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Um em cada quatro desempregados procura emprego há pelo menos 2 anos

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Um contingente de 3,35 milhões de desempregados no País procura trabalho há pelo menos dois anos. Isso equivale a 26,2% (ou cerca de uma em cada quatro) pessoas no total de desocupados no Brasil. Os números do segundo trimestre deste ano são recorde desde o início da série histórica da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), em 2012.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (15) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo os números, no segundo trimestre de 2018 o contingente de desempregados procurando trabalho há no mínimo dois anos tinha menos 196 mil pessoas, ou seja, era de 3,15 milhões.

No segundo trimestre de 2015, o total era de 1,43 milhão de pessoas, ou seja, menos da metade do segundo trimestre deste ano.

“A proporção de pessoas à procura de trabalho em períodos mais curtos está diminuindo, mas tem crescido nos mais longos. Parte delas pode ter conseguido emprego, mas outra aumentou seu tempo de procura para os dois anos”, avalia a analista da PNAD Contínua Adriana Beringuy.

Recuo

O desemprego no País foi de 12%, em média, no segundo trimestre, de acordo com dados do IBGE. O índice caiu em relação ao primeiro trimestre (12,7%) e na comparação com o mesmo período do ano passado (12,4%). Segundo o órgão, o número de desempregados no Brasil foi de 12,8 milhões de pessoas.

A taxa caiu em dez das 27 unidades da Federação na passagem do primeiro para o segundo trimestre deste ano, segundo os dados divulgados hoje. As maiores quedas ocorreram no Acre, de 18% para 13,6%, Amapá, de 20,2% para 16,9%, e em Rondônia, de 8,9% para 6,7%. Nas outras 17 unidades da Federação, a taxa se manteve.

Na comparação com o segundo trimestre de 2018, a taxa subiu em duas unidades, Roraima (de 11,2% para 14,9%) e Distrito Federal (de 12,2% para 13,7%), e caiu em três: Amapá (de 21,3% para 16,9%), Alagoas (de 17,3% para 14,6%) e Minas Gerais (de 10,8% para 9,6%). Nas demais unidades, a taxa ficou estável. (Com informações do IBGE e Agência Brasil)

Delação de Palocci: Fachin ordena investigação de bancos, empresas e políticos

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Palocci acusa bancos, empresas e políticos em delação validada por Fachin

André Guilherme Vieira – Valor Econômico

O ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal (STF), ordenou que 4 bancos, 12 empresas e 12 políticos tenham supostas condutas ilícitas investigadas a partir de relatos que constam de 23 anexos da delação premiada do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos do PT, Antonio Palocci, assinada com a Polícia Federal (PF) e validada por Fachin em 2018. Em todos os casos, Palocci diz que instituições financeiras e empresas teriam pago vantagens ilícitas a ele, a dirigentes do PT ou ao partido. Ele vincula a maioria dos valores a eleições.

A decisão de Fachin foi provocada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou “a necessidade da adoção de diligências específicas quanto aos termos de depoimento do colaborador, por conterem narrativa de ‘fatos criminosos em locais e datas distintas'”.

Fachin enviou 22 anexos para a Justiça Federal em três Estados e Distrito Federal: 11 a São Paulo; 5 para Brasília; 3 ao Paraná e um ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-4) do Rio de Janeiro. Só um anexo ficou no STF, o 21º. Ele trata de suposto repasse de R$ 64 milhões da Odebrecht ao PT por “aumento de linha de crédito” do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras em Angola.

O 7º depoimento traz “fatos relativos às pessoas jurídicas Pão de Açúcar, Banco Safra, Casino e Instituto Lula”. Palocci disse que houve repasse do banco, “na defesa de interesses da Casino” e envolvendo o controle acionário do Grupo Pão de Açúcar (GPA), “de vantagem indevida ao PT”. O propósito, contou o delator, seria “evitar a concessão de empréstimo pelo BNDES para o processo de fusão do Grupo Pão de Açúcar e Carrefour.”

A mal sucedida negociação para fundir os dois grupos de varejo ocorreu entre 2011 e 2012 e interpôs interesses do Casino e do empresário Abílio Diniz. Palocci disse que recebeu vantagens de ambos os lados. O ex-ministro sustentou que o Banco Safra, em defesa dos interesses do grupo Casino, teria pago R$ 2 milhões à campanha a prefeito de São Paulo de Fernando Haddad em 2012, e R$ 10 milhões à campanha presidencial de Dilma em 2014, além de “diversos repasses ao Instituto Lula”. O ex-ministro afirmou que atuou em favor de Abílio Diniz e do Grupo GPA, “mediante o ganho de R$ 2 milhões pagos em contratos fictícios da empresa PAIC Participações junto à sua empresa de consultoria”.

No depoimento nº 9, Palocci afirma que o Banco Safra também fez repasses de vantagens indevidas “de modo dissimulado”, por meio de contas eleitorais do PT de 2010 e 2014, em função da aquisição da Aracruz Celulose pelo grupo Votorantim em 2009.

Ele disse que o suposto repasse ocorreu para viabilizar venda da participação de Joseph Safra na Aracruz, “mediante operação atípica de injeção de dinheiro do BNDES”.

Palocci também relatou supostos repasses indevidos do Banco Pactual. Segundo o delator, foram R$ 4 milhões “sob a roupagem de doação eleitoral” à campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 – “pela atuação do governo na resolução de procedimento disciplinar contra [o banqueiro e sócio do BTG ] André Esteves perante o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro”.

Palocci ainda atribuiu ao banco o pagamento de R$ 2 milhões à campanha de Dilma, em 2010, “em troca da atuação da base governista em prol dos interesses daquela instituição financeira”.

Segundo a versão de Palocci, teria havido pagamento de R$ 9,5 milhões do BTG à campanha de reeleição de Dilma, em 2014, “para obter informação financeira privilegiada a ser concedida pelo [Palocci] colaborador”.

No termo 15, Palocci narrou transferências ao PT “em contrapartida ao apoio do governo na defesa dos interesses do Bradesco, em especial no âmbito do conselho de administração da Vale do Rio Doce”. De acordo com Palocci, de 2002 a 2014 foram R$ 27 milhões doados ao PT pelo Bradesco e R$ 26 milhões pela Vale.

Palocci também relatou o suposto pagamento de R$ 3,6 milhões ao PT, em 2010, por meio de doação oficial e em troca da atuação do governo na fusão da Sadia com a Perdigão (BRF) – aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão subordinado ao Executivo.

Palocci apontou ainda supostos repasses da Qualicorp ao PT, ao Instituto Lula e à Touchdown, empresa de Luis Cláudio, filho de Lula, em troca de benefícios concedidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O 14º termo do delator trata de suposto repasse de R$ 4 milhões a uma das campanha de Dilma Rousseff para a “atuação da base governista” em favor da fusão Itaú-Unibanco.

O ex-ministro Palocci, cuja delação foi considerada “frágil” por investigadores do MPF do Paraná, antes de ser firmada com a PF, também mirou ex-colegas de legenda.

Disse que foram R$ 2 milhões da Camargo Corrêa à campanha de Fernando Pimentel ao governo de Minas Gerais, em 2010.

E que a hoje deputada federal Gleisi Hoffmann teria recebido um total de R$ 3,8 milhões para abastecer sua campanha ao Senado, em 2010, pagos pela Camargo, Odebrecht (via caixa dois) e OAS. Palocci relaciona suposto pagamento de R$ 1 milhão da Camargo ao propósito de “estancar a Operação Castelo de Areia”, investigação anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2011.

Segundo o ex-ministro, houve pagamentos indevidos aos petistas Carlos Zarattini, Tião Viana, Lindberg Farias e a João Paulo Lima e Silva – hoje no PCdoB.

Procurados, Grupo Pão de Açúcar, Casino e Abílio Diniz não quiseram comentar.

O Banco Safra informou que também não comenta o assunto.

As assessorias do Carrefour e do Itaú-Unibanco não foram localizadas pela reportagem.

O BTG Pactual afirmou “que repudia a tentativa de vinculação de doações eleitorais feitas inteiramente de acordo com a legislação em vigor a qualquer benefício indevido”, e que “jamais gerenciou recursos de qualquer partido político e tampouco negociou a aquisição da empresa mencionada.”

O Bradesco afirmou que as empresas do grupo “realizaram doações eleitorais aos partidos, todas elas públicas e devidamente registradas” e que repudia quaisquer ilações descabidas formuladas em relação ao fato”.

A BRF disse que todas as doações que fez são públicas e registradas na Justiça Eleitoral, e que “colaborará sempre que requisitado pelas autoridades para que quaisquer fatos sejam esclarecidos”.

A Qualicorp afirmou que nunca pleiteou ou obteve benefício público, nem transgrediu a lei, e que “a companhia não comentará supostas acusações do ex-ministro, que foram rejeitadas pelo Ministério Público Federal por ausência de base fática”.

O ex-presidente Lula disse, por meio de sua assessoria, que a “delação de Palocci não tem provas nem credibilidade” e que “são mentiras contadas para ele sair da cadeia”.

A ex-presidente Dilma Rousseff, também por sua assessoria, afirmou que “o senhor Antonio Palocci mente ao fazer acusações sem provas”.

Haddad disse que nunca tratou com Palocci e afirmou desconhecer “completamente” qualquer contribuição do banco Safra.

Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann disse que Palocci “continua na mentira” e que trechos da delação “são vazados convenientemente por setores do Judiciário”.

Em nota, Gleisi e o PT defenderam os petistas citados por Palocci e disseram que a delação do ex-petista “foi desmoralizada pela força-tarefa de Curitiba”. (Colaborou Cristiane Agostine)

Estados “esconderam” R$ 11,4 bilhões de gastos em 2018, diz Tesouro

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Estados omitiram gasto de R$ 11,4 bi, afirma Tesouro

Raio X de gastos dos Estados feito pelo Tesouro Nacional revela desrespeito à LRF e explosão com gastos com a Previdência

Adriana Fernandes Eduardo Rodrigues – O Estado de S. Paulo

Sem nenhum tipo de condenação pelos Tribunais de Contas estaduais até agora, os Estados “esconderam” R$ 11,4 bilhões de despesas em 2018 para evitar o descumprimento das regras da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e punições para os governadores que deixaram o cargo em janeiro deste ano. Esses gastos passaram ao largo do Orçamento.

Sem essa maquiagem, as finanças dos governos estaduais teriam terminado 2018 com o rombo de R$ 5,8 bilhões. Mas os números apontaram um superávit de R$ 5,6 bilhões. É o que mostra uma ampla radiografia, divulgada ontem pelo Tesouro Nacional, sobre o resultado das contas dos governos regionais. Essa prática de “orçamento paralelo” se intensificou em 2018, último ano do mandato dos governadores, como mostrou reportagem no início do ano do Estado.

O Tesouro constatou a supressão desse montante relevante de despesas que não passaram pela execução orçamentária. Ou seja, são gastos que não foram empenhados – como é chamado no jargão dos técnicos o primeiro estágio de despesas no processo orçamentário até o seu pagamento. O empenho mostra, na prática, o compromisso assumido com o seu pagamento.

Para o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, o procedimento distorce a transparência dos números e esconde a verdadeira situação fiscal dos governos estaduais. Com as contas mascaradas, os políticos não são pressionados a fazer o ajuste, já que os números não mostram a real gravidade do problema. O secretário chamou atenção para o fato de que esse tipo de procedimento viola a Lei 4.320 de 1964, que veda a realização de despesa sem prévio empenho. Ele reconheceu, no entanto, que o governo nada pode fazer para mudar a situação. A aplicação de punições depende dos Tribunais de Contas da União (TCEs), que são benevolentes aos governadores, responsáveis pelas indicações aos tribunais.

Para harmonizar as regras e evitar maquiagens, Mansueto defendeu a criação do Conselho de Gestão Fiscal. Previsto na LRF, o conselho até agora não foi regulamentado. O governo está costurando a criação do conselho com o Congresso e pode incluir esse ponto no debate sobre a proposta de Pacto Federativo, um conjunto de medidas que a equipe econômica que mandar ao Congresso para ajudar no ajuste fiscal. “Alguns amigos têm sugerido revisão no teto para torná-la mais flexível, mas vamos caminhar para nove anos de déficits primários (contas no vermelho), que começaram em 2014”, afirmou. “O problema é que não sabemos até quando teremos essa bonança de queda de juros no Brasil. Vamos pagar conta de juros abaixo de 5% do PIB neste ano, patamar semelhante ao de quando a dívida era muito menor.”

Notas. O boletim mostra o aumento na quantidade de Estados que não têm notas de Capacidade de Pagamento (Capag) que permitam a tomada de crédito com garantias da União. Esse tipo de crédito é mais barato para os governadores. Os Estados com notas C e D passaram de 15 em 2017 para 17 em 2018. Das 27 Unidades da Federação, 14 têm notas C (veja acima).

O que mais chama a atenção é o fato de que alguns Estados, além de terem baixa poupança corrente, possuem baixa disponibilidade de caixa. O alerta serve, especialmente, para Acre, Pará, Paraíba, Piauí, Paraná e São Paulo, que estão próximos de perder a nota B. O Espírito Santo é o único Estado com capacidade de pagamento nota A.

O economista do Insper, Marcos Mendes, alertou que a despesa com inativos e pensionistas dos Estados consome 29% da receita e beneficia 1% da população. Ele elencou, entre as forças que atuam para piorar a situação dos Estados, as ações judiciais que permitem repassar custos para União. Os dados mostraram um aumento na quantidade de Estados que passaram a desrespeitar os limites de gasto (60%) com o funcionalismo impostos pela LRF.

Luiz Carlos Azedo: Qual será o novo modelo?

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NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

A grande mudança debatida ontem pela Câmara dos Deputados sobre a legislação trabalhista, com a chamada MP da Liberdade Econômica, foi o fim da remuneração em dobro do dia trabalhado aos domingos, que agora poderá ocorrer por até três fins de semana consecutivos, se houver compensação com uma folga correspondente no decorrer da semana, negociada individualmente. A aprovação da mudança é mais um avanço na desregulamentação das relações trabalhistas regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho.

Em outras circunstâncias, haveria grande mobilizações sindicais para evitar que isso ocorresse, mas não é o que acontece. Com o fim do imposto sindical, os sindicatos entraram em colapso, e os trabalhadores estão muito acuados pelo desemprego. Só se mobilizam em situação de desespero, como, agora, na greve dos motoristas do Espírito Santo, por causa dos ônibus que começariam a circular sem trocadores, quando em todo o mundo já começam a circular caminhões e ônibus sem sequer motorista.

A propósito, vem do Espírito Santo um “causo” que ilustra bem a situação, que me foi contado pelo ex-governador Artur Carlos Gerhardt Santos, que governou o estado no começo dos anos 1970 e foi o grande artífice da industrialização capixaba, cuja economia é a única do país voltada para o comércio exterior. Quando a ponte rodoferroviária Florentino Ávidos, também conhecida como Cinco Pontes, toda fabricada em aço e trazida da Alemanha, foi inaugurada, em 1927, um português de Vila Velha logo inaugurou uma linha de lotação ligando as duas cidades.

Em protesto, os catraieiros (barqueiros cujos remanescentes até hoje fazem transporte de passageiros de um lado para outro do canal que separa a ilha de Vitória do continente) resolveram fazer uma greve. “Não tinha a menor chance de dar certo”, ironizou o ex-governador. A ponte existe até hoje, foi um marco da expansão e modernização da economia capixaba, possibilitando a chegada ao Porto de Vitória dos trens da Vitória-Minas.

A modernização das relações trabalho-capital, premissa para a retomada do crescimento, nunca teve uma correlação de forças tão favorável no Congresso, a favor da desregulamentação, é claro. Essa é uma das consequências do fracasso petista no comando do país, depois do naufrágio do modelo de capitalismo de Estado adotado a partir do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula das Silva e, principalmente, durante o governo Dilma Rousseff.

É jogo jogado. A estagnação da economia, com aumento acelerado da miséria e desemprego em massa, induz mudanças profundas na estrutura produtiva do país, com o uso de novas tecnologias, principalmente robotização e inteligência artificial, que tornam obsoletos dispositivos de uma legislação criada quando o Brasil se urbanizava e se industrializava. A Era Vargas, cujo fim já foi tantas vezes proclamado, parece realmente moribunda.

A lógica da velha política classista dos sindicatos, que tinha como eixo a garantia e a ampliação de direitos trabalhistas para reduzir a taxa de exploração de mais-valia, como no caso dos catraieiros de Vitória, não tem a menor chance de dar certo. A velha indústria e os serviços estão passando por mudanças irreversíveis, que fazem da velha legislação letra morta. É um processo que exige soluções novas e criativas para garantir novos direitos aos trabalhadores, sem criar entraves ao funcionamento da economia.

O paradigma taylor-fordista da grande indústria mecanizada como referência para a organização e a luta dos trabalhadores já era. A crise é tão profunda que o próprio “ser operário”, que Marx classificava como a classe geral que, ao se libertar da exploração e opressão, libertaria todas as demais classes subalternas, hoje é uma espécie em extinção. A nova economia coloca em xeque até mesmo valores herdados da Revolução Francesa e que estão no cerne da democracia liberal: os direitos humanos.

A universalização do direito à saúde e à educação, que já foram essenciais, por exemplo, perderam a funcionalidade para a reprodução ampliada do capital. Não há necessidade de exércitos industriais de reserva e até mesmo de exércitos de massa. Para que tantos operários qualificados e oficiais e soldados diante dos novos artefatos de produção e bélicos guiados por inteligência artificial?

A economia brasileira passa, no plano institucional, por um novo ciclo de modernização. Indiscutivelmente, com a derrota da esquerda, ou seja, dos modelos nacional-desenvolvimentista e social-democrata, o Brasil vacila entre o velho americanismo e os novos paradigmas asiáticos. A contradição principal é o fato de que a modernização terá que ser feita com capital estrangeiro, sem um setor produtivo estatal e grandes grupos industriais nacionais.

No século passado, os cafeicultores paulistas e seus banqueiros enfrentaram situação parecida, mas renegaram o velho patrimonialismo e financiaram a industrialização. Hoje, não sabemos se o nosso agronegócio e o mercado financeiro têm capital acumulado e vontade política para investir pesadamente num novo ciclo de modernização fora dos marcos da agricultura, ou seja, na educação, na ciência, na tecnologia e na inovação. (Correio Braziliense – 15/08/2019)

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (15/08/2019)

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MANCHETES

O Globo

Câmara aprova projeto que pune abuso de autoridade
Bolsonaro se queixa de ‘devassa’ da Receita
Temor de crise global derruba mercados
Romildo Toledo: Alto índice de desemprego de mestres e doutores preocupa novo diretor da Coppe
Projeto das UPPs volta aos planos da segurança pública do estado
Acuado, Macri anuncia pacote de bondades

O Estado de S. Paulo

Bolsa cai e dólar sobe com risco de nova recessão global
Projeto que pune abuso de autoridade passa na Câmara
Estados omitiram gasto de R$ 11,4 bi, afirma Tesouro
Obrigação de depósito judical assusta empresas
Sistema privado para monitorar desmate é testado
Huck: ‘Vivemos o último capítulo do que não deu certo’
Senado deve votar MP antiburocracia na terça

Folha de S. Paulo

Com risco de recessão global, BC vai vender dólar à vista
Medida que autoriza o trabalho aos domingos e feriados vai ao Senado
MEC vai trocar ensino integral por aluno em faculdade ociosa
Militar acusado de estupro na ditadura vira réu
Adolescente morre e bebê é baleado em ação da polícia no Rio
Governo argentino faz pacote anticrise com viés eleitoral

Valor Econômico

Risco de recessão global eleva tensão nos mercados
Estoques altos são obstáculo à recuperação
Via Varejo “volta a fazer varejo”
Botijões genéricos provocam polêmica
Governo põe acordo com UE em risco, diz Blairo

EDITORIAIS

O Globo

Momento de se formalizar a autonomia do BC

Se ainda houvesse dúvidas, a ingerência de Dilma nos juros acabou com qualquer delas

As circunstâncias levam o governo de Jair Bolsonaro a ser reformista. O acúmulo de problemas macro e microeconômicos força que o presidente tenha uma agenda diversificada de mudanças. Da Previdência à revisão, não menos importante, de procedimentos burocráticos para empresas, tratados na chamada “MP da Liberdade Econômica”.

Lembre-se que Bolsonaro, nas quase três décadas de Câmara, sempre foi contra a atualização do sistema previdenciário, coerente com sua visão corporativista do país. Mesmo com dificuldades e alguns recuos do presidente, a reforma ultrapassou sua grande barreira, a da Câmara.

O importante é não perder o espaço político aberto no Congresso para continuar na atualização de regulações que caducaram nos últimos 40 anos, com o aumento da população, a integração ainda incompleta da economia ao mundo, e a própria sofisticação de usos e costumes pro

movida pela revolução digital, que parece não ter fim.

Se parcela majoritária da classe política venceu o tabu de que mexer na Previdência seria “prejudicar os pobres” — quando é o contrário —, ela pode entender a necessidade de outras reformas. Um desses casos é o da autonomia do Banco Central, outro dos temas discutidos sem que propostas se convertam em realidade.

Criado em dezembro de 1964, o BC substituiu a Superintendência de Moeda e Crédito (Sumoc), de 1945. Recebeu funções também do Banco de Brasil, e passou a ser visto como mais uma autarquia federal. Há tempos a instituição mudou de status: dentro do modelo dos bancos centrais de economias desenvolvidas, a política de juros passou a ser deliberada num conselho, Co-pom, formado pelos dirigentes do BC, e o banco ganhou autonomia operacional. Mas apenas tácita.

Os efeitos desta autonomia atuam na percepção positiva da estabilidade do sistema e, mais precisamente,

no combate à inflação e enfrentamento de desequilíbrios externos. O BC busca condicionar as expectativas, algo essencial. Mas é hora de formalizar esta autonomia.

Entre os governos Dilma e de seu vice, Michel Temer, pôde-se comparar os efeitos da intervenção do Executivo no BC com os provocados pela ausência de ingerências de cunho político na instituição.

No período Dilma, que nunca escondeu ser contra a autonomia do BC, a autoridade monetária foi politicamente forçada a cortar juros, a fim de estimular a economia. A missão coube a Alexandre Tombini, na presidência do Banco Central. Com ele, os juros básicos chegaram a 7,2%. Como esperado, a inflação subiu e a taxa básica teve de ir para a faixa dos 14%.

Com Temer, o novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, seguiu os manuais e reduziu a Selic para 6,5%. Sem retrocessos, sem pressões. Formalizar a autonomia da autoridade monetária é reduzir a insegurança que provoca inflação e alta dos juros.

O Globo

Guerra comercial EUA-China comprova o erro do protecionismo

Taxas sobre pneus mantiveram empregos nas fábricas, porém cortaram mais vagas no comércio

O avanço da guerra comercial entre Estados Unidos e China tem sido conduzido pelo presidente Trump, que foi quem mexeu a primeira pedra no tabuleiro deste confronto, com a imprevisibilidade característica. Eleito em 2016 com uma plataforma política hipernacionalista, o bilionário da indústria imobiliária assumiu a Casa Branca com a promessa de repor os empregos perdidos pela indústria americana, no processo de globalização e ampliação de cadeias globais de produção em direção à Ásia, em especial a China.

O governo trumpista se propõe a reverter a desindustrialização de certas regiões do país na base de atos voluntariosos. Não tem dado certo. Porém, já em campanha pela reeleição no ano que vem, Trump não pode recuar. Mas os obstáculos que o sistema produtivo globalizado coloca são desafiadores. Trump já impôs sobretaxas a importações chinesas, a China retaliou da mesma forma e ainda desviou compras de soja para outros países, como o Brasil.

Está em curso mais uma história exemplar neste conflito, sobre os malefícios deste tipo de guerra. Trump anunciara tarifas de 10% sobre US$ 300 bilhões de compras na China de inúmeros bens de consumo, a vigorarem a partir de 1° de setembro. Na terça, anunciou o adiamento para 15 de dezembro do início da taxação de vários produtos e ainda a retirada de certos itens da medida protecionista.

Anunciado o recuo, ações de redes comerciais subiram nas bolsas. O fato deveria fazer Trump entender que o americano tem acesso a incontáveis bens de consumo a preços baixos só porque existe a China. Trump foi pressionado por empresas a adiar a sobretaxa por uma razão: nesta época, as famílias americanas compram material para a volta às aulas, havendo ainda o período de Natal no fim do ano, quando o comércio aumenta o faturamento. Daí o alívio beneficiar celulares, laptops e brinquedos. Trump teve de poupar empresas exportadoras chinesas em defesa do consumidor americano.

Em artigo no “Washington Post”, Fareed Zakaria, também apresentador de programa na CNN, citou estudo do Peterson Institute sobre o balanço final da tarifa de 35% imposta ainda por Barack Obama sobre a importação de pneus chineses: foram mantidos 1.200 empregos em fábricas nos Estados Unidos, mas o consumidor americano teve um gasto adicional de US$ 1,1 bilhão devido à taxa, e isso causou a perda de empregos de 3.700 pessoas no comércio de pneus. Os Estados Unidos saíram perdendo devido à medida protecionista de um presidente democrata. Trump, um republicano que contraria princípios liberais de seu partido, deve estar provocando estragos ainda maiores que qualquer democrata.

O Estado de S. Paulo

Liberdade econômica avança

A aprovação, pela Câmara, do texto-base da Medida Provisória 881, conhecida como MP da Liberdade Econômica, é bastante positiva para o País, não apenas pelas medidas nela contidas, mas principalmente por recolocar em destaque na agenda política o tema dos entraves ao empreendedorismo no Brasil.

A tramitação da MP enfrentou muitos obstáculos, em particular porque a medida havia sido substancialmente emendada na comissão mista que a analisou no Congresso, sob a relatoria do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS). Várias dessas emendas, por alterarem diversas normas trabalhistas, poderiam servir de pretexto para a derrota da MP na votação em plenário.

Depois de intensa negociação, a maioria dessas mudanças – que incluiu também alguns “jabutis”, isto é, artigos que nada tinham a ver com o objeto da MP – foi retirada do projeto a ser votado, reduzindo de 53 para 33 o número de artigos. Esse enxugamento, que facilitou a aprovação por larga margem (345 votos a favor e apenas 76 contrários), foi realizado depois de intervenção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que conduziu as conversas com o relator, o governo e sindicalistas. “O que importa é o que ficou, estamos salvando a MP”, disse o relator Goergen, referindo-se ao fato de que a manutenção do impasse poderia acarretar a caducidade da medida, cujo prazo vence no próximo dia 27.

A Câmara deveria votar na tarde de ontem os destaques ao texto, mas não se esperavam grandes mudanças. O texto-base da MP, que irá agora ao Senado, preservou a essência da proposta original do governo. Entre as principais medidas trabalhistas está a permissão para o trabalho aos domingos e feriados sem necessidade de autorização por convenção coletiva, e o trabalhador terá direito a uma folga de domingo a cada quatro semanas. Além disso, será permitido o registro de ponto por exceção, isto é, o empregado só registra o horário se fizer hora extra, e empresas com até 20 funcionários estarão dispensadas de controle de jornada de trabalho. No que diz respeito à burocracia, a medida aprovada permite que empresas cujas atividades sejam de baixo risco possam funcionar sem alvará, o que deve incentivar a abertura de startups e de pequenos negócios domiciliares. Autoriza ainda o funcionamento de empresas a qualquer dia e horário, desde que sejam respeitadas as leis sobre poluição sonora e perturbação do sossego. Além disso, determina que, se o poder público não responder a um pedido de autorização de empresa em determinado prazo, a autorização será concedida automaticamente.

Todas essas providências, de uma forma ou de outra, atendem a antigas reivindicações do setor produtivo. Por isso, o discurso do governo, como não poderia deixar de ser, é otimista. O secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Paulo Uebel, disse que a MP da Liberdade Econômica deverá gerar 3,7 milhões de empregos nos próximos dez anos.

De fato, é o que esperam ansiosamente os 25 milhões de brasileiros desempregados, subempregados ou desalentados. No entanto, as medidas previstas na MP da Liberdade Econômica apenas arranham os imensos obstáculos à livre-iniciativa, que colocam o Brasil na vergonhosa io9.a posição, entre 190 países, no mais recente relatório do Banco Mundial que mede a facilidade para fazer negócios, o Doing Business.

A enorme burocracia para que as empresas preencham formulários e paguem seus impostos, por exemplo, só deverá ser enfrentada numa reforma tributária. Outro aspecto ainda a ser tratado em outra oportunidade é o da concessão de alvarás, um sistema labiríntico de cartórios e órgãos governamentais que inferniza quem pretende abrir um negócio ou construir um prédio. Já é um avanço que a MP da Liberdade Econômica tenha livrado desse pesadelo ao menos as empresas de baixo risco, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que o Estado deixe de criar dificuldades injustificadas para quem pretende empreender. O crescimento pífio da economia, que tende a ampliar a chaga do desemprego, é motivo mais que suficiente para que o governo faça da liberdade econômica muito mais do que apenas um slogan.

O Estado de S. Paulo

Luzes para a segurança pública

O País gasta 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em segurança pública -porcentual próximo à mediana dos países da OCDE -, mas os recursos são mal alocados. O alerta é do economista e pesquisador Daniel Cerqueira, que coordenou o Atlas da Violência – Retrato dos Municípios, estudo lançado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ao notar, em entrevista ao Estado, que o orçamento destinado à segurança pública dobrou nos últimos 15 anos, Daniel Cerqueira afirmou que “o dinheiro foi gasto em ações que não geram redução do crime. (…) Jogamos dinheiro fora num modelo falido”.

Após analisar 310 municípios com mais de 100 mil habitantes, o Atlas da Violência -Retrato dos Municípios constatou aumento do número de mortes violentas no País. O crescimento foi especialmente acentuado nas Regiões Norte e Nordeste, influenciado, principalmente, pela guerra do narcotráfico, pela rota do fluxo das drogas e pelo mercado ilícito de madeira nas zonas rurais. Os dados referem-se ao ano de 2017.

O estudo identificou enorme heterogeneidade da violência. Os municípios mais violentos têm 15 vezes mais homicídios relativamente aos menos violentos. “Em termos proporcionais, a diferença entre os municípios mais e menos violentos corresponde à diferença entre as taxas do Brasil e as da Europa”, disse Daniel Cerqueira. Mais da metade dos homicídios de 2017 ocorreu em apenas 2,1% das cidades.

A concentração da violência não é obra do acaso. Com base nas informações do censo demográfico, o estudo do Ipea constatou um abismo de desenvolvimento humano entre os 20 municípios mais violentos e os 20 mais pacíficos. Nos municípios mais violentos, o perfil socioeconômico é muito similar ao dos países latino-americanos e africanos, com graves restrições de acesso à educação, ao desenvolvimento infantil e ao mercado de trabalho.

O cenário é desafiador. Em dez anos, a taxa média de homicídios foi de 30 para 41 por 100 mil habitantes no País. Mas “existe uma luz no final do túnel”, afirma o estudo, lembrando que 15 unidades federativas conseguiram reduzir o índice de criminalidade entre 2016 e 2017. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo, reduziram as taxas de homicídio por meio de uma boa organização policial e uma solução de homicídios acima da média nacional.

Outro caso de sucesso é o Estado da Paraíba, que, apesar da piora geral da violência observada no Nordeste, apresenta queda persistente dos homicídios desde 2011. “O que se constata é que mudar o Brasil de uma hora pra outra é impossível, mas mudar uma rua ou um território não é”, afirmou Daniel Cerqueira. Há experiências bem-sucedidas em Pernambuco, Espírito Santo e São Paulo. No ranking dos 20 municípios menos violentos, 14 são paulistas.

Ao relatar as experiências de sucesso, o Ipea fala em “políticas públicas qualificadas”. É um equívoco reduzir a segurança pública a policiamento ostensivo, com viaturas na rua. São Paulo, Brasília e Campo Grande, que lideram entre as cidades menos violentas, têm em comum a continuidade de uma política de segurança pública.

O Ipea lista três pilares fundamentais para obter a diminuição da violência. O primeiro é o planejamento de ações de prevenção social e de desenvolvimento infantojuvenil em famílias de situação de vulnerabilidade. O segundo refere-se à qualificação do trabalho policial, com mais inteligência e investigação efetiva. O terceiro pilar consiste no reordenamento da política criminal e no saneamento do sistema de execução penal, garantindo o controle dos cárceres pelo poder público. Sem esse controle, as prisões tornam-se “fonte dinamizadora das facções criminais e da criminalidade violenta de dentro e fora dos cárceres”, diz o estudo.

Com urgência, o País precisa de um novo patamar de segurança pública. Já se sabe, com bastantes evidências, o que deve ser feito. Não há razão para insistir no que deu errado.

O Estado de S. Paulo

A maioria e o governo

Não raro, o presidente Bolsonaro utiliza o argumento da maioria para justificar suas falas e ações. Diante de críticas e questionamentos, Jair Bolsonaro alega que ele não governa para grupos minoritários. A preocupação de seu governo seria atender aos anseios da maioria da população brasileira. Assim, aos descontentes com a atual administração caberia tão somente resignar-se, já que o Palácio do Planalto estaria firmemente disposto a defender a maioria e o que ele entende por seus valores.

Se a disposição do presidente Bolsonaro é estar em sintonia com a maioria da população brasileira, ele deve mudar o quanto antes suas falas e ações. A última pesquisa da XP/Ipespe mostra que a maioria não apoia alguns dos principais movimentos feitos pelo presidente da República. Por exemplo, 62% dos brasileiros são contrários a que o filho Eduardo seja indicado para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos.

A maioria dos brasileiros também desaprovou as falas do presidente no mês passado. Para 55% dos entrevistados, as falas do período – por exemplo, contestar os dados sobre o desmatamento da Amazônia ou atacar a memória do pai do presidente da OAB – foram inadequadas.

Quando questionados sobre o impacto das declarações polêmicas do presidente sobre a administração do País, 44% disseram que elas atrapalham muito e 28% disseram que elas atrapalham “um pouco”. Ou seja, 72% consideram que os dizeres do presidente prejudicam em alguma medida o País. Se o presidente quer governar tendo em conta avontade e os valores da maioria, deverá se emendar. A maioria dos brasileiros não aprova esse jeito do presidente.

O maior sintoma de que o presidente Bolsonaro não tem governado para a maioria da população é o crescimento do número de insatisfeitos, que hoje já são mais numerosos que as pessoas satisfeitas com o governo. A pesquisa da XP/Ipespe mostrou que a desaprovação do governo Bolsonaro cresceu três pontos porcentuais no último mês. Para 38% da população, o governo Bolsonaro é ruim ou péssimo. Já os que avaliaram como boa ou ótima a administração atual foram 33%, o menor índice até agora. A avaliação regular do governo Bolsonaro foi subscrita por 27% dos entrevistados.

Vale lembrar que, no segundo mês deste ano, 40% avaliavam o governo de Jair Bolsonaro como bom ou ótimo, e apenas 17% diziam que era ruim ou péssimo. Em seis meses, o panorama mudou. Agora, o maior grupo é o dos descontentes. Não condiz com a realidade, portanto, a insistência em dizer que Jair Bolsonaro governa para a maioria da população brasileira. As pesquisas de opinião indicam nitidamente que o modo pelo qual o presidente Jair Bolsonaro conduziu o País nos primeiros sete meses de governo agradou apenas a uma minoria.

Não há dúvida de que um presidente da República, procurando zelar pelo interesse do país, deverá em algumas ocasiões tomar decisões que poderão desagradar a parte considerável da população. Especialmente em situações de crise, há necessidade de remédios amargos, e o exercício responsável do poder está precisamente em não se guiar exclusivamente pelo critério da popularidade. No entanto, o crescimento da insatisfação com o presidente Jair Bolsonaro não tem relação com decisões difíceis tomadas por força de necessidades prementes do País. O que tem aumentado a insatisfação com o governo são falas e atos do presidente Bolsonaro absolutamente gratuitos, sem nenhuma outra motivação que seu capricho.

A seguir nessa toada, ficará consolidada uma situação bizarra. Ao contrário de governar para a maioria da população, conforme sua repetida promessa, o presidente Bolsonaro terá diante de si uma Nação de insatisfeitos, cada vez mais numerosos. E julgando dizer impropérios e provocações para uma minoria, como tem sido seu hábito, estará na verdade ofendendo e atrapalhando a maioria da população.

Em toda essa história, há uma deliberada confusão. Maioria de votos no segundo turno não é sinônimo, como pretende Jair Bolsonaro, de apoio majoritário para governar. Para ter esta maioria, não bastam falas polêmicas. É preciso um governo que tenha programas consistentes, que transmita confiança e esperança e que se dê ao respeito.

Folha de S. Paulo

E os militares?

Com atraso, Câmara instala comissão que analisará reforma previdenciária das Forças; custo de inativo da caserna é 17,9 vezes o de segurado do INSS

Só agora, depois de aprovada a reforma da Previdência dos servidores civis e dos trabalhadores da iniciativa privada, a Câmara dos Deputados instalou a comissão que analisará o projeto do Executivo que trata das pensões militares. O sinal parece pouco promissor.

A proposta que dormitava na Casa já provocara críticas quando o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), não por acaso lotado de quadros oriundos da caserna, a deu por conhecer em março.

Ali se evidenciava que a distribuição dos inevitáveis sacrifícios a serem feitos na mudança das aposentadorias poderia não se dar de maneira justa entre os segurados.

Verdade que há na norma em exame providências acertadas e necessárias. Entre elas desponta a extensão do tempo mínimo de serviço (de 30 para 35 anos) para a obtenção de benefícios e o aumento da alíquota de contribuição (de 7,5% para 10,5% dos proventos). Pensionistas também contribuirão, se o texto for aprovado.

Tais medidas, quando em vigor, implicariam economia de R$ 97 bilhões em uma década, o equivalente a pouco mais de um décimo do esforço imposto aos civis pelo que já se aprovou na Câmara. O projeto do Planalto, entretanto, pretende devolver com a outra mão o que tomaria com a dos cortes.

Para apaziguar o estamento militar, Bolsonaro fez incluir no texto benesses que, na prática, aniquilam o ganho para o Tesouro.

Entre outras, uma absurda paridade de vencimentos entre militares da ativa e da reserva. Com isso, o respiro orçamentário projetado com a reforma de fancaria cai para R$ 10,5 bilhões —em dez anos, cabe lembrar.

Ninguém discute que a carreira militar tenha peculiaridades e mereça algum tratamento à parte. Por outro lado, se de fato existem nela defasagens salariais e distorções acumuladas ao longo de décadas, uma reforma da Previdência seguramente não se afigura como momento adequado para corrigi-las.

Nenhuma consideração dessa ordem se apresentou na formulação das aposentadorias e pensões de civis. Ademais, nunca será demais recordar que o custo social da folha de inativos das Forças Armadas do país já se mostra desproporcionalmente elevado.

O regime previdenciário geral, que atende a algo como 30 milhões de segurados, gera o maior déficit em termos nominais, de R$ 194 bilhões em20i8. Os cerca de 380 mil reservistas e pensionistas das Forças, por seu turno, custamR$ 44 bilhões aos contribuintes. Cada beneficiário militar custa, em média, 17,9 vezes um do INSS.

A iniqüidade da proposta do Planalto é patente —e destoa do restante da reforma, que em geral abraça princípios corretos. Cabe ao Congresso corrigir ou, pelo menos, reduzir essa discrepância.

Folha de S. Paulo

Na contramão

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) persiste de modo imprudente na via do populismo automobilístico.

Na segunda-feira (12), durante a inauguração de trecho duplicado da BR-116 no Rio Grande do Sul, o mandatário voltou a imprecar contra a fiscalização eletrônica de velocidade nas estradas federais, prometendo acabar com parte dela.

“A partir da semana que vem não teremos mais radares móveis no Brasil. Essa covardia, de ficar no “descidão”, de ficar no final do “retão” alguém atrás do mato para multar vocês, não existirá mais”, discursou, em ataque ao trabalho da Polícia Rodoviária Federal (PRF), vinculada à pasta da Justiça.

Antes, a sanha presidencial já se dirigira contra os aparelhos fixos. No início de abril, Bolsonaro anunciou que não renovaria os contratos para monitoramento de velocidade das estradas federais.

A medida, no entanto, terminou barrada pela Justiça. Em julho, o governo fez um acordo com o Ministério Público Federal para instalar 2.278 radares em trechos críticos —número longe do suficiente para as mais de 8.000 faixas que necessitam de monitoramento.

À diferença do que ocorre com esse tipo de dispositivo, que conta com amarras contratuais, basta uma determinação do Executivo p ara que a PRF interrompa a fiscalização com os aparelhos móveis.

Sempre sob o pretexto de combater uma fantasiosa “indústria da multa”, a investida bolsonarista contra o controle de velocidade nas estradas vai na contramão das evidências empíricas e da recomendação de especialistas.

Nos trechos de rodovias federais com radares, por exemplo, a quantidade de mortes em acidentes caiu 21,7%, em média, após a instalação dos aparelhos. Verificou-se melhora em 72% dos casos.

O resultado positivo é esperável, pois o excesso de velocidade é apontado como a terceira causa de acidentes graves nessas vias.

No caso dos radares móveis, a PRF conta hoje com 299 dispositivos, com os quais fez, de janeiro de 2018 a julho deste ano, nada menos que 6 milhões de flagrantes de excesso de velocidade.

Além de enfraquecer a fiscalização, vale lembrar, o governo t incentiva o mau motorista, ao propor a ampliação, de20para40, do limite de pontos por multas que leva à suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Embora ainda seja escandalosa a quantidade de mortes nas estradas brasileiras (foram 37 mil em 2016), o número vem caindo nos últimos anos. Bolsonaro, no entanto, não parece preocupado com o risco de inverter a direção dessa curva.

Bancada do Cidadania na Câmara vota contra projeto de abuso de autoridade

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Os deputados federais do Cidadania votaram contra o chamado projeto de abuso de autoridade (PL 7596/17) por considerar que o texto é inadequado para tratar do problema, embora a legenda entenda ser necessário estabelecer limites para a ação de agentes públicos.

O texto aprovado em votação simbólica pela Câmara engloba atos cometidos por servidores públicos e membros dos três Poderes da República, do Ministério Público, dos tribunais e conselhos de contas e das Forças Armadas. 

O líder do partido na Casa, deputado federal Daniel Coelho (PE), criticou vários artigos da proposta, originária do Senado. Uma das restrições que o parlamentar fez à matéria foi quanto às penas, todas elas de prisão, previstas para as 37 ações que podem ser consideradas abuso, segundo o texto aprovado.

Mas na avaliação de Coelho, as tipificações constantes do projeto são, em sua maioria, corretas.

Daniel Coelho criticou a proposta

“É certo se ter, por exemplo, restrições quanto a se algemar, mas o problema desse texto é que à ação irregular de um policial, de um juiz, de um promotor ou de qualquer outro servidor público corresponde uma prisão. Qual é a reclamação que se ouve para justificar o apoio ao projeto? Que há prisões injustas. E aí a gente vai aprovar um projeto de lei com 45 artigos, todos eles estabelecendo que o servidor infrator deve ser preso?”, questionou.

Para Daniel Coelho, o projeto faria todo o sentido se as penas fossem administrativas, já que envolvem funcionários públicos.

“Seriam penas que poderiam chegar à expulsão do serviço público e mesmo a prisão, em vez de estabelecer uma regra pra sair prendendo todo mundo, sem entender que isso aqui é uma bomba giratória que vai pra todo lado depois”, observou.

O texto chega a colocar em questão a decisão do juiz, conforme salientou o deputado.

“A decisão do juiz pode ser sim ou não, mas ele não pode ser preso por causa dela. Ele tem que ser preso se colocou dinheiro no bolso para mandar prender alguém, se ele se corrompeu, se perdeu a linha da sua função, mas não por sua decisão”, disse.

Destaque

Marcelo Calero apresentou destaque

O Cidadania apresentou destaque, defendido pelo deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), que teve o objetivo de evitar o cerceamento do trabalho do Ministério Público. A maioria dos deputados, entretanto, votou contra a emenda.

Calero também falou sobre o PL do Senado. O parlamentar considerou “imprecisos” vários pontos do projeto e disse que o Cidadania estava preocupado em evitar que a matéria gerasse uma legislação que enfraquecesse as megaoperações do Ministério Público e da Polícia Federal e que fosse instrumento da impunidade, principalmente em relação a crimes de corrupção.

“Não queremos que se coloque a perder importantes investigações criminais, especialmente na seara da corrupção”, explicou.

Criminalização do caixa 2

Aprovado no Senado em junho, o texto prevê a criação do crime de caixa 2, de compra de votos e o aumento de pena para o crime de corrupção, tornando a prática hedionda em alguns casos. Atualmente considerada crime eleitoral e não penal, com penalidade inferior à aplicada a outros crimes e passível de prescrição no prazo de um mandato, a prática de caixa 2 em campanha eleitoral poderá ser tipificada como crime.

 Como não houve alteração na Câmara, a matéria segue para sanção presidencial.

 

 

 

 

 

 

 

Comissão convida ministro para falar sobre divulgação da cultura brasileira no exterior

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A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputado aprovou, nesta quarta-feira (14), convite ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para debater a política de divulgação da cultura brasileira no exterior.

De acordo com o requerimento, de autoria do deputado federa Marcelo Calero (Cidadania-RJ), o auxiliar também deve explicar a ideia de criação do Instituto Guimarães Rosa, proposta pelo ministro para promover “a língua, a cultura e a produção criativa” do País no exterior.

Segundo o parlamentar, o ministro anunciou que o Instituto deve ter unidades nas cidades de Nova Iorque, Londres, Tel Aviv, Luanda e Lima.

“No entanto, ainda são desconhecidas do público informações acerca de seu programa de trabalho e/ou cronograma de atividades”, disse Calero, no convite ao ministro.

A presidente da Comissão de Cultura, deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), ainda vai marcar a data da audiência.

CPI do BNDES: Paula Belmonte critica diferença de tratamento do banco a empresários

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A deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) estranhou que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tenha agilizado aporte de recursos em poucos dias para o grupo JBS em 2008 e, no mesmo ano, tenha atendido tão tardiamente o frigorífico Independência a ponto de levar a empresa a pedir recuperação judicial, que desaguou no fim de suas atividades e na demissão de 12 mil funcionários. A parlamentar expressou sua indignação durante depoimento do empresário Roberto Graziano Russo à CPI que investiga ilegalidades na conduta do banco.

O Independência acertou com o BNDES uma participação da instituição de 21% no capital da empresa. Naquela época, o banco já fazia parte da composição societária de muitos frigoríficos, o que espantou muitos deputados, já que o negócio da estatal não é proteína animal. Pelas ações do frigorífico de Graziano, o BNDES iria pagar R$ 400 milhões, mas entregou aos empresários apenas R$ 250 milhões. Alegou que não tinha dinheiro para honrar o restante do contrato. Assim, o Independência afundou.

“Existem coisas legais e morais, e essas coisas não foram morais. Precisamos trazer a moralidade e resgatar os objetivos do BNDES”, disse Paula Belmonte ao avaliar os eventos ocorridos no período investigado pela CPI – de 2003 a 2015, como aqueles gerados pela política de campeões nacionais que vitimou o frigorífico de Graziano.

A deputada salientou que o BNDES visa o desenvolvimento econômico e social e não o lucro.

“Mesmo que visasse, os juros subsidiados para o JBS não foram lucrativos”, disse.

Graziano criticou a política de campeões nacionais dos governos Lula e Dilma. Disse que ela gerou perdedores nacionais e que ele era um deles.

“Quando o governo arbitra e usa o dinheiro dele para criar um campeão, todos os outros serão perdedores”, afirmou.

Paula Belmonte perguntou por que o BNDES concordou em investir R$ 400 milhões no Independência se a empresa já estava endividada. O empresário respondeu que o frigorífico valia R$ 2,2 bilhões e que não se tratava de empréstimo.

“Se o BNDES tivesse liberado o dinheiro antes, isso teria mudado o destino da empresa”, lamentou. Enquanto faltava para uns, sobrava para outros, como o grupo JBS, disse Graziano.

Eliziane Gama participa da Marcha das Margaridas e defende políticas pública para mulheres

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A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA), participou nesta terça-feira (13), em Brasília, da Marcha das Margaridas, manifestação que ocorre desde 2000 e reúne mulheres do campo e movimentos sociais femininos que lutam em defesa de temas como práticas agroecológicas, políticas de educação e saúde.

“A marcha é uma caminhada histórica realizada a cada quatro anos para dar um grito pelas mulheres por mais participação feminina no mercado de trabalho, por mais autonomia e sobretudo pelo combate à violência contra as mulheres do campo e também das áreas urbanas”, disse senadora.

Ela lembrou que a Marcha das Margaridas é uma alusão a “uma mulher trabalhadora, a uma mulher de fibra, a uma mulher de garra” e que foi vítima da violência no campo com seu assassinato de uma forma brutal. Maria Margarida Alves foi assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários de Alagoa Grande, na Paraíba. Margarida era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade.

Eliziane exaltou também a participação das mulheres maranhenses que vieram em 80 ônibus para participar da marcha. A parlamentar parabenizou o esforço dessas mulheres que fizeram rifas e trabalharam duro para conseguir chegar em Brasília.

“Só do nosso estado, o Maranhão, são cerca de 3 mil mulheres participantes desse evento. Os meus cumprimentos a todas essas mulheres, a mulher do campo, a mulher urbana, a mulher progressista, que estão numa ação e numa missão importante aqui em Brasília”, afirmou.

Previdência: Da Vitória defende inclusão de bombeiros e policiais militares no projeto das Forças Armadas

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Os policiais e bombeiros militares precisam ter os mesmos direitos que são dados às Forças Armadas. Precisamos fazer justiça aos profissionais que trabalham diuturnamente em defesa dos cidadãos brasileiros. A declaração é do deputado federal Da Vitória (ES), vice-líder do Cidadania na Câmara, durante a sessão de instalação, nesta quarta-feira (14), da Comissão Especial que vai debater o Projeto da Previdência Social dos Militares das Forças Armadas (PL 1645/2019).

A iniciativa do Poder Executivo trata da idade e do tempo de contribuição para aposentadoria e do plano de carreira.

Os policiais e bombeiros militares não estão contemplados nesta proposta, que começa a ser discutida na Casa, nem na PEC 6/2019, da Reforma da Previdência Social, aprovada em dois turnos pelos deputados e que está sob a análise do Senado Federal.

“O Parlamento precisa fazer Justiça a quem faz o enfrentamento da violência nas ruas e defende a vida dos cidadãos deste país. O que defendemos é que seja concedida a mesma simetria de tratamento aos bombeiros e policiais miliares”, reforçou o coordenador da Bancada do Espírito Santo no Congresso Nacional.

Consenso

Segundo o deputado, já existe um consenso, inclusive da parte do governo, em torno da apresentação de uma emenda para incluir na Comissão Especial essas categorias no projeto. “Como profissional da PM [Polícia Militar] e representante do meu estado neste Casa, darei todas as minhas energias para a aprovação desta emenda tão importante para os bombeiros e policiais militares”, afirmou Da Vitória, que é integrante do colegiado. 

Na reunião de instalação do colegiado foram escolhidos como presidente e relator, respectivamente, os deputados federais José Priante (MDB-PA) e Vinicius Carvalho (MDB-MG).

A partir da próxima sexta-feira (16), começará a contar o prazo de cinco sessões para apresentação de emendas ao texto da Reforma dos Policiais das Forças Armadas.