Qual tribunal vai julgar os devoradores de florestas, de montanhas, dos solos, dos rios e do ar que respiramos?
Os fatos e as imagens anunciam e anunciavam a tragédia Yanomâmi. O Brasil e o mundo hoje e nos próximos dias vai saber, de maneira espetacularizada, a amplitude desta triste realidade. Ausências e responsabilidades escancaradas.
Quem vai responder pela tragédia Yanomâmi? Temos sociedade, estado e cidadania? Quais são os valores das nossas humanidades?
As montanhas estão sendo comidas pela mineração. Os rios estão sendo mortos por nós a cada dia. A floresta incendiada reaparece em forma de bizarros esqueletos seculares, um dia árvores frondosas… Os solos calcinados ficam esperando agrotóxicos para contemplar o ciclo da morte. As mudanças climáticas vão nos atormentando a vida.
Estamos vendo a vida sendo levada pela fumaça, pela falta de natureza, de trabalho, moradia, educação, comida, saúde… de quase tudo! A humanidade Yanomâmi vai a massacre, vertiginosamente.
Qual tribunal vai julgar os devoradores de florestas, de montanhas, dos solos, dos rios e do ar que respiramos?
A natureza vai se cansando de sinalizar. A tragédia foi anunciada, tantas vezes em gritos, lamentos e frustrações.
E o Brasil vai reagir? O que ainda pode acontecer? Ainda há tempo de ouvir e dialogar com a sabedoria e a espiritualidade Yanomâmi?
Qual é a nossa humanidade? (Salvador, 22 de janeiro de 2023)
George Gurgel, professor da UFBa (Universidade Federal da Bahia) e do Instituto Politécnico da Bahia