O governo de Jair Bolsonaro entrou na fase do desmanche. Até o início de abril, dez ministros devem deixar a Esplanada. Serão substituídos por burocratas ou indicados do Centrão.
A debandada obedece ao calendário eleitoral. Quem deseja ser candidato precisa devolver a caneta e o carro oficial. As baixas se repetem a cada quatro anos. A novidade é que agora o presidente está em maus lençóis.
Bolsonaro será o quarto inquilino do Planalto a disputar a reeleição. Fernando Henrique, Lula e Dilma começaram o ano eleitoral como favoritos. O capitão é o primeiro a largar atrás nas pesquisas, o que deve dificultar a vida dos ministros-candidatos. Na dúvida, a turma aproveita para inaugurar obras, distribuir favores e arrancar as últimas vantagens do poder.
O titular da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, resolveu focar nas benesses. Voou na semana passada para os Estados Unidos, onde vive sua mulher. O astronauta inventou uma agenda no Texas para festejar o aniversário em família. Ele será candidato a deputado federal por São Paulo.
A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, sonha com uma cadeira no Senado. Falta dizer se concorrerá por Roraima, Amapá, São Paulo ou Sergipe. Enquanto não se decide, a pastora aproveita para passear. Está há seis dias em Nova York, a pretexto de representar o Brasil numa reunião da ONU.
Em Brasília, outros ministros espremem seus cargos até o bagaço para se promover. É o caso de Onyx Lorenzoni, aspirante ao governo gaúcho. Ontem ele usou uma cerimônia no Planalto para fazer discurso de candidato. Prometeu empréstimo barato, 13º antecipado e liberação de FGTS.
A saída do governo impõe seu custo. Além das mordomias, os políticos perdem a visibilidade garantida pelo poder. Até a eleição, todos terão que se esforçar para aparecer sozinhos. A exceção é o titular da Defesa, Braga Netto.
Desde que chegou ao governo, o general se notabiliza pelo silêncio. Não dá entrevistas, não discursa e raramente presta contas do que faz. Se for candidato a vice-presidente, ele será obrigado a se expor à curiosidade do público.
O general tem muito a explicar. Dos gastos do Exército para produzir cloroquina à demora para identificar os mandantes do assassinato de Marielle Franco. Quando o crime ocorreu, o general chefiava a intervenção federal na segurança do Rio. (O Globo – 18/03/2022)