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“Brasil é motivo de chacota” por indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixada, diz Marcelo Calero

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Marcelo Calero: “O Brasil é motivo de chacota”

Deputado critica a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada nos EUA e diz que presidente enfraquece instituições

Thaís Moura – Correio Brazieliense

O deputado federal, diplomata e ex-ministro da Cultura Marcelo Calero (Cidadania-RJ) criticou a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, para a embaixada brasileira nos Estados Unidos. “O meu conselho para o Eduardo Bolsonaro é que ele se prepare para o concurso do Instituto Rio Branco”, disse Calero, em entrevista ao CB Poder, uma parceria do Correio com a TV Brasília. O Cidadania recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a indicação. Calero ainda criticou o projeto de lei sobre abuso de autoridade e as recentes medidas do presidente da República em relação à cultura. Em contraponto, o ex-ministro elogiou alguns aspectos da pauta econômica do governo, como o encaminhamento das reformas da Previdência e tributária, e a Medida Provisória (MP) da Liberdade Econômica.

A indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos EUA passa no Senado?

Eu espero que não passe, que o Senado cumpra seu papel constitucional. Meu partido ingressou com ação no STF contra a indicação. O ministro Lewandowski entendeu que o partido não tinha legitimidade para propor uma ação sobre o tema. Estamos, agora, na fase de recurso. Precisamos deixar claro que se trata de nepotismo, embora o presidente venha usando uma retórica para dizer que não é. É um caso inédito na democracia, não apenas no Brasil. Isso acontece em ditaduras. O Itamaraty é uma das instituições mais respeitadas da República, pelas razões que sabemos: um corpo técnico extremamente bem formado, que tem sempre compromisso com os interesse nacionais, e não dos governos de plantão. O Estado não serve para atender aos caprichos e ao voluntarismo presidencial.

Na sua avaliação como diplomata, como o Brasil está sendo visto no exterior por essa indicação e pelas declarações do presidente na área do meio ambiente?

O Brasil está sendo motivo de chacota internacional. Credibilidade você demora muito tempo para construir, mas para destruir é num passe de mágica. O presidente está arrumando confusão e conseguindo se antagonizar com parceiros históricos.

O presidente tem dito que Eduardo está se preparando para o posto. É possível se preparar para ser embaixador dos EUA “a jato”?

Meu conselho para Eduardo Bolsonaro é que ele se prepare para o concurso do Instituto Rio Branco. Ele pode começar a se preparar agora. Inclusive, posso dar algumas dicas sobre o que ele pode ler e estudar.

Nesses oito meses, o que houve de positivo no governo Bolsonaro?

Nosso partido apoia a reforma da Previdência, entendendo que é necessária para o país. Apoiamos também a MP da Liberdade Econômica. Nós temos a reforma tributária sendo avaliada também, eu estou na comissão da reforma tributária, inclusive. Há uma pauta econômica que pode realmente destravar o Brasil, mas de nada adianta esse esforço da equipe econômica se o presidente não colabora, criando um clima de pacificação, de concórdia.

Como vê o projeto de lei do abuso de autoridade?

Meu partido se posicionou muito fortemente contra o projeto. Entendemos que é importante discutir abuso de autoridade, que ocorre quando um agente público se vale de algum subterfúgio legal e determina uma investigação que não cabia, ou uma penalização que não seja aplicável, para constranger o cidadão. Mas, da maneira como o projeto foi construído, pode servir como uma ferramenta de impunidade, porque você coloca juízes, promotores e delegados em uma posição defensiva extrema.

A classe jurídica acredita que a lei é um instrumento de enfraquecimento da Lava-Jato.

Eu entendo que serve a esse propósito. Pode até não ter essa intenção em sua origem, mas acaba servindo a esse objetivo. Entendemos que é uma discussão relevante, mas que da maneira que foi feita, vai trazer prejuízos à Lava-Jato.

O artigo 30º pune o início da investigação “sem justa causa fundamentada”, um conceito subjetivo. Isso é grave?

É muito grave. Não é à toa que meu partido fez um destaque para suprimir esse artigo do projeto. Vários outros artigos contêm imprecisões como essa, mas esse nos pareceu o pior de todos. O que é justa causa, qual é esse conceito? Você deixa para uma interpretação pessoal e faz com que os membros do Ministério Público e da magistratura comecem a pensar duas vezes antes de agir. E você os investiga justamente para ter elementos que possam levar à persecução penal.

Na sua avaliação, como está o tema “cultura” no governo Bolsonaro?

Esse é um dos piores aspectos da política do Bolsonaro. Ele cria inimigos imaginários e passa a combatê-los. O presidente vê a cultura como adversária. O setor de cultura é responsável pela geração de milhares de empregos no Brasil, e tem um potencial enorme, porque a nossa população é extremamente criativa, o que resulta de sua própria diversidade. Se a gente pensar na economia do século XXI, em todos os negócios que são criados a partir da trajetória cultural de um país, e imaginar que o Brasil vai ficar atrás novamente, isso é muito ruim. Hoje, inclusive, por determinação do presidente, o ministro Osmar Terra revogou um edital, tirando filmes com a temática LGBT do financiamento da Ancine. É uma censura prévia. A gente não pode flertar com essas coisas, é um indício muito grave do enfraquecimento da nossa democracia, que não é consolidada. Essa censura que ele está fazendo na cultura é típico de ditaduras, querendo direcionar a produção cultural de um país. Nem o PT, que tem um viés autoritário, ousou chegar a tanto, inclusive queriam criar uma agência para regular o setor, mas desistiram. O presidente enfraquece as instituições, a Ancine, a Receita Federal. O presidente da República quer nomear o delegado da Receita Federal em Itaguaí. Qual interesse ele tem nisso?

Qual é sua avaliação sobre a transferência do Coaf para o Banco Central?

Não faço nenhum comentário desairoso em relação ao presidente do BC, pessoa em quem eu confio, nem ao servidor que foi colocado como o presidente dessa nova unidade. Agora, não é oportuno fazer esse rearranjo no momento em que o Coaf estava investigando o filho do presidente. Quer dizer que agora o Brasil está refém dos interesses da família Bolsonaro? Aí você começa a querer intervir também na Polícia Federal. Ou seja, é um todo muito grave que significa enfraquecimento das instituições.

Privatizações: Governo anuncia venda dos Correios e outras 16 empresas estatais

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Governo planeja vender Correios e mais 16 estatais

Governo anuncia planos para privatizar 17 empresas estatais

MANOEL VENTURA, BRUNO ROSA E ANA PAULA RIBEIRO – O GLOBO

O governo anunciou ontem a ampliação do seu programa de privatizações e concessões, que incluirá também presídios, creches e parques nacionais. No total, 17 empresas fazem parte da lista de desestatizações, que inclui novos projetos e ativos que já estavam na carteira do governo. A intenção é vender Eletrobras, Telebras, Casa da Moeda, Porto de Santos, entre outras empresas. Além disso, o governo vai iniciar estudos para privatizar a Petrobras, medida defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

O anúncio foi feito no Palácio do Planalto após uma reunião do presidente Jair Bolsonaro com o conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que reúne as concessões e privatizações do governo federal. Foram incluídas nove empresas no programa, além de oito para as quais já havia previsão de privatização. Também serão vendidas 20,8 milhões de ações que a União detém no Banco do Brasil, chamadas de ações excedentes. O objetivo, nesse caso, é arrecadar cerca de R$1 bilhão.

O BNDES vai conduzir estudos para indicar se há condições no mercado para concretizar a venda das estatais. As análises também poderão recomendar a manutenção da empresa ou a sua extinção.

— Já abrimos estudos que envolvem Telebras, Correios, Porto de Santos, Lotex, Datraprev, Serpro, Ceagesp, entre outras — citou o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

PARQUES E PRESÍDIOS

O governo citou a concessão de creches e até de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), mas sem citar prazo.

— Incluímos creches, presídios e unidades socioeducativas. Podemos incluir UPAs. Estamos abrindo essas possibilidades — disse o ministro.

Segundo Lorenzoni, a carteira do PPI está estimada em R$1,3 trilhão em investimentos, e a estimativa do governo é passar para R$ 2 trilhões com o anúncio de ontem.

O Palácio do Planalto informou que estudará a estruturação de projetos-piloto de unidades prisionais nos estados. A quantidade de presídios incluída na proposta não foi detalhada. Em nota, o governo cita a superlotação, necessidade de criação de vagas e a baixa capacidade de investimentos dos estados para ampliar e gerir a infraestrutura necessária.

Foram incluídas no programa as concessões do Parque Nacional de Lençóis Maranhenses, do Parque Nacional de Jericoacoara e do Parque Nacional do Iguaçu. O último está com a iniciativa privada, mas passará por novo leilão.

Técnicos do governo afirmam que as privatizações não devem ser concluídas este ano. E há dúvida sobre a atratividade de algumas empresas.

A Telebras, por exemplo, acumula prejuízos, mas ganhou fôlego com o lançamento de um satélite cuja capacidade é dividida com o Ministério da Defesa. Segundo fontes, dificilmente esse ativo seria privatizado porque o governo conta com ele para levar adiante um programa de internet em locais de difícil acesso e por causa do uso pelas Forças Armadas.

A Lotex tenta ser vendida desde 2018. Primeiro, o governo esperava vender esse monopólio (só a União pode explorar loterias) por R$ 1,4 bilhão. Depois de aprofundar estudos, a equipe econômica reformulou regras, baixou a previsão de receita para R$ 600 milhões e, mesmo assim, não houve interessado.

A privatização dos Correios também deve demorar, pois precisa do aval do Congresso. A empresa tem monopólio dos serviços postais e do correio aéreo nacional (serviço postal militar) assegurado pela Constituição.

— A privatização dos Correios passa também, segundo decisão do Supremo (Tribunal Federal), pelo Congresso Nacional. É um processo longo, não é rápido — afirmou o presidente Jair Bolsonaro, antes do anúncio das empresas.

Enquanto isso, a privatização da Eletrobras pode finalmente avançar no Congresso O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que vai se empenhar para votar o projeto o mais rápido possível. Maia e Guedes se reuniram ontem com o ministro de Minas de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e líderes de partidos políticos para tratar do assunto.

— É importante mostrar que os recursos necessários do sistema Eletrobras estão sendo retirados das despesas que podem mudar a vida das pessoas — disse Maia.

— Vamos trabalhar para que seja o mais rápido possível, de forma organizada, para que facilite a tramitação.

Já Guedes afirmou que, se a estatal não conseguir manter o ritmo de investimentos, vai “colapsar”: — Essa empresa está lutando para viver, como está acontecendo com todas as estatais.

Para especialistas, os planos são positivos e devem ter impacto na economia no médio e longo prazos.

— É mais uma sinalização liberal que a equipe econômica quer implementar. É uma notícia positiva para os investidores e para o ajuste fiscal. É uma notícia de execução no médio e longo prazos — afirma Jorge Simão, superintendente de distribuição do banco Haitong.

Para o economista Armando Castelar, da FGV, a Eletrobras é a mais atraente da lista e tem melhorado resultados:

— Não vão faltar interessados. Essa é a principal empresa dentro do plano do governo.

Castelar pondera que o governo terá um desafio adicional na venda de companhias que têm a União como principal cliente, como Casa da Moeda, Telebras, Serpro, entre outras. Segundo ele, será preciso definir se o governo vai manter os contratos com essas empresas após a venda.

Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, lembra que o mais importante é fazer a modelagem correta para vender os ativos, que devem gerar interesse internacional. Ele cita como as empresas mais atraentes Eletrobras, Correios, Telebras e Lotex:

— A Eletrobras deve sair em 2020 e parte dos outros ativos em 2021. Se conseguir nesse prazo, já será um ganho.

Daniel Coelho propõe a Rodrigo Maia que Câmara acompanhe onda de incêndios na Amazônia

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O líder do Cidadania na Câmara, deputado federal Daniel Coelho (PE), propôs nesta quarta-feira (21) que a Casa crie uma comissão independente para acompanhar a situação ambiental na Amazônia que enfrenta uma onda de incêndios.

O parlamentar anunciou que formalizará um pedido ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para a constituição de uma comissão externa, inclusive, para visitar a região atingida no Norte do país.

Apenas nesta semana, 68 queimadas foram registradas em terras indígenas e áreas de conservação.

O País registrou, entre janeiro e o último dia 19 de agosto, um aumento de 83% das queimadas em relação ao mesmo período de 2018, com 72.843 focos de incêndios até o momento.

Coelho é líder do partido na Câmara

“Este tema deveria estar acima desta disputa entre governo e oposição, entre esquerda e direita. Espero que a casa se debruce de forma técnica e cientifica sobre este assunto. Faço aqui um pedido para criação de uma comissão independente para que produza um relatório do que ocorreu no passado e do que ocorre hoje com o desmatamento na região amazônica”, disse o líder do Cidadania na Câmara.

Coelho disse que a questão ambiental deve ser debatida sob a ótica da ciência, sem ideologias.

“Precisamos de um debate no campo ambiental que afaste esta loucura de guerra ideológica sobre o tema. Não dá para brigar com a ciência. Não se pode brigar com os fatos. É inegável que temos um avanço do desmatamento no Brasil”, acrescentou.

Nova CPMF: Equipe econômica defende alíquota de 0,22%, diz jornal

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Equipe econômica defende ‘nova CPMF’ com alíquota de 0,22%

Estratégia – Imposto sobre transações financeiras seria uma forma de compensar a redução nos tributos sobre a folha de pagamentos, que faz parte da proposta tributária a ser apresentada pelo governo; “se for baixinho”, não haverá distorção na economia, diz Paulo Guedes

Adriana Fernandes Eduardo Rodrigues – O Estado de S. Paulo

Apesar da forte rejeição do Congresso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu apoio público ontem à criação de um imposto federal sobre transações financeiras – nos moldes da extinta CPMF –, como forma de compensar a redução nos impostos cobrados das empresas sobre a folha de pagamentos, medida que faz parte da proposta de reforma tributária que vai enviar ao Congresso.

O Estado apurou que a Contribuição Social sobre Transações e Pagamentos (CSTP), como foi batizado o novo imposto, deverá ter uma alíquota mais baixa, de 0,22%. A ideia é criar uma “conta investimento” para isentar a cobrança da nova contribuição de aplicações na Bolsa, renda fixa e poupança, entre outras.

Hoje, a contribuição previdenciária sobre a folha de pagamentos é de 20%. Pelos cálculos da área econômica, a alíquota cairia para algo entre 11% e 12%. A proposta é ir subindo com a desoneração até atingir 100% da folha. O objetivo do governo é que a medida estimule a geração de empregos formais com a diminuição dos encargos.

“Podemos propor uma desoneração forte na folha de pagamentos a troco desse imposto (CSTP). Se a classe política achar que as distorções causadas por esse imposto são piores do que os 30 milhões de desempregados sem carteira de trabalho, eles decidem”, afirmou Guedes após reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Se for baixinho (o imposto), não distorce tanto (a economia), mas essa vai ser uma opção também da classe política.”

O movimento do ministro foi considerado importante, porque Maia é uma das maiores forças de resistência ao tributo. Até agora, a avaliação corrente era a de que a proposta de uma nova CPMF fosse patrocinada apenas pelo secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, ferrenho defensor de um tributo para bancar a desoneração dos salários e estimular o emprego.

Os críticos da proposta se apoiam nas declarações do presidente Jair Bolsonaro de que não aceita a CPMF. A equipe econômica, porém, aposta que vai conseguir mostrar ao presidente a importância da contribuição para reduzir o desemprego, já que haveria a desoneração da folha.

IVA

Se não houver apoio, a alternativa em estudo é elevar em cinco a seis pontos porcentuais a alíquota projetada para o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que será criado com a reforma no lugar de tributos que incidem sobre o consumo. O governo vai insistir na desoneração da folha e avalia que tem conseguido aumentar o apoio dos empresários à proposta.

Em evento em São Paulo, Cintra, deu a dica ao garantir que o novo tributo não “pode e não deve incidir em transações no mercado financeiro”. Cintra trabalha para diferenciar a CSTP da antiga CPMF. Para uma fonte da área econômica, “uma colherinha” de CSTP fará bem ao emprego.

Senado aprova MP da Liberdade Econômica sem regras de trabalho aos domingos

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O Senado aprovou nesta quarta-feira (21) a Medida Provisória 881/2019, conhecida como MP da Liberdade Econômica. O texto traz medidas de desburocratização e simplificação de processos para empresas e empreendedores. Durante a análise no Congresso, foram incorporadas alterações em regras trabalhistas, o que gerou críticas de parlamentares. A aprovação no Senado se deu após acordo para suprimir do texto artigos que acabavam com a restrição ao trabalho nos domingos. O projeto decorrente da medida (PLV 21/2019) ainda terá que passar pela sanção presidencial.

De acordo com a MP, se observadas normas de proteção ao meio ambiente, condominiais, de vizinhança e leis trabalhistas, qualquer atividade econômica poderá ser exercida em qualquer horário ou dia da semana. Mudanças feitas pelo Congresso garantem esse funcionamento inclusive em feriados, sem cobranças ou encargos adicionais.

O texto inicial também dispensou de licença prévia do poder público as atividades de baixo risco para sustento próprio ou da família. Os parlamentares foram além e estenderam a regra a todos os empreendimentos de baixo risco. Caso a classificação das atividades de baixo risco não seja prevista em lei estadual, distrital ou municipal específica, esse ato caberá ao Executivo.

Pontos polêmicos

Vários trechos que haviam sido incluídos pelo relator da comissão mista que analisou a medida, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), tiveram que ser retirados na Câmara. A preocupação era de que as mudanças contrariassem a proibição do STF (Supremo Tribunal Federal) de inclusão de temas estranhos em medidas provisórias, conhecidos como “jabutis”.

Com isso, o texto, que tinha sido enviado pelo Executivo com 19 artigos e saído da comissão com 53, foi aprovado pela Câmara com 20 artigos. Entre as alterações retiradas na Câmara estão a isenção de multas por descumprimento da tabela de frete e mudanças nas regras de farmácias, por exemplo. Ainda assim, outros pontos incluídos na comissão foram mantidos pela Câmara.

Um deles foi o fim das restrições de trabalho aos domingos e feriados previstas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Pelo texto aprovado na Câmara, o empregador só seria obrigado a conceder folga aos domingos a cada quatro semanas e não precisaria pagar o domingo ou feriado trabalhado em dobro, se determinasse outro dia para folga compensatória.

A regra gerou polêmica e, após um acordo anunciado pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), foi retirada do texto por Davi Alcolumbre, por não ter relação com o tema inicial da MP. A decisão foi elogiada por José Serra (PSDB-SP), que disse considerar “temerário” forçar o trabalho aos domingos, dia que os trabalhadores têm para a convivência com a família.

Renan Calheiros (MDB-AL) e Fabiano Contarato (Rede-ES) também criticaram a inclusão de matérias estranhas à medida. Contarato chamou as mudanças de “contrabando legislativo”. Ele foi o autor da questão de ordem para que o trabalho aos domingos fosse retirado do texto pela Presidência da Casa.

Tempo escasso

O tempo escasso para que os senadores discutissem a medida foi alvo de críticas de Paulo Paim (PT-RS), Alvaro Dias (Pode-PR) e Roberto Rocha (PSDB-MA). Na prática, o Senado ficou impedido de fazer mudanças por meio de emendas ao texto porque não haveria tempo para que a MP voltasse à Câmara.

Carteira digital

Outras mudanças que têm relação com os trabalhadores foram aprovadas pelo Senado. Uma delas é a criação da carteira de trabalho digital, com os registros feitos no sistema informatizado do documento. Bastará ao trabalhador informar o CPF para o empregador realizar os registros devidos, aos quais o empregado deverá ter acesso em 48 horas.

O texto acaba ainda com a exigência de afixação, em local visível, do quadro de horários dos trabalhadores. O registro de entrada e saída, por sua vez, será exigido somente de empresa com mais de 20 funcionários. Atualmente, vale para as empresas com mais de dez empregados.

Também foi aprovada a autorização expressa para o registro de ponto por exceção à jornada regular de trabalho, que não estava no texto original do Executivo. Nesse regime, horário de chegada e saída do funcionário só é registrado se há horas extras, atrasos, faltas e licenças. Previsto em portarias do extinto Ministério do Trabalho, o registro por exceção era considerado irregular pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). A adoção desse sistema será permitida por acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho.

O texto aprovado também altera o Sistema de Escrituração Digital de Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), sistema digital que obrigou os empregadores (empresa ou pessoa física) a prestar todas as informações referentes a seus funcionários. O sistema havia sido extinto pela comissão mista, mas o texto aprovado pela Câmara e pelo Senado prevê a substituição por um sistema simplificado.

Simplificação

Todas as pessoas e empresas terão o direito de arquivar documentos por meio de microfilme ou por meio digital, conforme regras que devem ser estabelecidas em regulamento. Esses documentos terão o mesmo valor que os documentos físicos para todos os efeitos legais e para a comprovação de qualquer ato de direito público.

A MP 881/2019 incorpora trechos do projeto de lei de conversão da Medida Provisória 876/2019, que perdeu a vigência, e simplifica procedimentos de registro de empresas em juntas comerciais. Uma das novidades é o registro automático de atos constitutivos, de suas alterações e extinções independentemente de autorização governamental. A autenticação poderá ser feita em cartório ou pelo servidor da junta por meio de comparação com o documento original e pode ser dispensada quando o advogado ou o contador da parte interessada declarar a autenticidade da cópia.

Em relação aos prazos para obtenção de licenças, alvarás e quaisquer outras liberações pelo poder público, a medida determina que seja informado um prazo para análise do pedido. Se depois de passado o prazo não houver manifestação, o pedido será considerado atendido. Isso se aplica somente aos órgãos federais, exceto se houver delegação para estados e municípios ou se o ente federativo decidir seguir a regra.

Também na esfera federal há exceções: matéria tributária, registro de patentes, se envolver em compromisso financeiro da administração pública ou se houver objeção expressa em tratado internacional. Estão de fora, ainda, os prazos para licença ambiental.

Apesar dessa exceção para as licenças ambientais prevista no texto, senadores como Eliziane Gama (PPS-MA) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmaram que a MP coloca em risco o meio ambiente. Randolfe informou que seu partido apresentará um projeto para corrigir esse erro. (Com informações Agência Senado)

William Waack: Bolsonaro e os dentes da Lava Jato

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O instinto de Bolsonaro de proteger a família e a prole o está levando a ajudar um lado na formidável briga sobre quem vai controlar as decisões das esferas políticas. No caso, atuando contra os pedidos explícitos de organização que foi tão importante na eleição dele, a Lava Jato.

A ira inicial do presidente é voltada contra órgãos como Receita ou Coaf que ele mesmo colocou sob a suspeita de motivação política ao investigar familiares dele. É isso mesmo, dizem ministros do Supremo. Sob o ímpeto investigatório (jacobinista, inquisitorial, autoritário ou ilegal, dependendo do ministro do Supremo) da Lava Jato, órgãos de fiscalização e controle excederam seus limites constitucionais.

Diálogos hackeados de expoentes da Lava Jato reforçam ainda mais essas percepções sobre a atuação política da força- tarefa – não importa mais se os diálogos são autênticos, se servem como provas, se configuram ou não abusos ou mesmo crimes por parte dos investigadores. Eles são percebidos como a cereja no bolo quando se afirma que juízes, procuradores e delegados se converteram numa espécie de “partido político” com o intuito declarado de influenciar os rumos gerais da política brasileira (seja qual for a justificativa deles).

Partes relevantes do Supremo e do Legislativo se reorganizaram para enfrentar o que consideram ser uma ação política, por parte da Lava Jato, que estava levando (na visão desses atores) ao “emparedamento” dessas instituições, controladas desde fora pela campanha anticorrupção. É muito relevante o fato de o Legislativo ter chamado a si a tarefa de coibir a atividade dos investigadores, por meio do PL do Abuso de Autoridade, e o STF está sentado no material com que pretende (as conversas hackeadas) encurralar seus críticos entre os aguerridos procuradores.

Bolsonaro tem de sancionar ou vetar itens da lei do abuso de autoridade, descrita pela Lava Jato como uma reação das “forças das trevas” que querem escapar incólumes de investigações. Lei que, de outro lado, é caracterizada por nutrido grupo de políticos e juristas como necessária “freada de arrumação” para recompor um mínimo de respeito à norma jurídica ao se combater crimes. A situação coloca o presidente como árbitro de assunto que o interessa diretamente do ponto de vista pessoal (ele acusa a Receita e o Coaf, por exemplo, de abuso), mas também dono de uma poderosa ferramenta política para enfraquecer a única sombra no momento sobre a própria popularidade, a do ex-juiz Sérgio Moro, herói da Lava Jato.

É uma situação de precário e perigoso equilíbrio. Os órgãos de Estado de fiscalização e investigação acham que a lei do abuso contraria o combate ao crime organizado, que depende da troca de informações sigilosas protegidas por lei ou que só podem ser acessadas por ordem judicial (que procuradores se esmeraram em driblar). Legislativo e parte do STF acham que os instrumentos para combater ilícitos são suficientes, e o resto é abuso.

Neste exato momento Bolsonaro está conseguindo simpatias do Legislativo e da classe política, da qual depende para a aprovação de qualquer legislação relevante, sem que o público o perceba ainda como uma figura da qual a Lava Jato já está exigindo postura decisiva em seu sentido. Moro já formulou quais vetos gostaria que o presidente exercesse ao apreciar a lei do abuso de autoridade, ou seja, o prestígio do ministro da Justiça está em jogo. Bolsonaro não tem como agradar a todos.

Está criado um interessante paradoxo na política brasileira: eleito em boa parte como efeito da Lava Jato, Bolsonaro se sente hoje tão mais forte quanto menos dentes afiados ela tiver. (O Estado de S. Paulo – 22/08/2019)

Cristiano Romero: O acordo entre Brasília e São Paulo

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O Brasil está longe de resolver problemas estruturais de sua economia, o principal deles, como financiar o Estado de maneira não inflacionária. Esta é a equação jamais resolvida, a que determina todo o resto. Apesar disso, depois de o país sofrer entre 2014 e 2016 uma das mais longas recessões de sua história, Brasília e São Paulo fecharam acordo tácito: o centro do poder trabalha rápida e incessantemente para aprovar reformas institucionais e a matriz empresarial e financeira da nação assegura condições financeiras razoáveis que permitam à economia respirar durante a “transição”.

As reformas, como a da Previdência, se destinam a garantir que, no futuro próximo, o setor público seja financiado pelos tributos que União, Estados e municípios arrecadam, tornando desnecessário ao Tesouro Nacional endividar-se para pagar as despesas. Em maio de 2016, quando a então presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment, firmou-se um consenso entre Brasília e São Paulo: o grave desequilíbrio das finanças públicas é a principal causa da ruína do país e, se nada for feito, a própria democracia, reconquistada há pouco mais de 30 anos, estará em risco.

Vice de Dilma, Michel Temer assumiu o poder sem ter recebido um só voto das urnas. Não há nada de errado nisso, é assim em várias democracias, mas, então, seria o caso de se indagar: com que capital político ele convencerá o Congresso Nacional a aprovar mudanças institucionais de que o Brasil tanto necessita para evitar o caos? Ademais, seu mandato era tampão. Considerando que o afastamento definitivo de Dilma só se deu em agosto de 2016, Temer teve dois anos e cinco meses para governar.

Na política nacional, as coisas funcionam mais ou menos assim: para chegar à Presidência, o sujeito precisa, grosso modo, de algo perto de 60 milhões de votos; eleito e a bordo do apoio da maioria dos que votaram no pleito, ele possui capital político suficiente para levar sua agenda ao Congresso e aprová-la; na hipótese de chegar lá porque o titular caiu (caso de Dilma), mesmo desconhecido da maioria dos viventes (Temer), seu capital político será proporcional ài extensão da “terra arrasada”.

Temer subiu a rampa do Palácio do Planalto sob a acusação de ter liderado golpe de Estado contra a antecessora, responsável, em última instância, por sua ascensão ao poder. O consenso, porém, que lhe permitiu governar resultou da penosa situação econômica que Dilma teimosamente produziu. Naquelas circunstâncias, era como se Temer tivesse autorização extraordinária para, inclusive, acabar com o sossego de vacas sagradas da República.

Nota do redator: quando dois emissários de Lula procuraram Fernando Henrique Cardoso durante a fase aguda da crise do mensalão, o ex-presidente lembrou-lhes que, para suceder, um processo de impeachment demanda duas pré-condições – o alarido das ruas e a maioria de votos no Parlamento -; não havia em 2005 nenhum desses pré-requisitos para tirar o petista do cargo; em 2016, contra Dilma, sobravam.

Sabedor da fugacidade de seu capital político, Temer aprovou em poucos meses medidas duríssimas, o oposto do que a presidente deposta vinha fazendo e duas mudanças “impensáveis” na institucionalidade brasileira: a criação de um teto para a expansão do gasto público e a reforma da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Teria aprovado a reforma da Previdência, tinha votos para isso, mas foi abatido, em maio de 2017, pelo escândalo do diálogo embaraçoso com um dos donos da JBS. O capital do ex-presidente esvaiu-se ali e, até o fim do mandato, seu expediente no Planalto Central resumiu-se a lutar para não ser deposto. Até seu ocaso, nada mais relevante foi apreciado pelo Congresso.

A transformação de Temer num zumbi não rompeu o pacto de Brasília com São Paulo. Numa demonstração de que o mercado vive principalmente de expectativas, as boas condições financeiras produzidas pelo acordo tácito foram mantidas porque a essência do consenso criado no pós-Dilma ainda é hegemônico. Não há espaço, neste momento, para uma agenda esquerdista, que defenda o estatismo, os privilégios do funcionalismo, o gigantismo do BNDES na oferta de crédito subsidiado, a oferta de crédito oficial a grandes empresas, inclusive multinacionais, a taxa de juros negativa…

É bom esclarecer um ponto: o que se chama de mercado somos nós, quase todos, correntistas de bancos e credores da dívida pública e não rentistas “yuppies” que, reunidos na avenida Faria Lima, conspiram diuturnamente contra a nação.

As boas condições financeiras que começaram a ser restauradas desde 2016 – taxa básica de juros (Selic) no menor nível da história, bolsa de valores valorizada (sinônimo de otimismo em relação ao desempenho de empresas nacionais) e taxa de câmbio funcional (neste caso, a volatilidade e a desvalorização do real decorrem do movimento global de ajuste das moedas frente ao dólar) – refletem a confiança no futuro, e não nos fundamentos da economia neste instante.

Desde 2014, o setor público gera déficits primários e a previsão é que só desapareçam lá por 2021 ou 2022. Quando se inclui o gasto com juros da dívida, o rombo chega a R$ 456,9 bilhões (6,54% do PIB) – déficit nominal acumulado em 12 meses até junho. Por gerar déficits primários, o Tesouro é obrigado a se endividar para pagar as contas. Em junho, a dívida pública somava R$ 5,499 trilhões, equivalentes a 78,7% do PIB.

O elevado endividamento do governo interessa a todos. Quanto maior a dívida pública, menor é a poupança disponível no setor privado para financiar o consumo dos cidadãos e o investimento das empresas; mais alta é a taxa de juros exigida pelo mercado (lembre-se, por quase todos nós) para comprar títulos públicos e, assim, financiar o Tesouro; maior é a conta do governo com juros; mais altos são os juros cobrados da sociedade em operações de crédito, dado que o Estado reduz a disponibilidade de recursos ao demandar mais financiamento; maior é a carga tributária cobrada dos contribuintes para bancar o gasto público; menor é a capacidade de crescimento da economia ao longo do tempo. (Valor Econômico – 21/08/2019)

Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras – E-mail: cristiano.romero@valor.com.br

Luiz Carlos Azedo: A nova privatização

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NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

O governo anunciou ontem seu programa de privatizações, no qual foram incluídas nove estatais, após reunião da secretária de Parcerias Público-Privadas, Martha Seiller, e o secretário de Desestatização, Salim Mattar, com o presidente Jair Bolsonaro: Telecomunicações Brasileiras S/A (Telebras), Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios), Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Empresa Gestora de Ativos (Emgea), Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF).

Ao apresentar o programa, Mattar revelou a intenção de promover a maior queima de ativos da União possível, privatizando creches, presídios e parques, mas não explicitou qual será a forma de privatização. Caberá ao BNDES elaborar o programa, examinando as condições de mercado e as possibilidades reais na atual conjuntura econômica. Há privatizações e privatizações. Os argumentos a favor da venda de ativos são verdadeiros. O país não tem como financiar investimentos na modernização de nossa infraestrutura sem a venda de ativos e a entrega de serviços à exploração das empresas privadas. Além disso, a maioria das empresas estatais esteve a serviço dos partidos políticos, que miram seus próprios interesses e não os da sociedade. O problema é como isso será feito.

A narrativa ultraliberal do governo, ao apresentar o programa, tende a reproduzir a velha polarização esquerda versus direita, ou seja, o embate entre um projeto nacional desenvolvimentista e o modelo neoliberal. É a mesma narrativa dos anos 1980, quando Margaret Tatcher, a primeira-ministra conservadora, reformou a economia britânica. Essa polêmica parecia ultrapassada depois das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, mesmo assim pautou as eleições presidenciais até 2014. É muito provável que seja um assunto vencido, como foi o caso da reforma da Previdência, mas seu marco regulatório, ainda não. Esse é o debate aberto na comissão especial da Câmara que discutirá o modelo de concessões, parcerias público-privadas e privatizações, cujo relator é o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP).

Governança

O Estado de bem-estar social e o sistema político representativo entraram em crise a partir da terceira revolução industrial, já estamos na quarta. O problema é que isso pôs em risco a democracia. A ligação entre liberalismo econômico e democracia liberal nunca foi automática. Muito menos a globalização é sinônimo de avanço da democracia. A ideia de que a democracia é um credo universal associado ao capitalismo também é falsa. Há uma corrida mundial entre o Ocidente e o Oriente para reinventar o Estado, cujo objetivo é modernizar a economia e não necessariamente aperfeiçoar a democracia. Não se pode dizer, por exemplo, que os Estados Unidos (uma democracia liberal) estão se saindo melhor nessa corrida do que a China (uma ditadura comunista).

Nesse contexto, a “malaise” das estatais não é só consequência da incompetência dos políticos na sua gestão, mas do fato de que a administração de empresas e de serviços desvia o foco dos partidos de sua principal missão: promover o bem comum. O resto é consequência. A gestão da nossa riqueza pública estará no centro desse debate sobre as privatizações. A esquerda demoniza o uso de mecanismos de mercado para melhorar a situação do Estado. A direita demoniza o uso do Estado para lidar com as falhas do mercado. Enquanto isso, as empresas de tecnologia estão reinventando o mundo.

A solução adotada pela Suécia é um “case” das privatizações: retirar a governança dos ativos públicos das mãos dos políticos e passá-los à gestão de profissionais gabaritados. A criação de holdings para administrar os ativos públicos é uma experiência bem-sucedida em países como Finlândia, Áustria, Reino Unido e Alemanha. A Suécia adotou um modelo fragmentado, no qual os donos originais mantiveram seus ativos em várias holdings; a Finlândia optou por centralizar os ativos numa só holding. Em ambos os casos, a gestão foi confiada a profissionais de mercado, sem interferência política, com um modelo de gestão semelhante aos modelos dos bancos centrais e dos fundos de pensão.

O caso do Deutsche Bundespost da Alemanha é dos mais emblemáticos. Em 1995, a empresa foi transformada em três sociedades anônimas. Hoje, o Deutsche Post atua em 220 países, emprega 480 mil pessoas e movimenta 55 bilhões de euros. A nossa riqueza pública é muito maior do que a dívida pública; administrá-la melhor poderia ajudar a resolver o problema do endividamento, ao mesmo tempo em que financiaria o crescimento econômico. O mais importante não é necessariamente a propriedade, é o rendimento dos ativos públicos. Melhorar a gestão desses recursos é fundamental para o equilíbrio fiscal. Mais ainda para combater a corrupção e fortalecer a democracia. (Correio Braziliense – 22/08/2019)

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (22/08/2019)

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MANCHETES

O Globo

Governo planeja vender Correios e mais 16 estatais
Bolsonaro vê ação de ONGs nas queimadas
Senado aprova Liberdade Econômica sem trabalho dominical
PSDB rejeita expulsão de Aécio, sob protesto de Doria
Falta de recursos compromete relatórios, diz Coaf
Câmara amplia posse de arma em área rural
Homicídios caem e mortes em confronto sobem
Edital de séries é suspenso, e secretário sai
Protestos hi-tech em Hong Kong

O Estado de S. Paulo

Equipe econômica defende ‘nova CPMF’ com alíquota de 0,22%
MP passa no Senado, mas sem trabalho aos domingos
Correios e mais 8 estatais entram na lista da privatização
PSDB contraria plano de Doria e mantém Aécio
Verba do exterior no combate a incêndios
Câmara amplia uso de armas em áreas rurais
Mantega terá de usar tornozeleira, decide juiz
Trump endurece prisão de ilegais com crianças

Folha de S. Paulo

Senado suprime trecho e não altera trabalho aos domingos
Executiva do PSDB rejeita expulsão de Aécio Neves
Governo planeja privatizar estatais, parques e presídios
Sem evidências, presidente relaciona queimadas a ONGs
Operação Lava Jato mira desafeto de Marcelo Odebrecht
Entrevista – Desigualdade ajuda a explicar Bolsonaro
Anatel cede e deve aprovar compra da Warner pela AT&T
Secretário deixa cargo e reclama de censura na Cultura
Auditores da Receita fazem protestos contra ingerência do governo
Supremo julga hoje possibilidade de reduzir salário de servidores
Mortes provocadas por policiais atingem maior nível em 20 anos no RJ

Valor Econômico

Equipe econômica planeja vender Petrobras até 2022
TCU condena bônus pago a auditor fiscal
Receita supera previsão e pode haver liberação de recursos
‘O agronegócio corre grande risco’
OCDE vai avaliar política ambiental do Brasil
Cataratas quer renegociar suas concessões

EDITORIAIS

O Globo

É inadmissível haver influência política no ex-Coaf

Permissão de quaisquer nomeações para a UIF facilita ingerências em um órgão vital do Estado

Jair Bolsonaro, repetindo outros candidatos em eleições de outrora, assumiu no palanque o papel do renovador de usos e costumes da tradicional política brasileira, em que há fortes traços de patrimonialismo e fisiologismo. E como ocorreu no passado, com oito meses de governo, o candidato eleito mostra facetas opostas às promessas de campanha.

Por ter sido integrante pouco relevante, por 28anos, da bancada do baixo clero —quase um pleonasmo —, o ex-capitão pôde adotar o discurso contra a velha política como alguém distante dos compadrios que unem as cúpulas no poder.

Assumiu o estandarte anticorrupção da Lava-Jato e, para fixar a imagem de paladino dos bons modos na administração pública, conseguiu levar para a equipe, como forte ministro da Justiça e Segurança Pública, o juiz Sergio Moro, da Operação baseada em Curitiba.

Este início de mandato, porém, não tem sido compatível com aquela ima-
gem que Bolsonaro quis construir na campanha. O último ato desta des-construção é a medida provisória que altera a estrutura de cargos do ex-Coaf, rebatizado de Unidade de Inteligência Financeira (UIF) e transferido para o Banco Central.

A mudança faz sentido. Até, como o próprio presidente justificou, para proteger de pressões políticas a atividade de fiscalização dos fluxos financeiros. É razoável não deixar a UIF no Ministério da Economia, nem fazê-la retornar à Justiça como reivindicou Moro, deixando-a na órbita de uma instituição absolutamente técnica.

Mas a MP surpreende ao quebrar a norma de que organismos do Banco Central são tocados por funcionários atuais do BC ou que já passaram pela instituição. Definir que postos estratégicos na burocracia pública têm de ser preenchidos por funcionários de carreiras de Estado não pode ser confundido com corporativismo. É questão de segurança para a sociedade.

Se a medida provisória vier a ser aprovada pelo Congresso sem emendas, poderão ser nomeados conselheiros da UIF pessoas sem qualquer histórico na atividade pública de controle, fiscalização do sistema financeiro e similar. Estará aberto espaço para indicações políticas, pondo-se em risco a confidencialidade dos dados do sistema financeiro, além de se colocar a UIF sob suspeição.

AMP está no contexto de ingerências do presidente na Polícia Federal e na Receita—nesta já houve a controvertida intervenção do inquérito Toffoli-Moraes, do Supremo.

No caso de interferências de Bolsonaro, há visível relação com investigações do ex-Coaf sobre movimentações bancárias do filho Flávio, quando era deputado estadual, e de auxiliares dele. Este mesmo caso levou Toffoli a rever o relacionamento operacional entre Co-af e Ministério Público, crucial na repressão a traficâncias financeiras.

Parece sob ameaça a independência de instituições-chave da República.

O Globo

Crise na Itália pode fortalecer a extrema direita no continente

Salvini, da xenófoba Liga, quer antecipar eleições para tentar o controle do próximo governo

As instabilidades na política italiana são clássicas e quase perenes. No momento, cai o 65° governo desde o fim da Segunda Guerra, pouco mais que um por ano. Mas, graças ao sistema parlamentarista, as crises seguem seu curso e são gerenciadas sem riscos de rupturas institucionais.

A renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte, na terça, abre caminho para que o presidente, Sergio Mattarella, convoque as forças políticas para a montagem de um novo governo, que tenha maioria no Legislativa, logo, governabilidade.

Este é um dos ritos. E o que está em jogo interessa a toda a Europa, em um momento econômico de insegurança mundial e de avanço de forças nacional-populistas de direita, que têm encontrado no continente campo fértil para se expandir.

Tudo a ver com a Itália: não pratica a austeridade fiscal (porque os políticos não querem), para conter o crescimento de uma dívida pública já de 130% do PIB —a brasileira se aproxima dos 80% e preocupa muito—; e a crise política se deve ao projeto de hegemonia do já poderoso Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e responsável pela pasta do Interior.

Salvini personifica a extrema direita representada pela Liga, com raízes no Norte do país. Xenófobo, anti-imigrantes, Salvini tem impedido que navios com refugiados africanos, salvos no meio do Mediterrâneo, atraquem em portos do país. Causa comoção, mas é o político mais popular da Itália, com quase 40% de apoio.

Daí ter pedido um voto de desconfiança do governo de que era ministro, para executar seu projeto de hegemonia. Mas a renúncia do primeiro-ministro adia seu plano, que
passa pela convocação de novas eleições, pelas quais pretende assumiro governo com grande maioria e assim executar todo o seu projeto isolacionista. Em que terá apoio dos neofascistas.

Vai depender de uma nova e difícil composição de forças que una o Partido Democrático, oriundo do Partido Comunista Italiano, de Matteo Renzi, ex-primeiro-ministro, e o movimento Cinco Estrelas (M5S), chamado de antiestablhisment, do comediante Beppe Grillo, ex-aliado de Salvini no governo que acaba de se dissolver. Se não surgir este novo agrupamento majoritário, mais ao centro, Sergio Mattarella terá de convocar eleições, como espera Salvini.

Caso o líder da Liga tenha sucesso, a Itália se aproximará ainda mais de autocratas do continente: o russo Putin , o húngaro Viktor Orbán e o polonês Jaroslaw Kaczynski. Será mais um retrocesso para a Europa.

O Estado de S. Paulo

Apologia do abuso de poder

Desde que o Congresso aprovou o projeto de lei que criminaliza o abuso de autoridade, tem havido uma saraivada de críticas afirmando que a nova lei seria revanchista, desequilibrada e perigosa para o bom funcionamento da Justiça. Tal oposição não apenas ignora o conteúdo do projeto de lei. As críticas ignoram o fato insofismável de que a nova lei tem uma característica única. É simplesmente impossível que ela seja interpretada enviesada-mente, de forma a dificultar a ação dos juízes e procuradores, pela simples razão de que os intérpretes da nova lei serão os próprios juízes e os membros do Ministério Público.

Não faz sentido a alegação de que os crimes previstos na nova lei seriam muito abertos, dando margem a uma criminalização da atividade judicial.

Em comparação com a legislação penal vigente, o projeto de lei do abuso de autoridade é bastante preciso. Houve muitas críticas, por exemplo, ao primeiro crime previsto na lei -“decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais” – como se fosse impossível detectar as situações de “manifesta desconformidade”.

Vale a pena refletir sobre tal argumentação. Quando se critica esse tipo penal – que é uma elementar medida de respeito à liberdade de todos os cidadãos, consequência direta de um Estado Democrático de Direito que zela pelas garantias individuais -, a rigor o que se está postulando é que nunca se poderia, com um mínimo de certeza, dizer que numa determinada situação o juiz não tem poderes para decretar a prisão de alguém. Tal crítica é uma insidiosa apologia do abuso de poder, ao afirmar que nunca se poderia detectar, com um mínimo de segurança, um caso de abuso.

Ou seja, o que essas críticas ao projeto de lei afirmam é que nunca uma prisão poderia ser classificada, sem margem de erro, de abusiva – o que é um evidente despautério. O poder do juiz tem limites e, ainda que esses limites em alguns casos não sejam uma linha exata, a margem de poder do juiz não é de um relativismo radical, como alguns pretendem. É parte do saber jurídico indispensável para o exercício da função jurisdicional conhecer os limites do poder.

A crítica ao projeto de lei ignora o fato de que será um juiz a julgar se houve abuso de autoridade na decretação de prisão. Não há risco de que ela seja utilizada para criminalizar a atividade honesta de juízes e promotores. O perigo real é o oposto, de não ser aplicada com o devido rigor.

Mais aberto e passível de interpretações abusivas é, por exemplo, o crime previsto no art. 331 do Código Penal – desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Continuamente, todo cidadão está sujeito a ser vítima de uma interpretação abusiva desse tipo penal, sendo, por exemplo, denunciado pelo crime de desacato numa situação de mero exercício da liberdade de expressão. Infelizmente, a esse respeito, não se veem muitos juízes e promotores defendendo uma interpretação mais segura e mais próxima ao texto da lei. E menos ainda protestando contra a própria lei, que pode colocar em risco a liberdade dos cidadãos.

Nas críticas ao projeto de lei sobre abuso de autoridade, observa-se um seletivo rigorismo. Os tipos penais seriam muito abertos, passíveis de más interpretações, expondo juízes e promotores a pressões ilegítimas. Mas não se vê tal rigor sendo aplicado, por exemplo, com o projeto das Dez Medidas Anticorrupção ou com o chamado Pacote Anticrime, proposto pelo ministro Sergio Moro. Fossem utilizados os mesmos pesos e as mesmas medidas, esses projetos – deliberadamente dúbios e amplos, que expõem os cidadãos aos mais diversos achaques – não ficariam em pé. Uma maior igualdade no tratamento da legislação penal e processual penal pode trazer mais racionalidade, equilíbrio e justiça para todo o sistema de Justiça.

O Legislativo foi cuidadoso com o projeto de lei do abuso de autoridade. “As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal”, diz o art. 1.°. Ao ignorar o conteúdo aprovado e tecer críticas infundadas, o que se vê é a tentativa de manter a impunidade do abuso de autoridade. Tal desequilíbrio não cabe no Estado Democrático de Direito.

O Estado de S. Paulo

Um rio à espera de ressurreição

O governo do Estado de São Paulo anunciou um novo pacote de obras para despoluir o rio Pinheiros. Não será tarefa fácil. Há três décadas os governadores de São Paulo vêm se comprometendo com a limpeza do Tietê e seu principal afluente, o Pinheiros, e todos, em que pesem os avanços, malograram.

O Projeto Tietê de recuperação foi concebido em 1990. De lá para cá, houve conquistas consideráveis. Em 1992, apenas 70% do esgoto residencial na Região Metropolitana de São Paulo eram coletados e só 17% eram tratados. Em 2017, 87% do esgoto já eram coletados e 66% eram tratados.

O programa do atual governo para o rio Pinheiros prevê não só aportes de investimentos, como uma nova regulamentação, a fim de atrair a iniciativa privada. Até 2022, o governo pretende alterar o modelo de pagamento às empresas que vencerem as licitações e remunerar o desempenho na limpeza das águas.

O projeto prevê o loteamento da bacia do Pinheiros em 14 áreas e investimento de ao menos R$ 1,5 bilhão do orçamento da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). O governador João Doria pretende ainda captar até R$ 3 bilhões com investidores estrangeiros, em especial da Inglaterra e da China, onde esteve recentemente buscando parcerias. O plano é concluir as concorrências até o final do ano. Além disso, a Secretaria da Fazenda já declarou que está só aguardando o Novo Marco Legal do Saneamento para trabalhar na privatização da Sabesp, uma das mais eficientes companhias de saneamento básico no País.

Entre as metas a serem alcançadas pelas empresas licitadas, está a ligação à rede de coleta de esgoto de 500 mil residências que ainda descartam seus resíduos irregularmente. As empresas deverão atingir a meta de 30 miligramas de oxigênio por litro de água, o padrão mínimo de despoluição internacional. Nesse caso, as águas ainda estarão impróprias para consumo e banho, mas o mau cheiro deverá ser dissipado e parte da fauna e flora será restaurada.

As contrapartidas às empresas parceiras, ainda em estudo, devem envolver exploração do transporte de cargas e passageiros no rio e o uso das margens para recreação. Além disso, segundo a Sabesp, há um potencial de exploração da energia termoelétrica a partir da queima de lodo produzido em estações de tratamento de água e esgoto.

Com isso, o governo pretende cumprir a promessa de limpar o Pinheiros até 2022 e o Tietê até 2029, missão difícil, mas não impossível. Para ter uma ideia, o rio Tâmisa, que chegou a ser tido por morto na década de 50 pelo Museu de História Natural britânico, hoje, após 50 anos de tratamento, é considerado limpo. O governo atual, contudo, precisará mostrar que aprendeu bem as lições amargas deixadas aos governantes paulistas nas últimas três décadas. No início dos anos 90, o então governador Luís Antônio Fleury Filho anunciou que até o fim do mandato beberia um copo de água do Tietê. Vinte anos depois, em 2014, Geraldo Alckmin prometia a despoluição do rio até 2019.

Uma das grandes dificuldades sempre foi a integração entre os diversos municípios que o rio corta. Por falta disso, muitas vezes as obras do Estado acabaram isoladas, com resultados frustrados. Além disso, a própria população precisa avançar muito em sua consciência ambiental e civilidade. Por exemplo, grande parte do lixo despejado no Tietê é de origem doméstica. De acordo com dados da Agência Nacional das Águas, 41% do esgoto da Grande São Paulo vão parar in natura no rio. Ademais, há o problema da ocupação irregular dos mananciais.

A limpeza do Tietê e do Pinheiros é a maior obra de saneamento já feita no País. “Obra dessa magnitude”, disse João Lara Mesquita, um dos idealiza-dores do Núcleo União Pró-Tietê, “não se presta à demagogia. Exige tempo. E muito investimento.” Espera-se que o governador João Doria seja tanto mais prudente quanto mais empenhado em suas promessas. A população paulista não tolera mais palavras vazias sobre seus rios, mas se eles lhe forem restituídos, ela saberá retribuir.

O Estado de S. Paulo

Muito cedo para pacto federativo

Não é hora de negociar um novo pacto federativo. Pode ser mera precipitação do governo. Pode ser uma operação de compra de apoio de governadores, no estilo da nunca abandonada velha política. Em qualquer caso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avança o sinal, perigosamente, ao iniciar essa discussão. Ele já havia mencionado o assunto, há meses, com o slogan “menos Brasília, mais Brasil”, acenando com uma nova divisão de recursos fiscais entre União, Estados e municípios. Ele retoma a conversa, agora, prometendo passar R$ 500 bilhões a entes subnacionais em 15 anos. A conversa inclui, ainda, a repartição da receita prevista de um megaleilão do pré-sal e a desvinculação de receitas orçamentárias.

Todas essas ideias parecem muito atraentes e especialmente oportunas, neste momento, quando a maior parte dos Estados enfrenta enormes dificuldades financeiras. Podem ser muito úteis para os propósitos do governo central, também, se as conversas contribuírem para maior envolvimento dos governadores em projetos como o da reforma da Previdência. Mas a transferência de dinheiro, se mal conduzida, pode também resultar em gastança mal planejada e em maior deterioração das finanças estaduais e municipais.

Esse receio foi claramente exposto pelo secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Júnior. Segundo ele, será preciso estabelecer condições para evitar maiores gastos salariais custeados com o dinheiro novo, como ocorreu em período recente. Pior, ainda, se gastos correntes forem ampliados e cobertos com recursos ocasionais, porque nesse caso a insegurança fiscal crescerá de forma desastrosa. Nenhum desses perigos é novidade na administração brasileira.

É prematuro falar desse novo pacto federativo quando todos os níveis de governo enfrentam uma severa crise fiscal. Seria prematuro, mesmo sem essa crise, discutir o assunto quando ainda se deve tratar de uma reforma tributária. Qual será o formato final dessa reforma ninguém sabe. Ninguém sabe, por exemplo, como ficarão impostos e contribuições federais, estaduais e municipais. Ninguém pode prever, neste momento, o grau de centralização de receitas. Se houver um grande imposto indireto arrecadado pela União, como será repartido? E se for criada uma versão nova e mais ampla da CPMF?

Discutir pacto federativo sem saber como será o sistema tributário é um evidente desacerto. O governo federal nem sequer explicou direito, até agora, como será sua proposta de reforma. Fontes do Ministério da Economia têm dado informações divergentes sobre o tal imposto sobre transações financeiras (seria mais apropriado, antes de mais nada, falar de movimentação financeira). O presidente da República tem negado, repetidamente, a hipótese de uma recriação da CPMF. O pessoal do Ministério da Economia insiste no assunto. Qual será o resultado?

Alguns temas propostos pelo ministro Paulo Guedes são de fato importantes, mas será preciso discuti-los na hora certa, quando houver condições favoráveis a um debate e a uma negociação mais detalhada e mais ponderada. É preciso, sim, rever as vinculações e desengessar as finanças públicas, mas será preciso incluir o Orçamento federal na mudança. Será bom reexaminar também a divisão de funções entre os níveis de governo.

Mas será igualmente necessário rever as limitações constitucionais, em certos casos, e aperfeiçoar, quando necessário, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Será conveniente garantir a todos os níveis de governo a flexibilidade administrativa -em relação aos custos de pessoal, por exemplo – necessária às políticas de ajuste, nos períodos críticos. Mas também será importante impor a governos estaduais e municipais a obrigação de cuidar dos próprios problemas financeiros, sem o sempre esperado socorro do Tesouro Nacional.

Observados pelo menos esses pontos, o novo pacto poderá criar uma verdadeira federação, com maior autonomia e maior responsabilidade para os governos subnacionais. Sem isso, a discussão, além de precipitada, será pouco séria.

Folha de S. Paulo

Aposta habitacional

Caixa lança crédito imobiliário corrigido pela inflação, paliativo para um mercado prejudicado pelo histórico nacional de instabilidade monetária

Como objetivo de fomentar o mercado imobiliário, a Caixa Econômica Federal anunciou que passará a conceder financiamentos atrelados à inflação medida pelo IPCA, o índice que serve de referência para as metas do Banco Central.

São bem-vindas, decerto, iniciativas voltadas a ampliar o crédito no setor, que minguou a partir de 2015,na fase mais aguda da recessão. Em junho deste ano, o Banco Central registrou R$ 8,5 bilhões em novas concessões a pessoas físicas; cinco anos atrás, as cifras mensais ultrapassavam a casa dos R$ 11 bilhões, em valores não corrigidos.

Entretanto a nova medida não constitui propriamente uma política de habitação —trata-se de estratégia de mercado do banco estatal. Há vantagens em potencial para o público capaz de aderir à modalidade, mas também riscos.

Os financiamentos de até 360 meses cobrarão um adicional sobre a inflação de 2,95% 34,95% ao ano, a depender do risco do tomador e da proporção entre o montante emprestado e o valor do imóvel, que ficará limitada em 80%.

Com tais condições, a Caixa diz haver espaço para dobrar sua carteira imobiliária, atualmente em R$ 449 bilhões. As linhas atuais, balizadas pela Taxa Referencial (TR, hoje em zero) mais juros a partir de 8% ao ano, continuarão a existir.

Dado o baixo patamar da inflação no momento, os encargos da nova opção seriam menores.
A oferta de crédito pode crescer porque há demanda no mercado para ativos vinculados ao IPCA —à diferença do que ocorre com a TR, manipulável pelo governo. Assim, os bancos venderiam partes de suas carteiras a outros investidores, liberando espaço no balanço para novos financiamentos.

Em teoria, faz sentido. É incerto, porém, o ritmo da desejada expansão. A busca por crédito avança lentamente num cenário de estagnação econômica, e a maioria das instituições dispõe de sobra de recursos da caderneta de poupança, indexados à TR e habitualmente destinados ao setor habitacional.

Quanto aos riscos para os tomadores, o principal reside na possibilidade de saltos nas prestações —em caso de alta futura da inflação— e de mais inadimplência.

Embora hoje o cenário se afigure positivo, com IPCA ancorado em torno da meta do Banco Central (4,25% para este ano, caindo gradualmente para 3,5% em 2022), o retrospecto brasileiro sugere cautela diante de prazos longos.

É evidente que o país está longe de oferecer financiamentos de 30 anos a juros baixos e previamente fixados, como se observa no mundo desenvolvido —e mesmo lá existem dificuldades para levar o crédito à população de baixa renda.

Há pela frente um longo processo de consolidação da estabilidade monetária. Enquanto isso, iniciativas como a da CEF são paliativos.

Folha de S. Paulo

Onde há fumaça

O negrume que tomou o céu de São Paulo em plena tarde de segunda (19) acabou, por vias oblíquas, chamando a atenção para queimadas que grassam em proporções alarmantes na Amazônia e nas fronteiras com Paraguai e Bolívia.

Embora a principal explicação p ara o fenômeno paulistano tenha sido a chegada de uma frente fria, meteorologistas apontaram também sua possível relação como fogo em regiões distantes.

Embora seja difícil dimensionar a influência do segundo fator, é fato que o país tem vivido neste ano alta expressiva das queimadas.

Contaram-se 72.843 focos até 19 de agosto, um crescimento de 83% ante o mesmo período de 2018 e recorde desde 2013 para os primeiros oito meses do ano, segundo o Inpe.

A lista é encabeçada por Mato Grosso, seguido de Pará, Amazonas e Rondônia. Os biomas com mais casos são a floresta amazônica, com 52% do total de registros, e o cerrado, com 30%.

Também preocupante é a ocorrência das chamas em áreas protegidas. Somente nesta semana já se observaram 68 episódios dentro de terras indígenas e unidades de conservação estaduais e federais.

Lamentável, embora não surpreendente , foi a reação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos dados. Não os contestou, mas tampouco perdeu a oportunidade de propagar teorias conspiratórias e vilipendiar inimigos imaginários.

Nesta quarta (21), disse que ONGs poderiam estar por trás das queimadas, como objetivo de prejudicar a imagem de seu governo.

Raramente tais incêndios são naturais —mas não pelo motivo apresentado pela fantasia bolsonarista. Mais comum é uma queima intencional, para livrar pastos de pragas, sair do controle e alcançar matas —isso quando o fogo não é usado para limpar áreas previamente desmatadas.

Exemplo eloqüente desta última modalidade foi um certo “dia do fogo”, anunciado por fazendeiros do entorno da BR-163 no sudoeste do Pará, em 10 de agosto, sábado.

Principal cidade da região, Novo Progresso registrou 124 focos de incêndio naquela data, recorde do ano. No domingo, o número subiu para 203, atingindo áreas de conservação. O Ministério Público Estadual abriu investigação.

À diferença dos últimos anos, quando o Ibama manteve uma base de fiscalização em Novo Progresso durante o período seco, em 2019 a operação acabou cancelada devido à falta de apoio das administrações estadual e federal.

Nessa seara, como se vê, ONGs são desnecessárias para prejudicar a imagem do governo.

Aprovado requerimento de Paula Belmonte que convoca doleiro Lúcio Funaro

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A CPI do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou, nesta quarta-feira (21), requerimento de autoria da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF), vice-presidente do colegiado, que convoca o doleiro Lúcio Bolonha Funaro a prestar depoimento no colegiado. Funaro ganhou notoriedade ao ser preso pela Operação Lava Jato por envolvimento no escândalo da Petrobrás, conhecido como petrolão. Tornou-se delator e cumpriu pena no Presídio da Papuda por dois anos. Atualmente, está em prisão domiciliar.

“Acreditamos que Lúcio Funaro faça parte de uma orquestra, mas nós ainda estamos investigando a ligação dele com o rombo bilionário do BNDES. Por isso, o depoimento dele é fundamental”, disse Paula Belmonte.

A parlamentar lembrou que o doleiro teve envolvimento com grupos políticos. Ele era operador de propina do PMDB e estava muito ligado ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

“Eu li na imprensa que ele está querendo vir depor à CPI. Fiquei alegre. Tomara que tenhamos um depoimento rico em informações”, disse a deputada.

Mais convocação

Outro requerimento de Paula Belmonte aprovado na reunião desta quarta-feira foi o que convocou o representante da Blessed Holdings no Brasil. A empresa seria de propriedade do grupo JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista e teria ligações com o doleiro Alberto Youssef, também investigado pela Lava Jato.

“Se houver ilicitude (nas transações da companhia com o BNDES), o acordo de leniência do grupo JBS e o acordo de delação premiada de Joesley Batista podem ser totalmente modificados”

Ainda na reunião, os deputados ouviram o depoimento do ex-diretor do BNDES André Gustavo Salcedo que, segundo a deputada, foi responsável por dar aval a vários empréstimos que vêm sendo investigados pela CPI por suspeita de irregularidade. Salcedo negou envolvimento com ilícitos, mas ele foi objeto de investigação da Operação Bullish, do Ministério Púbico Federal.

Paula Belmonte lamenta que o BNDES tenha sido vítima de ilegalidades. Ela observou que o banco teve muitos prejuízos e que esse dano se verifica nos hospitais que não conseguem atender à população, na violência que não tem prevenção e um combate efetivos e no desemprego que castiga 14 milhões de brasileiros.

“É o banco da população”, define.