Luiz Carlos Azedo: Bolsonaro pauta privatização da Petrobras nas eleições

NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

O principal ícone do nosso nacional-desenvolvimentismo é a Petrobras. Nasceu a partir de uma grande mobilização popular, na qual o debate sobre a industrialização do país, que já ocorria desde a Primeira República, passou a ter centralidade na intervenção do Estado na economia. O Congresso formado em 1945, após a redemocratização, na nova Constituição, admitiu a participação de capitais privados estrangeiros, desde que integrados em empresas constituídas no Brasil. Dois anos depois, quando o presidente Eurico Dutra tentou aprovar o novo Estatuto do Petróleo, deu-se a confusão.

O projeto de Dutra concluía que o Brasil não tinha condições de nacionalizar a produção de petróleo, por falta de jazidas, recursos e gente qualificada. A reação foi generalizada, a começar pelo Clube Militar, que liderou a criação do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo. Com o slogan “O petróleo é nosso”, a partir de 1948, a Campanha do Petróleo ganhou corações e mentes, com a tese de que era necessário o monopólio estatal em todas as fases da exploração.

Foi no embalo dessas mobilizações que o presidente Getúlio Vargas, em dezembro de 1951, enviou ao Congresso o projeto de lei propondo a criação da “Petróleo Brasileiro S.A.”, empresa de economia mista com controle majoritário da União. Outro projeto, apresentado pelo deputado Eusébio Rocha, mantinha a fórmula de empresa mista, mas estabelecia o monopólio estatal, vedando a participação estrangeira. Curiosamente, até a antiga União Democrática Nacional (UDN) assumiu a defesa do monopólio estatal.

Aprovado na Câmara em setembro de 1952, o projeto da Petrobras sofreu 32 emendas no Senado, todas derrubadas quando voltou à Câmara. Em 3 de outubro de 1953, depois de intensa mobilização popular, Vargas sancionou a Lei nº 2.004, criando a Petróleo Brasileiro S. A–Petrobras, empresa de propriedade e controle totalmente nacionais, com participação majoritária da União, encarregada de explorar, em caráter monopolista, diretamente ou por subsidiárias, todas as etapas da indústria petrolífera, menos a distribuição.

O monopólio estatal do petróleo somente deixaria de existir em 1997, nas reformas do governo Fernando Henrique Cardoso, mas a Petrobras continuou sendo a principal empresa do setor. Por quê? Em tese, qualquer empresa nacional ou estrangeira pode criar oleodutos, terminais e refinarias, porém, as grandes companhias multinacionais de petróleo não têm interesse em construir e, sim, de fazer com que a Petrobras seja vendida, para que comprem os seus ativos.

Caiu atirando

O papel da Petrobras para o desenvolvimento do país ainda é objeto de muita polêmica, dependendo da corrente política ou doutrina econômica. Entre os argumentos esgrimidos a favor da privatização, são preponderantes os escândalos de corrupção, o fato de a economia do carbono estar com os anos contados, a alta dos preços dos combustíveis, cuja culpa recai sobre o governo, e a falta de capacidade de investimento para explorar o petróleo da camada pré-sal na escala necessária.

Ao substituir o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, pelo economista Adriano Pires, um dos especialistas do país na área de energia, o presidente Jair Bolsonaro pautou o tema da privatização da Petrobras no debate eleitoral. Ainda mais porque Luna saiu atirando contra Pires, ao dizer que a estatal não pode fazer política pública com os preços dos combustíveis e “menos ainda” política partidária. O economista tem defendido a adoção de preços subsidiados durante a crise da Ucrânia, para reduzir o impacto do custo dos combustíveis no bolso dos consumidores. A demissão de Luna não agradou aos militares, mas a escolha de Pires foi muito bem recebida pelo no mercado, quando nada porque defende a privatização da empresa.

Figurinha fácil nos programas de tevê, aos quais é convidado sempre que o tema da energia está na ordem do dia, Pires é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em economia industrial pela Universidade de Paris XIII. De certa forma, cevou a indicação para o posto de Luna, minado por seus comentários e conselhos como assessor do Ministério de Minas e Energia. Bolsonaro agarrou com as duas mãos a proposta de criação de um fundo de estabilização para evitar repasses de preço ao consumidor nos momentos de forte alta da cotação do petróleo, como agora, durante a guerra na Ucrânia. No Palácio do Planalto, o preço dos combustíveis é apontado como um dos fatores de risco para a reeleição do presidente da República. Ao fazer a troca de comando na Petrobras, Bolsonaro tenta se descolar da alta dos combustíveis e acena para o mercado com a venda da empresa. (Correio Braziliense – 30/03/2022)

Leia também

Queda de braço que vale R$ 110 bilhões

NAS ENTRELINHASPacto com o Supremo é negado nos bastidores...

O padrão a ser buscado

É preciso ampliar e replicar o sucesso das escolas...

Parados no tempo

Não avançaremos se a lógica política continuar a ser...

Vamos valorizar a sociedade civil

Os recentes cortes promovidos pelo Governo Federal, atingindo em...

Petrobrás na contramão do futuro do planeta

Na contramão do compromisso firmado pelo Brasil na COP...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!