O cercadinho do Alvorada é um exemplo acabado de farsa política. O primeiro a denunciá-la foi um imigrante haitiano, herói anônimo, que em março de 2020 sentenciou: “Bolsonaro, acabou. Você não é presidente mais. Você está espalhando o vírus e vai matar os brasileiros”. Quem dera o país o tivesse ouvido na época e não esperado até agora para desalojar a trupe circense que ocupa o palácio.
A área de entrevistas e conversas com apoiadores funcionou como palco para dar visibilidade e manter viva a popularidade do presidente, conquistada nas eleições de 2018, mas que começou a decair desde os primeiros atos do governo e sobretudo ao ter início o combate à pandemia – desastroso e criminoso.
Daí que perguntas fora do script eram desconsideradas ou rechaçadas com violência. Dono do espetáculo, o capitão chegou a açular seus devotos contra jornalistas, agredidos verbal e fisicamente. No início deste ano, após ser confrontado por uma estudante -“O senhor é uma farsa”, disse ela, apontando uma verdade àquela altura já descoberta por grande parte da população -, Bolsonaro passou a conceder entrevistas só para veículos aliados, numa área protegida por lonas. O circo ficou completo.
O furo de Gabriela Biló e Ranier Bragon revelou uma das pontas da fraude não protegida por sigilo de cem anos. Se cavoucar mais, desmancha-se o novelo. Havia no cercadinho uma claque não só de pessoas apatetadas como também de ensaiadas e pagas. Para perguntar levantando a bola para o mito, um publicitário recebeu R$ 1.100 —bem menos que o salário dos generais golpistas ou a grana do orçamento secreto.
Na cartilha dos “defensores da liberdade”, combinar perguntas e respostas é do jogo; assim como desacreditar todas as pesquisas que ousem mostrar o governo não vencendo a eleição no primeiro turno. Aliás, votar para quê? No curralzinho, Bolsonaro está reeleito e não se fala mais nisso. (Folha de S. Paulo – 27/09/2022)