Debatedores reiteram confiança no sistema democrático como alternativa ideal para a sociedade e dizem que não há justificativas para autocracias nem invasões a territórios estrangeiros
No último dia do Seminário Internacional PCB 100 anos, nesta quinta (10/03), as discussões giraram em torno do desafio da democracia em termos globais e os reflexos no conflito entre Rússia e Ucrânia. Os debatedores reiteraram a confiança no sistema democrático como alternativa ideal para a sociedade e que não há justificativas para autocracias, nem invasões a territórios estrangeiros. Também destacaram que muitas dificuldades esbarram na convivência harmônica com os avanços tecnológicos.
Na coordenação da 3ª Mesa de Debates sobre “O desafio da democracia em termos globais”, a sociólogo e ambientalista Aspásia Camargo, mediou a discussão entre intelectuais brasileiros e estrangeiros. Entre eles, Sérgio Fausto, Maria Celina D’Araujo, Vicente Palermo e Ernesto Ottone.
Democracia
O tema da 3ª Meda de Debates foi introduzido por Marco Aurélio Nogueira, cientista social brasileiro, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Teoria Política na Universidade Estadual Paulista, para quem “a democracia representativa não vive seus melhores dias”.
“A democracia está com dificuldades de acompanhar as mudanças da vida moderna, pois nem sempre consegue fazer isso de maneira criteriosa. Adaptar-se não é aceitar sem crítica”, observou. E concluiu: “Faz-se necessário uma democracia de massa, dando-lhe melhores condições de processar todas as demandas de toda a sociedade”.
Aspásia Camargo relembrou o papel do PCB na história do Brasil. “O PCB teve uma contribuição imensa para a inteligência. E hoje temos de pensar a globalização como uma contribuição positiva”, pontuou. Em seguida, ela acrescentou que: “Não há como haver democracia funcionando, se não houver equidade e generosidade com a população. O multilateralismo é o nosso caminho de redenção”.
Sérgio Fausto, cientista político e superintendente da Fundação Fernando Henrique Cardoso, defendeu a necessidade de se repensar alternativas para reestabelecer a democracia no sistema global. “Sabemos que estamos vivendo isso numa sociedade fragmentada, há um desafio intrínseco numa sociedade que não se representa como foi no passado, pois há um déficit de eficácia dos regimes democráticos e de concentração de renda”, disse. E propôs: “[Temos de repensar] como nós incorporamos as novas tecnologias ao processo de entrega dos serviços públicos, inteligência artificial e big dates [por exemplo]”.
Já Ernesto Ottone ressaltou que, com todas as dificuldades, a democracia ainda é o melhor sistema político. “A democracia é o melhor dos sistemas. E o que permite o respeito aos direitos das pessoas. É o melhor futuro para a humanidade”, observou. Na sua avalição, “a política segue sendo um movimento que provoca muitas desigualdades sociais”.
Para Vicente Palermo, politólogo e ensaísta argentino, boa parte das dificuldades da democracia se deve à perda de confiança da sociedade nos políticos. “As pessoas deixaram de confiar nos políticos para confiar nos demagogos. Essa desconfiança na política é um fenômeno global. É necessário politizar o bem comum. Nem todos [os políticos] são corruptos e incompetentes. O relacionamento entre sociedade e os políticos está gravemente afetado, a confiança está muito afetada”, concluiu
Guerra Rússia x Ucrânia
Em relação aos conflitos envolvendo a Rússia e a Ucrânia, Ottone fez uma análise pragmática sobre as intenções do presidente russo, Vladimir Putin. “A invasão da Rússia à Ucrânia é a tentativa da Rússia de reconstruir seu passado”, disse ele, referindo-se à antiga estrutura da URSS. E fez uma provocação ao mencionar o papel daqueles defendem a democracia: “A democracia só pode conquistar uma maioria se também der resultados. O que há num regime autoritário é fechar a liberdade”.
Maria Celina D’Araújo, doutora em Ciência Política pela IUPERJ e professora da PUC-Rio, afirmou que nada justifica a morte como o que ocorre neste conflito. Segundo ela, a reação dos líderes mundiais às ações de Putin são uma demonstração de defesa da democracia e de crítica ao autoritarismo. “Esta
resposta, que esta invasão recebeu, valoriza as instituições democráticas. As pessoas estão preocupadas com a vida, com as liberdades e a soberania nacional. O resultado desta invasão, infelizmente é uma tragédia, mas tem um sentido pedagógico muito grande”, lamentou.
Conclusões
Convidado para fazer uma avaliação dos 3 dias de Seminário Internacional, Alberto Aggio, historiador e doutor em História Social na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, destacou que a democracia deve ser um campo permanente de reflexão e luta. “A democracia é em si um campo de luta política, mas este campo não pode ser visto fora da história”.
Também convidado para concluir as reflexões sobre as 3 Mesas de Debate, Marco Antônio Villa, historiador, escritor e comentarista político brasileiro, fez um alerta, ressaltando que para fortalecer a democracia é necessário orientar o “cidadão sobre a compreensão” em torno do tema.
Encerramento
No encerramento dos trabalhos, Caetano Araújo, doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), consultor legislativo do Senado Federal e diretor-geral da Fundação Astrojildo Pereira, afirmou que o Seminário foi “um resgate histórico” para trazer um outro olhar voltado para o futuro sobre “como essas práticas podem prospectar” para frente.
Já presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, ressaltou que o principal desafio é pensar o futuro, sem esquecer como o passado contribuiu para a construção de dias melhores. “O que precisamos é estudar o que fazer para o futuro, pois há os que encontram nesta invasão da Rússia à Ucrânia um absurdo, como se fosse [um movimento de] anti-imperialismo. Nós precisamos saber que este pensamento, que nos trouxe até aqui, não fique como força reacionária, defendendo uma ordem econômica que está sendo superada. Essa linha está sendo superada”, afirmou.
Reflexões
Na abertura do Seminário Internacional, na última terça-feira (8), os integrantes dedicaram um minuto de silêncio às vítimas dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, à defesa da paz e especialmente às ucranianas, no Dia Internacional da Mulher. Roberto Freire, que há 60 anos ingressou no Partido Comunista Brasileiro, ressaltou a necessidade de reflexão sobre a guerra em curso e seus impactos a partir do que a história ensinou.
No primeiro dia de debates, as discussões envolveram história, o legado dos comunistas brasileiros e os impactos da guerra Rússia x Ucrânia no mundo. Participaram das discussões intelectuais brasileiros e estrangeiros como Silvio Pons, Daniel Aarão Reis, Ana Stela Alves Lima, Gianluca Fiocco, AntonioOstornol, Luiz Sérgio Henriques e Marcos Francisco Napolitano.
No segundo dia, as discussões se concentraram em torno da mesa redonda intitulada: “O nacional-desenvolvimentismo em questão”, na qual os debatedores discutiram o papel do Estado que, neste processo, perpassa pela preservação ambiental, pelo crescimento econômico, pela retomada de uma política industrial, pela adoção de medidas de distribuição de renda e de controle da inflação.
O embaixador André Amado, secretário Executivo do Seminário Internacional, definiu a série de debates como “três dias de muita fertilidade intelectual”.
Integração
Os debates contaram com a participação direta de internautas que elogiaram o trabalho dos interpretes de Libras e a preocupação da FAP (Fundação AstrojildoPereira) em garantir acessibilidade para internautas surdos.
“A Fundação está de parabéns, quando se preocupa com acessibilidade. Excelentes intérpretes de Libras. A comunidade Surda agradece”, afirmou Viviany Lucas. Surdo, Diego Souza elogiou: “Excelentes intérpretes de Libras! A Fundação está de parabéns por promover a acessibilidade com qualidade. Sou surdo e fico feliz por ter acesso a esse conteúdo que muito me interessa”.
Maria Andréa Rios Loyola destacou o nível das discussões: “Parabéns aos organizadores por esse oportuno e excelente debate”. Ivan Alves Filho também ressaltou as contribuições dos debates: “Parabéns, [Professor] Marco Aurélio, sua lucidez é fundamental para todos nós”. Celso Raederacrescentou: “Aspásia tem razão: não há uma democracia reconhecida no Brasil”. Joao Candido Portinari complementou: “Parabéns aos palestrantes e à Fundação Astrogildo Pereira”.
FAP e Cidadania
O aniversário dos 100 anos do Partido Comunista Brasileiro foi comemorado com o Seminário Internacional realizado entre os dias 8 e 10 de março. Participaram 14 palestrantes cujas discussões foram transmitidas ao vivo pelos canais oficiais da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) no Youtube e Facebook, em respeito às normas sanitárias em decorrência da pandemia da Covid-19. (Fonte: Fundação Astrojildo Pereira)
As informações estão disponíveis em https://pcb100anosfap.com.br/
No seminário, promovido pela Fundação AstrojildoPereira (FAP) e pelo Cidadania, debateu a trajetória do PCB.
SERVIÇO:
https://pcb100anosfap.com.br/#palestrantes
Adriana Vasconcelos: +55 61 9907-7249