Eliane Cantanhêde: Golpe ou pastelão?

Em vez de golpe com militares, não se descarta instabilidade com bolsonaristas armados nas ruas

Que confusão a Defesa está fazendo! É uma trapalhada atrás da outra, uma ameaça atrás da outra, um recuo atrás do outro e a imagem que fica é que “os militares” fazem qualquer coisa para agradar ao capitão insubordinado que assumiu a Presidência e pinta e borda com eles. “Qualquer coisa” incluiria até golpe. Pode uma coisa dessas?

É assustador assistir ao presidente Jair Bolsonaro e sua gente ameaçando Supremo, TSE, ministros e as próprias eleições, assim como atacaram a saúde e a vida na pandemia. O Brasil está normalizando o que não tem nada de normal. Os presidentes de Supremo, TSE, Senado e até Câmara, enviesadamente, têm de defender a democracia todo santo dia e o foco nacional não é inflação e fome, é como e quando vai ser o golpe…

A pergunta deve ser outra: com quem? A escalada de Bolsonaro, filhos, séquito e robôs é clara, mas, se a gente olha os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica e se fixa no Alto-Comando do Exército, é difícil encontrar ao menos um disposto a jogar seu nome na lama da história contra a democracia.

Em vez de golpe com militares, o que não se pode descartar é que Bolsonaro esteja criando um clima de tumulto e instabilidade com sua turba civil, que armou com revólveres e fuzis e pode entrar em ação em caso de derrota. Ele está em segundo lugar, com recorde de rejeição.

O que acontece nesse caso? “Cerca os caras, julga, condena e prende todo mundo. Acabou-se a história”, responde um oficial, parte de um grupo grande de militares que é contra o PT e o ex-presidente Lula pelo petrolão e “otras cositas más”, mas não louva Bolsonaro, muito menos golpes.

O problema é que, quando o general da ativa Eduardo Pazuello dizia que “um manda, outro obedece”, os militares ficavam indignados com a sabujice e agora, quando é a democracia em jogo, a Defesa passa a ideia de que “um manda, todos obedecem”.

Bolsonaro diz que o TSE tem uma “sala escura” para contar votos, quer uma justiça eleitoral paralela e um duto dos votos para um computador das Forças Armadas. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Oliveira, encampa, quer mandar no TSE, tira e põe de novo um general na comissão de transparência e usa slogan bolsonarista: “Brasil acima de tudo”.

A Defesa reclama do sigilo de suas demandas sobre as urnas, mas o pedido foi da própria Defesa. Reclama que o ministro Edson Fachin não recebeu o general Paulo Sérgio, mas seria exatamente no último dia de prazo para o título de eleitor. Imaginem a agenda do presidente do TSE! Seria cômico, não fosse trágico. (O Estado de S. Paulo – 10/05/2022)

Leia também

Madonna reclama do calor, enquanto gaúchos estão debaixo d’água

NAS ENTRELINHASA catástrofe aproximou o presidente da República ao...

O padrão a ser buscado

É preciso ampliar e replicar o sucesso das escolas...

Parados no tempo

Não avançaremos se a lógica política continuar a ser...

Vamos valorizar a sociedade civil

Os recentes cortes promovidos pelo Governo Federal, atingindo em...

Petrobrás na contramão do futuro do planeta

Na contramão do compromisso firmado pelo Brasil na COP...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!