É inadmissível que o presidente Lula e o Itamaraty não tenham contestado até o momento a declaração do chanceler Sergey Lavrov de que Brasil e Rússia têm visões similares sobre a guerra de agressão contra a Ucrânia desencadeada pelo líder autocrata russo, Vladmir Putin.
A posição brasileira por um cessar-fogo e pela retirada imediata das tropas russas dos territórios ucranianos ocupados deveria ter sido afirmada com uma veemente condenação da invasão e da política expansionista de Putin.
O Brasil não pode ser aliado objetivo dos crimes de guerra e das seguidas violações aos direitos humanos perpetradas pela Rússia. A Constituição Federal é clara ao estabelecer os princípios que regem as relações exteriores brasileiras, entre eles, a defesa da paz, a solução pacífica dos conflitos, a autodeterminação dos povos e a prevalência dos direitos humanos.
Putin atacou e invadiu uma nação soberana. A visita de Lavrov não deve e não pode passar a impressão de que a diplomacia brasileira abdicou de seus princípios e transformou o país em bastante procurador do autocrata russo. É preciso cobrar inclusive, ao contrário de que diz o presidente Lula, que a Rússia devolva os territórios ocupados, inclusive a Criméia.
As relações comerciais entre Brasil e Rússia não podem servir de justificativa para um vexaminoso alinhamento automático, evidenciado pela fala de Lavrov, cujo teor deveria envergonhar a nossa diplomacia. O Brasil não pode ter a infelicidade de mais quatro anos de governo simpático a ditaduras e autocracias pelo mundo como era a gestão Bolsonaro.
Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania