Marco Antonio Villa: O PT tem de aprender com a história

2023 não poderá ser uma repetição de 2003. É indispensável um governo de união nacional

O novo governo a ser instalado no Palácio do Planalto a 1º de janeiro de 2023 tem de ter como foco central a compreensão do momento político-eleitoral de 2022. Ou seja, a eleição presidencial foi um plebiscito não de Jair Bolsonaro, mas do Partido dos Trabalhadores – mais do que sobre Luiz Inácio Lula da Silva. O que isto quer dizer? Os quase 14 anos de governo do PT deixaram algumas marcas políticas – para seus opositores, mais ou menos radicais — marcas que vão demorar anos para serem apagadas. Principalmente as duas presidências Dilma Rousseff, sua forma de fazer política, as relações com os graves problemas nacionais e o desastre econômico do triênio 2014-2016, o pior da história econômica republicana.

O governo Bolsonaro — o mais calamitoso desde 1889 — quase conseguiu obter a reeleição, A derrota foi por uma margem mínima. Como explicar que durante um quadriênio assistimos cenas inimagináveis, um descalabro administrativo que não encontra paralelo na nossa história, o decoro presidencial sendo cotidianamente ignorado e mesmo assim milhões de brasileiros sufragaram o nome do responsável pela mais grave tragédia sanitária do Brasil como a pandemia da Covid-19?

Não é possível supor que milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro são extremistas, desprezam as instituições, querem o retorno da ditadura, são racistas, etc, etc. Não. Votaram contra o PT, contra algumas mazelas que foram realizadas nos seus governos e nas construções propagandísticas do gabinete do ódio – que partiam de fatos, mas, evidentemente, distorcendo-os dentro da perspectiva negadora dos valores democráticos. Em outras palavras, foram perdidos anos e anos no processo de construção de uma cultura política tendo como base a Constituição de 1988. Se tal tivesse ocorrido e a “res publica” tivesse sido tratada efetivamente em defesa do interesse geral, não haveria terreno para frutificar o autoritarismo.

O desafio do novo governo é de respeitar o resultado do segundo turno, a formação de uma frente ampla democrática. O ano de 2023 não poderá ser uma repetição de 2003. É indispensável um governo de união nacional. Evidentemente que deverá ter a hegemonia do PT. Quanto a isso, não se discute. Mas hegemonia não significa domínio completo, exclusivo do governo, das suas políticas, do seu rumo, dos cargos e objetivos, da relação com o Congresso, com o Judiciário, com a sociedade. Se tal ocorrer, a barbárie voltará. E pior, potencializada. (Revista IstoÉ – 03/12/2022)

Leia também

Lula manda Casa Civil se entender com Lira

NAS ENTRELINHASMas o governo se dispõe a manter apenas...

Lula não tem empatia com o centro conservador

NAS ENTRELINHASExiste um problema de desempenho nos ministérios, mas...

A luz do poeta Joaquim Cardozo na arquitetura de Brasília

NAS ENTRELINHASMuitos arquitetos e engenheiros vieram para Brasília com...

Lira teme efeito Orloff ao deixar comando da Câmara

NAS ENTRELINHASO presidente da Câmara se tornou uma espécie...

Lula deve pôr as barbas de molho com o cenário mundial

NAS ENTRELINHASDa mesma forma como o isolamento internacional se...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!