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Luiz Carlos Azedo: A crise no Estado-Maior

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NAS ENTRELLINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

As tragédias na política costumam acontecer quando os governantes não conseguem formar um estado-maior e deixam se aprisionar numa “jaula de cristal”, na qual pululam os áulicos da corte, que são aqueles que realmente têm acesso à sua personalidade. O presidente Jair Bolsonaro tem um Estado-Maior predominantemente formado por generais acostumados ao planejamento estratégico, a partir de construção de cenários, definição de objetivos e construção de alternativas, mas sua corte é formada pelos filhos e áulicos, com um guru sem papas na língua, o escritor Olavo de Carvalho, que zela pela “pureza” ideológica do governo.

Via de regra, um governante é um homem sem vida privada, na vitrine da opinião pública, que não pode aparecer perante os cidadãos como é realmente nem deixar transparecer seu estado de ânimo. Aparentemente, durante a semana, Bolsonaro não tem muito como fugir dos protocolos, da agenda oficial, da rotina imposta pelos generais que controlam o Palácio do Planalto; no fim de semana, porém, a família e os áulicos se encarregam de “libertá-lo” desse esquema de quartel. E é aí que o circo pega fogo. Na maioria das vezes, o fogaréu é provocado pelo escritor Olavo de Carvalho. Não foi diferente no último fim de semana, quando o amigo e ideólogo do governo novamente direcionou sua metralhadora verbal de baixo calão para o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, aprofundando a disputa entre os militares e o grupo político do clã Bolsonaro.

A diferença, desta vez, foi a reação do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas, que hoje ocupa uma discreta assessoria no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, mas é uma eminência parda no governo. Apesar de gravemente enfermo de uma doença degenerativa, com seu estoicismo e capacidade intelectual, Villas Boas ainda é o grande líder das Forças Armadas. Foi duríssimo com Olavo de Carvalho: “Verdadeiro Trotski de direita, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros. Por outro lado, age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país”.

A comparação com Trotski é até injusta, pois o líder comunista foi o responsável pela formação do Exército Vermelho e teve um papel na história muito mais relevante, pois rivalizou com Stálin na disputa pelo comando da antiga União Soviética, enquanto Olavo de Carvalho é escritor radicado nos Estados Unidos que ganhou fama e influência com a eleição de Bolsonaro, mas não ocupa nenhum cargo no governo. Com essa declaração nas redes sociais, porém, acentuou a principal contradição do atual governo: como Carvalho, Bolsonaro aposta na divisão ideológica do país, num momento em que a nação precisa de coesão política para enfrentar seus desafios.

Crises internas

Por pura ironia, como aconteceu com Trotski, porém, Bolsonaro faz história, mas não tem consciência de que não controla as circunstâncias em que isso ocorre. Por isso, a divisão entre seus generais e os políticos que o cercam está se tornando um fosso cada vez mais profundo, ainda que o presidente da República tente minimizar o problema. No fim da tarde de ontem, mais uma vez, pôs panos quentes na crise: “Não existe grupo de militares nem grupo de olavos aqui. Tudo é um time só”, disse.

A declaração serviu para acabar com os boatos de que Santos Cruz estava demissionário. O general havia se reunido com Bolsonaro no domingo e saiu do encontro sem dar entrevistas. “O que eu tenho falado é que, de acordo com a origem do problema, a melhor resposta é ficar quieto. Essa orientação que eu tenho falado”, disse o presidente da República, resumindo a conversa com o ministro. Segundo afirmou, Santos Cruz segue prestigiado no cargo e saberá lidar com a situação: “Estamos em uma guerra. Eles, melhores do que vocês, estão preparados para uma guerra”, disse Bolsonaro, a propósito dos ataques de Olavo de Carvalho nas redes sociais tanto a Santos Cruz quanto ao vice-presidente Hamilton Mourão, alvo constante de ataques de Olavo e do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República.

Mas que guerra é essa? Bolsonaro é um governante com metas ambiciosas de diferenciação política. O que está sendo posto à prova é sua capacidade e a de sua equipe para alcançar essas metas. Uma das maneiras de dissimular as próprias dificuldades e justificá-las é a linguagem bélica, atribuindo os fracassos aos inimigos. Todas as crises no governo foram criadas pela própria corte de Bolsonaro, pois, desde as eleições, a oposição perdeu a capacidade de iniciativa política. Um governo não pode ser melhor do que o gabinete do presidente da República. (Correio Braziliense – 07/05/2019)

Almira Rodrigues: Muita luta ainda será necessária para a efetivação dos direitos das mulheres

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Segundo a autora, a situação de mulheres de subordinação nas relações afetivo-sexuais e de reduzida presença nos espaços de poder comprometem a democracia em seu sentido mais amplo

“Apesar das conquistas como o direito ao voto para as mulheres, à instrução, à ampliação dos postos de trabalho, à saúde física, sexual e reprodutiva, à participação política, muita luta ainda será necessária para a efetivação desses direitos.”

Essa é a avaliação de Almira Rodrigues, em artigo publicado na sexta edição da revista Política Democrática online (veja aqui), produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania, novo nome do PPS (Partido Popular Socialista).

De acordo com Almira, o dia 8 de março é comemorado como um dia de luta, em que as mobilizações denunciam as desigualdades de gênero e o comprometimento da cidadania das mulheres em todo o mundo.

“Dia em que muitas mulheres e homens solidários se nutrem de feminismo e expressam a esperança em um mundo justo e fraterno, onde todos possam viver com dignidade e respeito, uma vez que as mulheres historicamente têm sido privadas desses direitos”, escreve ela.

Apesar das conquistas realizadas desde 1910 – ano em que foi adotado o Dia Internacional da Mulher na Conferência de Mulheres Socialistas, em Copenhague –, como o direito ao voto para as mulheres, à instrução, à ampliação dos postos de trabalho, à saúde física, sexual e reprodutiva, à participação política, muita luta ainda será necessária para a efetivação desses direitos.

“As mulheres vivenciam toda a diversidade social: de classe e remuneração, raça/etnia, idade, instrução social, cultura, religiosidade, sexualidade (heterossexuais, bissexuais, lésbicas), gênero (mulheres cisgêneras, transgêneras, transexuais, travestis, intersexo). Movimentos feministas e de mulheres abordam essas especificidades a serem consideradas nas políticas públicas que devem se dirigir a todos e, principalmente, aos grupos mais discriminados e violentados”, afirma a autora.

Segundo Almira, é importante refletir e combater os mecanismos de reprodução de práticas discriminatórias em relação às mulheres, bem como os aspectos culturais e psicológicos que reforçam práticas abusivas e vitimistas visando desconstruí-los.

“A situação de mulheres de subordinação nas relações afetivo-sexuais e de reduzida presença nos espaços de poder comprometem a democracia em seu sentido mais amplo, de humanidade, inclusão e generosidade. Criar solidariedade, enfrentar os poderosos e construir novas sociedades são desafios postos pelos feminismos. Que se afirmem a vontade e a responsabilidade de deixar um mundo melhor para os que virão”. (Assessoria FAP)

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (07/05/2019)

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MANCHETES

O Globo

Gasto com aposentados no país é o maior da América Latina
Governo vai bancar que Coaf fique na Justiça
Diretor de pesquisas do IBGE é exonerado
Dom Walmor: Bispo moderado e alinhado ao Papa Francisco é novo presidente da CNBB
Clima de incerteza ameaça leilão da Avianca
Revolta após morte na Rocinha
Há 1 milhão de espécies ameaçadas, alerta ONU

O Estado de S. Paulo

‘Olavo presta desserviço ao País’, afirma general Villas Bôas
Plano contra aquecimento global perde 96% da verba
‘Reclamam de funcionário público, mas querem ser iguais’
Tabata Amaral contraria PDT e apoia reforma da Previdência
Witezel causa polêmica ao participar de operação policial
Bradesco mira alta renda e compra banco nos EUA

Folha de S. Paulo

STF pode aumentar gastos do governo em R$ 147 bilhões
Governo vai cortar mais se Congresso não aprovar crédito suplementar
Olavo age como Trótski de direita, diz general
Operação da polícia na Maré deixa oito mortos
Estudantes se mobilizam contra corte de verba
Direitos humanos não se manifestaram, afirma Doria sobre morte de PMs
Um milhão de espécies estão em risco de extinção
Ameaça de Trump contra produtos chineses derruba bolsas pelo mundo
EUA discutem eficácia do ensino em casa, tema de projeto de Bolsonaro

Valor Econômico

Gasto com pessoal nos Estados deverá ter regra única na LRF
Disputa entre EUA e China afeta mercados
Kraft admite problemas em balanços
Bradesco compra banco nos EUA
É mais barato abrir capital no Brasil
Times de SP vão à Justiça contra ISS
Crise da Avianca poupa ponte-aérea, mas preços sobem

EDITORIAIS

O Globo

O Coaf precisa mesmo ficar na Justiça

Seguir o fluxo do dinheiro é essencial no combate a organizações criminosas

O anúncio feito ontem pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de que o governo fechou questão para manter oConselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no Ministério da Justiça e Segurança Pública garante um reforço depeso no enfrentamento do crime organizado, grave ameaça enfrentada pelo Estado e a sociedade. Comparável à das máfias na Itália. Originalmente ligado ao Ministério da Fazenda, o Coaf é essencial para o rastreamento de fluxos de dinheirolegal. Com o avanço da tecnologia digital e a elevada informatização do sistema bancário do país, o conselho, criado em 1998, se converteu em ferramenta básica na segurança pública. A discussão sobre o destino do órgãos e deve à sua transferência do Ministério da Economia para a pasta da Justiça e Segurança Pública, nas mãos do ex-juiz Sergio Moro.

Políticos temem o poder que o magistrado da operação Lava-Jato possa ter. Daí as articulações no Congresso para que, na tramitação da medida provisória da reforma administrativa, que redesenhou os ministérios, o Coaf seja devolvido ao Ministério da Economia. O governo apoiar Moro na manutenção do Coaf na Justiça é a melhor alternativa. A decisão foi comunicada ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e ao relator do projeto na Casa, Fernando Bezerra (MDB-PE) — ele ainda irá para a Câmara, onde as resistências à ida do Coaf para a Justiça seriam maiores.

Um ponto relevante do novo arranjo administrativo feito por Jair Bolsonaro foi criar dois polos fortes no seu governo, o Ministério da Economia — uma pasta da Fazenda, já importante por si, robustecida — e o Ministério da Justiça e Segurança Pública, entregues a Paulo Guedes e a Moro. Um e outro passaram a ter os meios possíveis para executar as duas tarefas principais deste governo: a reforma da economia e do Estado, que começa pelas mudanças estratégicas na Previdência. E o fortalecimento do poder público para enfrentar de maneira eficaz a corrupção e a criminalidade organizada, cada vez mais forte, por falta de uma atuação integrada contra as quadrilhas.

As duas pastas absorveram organismos que se encontravam longe do alcance dos ministros da Fazenda e da Justiça, dentro do conceito inatacável de que é preciso fazer esta integração. Exemplo positivo é o projeto da pasta da Justiça de um plano de controle de fronteiras, de que participarão agentes da União, do governo local — do Paraná, no caso de Foz do Iguaçu — e do Rio e de São Paulo, onde atuam os comandos das principais organizações criminosas do país. Para o funcionamento eficaz do plano, o Coaf precisa estar integrado a este sistema. Sem isso, a repressão ao banditismo continuará deficiente. É o que está em questão no Congresso na votação desta MP.

O Globo

Policiamento ineficaz transforma vias expressas em rotas do medo

Assaltos, arrastões e tiroteios viraram pesadelo para usuários das Linhas Vermelha e Amarela

Algumas das principais vias expressas do Rio — como as Linhas Vermelha e Amarela — foram projetadas nos anos 60, embora só tenham saído do papel três décadas depois, quando o trânsito da cidade já estava estrangulado. Mesmo tardiamente, cumpriram — e cumprem — razoavelmente o papel de facilitar o deslocamento entre grandes polos da Região Metropolitana.

Porém, mais de duas décadas depois de inauguradas, os problemas que afligem seus milhares de usuários diariamente dizem respeito menos ao tráfego e mais à segurança, algo provavelmente inimaginável quando planejadas. No fim da noite de quinta-feira, o radialista Gustavo de Moraes foi baleado durante um assalto na Linha Amarela.

Ele estava dentro de um ônibus 415 (Barra-Duque de Caxias), a caminho de casa, quando bandidos assaltaram os passageiros nas imediações da Gardênia Azul. Ele foi socorrido por uma ambulância da concessionária Lamsa e levado para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, onde está internado. O episódio de violência não é fato isolado na rotina da via que liga a Barra à Ilha do Governador. Assaltos, arrastões e tiroteios — alguns chegam a interromper o tráfego — viraram um pesadelo para motoristas. Na Linha Vermelha, inaugurada para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, com o objetivo de facilitar o acesso entre o Aeroporto Tom Jobim/Galeão e o Centro, a situação não é diferente.

O medo é companhia constante dos usuários. Não são raras as vezes em que motoristas se veem diante de intensos tiroteios, sendo obrigados a improvisar carros e muretas como barricadas de uma guerra que não tem dia nem hora para acontecer. Não é por acaso que, como mostrou reportagem do GLOBO, passageiros de voos que partem cedo do Galeão estão optando por dormir em hotéis do próprio aeroporto, ou nas imediações, para evitar pegar a Linha Vermelha à noite ou de madrugada. Outros têm recorrido a serviço de carros blindados para enfrentar o trajeto pela via expressa. Não se pode aceitar isso como fato normal, porque não é.

Gastam-se fortunas em recursos públicos na construção de vias expressas, com o objetivo de desafogar o trânsito e dar opções aos motoristas. Mas, devido a um policiamento ineficaz, eles não podem usá-las. E o problema não ocorre apenas nas linhas Vermelha e Amarela. São frequentes os relatos de arrastões nos túneis Rebouças e Santa Bárbara. E em rotas importantes como a Avenida Brasil, alternativa à Linha Vermelha. É urgente que se melhore o patrulhamento nesses corredores, aliás, como já prometido pelo estado, para garantir um direito básico do cidadão: o de ir e vir.

O Estado de S. Paulo

A relação com o Congresso

A conturbada tramitação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados foi mais um sinal da dificuldade que o governo de Jair Bolsonaro tem de se relacionar com o Congresso. “Está péssimo o relacionamento. Muito, muito ruim. De cada 10 deputados, 8 reclamam e 2 ficam quietinhos. Ninguém defende o governo”,
afirmou o deputado capitão Augusto Rosa (PR-SP) em entrevista ao jornal Valor. Em seu segundo mandato na Câmara, o deputado capitão Augusto Rosa é o presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, a segunda maior bancada temática do Congresso.

Durante a campanha eleitoral do ano passado, ele apoiou fortemente o então candidato Jair Bolsonaro e, até o mês passado, era o vice-líder do governo na Câmara. Alegando motivos pessoais, o deputado renunciou, em fins de abril, à vice-liderança. O seu diagnóstico da relação entre Executivo e Legislativo preocupa. “A estrutura política está completamente errada”, disse o deputado capitão Augusto Rosa, relembrando o histórico do presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

Apesar de ter exercido sete mandatos parlamentares, “Bolsonaro sempre teve péssimo relacionamento na Casa. Nunca foi de dialogar, de ter grupos, de relatar projetos, de convencer os outros. Na última vez que tentou a eleição para a presidência teve quatro votos. Eu e mais três”, afirmou o capitão reformado. Certamente, o cargo de presidente da República exige atitude diferente. O diálogo com o Legislativo é uma necessidade, já que o presidente da República não tem poderes absolutos. “Quando você é dono, você manda, mas quando você é presidente você comanda, compartilha o poder com os outros para se sentirem parte do governo”, lembrou o deputado do PR. “Hoje as pessoas não se sentem governo. Por isso, o PSL está sozinho na base.”

Se a aprovação da reforma da Previdência é de fato a prioridade do Executivo federal – já que, sem ela, o desequilíbrio fiscal levará ao colapso o Estado e a economia –, o bom relacionamento com o Congresso é uma necessidade absoluta para o governo. Seria equivocado – na verdade, uma irresponsabilidade – pensar que o papel do Poder Executivo acabou no momento em que levou ao Congresso a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) a respeito das regras previdenciárias. A impressão, no entanto, é a de que o governo Bolsonaro não apenas não se esforça para construir um bom relacionamento com o Congresso, mas trata os parlamentares com certo desleixo.

“Os ministros dão chá de banco nos deputados, não atendem”, relatou o ex-vice-líder do governo na Câmara. É inexplicável essa atitude para um governo que diz ter como prioridade a aprovação da reforma da Previdência. “O governo não entende que o regime é presidencialista, mas a Constituição é parlamentarista. Para aprovar os projetos, (o governo) depende do Congresso”, disse. É urgente que o governo entenda que o que ele fez até agora não funcionou. “Bolsonaro recebeu todos os partidos e as três bancadas – boi, bala e bíblia – e ninguém declarou apoio à reforma. Precisa de algo mais indicativo?”, indagou o presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública. Diante da imperiosa necessidade de aprovar a reforma da Previdência, o desgaste prematuro do Executivo diante do Legislativo preocupa.

A situação, no entanto, pode ser revertida. Basta começar a fazer política – a boa e necessária política. O primeiro passo é acabar com a ideia de que fazer política é render-se ao toma lá dá cá, transformando a relação com o Congresso num balcão de negócios. Política é diálogo, negociação, articulação, construção de consensos. Como lembrou o deputado capitão Augusto Rosa, Jair Bolsonaro não fez muito disso enquanto esteve na Câmara. Agora, no Palácio do Planalto, não tem outro caminho. O País necessita de um presidente da República que exerça a dimensão política do seu cargo, muito especialmente na relação com o Congresso Nacional.

O Estado de S. Paulo

O paradoxo do desemprego

O que as entidades empresariais mais temiam infelizmente está acontecendo. Apesar de 13,4 milhões de brasileiros estarem desempregados, o que equivale a 12,7% da força de trabalho do País, pelo menos metade dos 70 mil empregos anuais que serão criados até 2024 na área de tecnologia de informação e comunicação correm o risco de não serem preenchidos, por falta de mão de obra qualificada. Atualmente, as universidades brasileiras formam somente 45 mil profissionais na área. E, mesmo assim, metade dos cursos é de análise de desenvolvimento de sistemas, cujos programas estão defasados com relação ao que o mercado exige.

A demanda por especialistas em tecnologia da informação e comunicação se deve, basicamente, às transformações digitais nos negócios e ao crescente número de startups e fintechs criadas no País. Segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), entre janeiro e abril deste ano foram fundadas 2 mil empresas. As estimativas são de que sejam criadas mais 3 mil até dezembro. Para a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), que reúne empresas consolidadas, a receita do setor deverá dobrar até 2024, totalizando R$ 200 bilhões.

Para contornar o gargalo da falta de mão de obra capacitada em ciência da computação, as startups, fintechs e demais empresas do setor, muitas das quais operam em mercados dos Estados Unidos e da China, além do mercado brasileiro, tiveram de mudar os critérios de seleção e agilizar os processos de contratação. Algumas empresas passaram a aceitar profissionais egressos de cursos técnicos para ocupar vagas de desenvolvedores de softwares, que até recentemente eram destinadas a graduados em Ciência e Engenharia da Computação.

Outras empresas optaram por contratar profissionais com formação universitária nas mais diversas áreas do conhecimento, proporcionando- lhes em seguida treinamento intensivo em tecnologia de informação. E a seleção para uma vaga, que costumava demorar cerca de um mês, em média, agora é formalizada em apenas uma semana. Essa escassez de mão de obra especializada na área de tecnologia da informação e comunicação é mais uma demonstração dos problemas que o Brasil vem enfrentando por causa do anacronismo e da estagnação de seu sistema escolar. Atualmente, os jovens que acabam de completar o ensino médio têm formação deficiente em matemática, português e ciências, o que dificulta sua inserção no mercado de trabalho. Além disso, mais de 80% dos egressos do ensino médio não vão para a universidade.

Segundo dados da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia, apenas 11,1% dos alunos na faixa etária de 15 a 17 anos fazem algum tipo de curso de formação profissional. Em sua maioria, eles não têm, assim, condições de acompanhar a revolução que a Indústria 4.0 vem causando na economia mundial. As falhas estruturais na preparação e qualificação técnica das novas gerações, a fim de que possam atuar em setores econômicos com tecnologias cada vez mais sofisticadas, continuam sendo um dos obstáculos para a implementação, entre nós, de sistemas industriais inteligentes, capazes de conectar máquinas, agendar manutenções e prever falhas nos processos.

No caso das transformações digitais nos negócios, o despreparo é tão grande que parte significativa das novas gerações pode saber ler e escrever o próprio nome, mas é analfabeta funcional. Não tem, em outras palavras, condições de ler manuais e acompanhar a evolução da ciência e da tecnologia. Na área da tecnologia da informação e da comunicação, não tem nem mesmo condições de ser treinada. Enquanto postergar a revolução educacional, prendendo- se a modismos pedagógicos, como ocorreu com os governos lulopetistas, e a discussões ideológicas em matéria de pedagogia, como vem ocorrendo com o atual governo, o Brasil não terá condições para voltar a crescer e emancipar cultural e socialmente as novas gerações.

O Estado de S. Paulo

Desperdício histórico

Com mais de 13 milhões de desempregados e perspectiva de expansão econômica abaixo de medíocre em 2019, o Brasil está quase completando mais uma década perdida, a segunda em 40 anos. Só os muito otimistas ainda consideram a hipótese de encerrar dezembro com um Produto Interno Bruto (PIB) 2% maior que o de 2018. Muitos especialistas já estimam resultado inferior a 1,5%. Em quatro semanas, caiu de 1,97% para 1,49% a mediana das projeções colhidas pelo Banco Central (BC) em sua pesquisa Focus, uma consulta semanal a cerca de cem instituições financeiras e consultorias.

As estimativas para 2020 são também magras. De modo geral, expressam a esperança, mais do que uma firme previsão, de um avanço em torno de 2,5%, próximo do potencial. Mesmo esse potencial, no entanto, pode estar superestimado. Ao chamar a atenção para o desperdício quase consumado de mais um decênio, especialistas do banco americano Goldman Sachs traduziram em números e em comentários uma percepção já difusa entre empresários e analistas da economia brasileira. O mais visível sintoma de fraqueza da economia brasileira tem sido o desempenho da indústria, muito ruim há vários anos.

Pelo menos desde 2012, antes da recessão, os números do setor têm mostrado baixo dinamismo. A melhora exibida a partir de 2017, quando a economia saiu do atoleiro, durou pouco. O desempenho, muito fraco no segundo semestre do ano passado, ainda piorou nos primeiros três meses deste ano. Em março, a produção industrial foi 1,3% menor que a de fevereiro e 6,1% inferior à de um ano antes. O volume acumulado em 12 meses diminuiu 0,1%. Nessa extensão temporal, foi o primeiro resultado negativo desde agosto de 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor produziu no primeiro trimestre 2,2% menos que no período de janeiro a março de 2018.

A média móvel trimestral caiu 0,5%, o que confirma a continuada perda de vigor. Depois de um segundo semestre ruim, o setor continuou decepcionando nos primeiros meses de governo de Jair Bolsonaro. As declarações de confiança de empresários e dirigentes de empresas, depois da apuração definitiva da eleição, nunca se converteram em ações capazes de animar os negócios. O presidente e seus auxiliares econômicos deveriam buscar uma explicação e verificar se erraram em algum ponto. O mau desempenho da indústria destaca-se num quadro geral de fraqueza econômica. O balanço geral do primeiro trimestre deverá ser conhecido no começo de junho, quando o IBGE divulgar os números atualizados do PIB.

Estimativas divulgadas por entidades privadas têm apontado, nas hipóteses mais positivas, crescimento pouco acima de zero nos primeiros três meses. A economia brasileira cresceu 1,1% em 2017, repetiu esse desempenho em 2018 e tudo aponta, pelo menos até agora, um desempenho muito fraco neste ano e ainda medíocre no próximo. O Brasil está muito perto de completar mais uma década com redução do PIB por habitante, como nos anos 1980, advertem os economistas do Goldman Sachs. Mas o drama dos anos 80, assinalam, foi em parte efeito da crise da dívida externa, ampliada por choques internacionais. O problema atual, acrescentam, reflete uma série de erros de política econômica e a demora na realização de reformas estruturais.

O cenário externo, ao contrário, tem sido em geral muito mais favorável que nos anos 80. Isso ressalta a urgência de mudanças, como a da Previdência, e do investimento para maior eficiência. Mas ainda se poderia acrescentar uma ressalva importante. A década de 80 foi apenas parcialmente perdida. Consolidou- se nessa fase a transformação da agropecuária brasileira como uma das mais competitivas do mundo. Nada de proporção semelhante ocorreu nos últimos anos, embora o agronegócio tenha continuado progredindo sobre uma base já elevada. O quadro mais amplo é agravado pela estagnação da indústria e pelo fracasso na formação de capital humano. A perda é muito maior, portanto, que a dos anos 1980.

Folha de S. Paulo

Troca de plumas

Convenção tucana explicita disputa entre Alckmin e Doria; para ambicionar voos maiores, governador precisa mostrar capacidade política e administrativa

A convenção estadual do PSDB, que elegeu Marco Vinholi, 34, o novo presidente do partido em São Paulo, explicitou as divisões que vêm se acentuando entre os tucanos desde que João Doria projetou-se como liderança emergente ao assumir a prefeitura da capital, em janeiro de 2017.

Beneficiado pelo apoio do então governador Geraldo Alckmin, o novato não tardou a entrar em competição com seu padrinho. Seu objetivo, desde o primeiro momento, era nada menos do que a conquista da candidatura presidencial da legenda em 2018.

Com apoio de uma estratégia de marketing que visava transformá-lo em figura nacional, o novo alcaide posou de gari, pintou muros da cidade e anunciou um ambicioso programa de privatizações e parcerias com a iniciativa privada.

Suas inclinações pró-mercado o ajudaram a ser apontado como personalidade do ano pela Câmara de Comércio Brasil – EUA, que promoveu encontros com empresários e uma homenagem de gala em Nova York —mesma honraria dispensada ao presidente Jair Bolsonaro, mas provisoriamente suspensa devido a pressões de opositores.

Afoito e determinado a tomar um atalho para a disputa pelo Planalto, atritou-se com Alckmin, que acabou, a duras penas, levando a melhor na disputa pelas simpatias da máquina partidária.

Entretanto o retumbante fiasco do ex-governador na disputa presidencial e a vitória de Doria na corrida pelo Bandeirantes mudaram o equilíbrio de forças.

Hoje, o PSDB perdeu muito de sua projeção e está dividido tanto do ponto vista ideológico quanto geracional. A velha guarda, representada por nomes como o senador José Serra, parece acreditar numa improvável regeneração do partido a partir do reencontro com suas teses e práticas originais. Alckmin assumiu tal pregação.

A ideia seria retomar a linha social-democrata, pragmática no terreno econômico, mas compromissada com políticas de proteção aos mais pobres na área social.

Já Doria bateu na tecla da renovação —algo cujo significado concreto permanece um tanto obscuro.

Na campanha, o tucano aproximou-se do bolsonarismo com o discurso antipetista e o apoio a teses conservadoras, em especial na segurança pública. No governo do estado, porém, não dá mostras de seguir o populismo do presidente. Seu secretariado junta técnicos de peso e quadros partidários.

Os sinais, não há dúvida, são de que o atual governador se encontra bem posicionado para assumir a liderança do espólio tucano. A eleição de Vinholi é apenas um dos indicadores desse panorama.

Para maiores voos, resta a ele mostrar capacidade para a condução de políticas de governo e a negociação legislativa, predicados até aqui em segundo plano na sua meteórica ascensão na vida pública.

Folha de S. Paulo

O poder do mosquito

Este 2019 começou marcado pelo ressurgimento de um velho e temível inimigo dos brasileiros: o Aedes aegypti. Nada menos de 994 cidades — um quinto dos 5.214 municípios pesquisados— estão com altos níveis de infestação pelo mosquito.

O Ministério da Saúde classifica dessa maneira a área urbana em que 4% dos imóveis apresentam focos do inseto vetor. Acima de tal limiar, aumenta o risco de transmissão das arboviroses dengue, chikungunya, zika e febre amarela (sendo esta a única a contar com vacina considerada eficiente).

Não surpreende, assim, que o número de infecções pelo vírus da dengue tenha disparado nos primeiros meses do ano. O último boletim epidemiológico registrava quase 452 mil casos prováveis até meados de abril, contra 103 mil nas mesmas 15 semanas de 2018.

O salto foi de impressionantes 339%. O número de mortes por dengue no país dobrou, passando de 66 para 123 no período.

Segundo o ministério, o incremento não caracteriza estado epidêmico. Alcançou-se uma incidência de 216 casos por 100 mil habitantes, tida ainda como moderada.

A média nacional, entretanto, oculta situações regionais mais preocupantes. O estado de Tocantins , por exemplo, atingiu a marca de 799/100 mil, após um aumento de 1.469% no número de casos prováveis (de 846 para 12.430).

Há oito unidades da Federação com cifras acima de 300 casos por 100 mil, limiar que, associado ao crescimento rápido de registros, tipifica a condição de epidemia.

São Paulo, com seus quase 159 mil casos nos primeiros meses do ano (349 por 100 mil), figura entre elas. Também causam alerta as situações de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Acre, Espírito Santo e Distrito Federal.

Há duas formas de encarar a recente proliferação do Aedes, mosquito de origem africana que inferniza a vida de brasileiros desde que aqui aportou, séculos atrás, provavelmente abordo de navios de traficantes de escravos.

A mais benigna põe ênfase nas condições meteorológicas para multiplicação do vetor, como a temperatura e a pluviosidade mais elevadas deste ano. Trata-se da visão favorita de governantes que se esquivam de responsabilidades.

Outra forma de encarar o poder redivivo do inseto é enxergar aí o fracasso do poder público em com-bater uma doença típica do subdesenvolvimento — ou da sociedade como um todo, porque erradicar o Aedes aegypti é um desafio que começa na casa de cada um.

Conselho de Comunicação fará estudo sobre liberdade de imprensa sugerido por Eliziane Gama

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Conselho de Comunicação fará estudo sobre liberdade de imprensa no País

O CCS (Conselho de Comunicação Social) criou nesta segunda-feira (6) uma comissão de relatoria que irá se manifestar sobre a liberdade de imprensa no País. A iniciativa servirá de apoio à elaboração de estudo sobre o tema, feita a pedido da líder do partido Cidadania, senadora Eliziane Gama (MA).

A comissão será composta pelos conselheiros Davi Emerich (sociedade civil), Maria José Braga (jornalistas), Juliana Noronha (imprensa escrita) e suplentes, sob a coordenação da conselheira Patrícia Blanco (sociedade civil). A apresentação de relatório deverá ocorrer no segundo semestre deste ano.

O pedido foi apresentado ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), no dia 2. Nele, Eliziane mencionou as ações do STF (Supremo Tribunal Federal) que “foram caracterizadas e entendidas como censura e repudiadas nacionalmente”. A senadora se referiu à decisão do ministro Alexandre de Moraes, relator de um inquérito que investiga notícias fraudulentas contra integrantes da Corte, que, em abril, mandou tirar do ar reportagem que citava o presidente do STF, Dias Toffoli. A decisão foi revogada dias depois.

“O momento exige do conselho um estudo sobre liberdade de imprensa e regulação de mídia para termos uma visão profunda. Vamos montar a comissão de relatoria e comparar com outros países para a gente produzir um documento bem aprofundado”, afirmou Davi Emerich.

Na avaliação de Maria José Braga, a concentração dos meios de comunicação de massa no Brasil é um fator de restrição à liberdade de imprensa.

“Teremos que debater e apresentar números para subsidiar o tema”, afirmou a conselheira.

O presidente do conselho, Murilo Aragão, destacou que o encolhimento recente de receita verificado nas TVs abertas equivale ao faturamento das duas maiores emissoras do País.

“As autoridades deveriam pensar no que está acontecendo. Não interessa à cidadania que os núcleos de produção jornalística sejam inviabilizados por questão financeira, tampouco defendo subsídios do governo para sustentar a atividade, mas que haja um olhar mais detalhado e menos preconceituoso para tratar do tema”, afirmou. (Agência Senado)

Tiago Ribeiro, do Cidadania, vence eleição suplementar e é o novo prefeito de Cascavel (CE)

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O novo gestor deve ser empossado até o dia 15 deste mês depois da diplomação pela Justiça Eleitoral. A prefeita anterior foi cassada por abuso de poder político

O candidato Tiago Ribeiro (Cidadania) é o novo prefeito do município de Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza. Ele venceu, domingo (05), a eleição suplementar no município com o total de 16.558 votos, 41,8%, contra 12.441, ou 31,4% da segunda colocada, Paulinha Dantas (PTB), e 10.609 do terceiro colocado, Zé de Lima (PV). Tiago é de família política tradicional no Município, o pai Tino Ribeiro, é ex-prefeito e ex-deputado estadual.

Além do Cidadania, a coligação vitoriosa é composta ainda pelos partidos Patriotas, PR, PT e PC.

“A situação atual é de abandono. Vamos começar a trabalhar para que no futuro tenhamos uma cidade melhor. A prioridade é o atendimento básico à Saúde. O emprego que requer parcerias com o governo do Estado. Estamos com 15% da população desempregada e Justiça Eleitoral. O mandato vai até o dia 31 de dezembro de 2020. O novo gestor terá pouco mais de um ano para resolver os problemas e preparar as eleições do próximo ano, nas quais poderá concorrer à reeleição.

Ele assumirá o Executivo do município em meio a uma crise que culminou com a cassação da prefeita eleita nas eleições de 2016, Francisca Ivonete Mateus Pereira e do vice-prefeito Waltemar Matias de Sousa. Eles acabaram afastadas em definitivo do cargo por terem sido condenados pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral do Ceará) por abuso de poder político e uso irregular da máquina administrativa para desequilibrar o jogo eleitoral à época. (Com informações do Diário do Nordeste)

Mercado financeiro mostra receio e reduz mais uma vez projeção de crescimento da economia brasileira

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O mercado financeiro brasileiro continua receoso com a capacidade do novo governo reverter a estagnação da economia brasileira conforme demonstrado nesta segunda-feira(06) pelo Boletim Focus do Banco Central. De acordo com o levantamento, as instituições financeiras consultadas semanalmente pelo BC reduziram pela 10º vez consecutiva a projeção do crescimento econômico de 1,70% para 1,49% para este ano. Para os próximo três anos, a estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) se manteve em 2,50%.

Inflação

Já a estimativa de inflação – calculada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) – aumentou de 4,01% para 4,04% para o ano. Em 2020, a previsão segue em 4% e 3,75% para 2021 e 2022.

A meta de inflação deste ano é de 4,25% com intervalo de tolerância entre 2,75% e 5,75%. A estimativa para 2020 esta fixada no centro da meta que é de 4% com intervalo de 1,5% para cima ou para baixo. Para 2021, o centro da meta é de 3,75%.

Selic

As instituições financeiras prevem que a taxa Selic, que serve de referência para os demais juros da economia, deverá permanecer em 6,5% até o fim de 2019. O Copom (Comitê de Política Monetária) vai ser reunir na próxima quarta-feira (8) para fazer nova definição sobre a taxa.

De qualquer forma, o mercado aposta que para o fim de 2020 a Selic deve seguir em 7,50% e a expectativa para o fim de 2020 e 2021 que permaneça em 8% ao ano.

Dólar

Ainda segundo estimativas do mercado financeiro, a cotação dólar seguirá em R$ 3,75% no fim de 2019 e ajustada de R$ 3,79 para R$ 3,80 para o fim de 2020. (Com informações de agência de notícias)

Novo local: Reunião da Executiva Nacional será no San Marco Hotel em Brasília

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A reunião da Executiva Nacional do Cidadania, que ocorrerá em Brasília. nesta quarta-feira (8), às 10h, será realizada no San Marco Hotel – localizado no Setor Hoteleiro Sul da capital federal – e não no Diretório Nacional do partido como havia sido anunciado anteriormente. O encontro será transmitido ao vivo pela internet. O link da transmissão será publicado no dia da reunião no portal do Cidadania.

O objetivo do encontro é debater a conjuntura política nacional, a polêmica envolvendo a Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a reforma da Previdência, implantação do Cidadania, dentre outros assuntos.

Ofício 008/19 – Cidadania/DN

Brasília, 06 de maio de 2019.

Prezado(a) companheiro(a),

Por meio deste, estamos convocando os membros da Comissão Executiva do Diretório Nacional, bem como sua bancada no Congresso Nacional, para uma reunião no dia 08 de maio de 2019, quarta-feira, a partir das 10:00 às 14:00, no San Marco Hotel, para tratar das seguintes questões:

1. Conjuntura;

2. A questão do COAF;

3. Reforma da Previdência;

4. Processo de implantação do CIDADANIA;

5. Informes gerais

Sem mais para o momento e certos de contarmos com sua imprescindível presença, subscrevemo-nos,

Atenciosamente,

Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania

Fernando Henrique Cardoso: Assim não dá

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Já recordei em outras oportunidades o que ouvi de Bill Clinton em Camp David. Quando visito um país, disse ele, pergunto e procuro responder: qual seu maior temor e seu maior sonho? Palavras simples e profundas. No âmago do sentimento de cada povo sempre há algo em torno dessas questões. Aplicando ao Brasil, penso que no inconsciente nacional o que mais tememos é não “dar certo” e o que mais desejamos é crescer, ter desenvolvimento. Estes sentimentos raramente são conscientes. Traduzem-se de forma concreta, por exemplo, em “quero ter emprego”, quero que “os meus” tenham percursos prósperos; ou, pelo contrário: o país não vai para frente porque “os políticos” roubam muito, “os governos” não ajudam. Ou ainda, na versão mais antiga, não avançamos porque “eles” não deixam (o imperialismo, os estrangeiros ou quem seja). Até agora, porém, não perdemos a esperança de “dar certo”. Depois de 1988, com a nova Constituição, passamos a entender que desenvolvimento requer democracia e inclusão social.

Talvez estejamos começando a viver outro momento. O da desesperança. As pessoas deixam, aos poucos, de acreditar nelas próprias como coletividade. A “culpa” não é de ninguém, é de todos. Nem culpa é, trata-se de desalento. Também, dirão os mais ácidos, “com esta classe política…” e imaginam que o país seria melhor sem os políticos. Com quem, então: com tecnocratas, com autoritários? Os que assim pensam, sem dar continuidade a seus temores, nos deixam com eles. Para contrastar, li recentemente um texto sobre a China. Chama-se: “O sonho chinês ou como evitar a dupla armadilha”, de Osvaldo Rosales. Desde o governo de Deng Xi-ao Ping, os chineses têm metas aceitas pela maioria (ou inculcadas nela), o governo dispõe de estratégias para orientá-las e de táticas para pô-las em prática. Dispensa, contudo, a democracia que conhecemos e queremos.

Será que não é possível para os brasileiros voltarmos a ter esperança? Nos momentos de incerteza é quando mais se precisa de crença. Falta chacoalhar o país outra vez, como fez Juscelino em seu tempo e mesmo o Plano Real, e vislumbrar um futuro mais venturoso. É melhor sonhar com os pés no chão, logo, é preciso dar os primeiros passos. Como imaginar um futuro melhor se as taxas de desemprego não se reduzem? Como reduzi-las sem investimento e como investir sem acreditar no futuro? Parece a quadratura do círculo, mas não é.

A reforma da Previdência vem neste contexto : é preciso demonstrar que o Estado faliu e, sem concentrar todos os males na Previdência e muito menos nos pobres ou só no funcionalismo, falar francamente com a nação, e não só com o mercado. É necessário aprovar a reforma da Previdência não só para obter o “equilíbrio fiscal”, mas para progredirmos. Ela é necessária porque o Estado, num país de desigualdades e pobreza como o nosso, precisa atuar em todos os setores da sociedade e não dispõe mais de recursos. A reforma da Previdência, além de ser fiscalmente essencial, é necessária para dar ao Estado condições de ampliar os recursos para a Educação, a Saúde etc. E também para assegurar o pagamento futuro de pensões. Precisamos de um Estado hígido, o que não quer dizer pequeno, e precisamos de mais investimentos, que terão de vir principalmente do setor privado. Sem crescimento da economia, por mais que se reduzam os gastos, faltará pão às pessoas e combustível para o governo andar.

Não basta a reforma da Previdência. Para o país ter rumo é preciso ver os que mandam empenhados no bem-estar coletivo. Os problemas, por sua multiplicidade, parecem intransponíveis; sua solução, por isso mesmo, não pode ser unitária. É preciso que o povo veja sinais de avanço em várias áreas. Isso requer o uso do “verbo” —da palavra — não para alvejar inimigos, mas para despertar entusiasmo (que etimologicamente quer dizer “Deus no coração”, crença).

Que contraste entre o necessário para o país voltar a sonhar e o bate-boca diário, via redes sociais, mantido pelos familiares da República! Não roubar é obrigação e é pouco; é preciso ter compostura e pensar grande. O desânimo só cederá se houver recuperação da confiança. Caso contrário, na prática, as esperanças no governo se desvanecerão como as pesquisas de opinião estão mostrando. Sei, por experiência, que governar é difícil. Não convém, pois, precipitação no julgamento.

Como ainda estamos em crise (basta olhar o desemprego), é preciso haver sinais positivos para que a crença se mantenha. É hora de apresentar e explicar ao país uma agenda para vencer os desafios do crescimento econômico, da redução da pobreza e da injustiça social. Uma agenda que convoque a nação sem sectarismo para a reconstrução do caminho difícil, mas possível, de desenvolvimento. Políticas que sejam de Estado e não deste ou daquele governo. No mundo contemporâneo, o governo precisa explicar os porquês de sua agenda para alavancar o desenvolvimento. Este requer a conjugação entre políticas governamentais (inclusive as distributivas e demais pertinentes na área social), um grande esforço na área de ciência e pesquisa para aumentar a produtividade, e requer ainda a cooperação da “iniciativa privada”, nacional e estrangeira, sobretudo na área de infraestrutura. O Estado, por si, será incapaz de tal proeza. Pior, poderá embaraçar a gestão sem conseguir o aumento da produtividade na economia e nas ações públicas.

Sem elas, como generalizar a crença no país e fazer o povo sentir bem-estar? Falta explicar o porquê das reformas, no plural, e estabelecer uma ligação clara entre a agenda do governo com os interesses nacionais e populares de longo prazo. Só assim voltaremos a crer em nós. Sem isso, assistiremos a uma indefinida transição entre a estagnação que herdamos do lulopetismo e não se sabe o quê. Assim não dá. (O Estado de S. Paulo – 05/05/2019)

Fernando Gabeira: Bolsonaro, rápido no gatilho

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Bolsonaro deu um passeio no lado íntimo, falando de sexo, definindo o que pode ou não pode, sobre o número de pênis amputados.

Pensei em comentar o assunto, mas Bolsonaro é tão rápido no gatilho que desatualiza um cronista semanal. Diz tantas coisas polêmicas que, ao cabo de sete dias, ninguém se lembra das que abriram a série.

Bolsonaro disse que o turismo gay deveria ser proibido, por causa das famílias. Os gays lembraram a ele que não nasceram de chocadeiras, mas são filhos de família.

Os jornais enfatizaram que o turismo gay cresceu mais que os outros e ele acaba ajudando lugares arruinados como o Rio.

Bolsonaro disse que vir transar com a mulher brasileira pode. Recebeu críticas. Afinal, um presidente não deveria se meter em relações sexuais de adultos, nem para proibir nem para elogiar.

O que mais me surpreendeu em Bolsonaro é o fato de ter escolhido o tema e deixado de lado algo que realmente tem nos preocupado ao longo dos últimos anos: a prostituição infantil.

Com muitas campanhas, conseguimos reduzi-la. Já estive documentando isto em Fortaleza. Mas ainda assim um presidente deveria estar em sintonia com aquilo que realmente interessa e é fruto de trabalho conjugado de várias instituições.

Sobre o número de pênis amputados, Bolsonaro afirmou que se perdem por falta de água e sabão. É um tema que o preocupa pela sua experiência militar, vendo o drama de soldados pobres.

Mas Bolsonaro perdeu o ponto, embora água e sabão realmente sejam importantes. Não falou do saneamento básico, cujo marco legal deveria ser votado ainda neste semestre.

Reacendida a crise da Venezuela, tudo isso foi esquecido. Bolsonaro disse que a decisão de intervir militarmente ali seria, em última instância, sua.

Deve ter havido um ruído na comunicação. Ele mesmo sabe que a última palavra é do Congresso. Até para enviar tropas ao Haiti, em missão de paz, o Congresso foi consultado. É a lei.

Essa questão da Venezuela é muito complicada. Seria interessante um amplo debate. Bolsonaro destinou mais R$ 240 milhões para atender os refugiados. Creio que a esta altura já gastamos mais de meio bilhão com o tema.

O quanto não custaria uma intervenção militar? E quem garante sua eficácia? É grande a possibilidade de perdemos fortunas com ações militares e, simultaneamente, gastar mais ainda com os refugiados.

Maduro precisa cair. Tem de cair. Entre essa certeza e a prática, há uma longa reflexão tática e estratégica. Bolsonaro talvez não se lembre da invasão da Baía dos Porcos, no tempo em que Kennedy dirigia os EUA.

O fracasso da invasão acabou consolidando o poder dos Castro. Maduro anda mal das pernas, mas quase todas as tentativas precipitadas de derrubá-lo acabam renovando seu fôlego.

Faz tempo que não entro na Venezuela porque certamente vão confiscar minha câmera, prender ou expulsar. Mas creio que uma intervenção armada encontrará vários obstáculos.

A Força Aérea da Venezuela tem sido equipada pelos russos. Parte das missões militares russas pode ser até um gesto político. Mas existe uma base material para afirmar que, apesar da penúria económica, seriam um duro adversário.

Milhares de venezuelanos foram armados pelo governo. Milícias motorizadas, treinadas pelos cubanos, atuam reprimindo manifestantes. E todo o sistema de inteligência também foi estruturado pelos castristas.

Essas condições não tornam impossível uma derrota militar dos bolivarianos. Mas, certamente, eles podem prolongar a guerra, torná-la mais cara não só em dinheiro, mas em vidas dos invasores estrangeiros. Estamos preparados para segurar essa onda? Os próprios americanos que viveram tantas experiências traumáticas topariam uma aventura desse tipo no começo de um período eleitoral?

Essa tese de que todas as opções estão sobre a mesa pode ter algum significado psicológico. Mas uma visão sensata do quadro afasta uma intervenção armada. O que não significa que a sensatez não possa ser vencida.

Ainda estou para dar um balanço. Mas creio que o fator crise da Venezuela é isoladamente o que mais atrasou o Brasil em termos externos nos últimos anos. Não só pelo custo do fluxo de refugiados, mas pela instabilidade e desconfiança que gera nos investidores interessados na América do Sul.

Não somos os atores principais nesse drama. Precisamos apenas reduzir os danos. (O Globo – 06/05/2019)

Leandro Colon: Laranjal e balbúrdia

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A Polícia Federal sob o governo de Jair Bolsonaro avança cada vez mais nas investigações do esquema de desvio de verba pública por candidatas laranjas do PSL, partido do próprio presidente.

O inquérito foi aberto após esta Folha, em uma apuração realizada pelos repórteres Ranier Bragon e Camila Mattoso, revelar que mulheres foram usadas pelo PSL em Minas para burlar a regra que destina 30% de recursos para uma cota feminina nas eleições.

E quem dirigia o PSL local na época? O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, deputado eleito. Empresas ligadas a assessores dele receberam recursos das chapas. Uma candidata acusou o ministro de participação na falcatrua.

A deputada Alê Silva, também eleita pelo PSL de Minas, afirma ter sido ameaçada de morte por Álvaro Antônio pelo fato de ela ter contribuído na descoberta do escândalo que envolve a sigla do presidente.

O que fez Bolsonaro até agora? Prometeu tomar uma decisão quando acabar a investigação policial. Curiosamente, o presidente teve dois encontros privados com o ministro do Turismo nas duas últimas semanas.

Trocaram figurinhas sobre o laranjal do PSL? Bolsonaro repassou ao seu ministro algum tipo de informação sigilosa que tem recebido de seus subordinados? Ou as duas reuniões oficiais no gabinete do Palácio do Planalto serviram para o presidente e o ministro discutirem estratégias de combate ao turismo gay no país? O que de fato a dupla tem conversado tanto reservadamente?

Nas buscas feitas há uma semana, a PF não encontrou evidências de que as gráficas citadas pelas candidatas laranjas à Justiça prestaram o serviço pago com verba pública eleitoral.

De nanico a força na Câmara catapultada pela onda bolsonarista, o PSL é uma balbúrdia (palavra da moda) política. É suspeito de desviar dinheiro de campanha, tem um ministro inexpressivo e enrolado até o pescoço e pouco contribui para o sucesso da agenda governista no Congresso. Um fiasco até aqui. (Folha de S. Paulo – 06/05/2019)