Início Site Página 959

Armínio Fraga: Sombras sobre o Brasil

0

Com tanta incerteza, não surpreende que economia global exiba sinais de cansaço

Trinta anos atrás o Muro de Berlim foi derrubado. O Ocidente havia ganho a Guerra Fria, e a partir daquele ponto a democracia liberal seguiria sua marcha triunfal em direção a um mundo pacífico, próspero e integrado.

Em 1994 o Nafta entrou em vigor. Em 1999 o euro entrou em circulação. Houve avanços na Ásia também.

Em 2001 a China entrou para a OMC (Organização Mundial do Comércio), marco da guinada em direção ao mercado iniciada por Deng Xiaoping em 1978. Faltava a democracia, mas seria apenas uma questão de tempo para que alguma abertura política ocorresse, bem ao estilo chinês, gradual em tudo, menos no crescimento.

Mas o inevitável não aconteceu, muito pelo contrário. Mundo afora nacionalismo, autoritarismo e populismo só fizeram crescer desde então, em várias combinações, com clara perda de qualidade democrática.

A Rússia, perdedora da Guerra Fria, segue autoritária e se reinventou como potência energética e guerrilheira nas redes. A Turquia, por um tempo esperança de um islã secular e democrático, vem se tornando menos secular e mais autoritária. O Leste Europeu virou palco de regimes de extrema direita, roedores de suas democracias. O Reino Unido votou pela saída da União Européia.

A China, a partir da recondução de Xi Jinping, reforçou limites à liberdade pessoal e na internet, aumentou a presença do partido na governança das principais empresas privadas do país, introduziu controles de câmbio e endureceu com os inimigos do sistema.

Por fim, Trump vem pautando sua atuação por posições preconceituosas e obscurantistas, e declarou guerra econômica á China. Pausa aqui: as duas maiores nações do planeta não estão se entendendo. Um perigo.

Com tanta incerteza e após longa fase de crescimento, não surpreende que a economia global exiba claros sinais de cansaço. Esse quadro externo é particularmente preocupante para o Brasil.

De um lado, a crise global da democracia liberal estimula aventuras perigosas. De outro, a desaceleração da economia global pega o Brasil fragilizado, ainda perto do fundo do poço, com sérios problemas fiscais, imensas desigualdades e falta de oportunidades.

A essa altura, as atenções começam a se voltar para as eleições de 2020 nos Estados Unidos. No campo democrata, mais de 20 candidatos estão participando das primárias. Falta ao partido coesão e uma estratégia. Observadores da cena americana, como David Brooks do New York Times, temem que o resultado venha a ser a reeleição.

Brooks recomenda como resposta a esse desafio que os democratas tratem de reconstruir a infraestrutura moral do país.

Para tanto, seria necessário dar destaque a alguns valores básicos ainda compartilhados pela maioria, que traduzo e resumo assim: unidade (o líder deve governar para todos), honestidade (não há democracia sem respeito pela verdade), pluralismo (a diversidade enriquece a vida), solidariedade (bondade e compaixão) e oportunidades (para todos).

Enquanto isso, vê-se por aqui mandonismo, personalismo, nepotismo, truculência, obscurantismo e desrespeito a instituições. Exemplos recentes incluem questionamentos de dados do IBGE e do Inpe, ameaças á autonomia da Receita Federal e da Polícia Federal, brigas com os apoiadores do Fundo Amazônia, desautorizações de subordinados e a indicação para a embaixada em Washington.

Esse clima é grave. Não se pode menosprezar.para a economia, a importância do bom funcionamento das instituições e da política. Com tanto ruído, uma constante desde o início do governo, não surpreende que o investimento siga em baixa histórica e o crescimento, anêmico.

Que defesas temos para aguentar as ameaças á nossa jovem democracia? Que valores podem iluminar o caminho rumo a um crescimento sustentável e inclusivo?

Nos protege sobretudo um debate público aberto e livre. O Legislativo vem cumprindo com sua missão, a despeito dos sinais ambíguos que emanam do Executivo. A sociedade civil vem se posicionando também, ainda que pressionada. Não é pouco, mas não tem sido suficiente.

Quanto a valores, os universais listados por Brooks nos cairiam feito uma luva. (Folha de S. Paulo -25/08/2019)

Armínio Fraga, economista, é ex-presidente do Banco Central

Coluna do Estadão destaca que Eliziane Gama vai assumir vaga na Comissão de Relações Exteriores

0

COLUNA DO ESTADÃO – O ESTADO DE S. PAULO

Xi

A ida do senador Marcos do Val (ES) para o Podemos abriu uma vaga na Comissão de Relações Exteriores para o partido. Notícia ruim para Eduardo Bolsonaro: será ocupada até por Eliziane Gama (MA), contrária ao parlamentar.

Sementinha

O Cidadania vai aproveitar o flanco deixado por PSB e do PDT com os “filiados” a movimentos suprapartidários para investir nesses grupos. Está recebendo sugestões do Acredito e Livres para novo estatuto.

Alberto Aggio: Um lugar errado no mundo

0

Um nacionalismo anacrônico manchado de reacionarismo não nos serve

Se com Lula já era claro que a política interna vivia fortes condicionamentos externos, particularmente no que se refere a uma inserção do País na globalização, marcada por tensões ideológicas, sem considerar o nível de criminalização que em paralelo se praticou, com o governo Bolsonaro, excetuando aparentemente esta última ponderação, a dimensão internacional parece ser inescapável. O episódio da indicação do filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), é ilustrativo dessa evidência.

Com Bolsonaro acentua-se a percepção de que nos encontramos imersos naquilo que Giuseppe Vacca define como “conflito econômico mundial”, uma situação sistêmica que caracteriza o mundo desde a superação da guerra fria, posicionando-nos definitivamente no tempo da globalização. Trata-se de um conflito perene e global que envolve múltiplos atores em torno de decisões geopolíticas, econômico-financeiras, do mundo do trabalho e da cultura, questões tecnológicas, ambientais, etc.

Torna-se conveniente, assim, analisar o governo Bolsonaro a partir dessa perspectiva. Seu nacionalismo e seu notável reacionarismo são equivalentes ao que ocorre em diversos países e traduzem o lugar que Bolsonaro vê para o Brasil no contexto global. O que se apresenta nos EUA sob Trump ou na Hungria sob Orbán tem lógica similar aos posicionamentos de Bolsonaro, embora este possa talvez ser considerado o mais despreparado dentre tais líderes, tanto em termos pessoais como de assessoria imediata.

O momento que vivemos não recoloca na agenda mundial o retorno da guerra fria, mesmo porque não há duas potências orientando os vetores do “conflito econômico mundial”. A guerra fria foi um conflito forjado de dentro para fora das duas potências rivais, os Estados Unidos e a União Soviética, e representou um equívoco de ambas, já que nenhuma delas seria capaz de suplantar a outra e estabelecer um domínio efetivo a partir de uma suposta vitória militar sobre a adversária (G. Vacca, La Sfida de Gorbaciov – Guerra e Pace nell’Era Globale, no prelo).

Parece não haver espaço também para outros retornos cultivados no imaginário de muitos que ambicionam combater a extrema direita como um conflito do tipo “comunismo versus fascismo” – por evidente anacronismo, além do erro de avaliação que julgava ser tal disjuntiva a única alternativa que existia na década de 1930 –, ou uma confrontação do tipo “frente popular versus nazi-fascismo”, como sucedeu no século passado.

O bipolarismo morreu com a guerra fria, mas um multilateralismo compartilhado pelos principais países ainda não se consumou. O momento evidencia um avanço da extrema direita, até mesmo com a formação de entidades autônomas de orientação internacional de que participam representantes do governo Bolsonaro. Na outra ponta há forte desorientação da esquerda, com inclinações incompreensíveis para uma política de autoisolamento; a exceção surpreendente fica por conta da esquerda dita tradicional, que tem buscado uma renovação, ainda precária e inicial, mas que já dá alguns frutos, como os avanços eleitorais da social-democracia em alguns países europeus. Liberais, conservadores e liberal-democráticos vivem cada um sua própria crise, fustigados pelo iliberalismo da extrema direita, que põe em xeque os fundamentos da democracia liberal representativa. Nas recentes eleições europeias, a novidade foi a emergência de núcleos ecológicos, especialmente os verdes alemães, que difusamente atuam em busca de expressivas alternativas futuras, mas sem ainda alcançar capacidade orgânica e/ou institucional de se conformarem num peso forte no cenário mundial.

Mesmo de forma errática, Bolsonaro se posiciona claramente contra o globalismo e, pela via de um nacionalismo anacrônico, aposta na sua capacidade de anular a dinâmica e os efeitos da globalização entre nós. Trata-se de um equívoco: não há país que possa ficar de fora do “conflito econômico mundial”, que se expressa de forma global. O alinhamento ativo diante dessas circunstâncias – que Bolsonaro por seu viés ideológico de extrema direita não contempla – é a defesa de uma perspectiva de cooperação entre os países, advinda de uma nova orientação estratégica, isto é, de uma política de interdependência que favoreça a convivência entre diferentes e a busca de um destino comum para a humanidade. O regressismo de Bolsonaro é uma escolha que leva o País para o pior dos lados do “conflito econômico mundial”, numa posição subalterna ao atual governo norte-americano, além de vinculá-lo ao que há de mais reacionário na política europeia.

Por um lado, é inútil afirmar uma visão apologética ou catastrófica do novo cenário criado pela globalização. Por outro, no caso brasileiro não se trata apenas de retomar uma política externa equilibrada, uma das marcas da nossa História diplomática, mas de enfrentar politicamente o “conflito econômico mundial” e apresentar ao mundo uma orientação nova diante de um cenário novo. O passado pode, certamente, nos ajudar, mas não será a chave para um futuro de ampla cooperação, suplantando os vetores ideológicos.

É preciso politizar, em termos democráticos, tanto externa quanto internamente, o quadro de conflitos que se estabelece no mundo atual. Isso significa superar a noção tantas vezes mencionada de que vivemos um tempo em que “a política está morta”. Ao contrário, é preciso ultrapassar a antiga noção territorial de soberania nacional e buscar uma perspectiva inovadora para conectar cidadania, nação, interdependência e cooperação. E, com isso, avançar no sentido de recolocar a modernidade em novos termos, com seus ricos avanços e aberturas ilimitadas a novas subjetividades.

O regresso a um nacionalismo anacrônico manchado de reacionarismo não nos serve e pode malograr todas as expectativas de um lugar generoso no mundo para os brasileiros. (O Estado de S. Paulo – 25/08/2019)

ALBERTO AGGIO, HISTORIADOR, É PROFESSOR TITULAR DA UNESP

Em 7 meses, País cria 464.411 vagas com carteira assinada

0

País cria 464.411 vagas com carteira assinada de janeiro a julho

Desempenho representa alta de quase 3%. No mês passado, Brasil teve quarto saldo positivo seguido na geração de emprego formal

RENATA VIEIRA – O GLOBO

O Brasil criou 461.411 vagas de trabalho com carteira assinada entre janeiro e julho deste ano, o que significa um aumento de quase 3% em relação a igual período do ano passado, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Somente no mês de julho, o país criou 43.820 empregos formais. Trata-se do quarto mês seguido de saldo positivo.

— É um cenário de confiança em recuperação. A aprovação da (reformada) Previdência (na Câmara) diminuiu o risco fiscal. Isso passa segurança para os investimentos, mas, para mudar a cara do emprego no Brasil, vai demorar muito mais — avalia Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating.

O secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcomo, afirmou que o mercado vem apresentando sinais de recuperação gradual, e a agenda de reformas pode melhorar o cenário. “O governo vem adotando medidas de impacto estrutural e esperamos reflexos positivos no mercado de trabalho, na medida do aprofundamento das reformas”, disse Dalcomo, em nota.

SALÁRIO MÉDIO

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, o ajuste que o governo está fazendo é de longo prazo e ainda não se refletiu nos dados do mercado de trabalho.

A maior parte do desempenho positivo do mês de julho se deveu à geração de empregos no setor de construção civil. O segmento criou 18.721 vagas no mês. Em seguida, aparece o setor de serviços, com 8.948 postos de trabalho, seguido pela indústria de transformação, que abriu 5.391 vagas. No comércio, foram 4.887 empregos formais.

Para Agostini, o desempenho ainda fraco do setor industrial ajuda a explicar o cenário: — A indústria é um setor estratégico e sofre não só porque o consumo interno é desalentador, mas pela questão da competitividade internacional. As importações vêm crescendo nos últimos meses.

A administração pública foi o único setor que mais demitiu do que contratou em julho. Esse segmento da economia fechou 315 postos de trabalho no mês passado.

Entre os estados, o Rio de Janeiro registrou saldo negativo, e fechou 2.845 vagas em julho. Espírito Santo e Rio Grande do Sul também fecharam o mês no vermelho.

Laísa Ratcher, pesquisadora do IBRE/FGV, chama a atenção para a ligeira melhora de patamar dos salários de admissão, também divulgados pelo Caged ontem. O salário médio do trabalhador no momento da contratação foi de R$ 1.612,59 em julho — 1,8% maior do que o registrado no mesmo período de 2018, descontada a inflação. Para Laísa, apesar de o resultado na geração de empregos refletir recuperação ainda modesta da economia, a perspectiva para o mês de agosto é positiva: — Não é que os sinais sejam extremamente positivos, mas há melhora gradual depois de tanta frustração no começo do ano. A partir de agosto, podemos ver ligeira aceleração. (O Globo – 24/08/2019)

Luiz Carlos Azedo: As Mil e Uma Noites

0

NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

A tradução mais fiel e sofisticada de As Mil e Uma Noites é do explorador inglês Sir Richard Francis Burton, em 16 volumes, lançada entre 1885 e 1888, com suas notas sobre as culturas persa e árabe e relatos de hábitos sexuais, inclusive de homossexualismo masculino e feminino. O clássico da literatura fantástica é uma coletânea de histórias reunidas durante séculos, inicialmente surgidas na Índia, por volta do século 3. Seus gênios, metamorfoses de animais e semideuses, lembram o imaginário hinduísta. Essas histórias viajaram pela Pérsia, contadas pelos mercadores, sendo reunidas, a primeira vez, numa coletânea anônima intitulada Hezar Afsaneh (“Os Mil Contos”), na qual já apareciam o sultão Chahriar e sua esposa infiel, Sheherazade.

Traduzidos para o árabe, por volta do século 8, ganhou carga heroica e forte influência islâmica, inclusive no título, por causa da superstição de que números redondos dão azar. Por isso, passou a se chamar As Mil e Uma Noites. Há três versões árabes, uma síria, uma egípcia antiga e outra egípcia tardia. Por volta de 1700, as histórias chegaram ao Ocidente, traduzidas pelo francês Antoine Galland, de um manuscrito do ramo sírio do século 13, no qual incluiu as histórias de Ali babá e os Quarenta Ladrões, Aladim e As Viagens de Simbá, o marujo.

Burton (1821-1890) é um capítulo à parte. Antropólogo, espião, espadachim e poeta, foi cônsul britânico em Santos e escreveu três livros sobre o Brasil. Ex-aluno de Oxford, como capitão da Companhia das Índias britânica, explorou a Índia, o Oriente Médio e a África. Em 1856, disfarçado de médico afegão, peregrinou a Meca e visitou a Caaba – santuário supremo dos muçulmanos. Logo depois, viajou à cidade santa de Harar, na Etiópia, de onde nenhum homem branco jamais saíra com vida. Em 1858, realizou o feito pelo qual é mais lembrado: descobriu o Lago Tanganica. A jornada, em companhia do explorador John Speke, que depois se tornou um desafeto, foi retratada em 1990 no filme As Montanhas da Lua. Speke descobriu o Lago Vitória, mas erroneamente concluiu que seria a nascente do Nilo, contra a opinião de Burton.

Burton falava 26 línguas e também traduziu os clássicos da literatura erótica Kama Sutra e o Jardim Perfumado, além do épico renascentista Os Lusíadas, de Camões. Suas traduções e relatos antropológicos escandalizaram a sociedade vitoriana da época, a ponto de sua mulher queimar seus manuscritos, mas isso não impediu a rainha Vitória de lhe conceder o título de Sir, em 1896, por serviços prestados à Inglaterra no “grande jogo” no Oriente, a disputa por áreas de influência com outras potências europeias, sobretudo a França e a Rússia. Quatro anos depois, Burton morreu em Trieste, na Itália, passando à história como aventureiro erudito e temerário. Sofria de depressão, era viciado em ópio, haxixe e bebidas alcoólicas e, ao morrer, revelou cicatrizes nas costas que levantaram suspeitas de que havia se convertido ao sufismo, uma linha mística do islamismo.

Erro de conceito

Numa das passagens de As Mil e Uma Noites, o sultão diz para Sheherazade: “Aquele que não sabe adaptar-se às realidades do mundo sucumbe infalivelmente aos perigos que não soube evitar. Aquele que não prevê a consequência dos seus atos não pode conservar os favores do século”. Parece sob encomenda para o presidente Jair Bolsonaro, que hoje, Dia do Soldado, completa 237 dias no poder, em meio a uma crise internacional sem precedentes, provocada por ele mesmo, por causa de um brutal erro de conceito na sua estratégia de governo em relação a um dos quatro principais temas da atualidade: a sustentabilidade. Os outros são a democracia , o crescimento econômico e as desigualdades.

Nada como um dia atrás do outro. A questão ambiental deixou de ser um assunto nacional após a Conferência do Clima, da qual o Brasil foi um dos principais protagonistas. Quando se erra no conceito, quanto maior o ímpeto na estratégia, maior o desastre. A narrativa de Bolsonaro potencializou a crise internacional, que estava escrita nas estrelas por causa do desmantelamento da política ambiental e dos órgãos de controle, fiscalização e combate ao desmatamento. Foi uma sucessão de erros cometidos quase que diariamente, além de uma subestimação das implicações internacionais que o assunto tem, por uma visão ideologizada das relações diplomáticas e uma postura provinciana e chauvinista.

Bolsonaro perdeu a batalha da comunicação no terreno em que se achava imbatível, as redes sociais, e o Brasil enfrenta inédito isolamento internacional, cujo preço pode ser a adoção de sanções pelos países da União Europeia contra as exportações brasileiras de carne e de soja, por causa do avanço da fronteira agrícola na Amazônia. O governo corre atrás do próprio rabo, inclusive quando atribui ao aquecimento global a ocorrência das queimadas, comparando-as aos incêndios que ocorrem nos Estados Unidos e na Europa pela mesma razão. Trata-se, porém, de um argumento a mais para preservar a Amazônia. Bolsonaro ainda tem 1224 dias de mandato para recuperar o prejuízo. (Correio Braziliense – 25/08/2019)

No seminário da FAP, Roberto Freire diz que “nova formação política não é novo partido”

0


Para o presidente do Cidadania, País necessita de uma frente que apresente alternativas à sociedade.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, disse no último sábado (24) que o País precisa de uma “frente” que reúna protagonistas em uma “nova formação política” para ser apresentada como alternativa à sociedade. Na abertura do seminário “Os Desafios da Democracia: um programa político para o século XXI”, ele ressaltou, ainda, que “a nova formação não é um novo partido”. O evento foi realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania, na Casa do Saber, em São Paulo.

Com a presença de vários entusiastas, políticos e intelectuais, o seminário tem como proposta impulsionar ideias e programas para discutir e desenvolver a democracia. O objetivo é encontrar saídas para o sistema político brasileiro diante de um cenário tomado por atitudes extremas e classificadas como “retrocessos” por especialistas.

Na conferência de abertura, Freire destacou que é fundamental a formação de uma frente.

“A gente precisa é não se perder em grandes debates. Temos que ter mais foco, ser mais objetivos, definirmos a questão democrática e como agir concretamente para defendê-la”, acentuou ele, lembrando que o mundo passa por profundas transformações.

De acordo com o presidente do Cidadania, a nova formação deve representar as novas demandas da sociedade.

“Temos exemplos nos novos movimentos cívicos e sociais. Essa compreensão que nos traz aqui”, acentuou.

Ele disse, ainda, que o instrumento de nova formação política “não é, evidentemente, o antigo partido”.

“Neste debate, podemos ajudar a discutir o novo que está surgindo. Esse trabalho que estamos tentando fazer é para isso. Com certeza, seremos capazes”, disse.

O secretário-executivo do seminário, Vinicius Muller, também destacou a importância de debater formas de defesa da democracia. Ele é historiador e professor do Insper. (Assessoria FAP)

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (26/08/2019)

0

MANCHETES

O Globo

Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia
Mortes por policiais crescem em nove estados
Cidade vai sediar 311 eventos, com injeção de R$ 4 bi
Witzel quer novo modelo de privatização da Cedae
Número de mulheres que aplicam em ações dobre em cinco anos
O silêncio de uma provocadora mestre das letras
Hong Kong: As táticas dos ativistas que não querem viver como na China

O Estado de S. Paulo

Pedidos para abrir sindicato despencam após reforma
Países ricos prometem ajuda contra queimadas
Atos pedem veto de Bolsonaro a projeto
PF vai investigar se houve incêndio criminoso no Pará
Produtores contam prejuízos do fogo
Novo deve discutir suspensão de Ricardo Salles
Exercício militar da Coreia do Sul aumentam tensão com os japoneses
Trum se contradiz sobre guerra comercial

Folha de S. Paulo

Senado negocia pacto que atinge 1 milhão de credores
G7 quer ajudar a combater incêndios na Amazônia
Governo Alckmin construiu viaduto sem utilidade pública
EUA não descartam subir tarifas contra China
Tasso Azevedo – É possível multar desmate como se faz com trânsito

Valor Econômico

Ajustes garantiram resultado das empresas no 2º trimestre
Alcolumbre costura apoio a Eduardo
G7 propõe mobilização global contra incêndios na região da Amazonia
Frustração no G7 com posição americana
Valor cria canal para reforma tributária
Acordo viabiliza trâmite da nova Lei de Falências

EDITORIAIS

O Globo

Renegociação em Itaipu precisa ser transparente

Retomada da negociação ocorre entre equipes técnicas, como deveria ter sido desde o início

Brasil e Paraguai retomaram as negociações sobre a contratação de energia de Itaipu. Espera-se que, desta vez, sejam conduzidas em bases técnicas, sem precipitações de governos ou interferências indevidas derivadas de interesses políticos e privados.

É necessário bom senso. Itaipu é um assunto de Estado, sempre prioritário. Trata-se de obra diplomática que pacificou a fronteira Sul e a transformou numa zona economicamente próspera, com dividendos para os dois países.

Para o Brasil, a usina é garantia de suprimento de 15% das necessidades energéticas. É a principal fonte de abastecimento do parque industrial das regiões Sul e Sudeste.

Para o Paraguai, tem outra dimensão. Responde por dois terços do Produto Interno Bruto. Despeja US$ 1 bilhão por ano na economia local, equivalente ao total de impostos das 500 maiores empresas paraguaias.

Itaipu tem a peculiaridade de ser uma empresa binacional. Pelo acordo, cada dólar gasto em um lado da fronteira deve, obrigatoriamente, corresponder ao dispêndio de um dólar na outra margem do Rio Paraná.

A negociação atual dos contratos é preparatória à revisão das condições estabelecidas no Anexo C do tratado de construção da usina há 43 anos. É uma fase de transição.

O Brasil quis acelerar essa etapa, com definições para a revisão de preços em 2023. Pressionou pela celeridade, no final do governo Temer, quando decidiu suspender uma fatura de US$ 54 milhões relativa à compra de energia.

O governo Bolsonaro manteve a pressão, natural numa negociação comercial, mas se precipitou na tentativa de reduzir o custo da energia comprada pelo Brasil. Um pré-acor-do foi assinado em maio. Veio a público no Paraguai, onde prevaleceu a interpretação de que favorecia o Brasil e lesava interesses paraguaios.

O governo de Mario Abdo Benítez, há um ano no poder, quase foi derrubado pela oposição, que conseguiu unir e mobilizar o país em manifestações de rua. Diante da reação, que incluiu protestos diante da embaixada brasileira, Abdo Benítez anunciou a decisão unilateral de cancelar o pré-acordo assinado.

A retomada da negociação agora ocorre entre equipes técnicas, como deveria ter sido. O fracasso anterior impõe a exigência adicional de que transcorram em absoluta transparência, sem subterfúgios e, muito menos, interferências indevidas, como se viu na tentativa de conceder a uma empresa privada brasileira o monopólio na comercialização de uma cota paraguaia (300 MW) da energia gerada—algo que é inviável pelos termos do tratado.

Itaipu é um monumento político à paz na fronteira Sul, erguido na memória de uma guerra devastadora (1864-1870). É assunto de Estado entre Brasil e Paraguai. Não importam as circunstâncias, muito menos os governos, não se pode e nem se deve relevar esta premissa.

O Globo

Anvisa tem de continuar a avançar na regulamentação do canabidiol

Substância medicinal derivada de maconha, já sendo usada, precisa de rápida normatização

Paralelamente à questão da descriminalização do uso de drogas, em especial a maconha, a ser julgada no Supremo, transcorrem embates em torno da permissão para o cultivo e uso da cannabis sativa para fins medicinais.

No momento, as atenções estão voltadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela avaliação da matéria, para certificar a obtenção da substância medicinal canabidiol, retirada da planta.

Decide-se o sinal verde à produção interna em escala comercial da substância, de aplicações múltiplas. O medicamento começou a ser conhecido pelos relatos do uso com sucesso contra graves convulsões em crianças, destacado na imprensa. Há casos também de sua ação como antidepressivo, assim como em doentes de Parkinson, no autismo, entre outros males.

Devido aos preconceitos que cercam a cannabis sativa, o processo de certificação da sua aplicação terapêutica se alonga, mas avança.

Há uma semana, encerrou o prazo de 60 dias da consulta pública aberta pela Anvisa, da qual participaram principalmente pessoas físicas. Houve quase mil contribuições.

O interesse reflete a demanda pelo medicamento: no primeiro semestre, a Anvisa recebeu 3.101 pedidos de autorização para importação do canabidiol, quase tanto quanto os 3.613 encaminhados em todo 2018.

Numa visão economicista, constata-se a existência de um mercado a ser atendido. Confirmados os efeitos benéficos da substância, não há por que impedir a regulamentação do medicamento. O presidente da Anvisa, William Dib, previu ao GLOBO que até novembro todo este processo estará concluído. Espera-se que de forma positiva.

A substância tHC da maconha “recreativa” aparece em muito pequena proporção no cânhamo, uma variante da cannabis, mais adequada à obtenção do canabidiol.

Sua produção nos Estados Unidos não para de crescer, onde há estados que, mediante plebiscitos, liberaram a maconha.

O cultivo do cânhamo é assunto também do jornalismo econômico, pela importância como negócio. Sua fibra serve até como matéria-prima para a produção de tecidos, por exemplo.

Recente reportagem do jornal inglês “Financial Times” informa que foram plantados este ano, nos Estados Unidos, 79 mil hectares com cânhamo, contra 51 mil no ano passado, crescimento de 55%. Este assunto é muito sério, como se vê, para ser tratado pela ótica do fundamentalismo.

O Estado de S. Paulo

Irresponsabilidade fiscal

Na quinta-feira passada, formou-se maioria no Supremo Tribunal Federal (STF) para declarar inconstitucional a permissão de diminuir a carga horária com a proporcional redução de salários de funcionários públicos, tal como previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal como forma de enfrentar situações de grave desequilíbrio das contas públicas. Uma vez que a Carta Magna não prevê expressamente essa possibilidade, a maioria dos ministros entendeu que, por força do princípio da irredutibilidade dos vencimentos, uma lei não pode criá-la.

O estranho nessa história é que não se pode nem mesmo dizer que a posição majoritária entre os ministros do STF protege a Constituição. Ao contrário, ela dificulta que sejam respeitados os limites previstos na Carta Magna. “A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar”, diz o art. 169 da Constituição. Como limite máximo para o gasto com pessoal, a Lei de Responsabilidade Fiscal determinou o porcentual de 60% da Receita Corrente Líquida.

Preocupada em assegurar que esse limite seja de fato respeitado, a Constituição previu medidas drásticas para a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios. Havendo risco de ultrapassar tal limite, o ente federativo deverá – trata-se de uma ordem constitucional, e não mera possibilidade – reduzir as despesas com cargos em comissão e funções de confiança em pelo menos 20% e exonerar servidores não estáveis.

Se essas medidas não forem suficientes, “o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal”. Tudo isso é texto constitucional, incorporado à Carta Magna por meio da Emenda Constitucional (EC) 19/1998. Aprovada após a EC 19/1998, a Lei de Responsabilidade Fiscal previu uma medida mais branda que a exoneração de servidores. “É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga horária”, estabeleceu a Lei Complementar 101/2000.

Com isso se forneceu aos Estados e municípios mais um caminho para que fosse respeitado o limite constitucional dos gastos com pessoal. Em determinadas situações, já não seria necessário demitir servidores por causa do desequilíbrio fiscal. Bastaria diminuir as despesas do ente federativo mediante a redução temporária da carga horária, com a correspondente diminuição do salário.

Pois bem, a maioria do Supremo entendeu que tal redução de carga horária é inconstitucional. Tem-se, assim, um sistema ilógico. Por uma questão fiscal, pode-se demitir o funcionário público. Esse ponto não estava em discussão, já que a Constituição o prevê expressamente. No entanto, para a maioria dos ministros do STF, não se pode reduzir o salário, mesmo quando se diminua a carga horária de trabalho.

O relator da ação, ministro Alexandre de Moraes, foi voto vencido. “Não seria razoável impedir ao legislador a criação de um caminho intermediário que preservasse a garantia maior, que é a estabilidade, por meio de uma relativização temporária e proporcional de uma garantia instrumental, a irredutibilidade de vencimentos”, lembrou o ministro Alexandre de Moraes, cujo voto foi acompanhado integralmente pelos ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes.

A Constituição não é um conjunto desconexo de normas. Ela dá forma e organiza todo o Estado. E, ao fixar os princípios que devem nortear o poder estatal, a Carta Magna reconhece a importância fundamental do equilíbrio das contas públicas. Como guardião da Constituição, o STF tem o papel de zelar pela efetividade de suas normas, promovendo – e não dificultando – a aplicação de medidas que assegurem a responsabilidade fiscal. A permissão de redução da carga horária e, consequentemente, de salários de servidores públicos prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal era uma clara ajuda para que o art. 169 da Carta Magna seja de fato cumprido. Não faz sentido, portanto, declará-la inconstitucional.

O Estado de S. Paulo

Mortes por armas nos EUA

Os recentes tiroteios no Texas e em Ohio reacenderam o debate sobre a letalidade das armas de fogo nos Estados Unidos. Tempestivamente, o Pew Research Center coligiu os dados mais atuais sobre mortes provocadas por armas no país.

Em 2017, 39.733 mortes foram causadas por armas – sendo 60% delas suicídios e 37% assassinatos. Considerando o total de assassinatos no país, três quartos foram por armas. De todos os suicídios, metade foi por armas. Em três anos os assassinatos por armas cresceram 32% e em uma década os suicídios cresceram 41%. Em bases per capita, a taxa de mortes por armas em 2017 foi de 12 pessoas por 100 mil – a maior em mais de duas décadas, mas menor que a do pico histórico de 1974, que foi de 16,3 por 100 mil. A taxa atual, de 4,6 assassinatos por 100 mil pessoas, está bem abaixo dos 7,2 registrados em 1974, assim como os atuais 6,9 suicídios por 100 mil estão abaixo dos 7,7 de 1977.

Os EUA estão na 20.ª posição mundial em taxas relativas de letalidade por armas. O ano de 2016 registrou 10,6 mortes a cada 100 mil pessoas, muito acima de países em condições socioeconômicas similares, como França (2,7), Canadá (2,1), Alemanha (0,9) ou Espanha (0,6), mas muito abaixo de vizinhos latino-americanos, como El Salvador (39,2), Colômbia (25,9) ou Brasil (19,4).

Um fenômeno peculiarmente norte-americano são os tiroteios em massa. Há grande variação nas estimativas, dada a dificuldade de definir consensualmente o termo “tiroteio em massa”. O FBI utiliza a indexação “incidentes com atiradores ativos” ou seja “um ou mais indivíduos ativamente empenhados em matar ou tentar matar pessoas em uma área populosa”. Segundo essa definição, 85 vítimas morreram em 2018. Já o Arquivo de Violência por Armas define tiroteios em massa como incidentes nos quais pelo menos quatro pessoas são baleadas. Nestes termos, 373 vítimas morreram em 2018.

Apesar de as variações anuais no número de tiroteios em massa tornarem difícil identificar uma tendência inequívoca, o FBI registra um crescimento alarmante. Entre 2000 e 2006, a média de incidentes foi de 6,4 por ano; entre 2007 e 2013, foi de 16,4; entre 2014 e 2016, de 20; e em 2017 houve 30 incidentes. Outra pesquisa recente do Pew Research permite vislumbrar a cultura e os hábitos sociais por trás desses fatos. Três em cada dez americanos possuem uma arma. Dois terços (67%) desses proprietários declaram que sua principal razão é a autodefesa – além disso, predominam a caça (38%) e o tiro esportivo (30%). Quase seis em cada dez americanos (57%) entendem que a legislação deveria ser mais restritiva, enquanto 31% estão satisfeitos e 11% acreditam que deveria ser menos restritiva.

Apesar das dissidências históricas entre republicanos e democratas, há algumas políticas sobre as quais há concordância. Nove em dez republicanos e democratas acreditam que pessoas com transtornos mentais, assim como aquelas registradas em listas de vigilância, não deveriam poder comprar armas, e a maioria dos democratas (91%) e republicanos (79%) é a favor da checagem de antecedentes para as vendas privadas de armas. Por outro lado, republicanos são muito mais favoráveis do que os democratas a que funcionários de escolas possam portar armas e que cidadãos possam portar armas em locais hoje proibidos (68% contra 22%). Os democratas são muito mais favoráveis ao banimento de rifles de assalto (81% contra 50%).

Em relação aos efeitos das restrições legais, os americanos estão divididos: 47% acreditam que elas reduziriam os tiroteios, enquanto 46% dizem que não mudariam nada. Já quanto aos crimes, 37% acham que aumentariam se mais americanos possuíssem armas; 33% dizem que não haveria diferença; e 29% acreditam que haveria menos crimes. Em um momento em que o Brasil discute seus regulamentos sobre armas, pesquisas como essas são oportunas para lembrar que o debate, além de ser conduzido com espírito cívico, deve ser abastecido por dados sólidos.

O Estado de S. Paulo

Simplismo tributário

Um levantamento feito pelo Estado mostrou que pelo menos 15 dos 30 líderes de partidos na Câmara são contrários à criação de uma nova Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Esses líderes representam 65% dos votos da Câmara. Trata-se de uma ótima notícia. Significa que há robusta resistência no Congresso a ideias que, a título de “simplificar” o sistema tributário, na verdade revelam uma visão simplista dos graves problemas a serem enfrentados nessa espinhosa seara.

A CPMF, convém recordar, era um tributo teratológico, aspecto que sua aparente simplicidade jamais conseguiu esconder. Não há justificativa para um imposto que incide sobre a mera transferência de dinheiro, pois a base de arrecadação de qualquer sistema tributário racional se assenta apenas sobre produção, circulação de bens e serviços, operações financeiras, renda e propriedade. Para piorar, a CPMF era um imposto que incidia em cascata, ou seja, afetava todos os participantes da cadeia produtiva, gerando óbvia pressão inflacionária e reduzindo a competitividade do produto nacional. Por fim, mas não menos importante, a CPMF era um imposto regressivo, isto é, incidia proporcionalmente mais sobre quem ganhava menos.

É forçoso reconhecer que o modelo da CPMF parece ser o mais conveniente para a máquina arrecadatória do Estado, pois reduz a necessidade de fiscalização e amplia de modo considerável a base tributária. Foi essa característica, aliás, que ajudou a transformar o “P” de “provisório” em “P” de permanente, e o imposto criado em 1996 como medida emergencial para financiar a Saúde só foi eliminado em 2007.

Desde então todos os governos namoraram a ideia de ressuscitar a CPMF, que seria a solução mágica para dispensá-los de elaborar uma reforma tributária digna do nome. No atual governo, o grande advogado da volta da CPMF é o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que defende uma versão ainda mais radical do imposto – que incidiria não apenas sobre movimentações bancárias, mas sobre todo o fluxo de pagamento, mesmo que seja feito em dinheiro vivo. Até o nome seria simplificado: Contribuição sobre Pagamento (CP).

Aparentemente, o secretário Marcos Cintra está isolado nessa batalha, pois o próprio presidente Jair Bolsonaro informou que é contra a recriação da CPMF. “Já falei que não existe CPMF, é decisivo”, declarou Bolsonaro no início do mês. No entanto, como o presidente já se desdisse muitas vezes, coerente com seu modo errático e imprevisível de governar, tudo é possível.

Ademais, há uma realidade incontornável: o governo precisa urgentemente melhorar sua arrecadação, e o sintoma mais evidente dessa necessidade é a iminência de um shutdown (paralisação) da máquina pública – a própria Receita, como se noticiou recentemente, pode vir a desligar nos próximos dias seus sistemas informatizados em razão dos seguidos cortes orçamentários. Essa é a realidade de todo o governo, segundo o próprio presidente Bolsonaro: “Os ministros estão apavorados. Não tem dinheiro. A gente está vendo o que pode fazer para sobreviver”.

O imperativo da “sobrevivência”, contudo, não pode servir de pretexto para tratar de modo rudimentar a complexa questão tributária. Ao contrário, agora é o momento de discutir a sério a estrutura de impostos no Brasil, reconhecidamente uma das piores do mundo – pois, além de ser pesada, burocrática e regressiva, castiga quem quer empreender.

Felizmente, o clima no Congresso não parece favorável à adoção de atalhos fiscais, e as atenções dos parlamentares estão voltadas para a discussão de propostas de reforma tributária bem mais responsáveis. Por ora minoritário na questão, o líder do PSL, partido de Bolsonaro, Delegado Waldir, disse que é a favor de “simplificar a vida do empresário”, argumento que se sustenta somente no aspecto formal da CPMF, mas que está longe de representar seus efeitos amplamente deletérios sobre a economia. Se o interesse do governo é arrecadar mais, o primeiro passo é não atrapalhar quem produz.

Folha de S. Paulo

Privatize-se

Governo lança plano tímido de desestatizações; venda dos Correios, a mais importante da nova lista, dependerá de definições regulatórias

O governo anunciou um plano de venda de estatais ainda preliminar e tímido diante das expectativas criadas. Mais nove empresas passam a constar da lista, mas, fora isso, pouco mais se sabe sobre prazos, procedimentos e regulação.

Ainda assim, cumpre observar que, enfim, algo se move para a privatização de estatais diretamente controladas pelo Tesouro Nacional — até aqui, basicamente só avançou neste ano a alienação de subsidiárias da Petrobras.

Segundo o mais recente boletim oficial, o governo possuía até abril 133 empresas, das quais 87 subsidiárias de Petrobras (34), Eletrobras (30), Banco do Brasil (16), BNDES (3), Caixa Econômica Federal (3) e Correios e Telégrafos (1).

Desse grupo de grandes companhias, a Eletrobras já tem sua desestatização planejada desde o governo Michel Temer (MDB). Agora, propõe-se também a venda dos Correios. Esta, sem dúvida, será bem-vinda — e o esbulho sofrido pela companhia ao longo dos anos petistas não é o único exemplo dos males do controle estatal.

Há, porém, decisões importantes a tomar. Especula-se, por exemplo, que a empresa venha a ser cindida em uma operação de logística e encomendas, como qualquer outra do ramo, e uma de serviços postais, ainda pertencente à União.

Na hipótese de privatização integral, restará definir como assegurar os serviços públicos prestados pela estatal, caso da entrega de correspondência em rincões do país.

Existem dúvidas similares sobre o destino de Serpro e Dataprev, que prestam serviços de tecnologia de informação, armazenamento e processamento de dados.

Lidam, nessa condição, com informações sensíveis ligadas a Previdência Social, carteiras de motorista, multas e registros fiscais, entre outros exemplos. Não está claro se haverá monopólio ou concorrência em tais atividades.

Nota-se, pois, a necessidade de cautelas regulatórias. Além do mais, o Congresso terá de aprovar a venda de certas empresas. Parece muito improvável que o processo esteja concluído até 2020.

No mais, será privatizada a controversa Companhia Docas do Estado de São Paulo, palco de muitas irregularidades, além dos portos de São Sebastião e do Espírito Santo. A empresa de chips Ceitec já vai mais do que tarde.

Observam-se ausências gritantes na lista de privatização. Entre elas, a Valec, de construção e administração de ferrovias, inepta e envolvida em corrupção. O inchaço e fracasso de audiência da EBC, de rádio e TV, pedem solução urgente.

É preciso, enfim, dar um destino a pelo menos outra dúzia de empresas, que não têm função pública, apenas absorvem recursos escassos ou são empecilhos ao funcionamento do mercado.

Para um governo que se alardeia liberal, o plano de desestatização ainda caminha de modo lento.

Folha de S. Paulo

Privatize-se

Governo lança plano tímido de desestatizações; venda dos Correios, a mais importante da nova lista, dependerá de definições regulatórias

O governo anunciou um plano de venda de estatais ainda preliminar e tímido diante das expectativas criadas. Mais nove empresas passam a constar da lista, mas, fora isso, pouco mais se sabe sobre prazos, procedimentos e regulação.

Ainda assim, cumpre observar que, enfim, algo se move para a privatização de estatais diretamente controladas pelo Tesouro Nacional — até aqui, basicamente só avançou neste ano a alienação de subsidiárias da Petrobras.

Segundo o mais recente boletim oficial, o governo possuía até abril 133 empresas, das quais 87 subsidiárias de Petrobras (34), Eletrobras (30), Banco do Brasil (16), BNDES (3), Caixa Econômica Federal (3) e Correios e Telégrafos (1).

Desse grupo de grandes companhias, a Eletrobras já tem sua desestatização planejada desde o governo Michel Temer (MDB). Agora, propõe-se também a venda dos Correios. Esta, sem dúvida, será bem-vinda — e o esbulho sofrido pela companhia ao longo dos anos petistas não é o único exemplo dos males do controle estatal.

Há, porém, decisões importantes a tomar. Especula-se, por exemplo, que a empresa venha a ser cindida em uma operação de logística e encomendas, como qualquer outra do ramo, e uma de serviços postais, ainda pertencente à União.

Na hipótese de privatização integral, restará definir como assegurar os serviços públicos prestados pela estatal, caso da entrega de correspondência em rincões do país.

Existem dúvidas similares sobre o destino de Serpro e Dataprev, que prestam serviços de tecnologia de informação, armazenamento e processamento de dados.

Lidam, nessa condição, com informações sensíveis ligadas a Previdência Social, carteiras de motorista, multas e registros fiscais, entre outros exemplos. Não está claro se haverá monopólio ou concorrência em tais atividades.

Nota-se, pois, a necessidade de cautelas regulatórias. Além do mais, o Congresso terá de aprovar a venda de certas empresas. Parece muito improvável que o processo esteja concluído até 2020.

No mais, será privatizada a controversa Companhia Docas do Estado de São Paulo, palco de muitas irregularidades, além dos portos de São Sebastião e do Espírito Santo. A empresa de chips Ceitec já vai mais do que tarde.

Observam-se ausências gritantes na lista de privatização. Entre elas, a Valec, de construção e administração de ferrovias, inepta e envolvida em corrupção. O inchaço e fracasso de audiência da EBC, de rádio e TV, pedem solução urgente.

É preciso, enfim, dar um destino a pelo menos outra dúzia de empresas, que não têm função pública, apenas absorvem recursos escassos ou são empecilhos ao funcionamento do mercado.

Para um governo que se alardeia liberal, o plano de desestatização ainda caminha de modo lento.

Alessandro Vieira diz que Congresso deve ter comissão para auditar ações do Meio Ambiente

0

Comissão para auditar ações do Meio Ambiente deve ter Câmara e Senado

Ana Carolina Amaral – Blog Ambivalência/Folha de S. Paulo

Salvador (BA) Parlamentares pedem ao presidentes da Câmara e do Senado a criação de uma comissão externa para acompanhar as ações do Ministério do Meio Ambiente frente às queimadas na Amazônia.

A instalação depende apenas da assinatura do presidente de cada casa legislativa, segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), presidente da recém-criada comissão mista de mudanças climáticas do Congresso.

O senador Alessandro Vieira busca reunir os requerimentos protocoladas na Câmara e no Senado para evitar duplicidade de trabalhos com a instalação de uma comissão conjunta.

Na manhã desta sexta-feira (23), o senador se reuniu em Salvador com o prefeito da cidade, ACM Neto, que preside o partido dos presidentes das casas legislativas, o DEM.

Davi Maia, ACM Neto e Alessandro Vieira – Foto: Camila Godinho

“O ideal é que seja uma comissão mista, de deputados e senadores. O Rodrigo Maia já se pronunciou e tenho certeza que o Senado não vai deixar de fazer. O Senado vai fazer”, afirmou ACM Neto ao blog.

Rodrigo Maia, presidente da Câmara, já havia se pronunciado na quinta (22), pelo Twitter, afirmando que a Câmara criará a comissão.

“Que seja uma comissão que tenha o respaldo do parlamento para fiscalizar as ações que o governo vai adotar em relação a essa crise”, completou ACM Neto.

A reunião aconteceu na capital baiana durante a Climate Week, semana do clima da ONU. Logo antes, os movimentos Agora, Livres e Acredito se pronunciaram no evento comunicando que haviam pedido ao Legislativo a instalação da comissão.

“Os movimentos pedem comissão externa dentro do MMA para fazer uma auditoria nas ações”, disse Natalie Unterstell, cofundadora do Agora.

Entre os trabalhos que a comissão deve averiguar, estão a fiscalização ambiental de crimes contra a flora, gestão de unidades de conservação, a contratação de imagens de satélite e o Fundo Amazônia.

Os instrumentos de trabalho da comissão incluem visitas ao ministério, requerimentos para obtenção de informação e convocação para audiências públicas.

A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS).

Bancada no Senado: Veja o resumo das atividades da semana

0

A semana de atividades no Senado Federal foi marcada pelo início das audiências públicas para discussão da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma da Previdência, em tramitação na Casa, a aprovação do projeto da Liberdade Econômica, o debate sobre um novo pacto federativo e a repercussão da declaração do presidente Jair Bolsonaro de que ONGs (Organizações não Governamentais) e governadores estariam por trás das queimadas na Amazônia.

A líder do Cidadania, Eliziane Gama (MA), pediu na quarta-feira (21) para a PF (Polícia Federal) e o Ministério Público Federal investigarem a denúncia feita pelo presidente da República (veja aqui). 

“Isso tudo vindo da maior autoridade do Poder Executivo caracteriza uma denúncia muito séria que merece apuração meticulosa dos órgãos de fiscalização e repressão”, avaliou a parlamentar que não descartar apresentar um pedido de instalação CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ou mesmo  de criação de comissão mista de senadores e deputados para a apuração do caso.  

Eliziane ressalta que a denúncia envolve crimes contra os bens da União, como aqueles praticados em terras devolutas indispensáveis à preservação ambiental e em terras indígenas, assim como contra a fauna, podendo mesmo envolver animais ameaçados de extinção e a terras onde se acham minerais, que também constituem bens da União.

A senadora maranhense destacou no pedido de investigação que esses fatos “constituem graves infrações criminais, além de implicar enormes prejuízos não apenas à imagem do Brasil no mundo, mas também aos interesses do agronegócio brasileiro”.

Pacto Federativo

Eliziane é líder do Cidadania no Senado

Ao participar de reunião da Frente Parlamentar Norte, Nordeste e Centro-Oeste de senadores e governadores na terça-feira (20), em Brasília, Eliziane Gama disse após o encontro que o Senado está em busca de alternativas para tirar os estados da grave situação fiscal que se encontram, e que a celebração de um novo pacto federativo pode ser uma das saídas para recuperar as finanças estaduais (veja aqui).

“Precisamos votar a reforma da Previdência e acordar com o governo um pacto federativo envolvendo PECs [Propostas de Emenda à Constituição] e projetos de lei para o Executivo resolver algumas pendências, como a destinação de recursos aos estados da Lei Kandir e do Plano Mansueto. Mas para isso aconteça, o governo precisa ter boa vontade e o Congresso Nacional efetividade e agilidade para darmos um alternativa aos estados do Nordeste e os que estão em situação fiscal complicada”, defendeu.

Observatório da Mulher

Na quarta-feira (21), Eliziane Gama solicitou a implantação do OMV (Observatório da Mulher contra a Violência) no Maranhão. O Observatório é uma plataforma de referência nacional e internacional em dados, pesquisa, análise e intercâmbio entre as principais instituições atuantes no tema da violência contra as mulheres (veja aqui).

“A partir dessa iniciativa, queremos compartilhar com o estado as ferramentas desenvolvidas pelo Senado, para auxiliar no aprimoramento de políticas de enfrentamento à violência contra mulheres maranhenses”, disse, ao ressaltar que a parceria será feita com a secretaria estadual da Mulher.

O OMV foi criado pelo Senado em 2016 com o objetivo de reunir e sistematizar as estatísticas oficiais sobre a violência contra a mulher. O Observatório atende às recomendações do relatório final da CPMI de Combate à Violência contra a Mulher. 

Apoio aos auditores da Receita

Na quarta-feira (21), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) manifestou apoio no plenário apoio à mobilização dos auditores da Receita Federal contra a interferência política em postos-chave do órgão. Os protestos da categoria foram realizados em diversas capitais e, em Brasília, o Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil) promoveu um abraço simbólico no Congresso Nacional, e entregou aos senadores uma carta com pedido de apoio do Senado aos servidores da Receita (veja aqui).

Segundo o parlamentar do Cidadania, é possível se perceber com clareza o ataque às instituições que fazem o combate à corrupção.

“Eu reforço a necessidade de que o Senado da República cumpra seu papel constitucional, dê andamento às diversas demandas de investigação que existem com relação a abusos e equívocos perpetrados por ministros do Supremo Tribunal Federal e faça valer a vontade das urnas”, cobrou o senador, autor de pedidos de CPI, arquivados, para que se investigue condutas de ministros dos tribunais superiores.

CPI da Lava Toga

Em entrevista ao programa “Os Pingos Nos Is”, da rádio Jovem Pan, na quinta-feira (22), o senador Alessandro Vieira disse que o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, e os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes agem politicamente contra o combate à corrupção no País (ouça aqui).

Senador é autor do pedido da CPI

Autor do requerimento de criação da CPI da Lava Togo para investigar no Senado a ação do STF, ele está colhendo assinaturas para a abertura da comissão. O foco da CPI será o inquérito das fake news, aberto por Dias Toffoli para investigar supostas notícias falsas contra a Corte. A relatoria é do ministro Alexandre de Moraes.

“O ministro Dias Toffoli e mais outros dois ministros estão atuando politicamente para ir contra o combate à corrupção. Posso dizer claramente que são Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes”, disse.

O parlamentar argumentou no programa que o Senado é a única instituição com poderes para investigar ministros do STF.

“A gente está falando de ministros. A Casa que tem força para fazer isso é o Senado”, afirmou, lembrando que o direito é garantido pela Constituição.

“É um verdadeiro AI-5 do STF”, disse Alessandro Vieira, comparando a um dos Atos Institucionais do governo militar nos anos 1960.

“É um instrumento de poder que ele [Toffoli] está usando para fazer uma série de barganhas pelo Brasil”, completou.

Semana do Clima 

Na sexta-feira (23), o senador do Cidadania de Sergipe participou da conferência Climate Week, Semana Climática da América Latina e Caribe, em Salvador. Ele é presidente da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas do Congresso Nacional para o biênio 2019-2020.

Realizada todos os anos na África, América Latina e Caribe e Ásia-Pacífico, as Semanas Regionais do Clima são plataformas colaborativas únicas para entidades governamentais e não governamentais abordarem a amplitude das questões climáticas sob uma estrutura única.

Votação à distância

A Comissão de Ciência e Tecnologia aprovou, na quinta-feira (22), requerimento de audiência de Alessandro Vieira para debater a criação de um ambiente virtual de deliberação no âmbito das comissões do Senado, a exemplo do que já ocorre no âmbito do Poder Judiciário (veja aqui). 

 

Eliziane Gama: Reforma da Previdência tem de ser justa para proteger minorias

0

A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA), destacou a necessidade de uma reforma da Previdência “justa para o Brasil” na tramitação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) na Casa. Ela lembrou que o Cidadania tem defendido historicamente as reformas estruturais para o equilíbrio fiscal e social do País, e que vai trabalhar de “forma muito responsável” para fazer as alterações no texto aprovado pela Câmara dos Deputados.

“A reforma previdenciária tem de ser justa para que proteja as minorias, os que têm menos e aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade”, defendeu, ao citar levantamento apontando que a média das aposentadorias no Legislativo é de R$ 28 mil, no Judiciário de R$ 26 mil, no Ministério Público de R$ 18 mil e no Executivo de R$ 7 mil.

“Agora, para aqueles que recebem pelo INSS [Instituto Nacional do Seguro Social] , a média mensal é de R$ 1.240. Sem falar, por exemplo, do processo burocrático: uma mulher chega, em média, a demorar sete anos para conseguir aposentadoria quando alcança a idade mínima, e aí se inicia todo o processo. Demora sete anos para que ela, de fato, possa ter acesso à sua aposentadoria”, ressaltou.

Segundo ela, as mudanças nas regras das aposentadorias não podem punir os que estão em situação de maior vulnerabilidade, mas dar condições mínimas para que a justiça social prevaleça no País.

Para Eliziane, o Senado não pode perder a oportunidade de garantir seu protagonismo na análise da reforma mesmo diante da urgência da aprovação da proposta.

“Mas nós não podemos atropelar e nem podemos perder a oportunidade de melhorar e aperfeiçoar o texto [aprovado pelos deputados]”, disse.

Além de apoiar a chamada PEC Paralela, que prevê a inclusão de servidores públicos estaduais, distritais e municipais na tramitação da reforma no Senado, a senadora maranhense disse que vai apresentar “três ou quatro” emendas supressivas ao texto para a proposta não precisar voltar à análise da Câmara (veja abaixo).

Estados

A senadora também manifestou preocupação quanto à situação fiscal dos estados com gastos previdenciários.

“Preocupa-me muito nós colocarmos na Constituição a questão da emissão do Certificado de Regularidade Previdenciária já que nós temos hoje uma Lei de Responsabilidade Fiscal”, disse.

Segundo ela, a preocupação se deve porque dos 27 estados apenas quatro “estariam minimamente” dentro de um critério de equilíbrio fiscal.

BPC

Eliziane Gama também citou “outros três pontos” que no seu entendimento não deveriam ser tratados pela reforma da Previdência.

“Um é a questão do BPC [Benefício de Prestação Continuada]. Nós avançamos no texto da Câmara dos Deputados quando tiramos, por exemplo, a redução para R$ 400 do BPC, mas, ao mesmo tempo nós mantivemos a questão da garantia de um quarto de salário mínimo. Ora, essa definição de um quarto de salário mínimo data de 1993”, disse ao citar que de lá para cá houve uma evolução no valor do benefício para meio piso.

Ela disse que no caso de seu estado, o Maranhão, metade dos benefícios do BPC está na ordem de meio salário mínimo.

“Ou seja, nós vamos cortar metade do benefício de todo o Brasil quando nós constitucionalizarmos o BPC. E ainda mais: esse valor é pouco mais de R$ 20 bilhões no valor do bolo final de aproximadamente R$ 1 trilhão, que é a economia que o governo prevê que fará pelos próximos 10 anos. É muito pequeno esse valor. Nós poderíamos de fato suprimir esse ponto específico também”, defendeu a parlamentar.

Abono salarial e pensão por morte

A senadora também chamou a atenção para a questão do abono salarial, que de acordo com o texto da Câmara vai cair de dois salários mínimos para 1,2 salário mínimo.

“Aliás, as duas matérias não são de ordem previdenciária. O BPC é de ordem assistencial, e na questão do abono salarial, o recurso vem do FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador]. Não são matérias de cunho previdenciário. Nós poderíamos também suprimi-las, e, no meu entendimento, não traríamos prejuízo para a promulgação da reforma da Previdência”, disse.

Já sobre a questão da pensão por morte, Eliziane Gama avaliou que o texto tal como aprovado na Câmara contraria o princípio de direito individual, porque a pessoa que recebe esse tipo benefício e acumular um emprego formal, terá pensão de 60% do salário.

“Isso vai atingir, na sua maioria absoluta, a aposentada rural se tiver a formalização de seu salário. E, com essa formalização, ela passará a ganhar menos, ou seja, se o marido morre e se mulher tinha uma renda de dois salários mínimos, ela vai ganhar um salário mínimo e meio. Imaginem o impacto disso na vida familiar”, disse a senadora, que propõe a retirada desse item, do BPC e do abono salarial do texto da reforma.