ministério da Educação (MEC) tomou duas decisões surpreendentes. Rompeu o acordo de cooperação que mantinha com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), o que resultou na suspensão do repasse de R$ 130 milhões para as 3,5 mil escolas em todo o País que participam do programa federal de modernização do ensino médio. E anunciou o fim do programa de ensino básico em tempo integral, que financia escolas públicas municipais e estaduais nas atividades de português e matemática.

Os três acontecimentos dão a medida das dificuldades de gestão do MEC no governo do presidente Bolsonaro, especialmente no âmbito do ensino médio, no qual a diretoria do Inep, responsável pelas avaliações desse ciclo educacional, está sem titular há alguns meses. Desde a posse de Bolsonaro, o cargo ficou mais tempo vago do que ocupado.

No caso do acordo com a OEI, os recursos destinavam-se à aquisição de materiais, à contratação de serviços e à compra de equipamentos. Pela medida provisória que o criou, em 2017, o programa financiado por esses recursos deveria ser implantado experimentalmente nessas escolas em 2020. Com o rompimento do acordo por decisão do ministro Abraham Weintraub, consultores contratados para assessorar o MEC foram desligados. O ministro alegou que o convênio colide com as normas para formulação de acordos com organismos multilaterais. Disse, também, que o texto do convênio não teria sido analisado pela consultoria jurídica do MEC e que o projeto não teria sido elaborado pela pasta. Como vários consultores desligados atuavam na área de tecnologia da informação, alguns sistemas do MEC – entre eles o relativo à modernização do ensino básico – ficaram sem suporte técnico.

Quanto ao programa de ensino básico em tempo integral, o MEC quer substituí-lo por uma política que estimule as universidades a ceder espaços ociosos para alunos desse ciclo educacional. A ideia é que eles estudem no contraturno das aulas do ensino superior. As instituições que, com esse objetivo, assinarem convênio com o governo receberão uma nota extra nas avaliações de desempenho. Segundo o Inep, o valor da pontuação extra ainda não foi calculado, mas deverá ficar num patamar que não seja irrelevante, desestimulando as universidades a aderirem ao programa, nem tão alto, a ponto de desfigurar a avaliação do ensino superior.

Nos meios educacionais, essa informação deixou os especialistas intrigados. Em primeiro, por que em vez de limitar o convênio com as universidades públicas, o MEC anunciou que pretende estendê-lo às universidades privadas?Em segundo lugar, por que a concessão do bônus melhorará as classificações das universidades particulares nos rankings de avaliação, sem que tenham tido melhoria concreta na qualidade do ensino que oferecem? O recebimento do bônus também permitirá às universidades particulares afastar o risco de terem notas baixas e serem punidas. Desde que o MEC anunciou essa política, as entidades que representam as universidades públicas não se manifestaram. Já o MEC reconheceu que dialogou com a Associação Nacional das Universidades Particulares, antes de anunciar a nova política.

Como se vê, num curto período de tempo, o MEC voltou a agir de modo errático, desperdiçando as esperanças de que vinha tentando recuperar o tempo perdido nos primeiros sete meses do governo, graças ao lançamento do Compromisso Nacional pela Educação Básica. Ele descontinuou programas que estavam em andamento. E os que anunciou carecem de informações básicas, como diretrizes e metas.

Desde que assumiu o governo, Bolsonaro criticou o excesso de ênfase dos governos anteriores no ensino superior e prometeu que daria prioridade ao ensino básico. Até o momento, o MEC continua ineficiente e inoperante. Se continuar assim, a promessa do presidente jamais será cumprida.

O Estado de S. Paulo

O retrato da pobreza

Em consideração aos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável para 2030 ratificados em 2015 pelos 193 Estados-membros da Assembleia-Geral da ONU, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) iniciou a publicação da série Cadernos ODS, diagnosticando os desafios a serem enfrentados pelo Brasil. O primeiro caderno trata do maior desafio global para o desenvolvimento sustentável, segundo a ONU: a erradicação da pobreza. Nem todos os indicadores propostos pela ONU puderam ser mensurados, seja por falta de dados consolidados, seja porque os próprios indicadores ainda estão em fase de definição conceitual. Desde já, o Ipea avalia que o caminho para o Brasil é difícil, mas factível.

Uma das primeiras medidas da Comissão da Secretaria de Governo da Presidência da República criada para implementar a Agenda 2030 foi adequar os objetivos gerais da ONU à conjuntura nacional. Isso porque a renda per capita do Brasil é média-alta, de modo que os índices de pobreza relativos não podem ser equiparados aos de países mais pobres. Em outras palavras, o País pode e deve ir além das metas gerais da ONU.

A linha internacional de miséria da ONU é de US$ 1,90 per capita por dia. Por esse critério, em 2016, 6,6% da população brasileira se encontrava na miséria, taxa que subiu para 7,4% em 2017, devido à recessão. É uma incidência abaixo da média global (10%), mas acima da América Latina (4,1%) e bem acima dos outros países de renda média-alta (1,7%), nos quais a menor desigualdade de renda faz com que a incidência da pobreza seja menor. Para atingir a meta até 2030, o País precisaria reduzir a miséria em algo entre 0,3% e 0,4% ao ano. É plausível, já que entre 1990 e 2015 ela caiu em média 0,5% ao ano. A meta adaptada para o Brasil, contudo, é mais ambiciosa: renda per capita diária de US$ 3,20. Nesse caso, os miseráveis são 13% da população, e será preciso reduzir esse índice ao ritmo de 0,8% ao ano.

Há que considerar as disparidades regionais e demográficas que determinam focos de miséria. Entre 2016 e 2017 a proporção de pobres cresceu quase 2% nas áreas rurais, ultrapassando 19%, enquanto nas cidades a variação foi de 4,7% para 5,4%. A população rural representa 15% do total de brasileiros, mas 37% dos pobres do País vivem no campo. Em termos etários, a maior incidência está entre as crianças (10%), caindo linearmente até se tornar menor que 1% entre idosos. Por outro lado, pretos e pardos moradores do Norte e Nordeste representam 53% da população pobre. Assim, serão necessárias políticas que promovam uma redução expressiva da miséria nas áreas rurais, em especial no Norte e Nordeste, e entre pretos e pardos e crianças até os 14 anos.

Outra meta, mais difícil, mas não impossível, é a proteção social integral. Também nesse ponto os idosos pobres estão mais protegidos: 90% recebem benefícios previdenciários e sociais. Já para os demais segmentos da população pobre (como deficientes, trabalhadores, mulheres) os indicadores oscilam entre 66% e 70%. Um mecanismo crucial é o Bolsa Família, que cobre cerca de dois terços da população pobre. São quase 14 milhões de famílias, mais de 43 milhões de pessoas, ou quase 25% da população. Trata-se sobretudo de calibrar o programa e reforçar as transferências para crianças de até 14 anos.

Outra meta é a redução da vulnerabilidade dos mais pobres em relação a desastres ambientais, econômicos ou sociais. É um desafio grande, já que menos de 31% dos governos municipais possuem estratégias de redução de risco de desastres, e mesmo nos que possuem, há por vezes taxas elevadas de mortos, desaparecidos e afetados por essas fatalidades.

Em resumo, se o Brasil quiser cumprir a sua parte na redução global da pobreza, precisará antes de tudo avaliar bem as suas heterogeneidades regionais e demográficas. Além disso precisará combinar a retomada do crescimento econômico com programas que promovam uma distribuição de renda mais equitativa. No combate à pobreza nacional, uma coisa não se sustenta sem a outra.

Folha de S. Paulo

Passos liberais

Medida provisória aprovada pela Câmara diminui regulação de atividades empresariais; objetivos são corretos, mas texto depende de acomodação jurídica

Recém-aprovada pela Câmara dos Deputados, a medida provisória 881 se tomou conhecida como MP da Liberdade Econômica. Grandiloqüência marqueteira à parte, o texto que segue ao Senado facilita, de fato, a atividade empresarial.

Em linhas gerais, busca-se reforçar o princípio de que a interferência do Estado nas relações privadas deve ser cautelosa e subsidiária, ressalvados os casos de hipossuficiência de uma das partes ou de manifesto interesse público.

Se a proposição for convertida em lei e acolhida na jurisprudência, a interferência do Judiciário nos contratos tende a cair. A prevalência do livremente contratado sai fortalecida, e os envolvidos terão maior dificuldade para conseguir alterações nos tribunais.

Tal objetivo se mostra meritório, decerto, uma vez garantido que não haja prejuízo às normas de ordem pública, como a defesa do consumidor, e que não se configure assimetria de poder na transação.

Outro propósito relevante é reduzir as exigências excessivas de alvarás e permissões a empreendimentos. Atividades de baixo risco, por exemplo, deixam de necessitar de licença prévia.

Fica ainda mais bem estabelecida a responsabilidade limitada de sócios, a não ser em caso de conduta dolosa e atuação em benefício próprio, em desfavor da empresa.

Restará verificar a acolhida de tal dispositivo pela Justiça, mas se trata de um importante fator de redução de riscos com vistas a incentivar a iniciativa privada.

Há itens potencialmente controversos, como a permissão de trabalho aos domingos, antes restrita a algumas atividades, e a flexibilização do registro de ponto em acordos individuais ou coletivos, que pode dificultar a caracterização de horas extras. Eventuais abusos em desfavor do trabalhador deverão ser alvo da Justiça.

Por fim, os dispositivos para limitar o excesso regulatório e a previsão de efeito vinculante de decisões administrativas do poder público —o que é definido para um cidadão vale para todos em situações idênticas— é louvável, mas sua aplicação provavelmente será cercada de dificuldades.

Afinal, restringir condutas voluntaristas —ou mesmo corruptas— de agentes do Estado pressupõe um arcabouço legal mais simples e também uma mudança cultural. As duas condições levam tempo para se materializar.

Observando cautela e ressalvas, a MP tem o mérito de atacar entraves óbvios para o empreendimento privado. Fez bem a Câmara ao limpar o texto de uma pletora de emendas que o tornaria complexo e polêmico em demasia.

Algum processo de acomodação jurídica será necessário, como já ocorre com a reforma trabalhista. As novas regras, de todo modo, merecem a experiência.

Folha de S. Paulo

Desafio à ditadura

Manifestações em Hong Kong ampliam pauta e criam dilema para o governo chinês

Os grandes protestos de rua em Hong Kong começaram por uma razão muito precisa —demandava-se a reversão de uma lei que autorizava a deportação de cidadãos do território para a China continental. De junho para cá, porém, as manifestações evoluíram para uma pauta mais abstrata, em que os participantes exigem mais democracia.

Trata-se de problema grave para a ditadura de Pequim, que não tolera contestações à sua autoridade. Lida-se com uma região administrativa especial, onde as pessoas gozam de mais liberdades devido ao acordo firmado com o Reino Unido quando da devolução da ex-colônia britânica, em 1997.

A China se comprometeu a respeitar a autonomia do território por pelo menos 50 anos (até 2047), num arranjo que ficou conhecido como “um país, dois sistemas”.

Embora tal acordo venha sendo formalmente cumprido, cidadãos de Hong Kong sentem que o governo central trabalha para minar pouco a pouco seus direitos e garantias. A tentativa de aprovar a lei de deportação seria um exemplo.

O impasse entre manifestantes e autoridades testa os limites do sistema chinês. Teóricos do liberalismo sempre afirmaram que o processo de desenvolvimento econômico leva à democratização.
Isso ocorreria por duas razões principais. Em primeiro lugar, o surgimento de uma grande classe média, que se torna cada vez mais exigente, criaria uma demanda irresistível por abertura política.

O outro motivo é ainda mais teórico. No longo prazo, a manutenção do crescimento econômico depende de um fluxo constante de inovações e aumentos de produtividade que seria impossível assegurar num regime em que pessoas, em especial os cientistas, não podem trocar informações livremente.

Desenvolvimento duradouro e ditadura seriam, portanto, essencialmente incompatíveis.

A China, ao menos até aqui, desmente essas previsões. Livrou centenas de milhões de pessoas da pobreza e se converte em potência científica sob regime autoritário. A pergunta que fica é se os protestos em Hong Kong não são o início de um processo de abertura política.

Pequim, obviamente, deseja sufocar o movimento. Evita, contudo, recorrer à violência nua e crua, como fez nos protestos da praça da Paz Celestial, quando despachou tanques para enfrentar estudantes.

A China de 2019 não é a de 1989. O gigante tem hoje interesses comerciais e financeiros que se veriam prejudicados por uma eventual onda de repressão, e os manifestantes sabem disso — num impasse potencialmente explosivo.

Ofício 014/2019 – Cidadania/DN

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Brasília-DF, 15 de agosto de 2019

Prezado(a) companheiro(a),

Por meio deste, estamos convocando os membros da Comissão Executiva do Diretório Nacional, bem como os da sua bancada no Congresso Nacional, para uma reunião no dia 21 de agosto de 2019, quarta-feira, a partir das 10:00 e até às 14:00 horas, no Pátio Brasil, salas 826/828, para tratar das seguintes questões:

1. Conjuntura;
2. Informe dos trabalhos sobre os Estatutos e a proposta de programa do CIDADANIA;
3. Informes das Bancadas do Senado e da Câmara;
4. Organização partidária nos estados;
5. Informes gerais.

Sem mais para o momento e certos de contarmos com sua imprescindível presença, subscrevemo-nos,

Atenciosamente,

Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania

Itaipu: Roberto Freire diz que CPI pode ser necessária para investigar acordo polêmico entre Brasil e Paraguai

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O presidente do Cidadania, Roberto Freire, afirmou nesta quinta-feira (15), ao analisar o acordo secreto da hidrelétrica de Itaipu Binacional entre os governos de Brasil e Paraguai, que talvez seja necessária a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para esclarecer o episódio que se transformou em crise no País vizinho. Para Freire, o assunto é grave por envolver supostas denúncias de corrupção entre políticos de ambas nações.

Freire: “Assunto nebuloso”

“É um assunto nebuloso que talvez se torne necessário [a instalação de] uma CPI. Precisamos saber mais detalhes desse episódio, um escândalo no Paraguai, que inclusive está discutindo a possibilidade de impeachment de seu presidente [Mario Abdo Benítez]. É um assunto que traz preocupação para nós também. É um tema grave que envolve denuncias de corrupção”, disse.

Freire classificou como correta a ação (veja abaixo) do deputado federal do Cidadania, Rubens Bueno (PR), que, na semana passada, solicitou a convocação dos ministros de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e de Minas e Energia, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, para dar maiores esclarecimentos na Comissão de Relações Exteriores da Câmara sobre o assunto.

“Correta a posição do deputado Rubens Bueno que conseguiu, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, aprovar o convite para que os ministros brasileiros expliquem nossa participação nesse acordo secreto que posteriormente foi anulado e não se sabe muito bem o porque. Precisamos descobrir o por que dessa pressa e possíveis negociatas. O que me parece é que, se os esclarecimentos não forem convincentes [na Comissão], não há dúvida que a CPI se impõe”, analisou.

Acordo suspeito

A polêmica sobre o acordo surgiu após reportagem do jornal paraguaio ABC apontando que o presidente do Paraguai recebeu pressões do Brasil para assinar a ata secreta de 24 de maio sobre a venda de energia excedente do País vizinho para o Brasil.

Segundo a reportagem, o presidente da ANDE (Administración Nacional de Eletricidad), Pedro Ferreira, demonstrou profunda preocupação com o acordo pelo fato de inicialmente prever venda de 12% do excedente e posteriormente se depararem com uma venda de 18%, o que representaria U$ 341 milhões de sobrecusto para o Paraguai.

O jornal especulou a existência de um esquema de corrupção para favorecer a empresa brasileira Leros, que seria contratada como consequência da assinatura do novo acordo e que teria ligações com a família do presidente Jair Bolsonaro. Ainda segundo o jornal, a contrariedade do presidente da ANDE causou mal-estar ao governo brasileiro, fazendo com que o Itamaraty convocasse o embaixador paraguaio no Brasil, Hugo Saguier Caballero, para dar explicações.

Pedro Ferreira, em mensagem enviada no dia 4 de julho, alertou o presidente paraguaio sobre a lesividade do acordo e afirmou que “queria lhe mostrar os números e nossa análise. A prova de que o acordo é claramente inconveniente é que querem que o mantenhamos secreto”. (Com informações das agências de notícias)

https://cidadania23.org.br/2019/08/13/itaipu-comissao-aprova-pedido-de-rubens-bueno-e-vai-ouvir-ministros-sobre-acordo-secreto-e-suspeita-de-favorecimento/

 

https://cidadania23.org.br/2019/08/08/itaipu-rubens-bueno-pede-convocacao-de-ministros-para-esclarecer-acordo-que-gerou-crise/

Comissão de PPPs e concessões: Governo diz que com nova legislação investimento decola

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A comissão especial da Câmara que vai elaborar a proposta de um novo marco regulatório para PPPs (Parcerias Público Privadas), concessões e fundos de investimento realizou nesta quinta-feira (15) sua primeira audiência pública. O convidado foi o secretário especial de produtividade, emprego e competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa.  Ele disse que o setor de infraestrutura espera pela nova legislação, pois há demanda e recursos privados. “É necessário um ambiente que proteja o investidor. Com isso, não vai faltar dinheiro”, adiantou.

O relator da comissão, deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) disse que uma das preocupações na elaboração das novas regras é o que fazer para que o contrato entre o poder público e o concessionário seja efetivamente cumprido.

“Quando não há o cumprimento, como fazer o rompimento e a caducidade de modo a garantir que a qualidade do serviço seja preservada e que aquilo que foi oferecido seja mantido?”, questionou.

Outro ponto enfatizado por Jardim e por Costa na reunião foi o risco cambial. A comissão, disse o parlamentar, vai buscar diminuí-lo nas concessões e PPPs. A convivência da qualidade dos projetos com a concorrência acirrada também é uma preocupação do deputado.

“Vamos querer muita gente disputando para garantir menor custo e mais qualidade”, disse.

Na avaliação de Arnaldo Jardim a primeira audiência pública foi uma “boa largada para assuntos que vão ser muito importantes na mudança legislativa que a comissão vai propor”. A ideia é possibilitar que PPPs e concessões sejam muito mais utilizadas no país, “retomando o investimento, a geração de empregos e o crescimento econômico”.

Carlos da Costa realçou a importância de se resolver o risco de recuperação judicial dos concessionários. Ele sugeriu que seja feito um monitoramento da saúde financeira da empresa pelo governo. O secretário defendeu também a abertura do mercado de projetos, que hoje são insuficientes. Costa propôs ainda procedimento simplificado de concessão para casos menos complexos.

Outra medida abraçada pelo secretário foi o incentivo a receitas acessórias, que são aquelas que vão junto com a concessão, como atividades econômicas desenvolvidas nas estações de um metrô, por exemplo. Atualmente, esses recursos entram para o equilíbrio do contrato ou são repassados integralmente para redução de tarifas. Carlos da Costa defende que elas passem às mãos do concessionário.

A institucionalização das restrições à participação do poder público em leilões é outra providência que o secretário quer ver efetivada. Segundo ele, “às vezes, a entrada de recursos públicos ou empresas públicas em empreendimentos que já tem financiamento privado  expulsa os investidores privados”.

Rubens Bueno pede a ministro manutenção da superintendência da Receita no Paraná

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O deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) quer reverter decisão do governo federal que pode extinguir, dentro do processo de reestruturação da Receita Federal, a Superintendência da 9ª Região Fiscal, localizada em Curitiba, e que é responsável por toda atuação do órgão no Paraná e em Santa Catarina. Para isso, enviou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, um pedido para que seja revogada a extinção da superintendência.

Na avaliação do parlamentar, a medida prejudicaria toda a fiscalização em uma região que possui quatro dos mais importantes portos do País e o mais importante porto seco da América Latina, localizado em Foz do Iguaçu.

“Vejo a medida como preocupante. O Ministério da Economia vem empreendendo esforços no sentido de otimizar os trabalhos da Receita Federal, o que é louvável. Contudo, não pode, com base nessa justificativa, penalizar os trabalhos de fiscalização e de atendimento aos contribuintes. Além disso, o trabalho da Receita é de fundamental importância no combate conjunto ao contrabando em nossa região”, afirma o deputado.

O deputado ressalta ainda que dos cinco maiores portos em movimentação de contêineres do Brasil, três estão na região (Paranaguá, Itajaí/Navegantes e São Francisco do Sul/Itapoá), sendo que o de Paranaguá é o maior porto graneleiro da América Latina.

“Além disso, em Curitiba, encontram-se o maior centro de controle de remessas expressas da América Latina e o melhor aeroporto do país, além de sediar o Centro de Certificação de Operadores de Comércio exterior da região Sul e o Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública-Regional Sul”, reforçou.

Câmara aprova projeto de Carmen sobre universalização de bibliotecas escolares

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A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou nesta quarta-feira (14) proposta de autoria da deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania-SC) projeto que prevê a universalização das bibliotecas escolares nas instituições de ensino do país e cria o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares. A proposta (PL 9484/2018) recebeu parecer favorável do deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) e visa combater o grande déficit de bibliotecas no País e garantir que toda escola brasileira possua um espaço adequado para a consulta dos estudantes. A matéria segue para apreciação do Senado Federal.

Ao apresentar o voto pela aprovação da matéria, Bueno destacou dados do Ministério da Educação apontando que cerca de 75% das escolas do País não possuem uma biblioteca.

“Trata-se de uma situação da maior gravidade que precisa ser corrigida com urgência. Esse projeto estabelece critérios e obrigações para que o Estado brasileiro proporcione aos estudantes acesso não somente aos livros, mas aos novos suportes tecnológicos de difusão da cultura”, afirmou Rubens Bueno.

Carmen Zanotto lembrou que a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino foi aprovada por lei federal. A legislação determina que as instituições de ensino públicas e privadas teriam até maio de 2020 para se adequar ao texto, montando bibliotecas com acervos compostos por, no mínimo, um título para cada aluno matriculado. No entanto, a lei não trouxe dispositivos que garantam seu efetivo cumprimento.

“Infelizmente, a lei não determinou qual ente federativo seria responsável pela implantação de bibliotecas nas escolas e com que recursos orçamentários. Não trouxe nenhuma penalidade ou sanção ao descumprimento da lei, fazendo com que, passados oito anos, ainda tenhamos muitas escolas desprovidas de biblioteca”, afirmou a deputada.

O projeto foi apresentado em coautoria com a ex-deputada federal Laura Carneiro (DEM-RJ).

O Censo Escolar de 2016, realizado pelo MEC, apontou que do total de 217.480 escolas públicas do país, apenas 21% possuíam biblioteca em suas dependências. Já do universo de 61.878 escolas da rede privada de ensino, somente 38% contavam com esse equipamento escolar

A proposta aprovada altera a lei de 2010 e estabelece que os sistemas de ensino do país deverão desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares seja efetivada até 2024. O não cumprimento da meta acarretará sanções a serem definidas pelo órgão ou entidade do Poder Executivo Federal.

Aprovado projeto de Rubens Bueno que estabelece critérios para vagas em creches

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A Comissão de Educação aprovou nesta quarta-feira (13) projeto de autoria do deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR) que obriga os municípios a organizarem listas de espera nas creches públicas, com divulgação dos critérios de atendimento e acesso público aos nomes dos responsáveis pelas crianças, sempre que a demanda superar a oferta de vagas.

A proposta (PL 424/19) altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei 9.394/96). Pela LDB, a educação infantil é oferecida em creches, para crianças de até três anos de idade, e em pré-escolas, para as crianças de quatro a cinco anos.

O deputado Marreca Filho (Patri-MA) foi o relator da matéria.

Para Rubens Bueno, a lista de espera “oferece maior transparência no processo de preenchimento das vagas disponíveis, bem como maior respeito aos direitos de cidadania das famílias”.

O parlamentar reconhece as dificuldades enfrentadas pelos municípios, responsáveis constitucionais pela oferta de educação infantil, para garantir a expansão da oferta de creches no ritmo demandado pela população, no entanto, ele lembra que muitas cidades têm avançado nesta questão.
Rubens citou o exemplo da Prefeitura de Vitória (ES), comandada por Luciano Rezende (Cidadania), que vem facilitando o acesso da comunidade escolar para a realização do cadastro para vagas em creches por meio de um sistema eletrônico que permite ao morador fazer o cadastro em qualquer unidade escolar.

“O sistema é georreferenciado com dispositivo que, ao registrar o CEP da família, já indica a escola de prioridade da família, levando em consideração a proximidade entre a residência e a escola”, explicou Bueno.

A proposta foi apresentada pela ex-deputada Pollyana Gama (PPS-SP) na Legislatura passada.

Tramitação

Com tramitação conclusiva, o projeto será apreciado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

William Waack: A semelhança entre Brasil e Argentina

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É quase irresistível a tentação de dizer que Argentina e Brasil são espelhos de si mesmos. Os dois vizinhos tiveram seus populistas históricos cujas sombras políticas se projetam até hoje (Peron e Vargas). Desenvolveram Estados balofos que extraem desproporcional parte da riqueza gerada nos respectivos territórios – sem terem sido capazes de conduzir as respectivas economias para crescimento em bases sustentáveis. A Argentina era rica e ficou pobre, e o Brasil não conseguiu ficar rico.

Há notórias diferenças, até anedóticas. O argentino tende a assumir que o melhor ficou no passado, enquanto o brasileiro acha que o melhor estará no futuro. Ainda assim há grandes paralelos na linha do tempo entre os dois países. Brasil e Argentina experimentaram rupturas políticas em épocas muito próximas, passaram por ditaduras militares e “guerras sujas” de feições similares (ainda que de diferentes intensidades de trauma e violência), voltaram a regimes civis em períodos simultâneos, arcaram com graves crises de endividamento, recessão e, mais recentemente, com regimes de grotesca irresponsabilidade fiscal, em boa parte culpados diretos pelas dificuldades econômicas que ambos enfrentam.

Significa que o fracasso do governo argentino em implementar reformas econômicas estruturantes e, como consequência, a provável derrota eleitoral de uma proposta de liberalização da economia – e a volta pela urna ao descalabro de um regime populista de “esquerda” – é o espectro que ronda o Brasil? Claro que jamais se pode excluir o que ainda não aconteceu, assim como não se pode confiar na inevitabilidade do que virá, mas há algo que torna os destinos de Brasil e Argentina tão parecidos: é um desafio comum que não conseguiram resolver.

O ciclo que enfrentam os dois gigantes sul-americanos, abundantemente dotados de recursos naturais e em confortável posição geográfica, é de como driblar o que economistas chamam de “falta de convergência” da grande maioria dos países emergentes em relação aos países mais avançados. Por “falta de convergência” entende-se a incapacidade de economias de renda média de reduzir a diferença que as separa há décadas do rendimento per capita de países avançados.

Quando os Brics surgiram, há quase 20 anos, parecia que os emergentes iriam, finalmente, alcançar os países do topo. Mas hoje se afirma que a “convergência” era sobretudo o efeito China (e Índia também) e do superciclo das commodities – dois fatores que não se repetem em prazos históricos curtos. Números cruéis estão aí para indicar que Brasil e Argentina continuam tão distantes dos mais ricos como estavam há uma geração, e pior: estão sendo alcançados por vizinhos, como Peru e Colômbia, que sempre foram consideravelmente mais pobres.

É vastíssima a literatura que se ocupa dessa questão, a da superação da pobreza. Tirando o submarxismo típico de baixa produção intelectual que atribuía o atraso relativo de Argentina e Brasil a alguma malvada “imposição” de interesses externos, consolidou- se nos últimos anos o consenso de que escolhas políticas, travas internas, problemas domésticos e, principalmente, ausência de líderes comprometidos com um horizonte de longo prazo é que ajudam a entender as dificuldades de ambos para sair da presente estagnação econômica e resolver problemas tão básicos como pobreza e gritante desigualdade – as mesmas mazelas de sempre, agora agravadas por índices inéditos de violência.

A história recente demonstra que governos da chamada “esquerda” na Argentina e no Brasil não resolveram nenhum dos problemas fundamentais desses países – ao contrário, contribuíram para piorá-los. Os de “direita” precisam provar que conseguem. (O Estado de S. Paulo – 15/08/2019)

Guga Chácra: Bolsonaro erra ao atacar Fernández

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O presidente Jair Bolsonaro, conforme escreveu o colunista Elio Gaspari, precisa urgentemente de um chanceler para evitar dar declarações prejudiciais para o Brasil. Um ministro das Relações Exteriores que o aconselhe a não cometer trapalhadas em política externa, a deixando menos ideológica. Há uma sucessão de gols contra cometidos por seu governo que poderiam ter sido impedidos se houvesse uma figura capacitada no comando do Itamaraty.

O último fiasco foi o envolvimento na política doméstica da Argentina. Qualquer diplomata sabe que não se deve interferir em eleições estrangeiras. Bolsonaro já cometeu este equívoco em Israel, quando visitou o país às vésperas da votação, servindo de cabo eleitoral de Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção. A oposição israelense disse que se distanciaria do Brasil se chegasse ao poder. No fim, ninguém conseguiu formar um governo e haverá novas eleições. Se Bibi perder e possivelmente for preso, como ficará a sua relação com Israel? Seu chanceler deveria ter avisado.

O mesmo pode ocorrer no ano que vem, quando Donald Trump disputará a reeleição. E se um democrata for eleito? Sua imagem já está associada ao atual presidente americano. Seu filho, se for mesmo embaixador em Washington, se tornará completamente inútil na capital americana com sua inexperiência e dificuldade com a língua inglesa, além da sua bizarra foto com o boné do Make America Great Again, usado por trumpistas.

Voltemos para a Argentina. Não se sabe quem estará na Casa Rosada no ano que vem. Talvez Maurício Macri seja reeleito. Há uma probabilidade enorme, no entanto, de Alberto Fernández, com a sua vice Cristina Kirchner, ser o futuro presidente argentino. Segundo a consultoria de risco político Eurasia, a probabilidade é de 90%. Bolsonaro inevitavelmente terá de trabalhar com ele, caso seja eleito, por ser membro do Merco-sul em um momento de finalização do acordo com a União Europeia. Também se trata de um parceiro geopolítico e comercial fundamental para os brasileiros.

Um chanceler sério explicaria ao presidente brasileiro que Fernández pode ser pragmático. Não tentará entrar em atrito com Bolsonaro. Tem total consciência da importância brasileira.

Importante também frisar que, conforme escrevi aqui neste espaço, a imagem de Bolsonaro na Argentina é ruim. Seu apoio a Macri pode prejudicar o presidente argentino, ainda que marginalmente, como disse a repórter Janaína Figueiredo, do GLOBO, que por duas décadas foi correspondente em Buenos Aires. Um chanceler sério avisaria ao presidente não ser de bom tom defender torturadores e regimes militares para os argentinos.

Na Argentina, a ditadura militar matou entre 15 mil e 30 mil pessoas, sequestrou centenas de bebês, torturou milhares, travou e perdeu uma guerra contra os britânicos pelo controle das Ilhas Malvinas/Falklands e deixou como herança uma hiperinflação. Os comandantes militares foram julgados e presos por seus crimes.

Por último, politicamente, também não fica bem se associar a uma candidatura que corre o risco de perder. Indiretamente, Bolsonaro também pode ser visto como derrotado caso Macri perca em outubro, como parece ser a tendência, embora ainda reversível. (O Globo – 15/08/2019)