Grupo é principal fiador hoje do experimento do semipresidencialismo, com dois primeiros-ministros
O Centrão é o principal fiador hoje do experimento brasileiro do semipresidencialismo com dois primeiros-ministros (os chefes das Casas Legislativas), que formalmente se instalou mais uma vez desde esta quarta-feira, 1º. Os avanços dos poderes do Legislativo sobre o Executivo, que se aceleraram ao longo de quase uma década, são apenas parte da explicação.
Os fatores “estruturais” são mais amplos e têm a ver com a falência dos partidos (no sentido que lhes deu a Constituição) e de um sistema de votação proporcional que garante a desproporção. O Centrão é um amálgama de organizações privadas (apelidadas de partidos) cuja razão de existência é a captura de partes da máquina estatal transformadas em ferramentas para defesa de seus interesses.
Para efeitos práticos, o apertado resultado da eleição presidencial do ano passado fortaleceu esse formidável bloco abastecido constantemente com o que já não se pode mais chamar de “moeda de troca”. Na verdade, essa incessante atividade é a essência da nossa política, conduzida por um conjunto de líderes partidários de escassa projeção nacional e interesses nacionais, mas forte peso regional.
Para Lula e o PT, é uma situação difícil e preocupante. Não tanto pelas amarras impostas ao chefe do Executivo, apesar de a distribuição de cargos estratégicos ter ido para petistas. Nem pela necessidade de articular uma “maioria de governabilidade”, o mais fácil de ser obtido.
O problema central é interpretar a forte oposição social que os resultados das eleições, sobretudo no Legislativo, não diminuíram. É o que ajuda a entender a relativa rapidez com que estão se dissipando os efeitos traumáticos da barbárie do 8 de janeiro – e que permite a dirigentes de várias agremiações, todas no Centrão, “justificar” (claro, sem justificar) o que aconteceu.
Nem Lula nem o PT estão conseguindo transformar o trauma de janeiro numa onda que sirva para encurralar o adversário político e solidificar uma “liderança” de amplas forças que genuinamente abominam os atos golpistas. Essa dificuldade é resultado, em parte, da leitura feita pelo novo presidente e seu velho estado-maior de que a vitória eleitoral lhes deu a condição de “levar tudo”.
Parecem estar assumindo que, mesmo com a força do Centrão, detêm mais poder político do que de fato possuem. Calcula-se também que provável inelegibilidade de Bolsonaro o neutralize “definitivamente”. Embora o que talvez melhor explique a resiliência de um personagem com defeitos tão evidentes como os de Bolsonaro é o que tem sido tão difícil de reconhecer e aceitar para Lula e o PT: a oposição social que enfrentam. (O Estado de S. Paulo – 02/02/2023)