Freire: se não houver federação, partido concentrará esforços na eleição de deputados federais

Em entrevista ao UOL, presidente do Cidadania diz que partido não imporá candidatura a presidente e trabalhará por nome que unifique o campo democrático

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, afirmou em entrevista ao UOL, nesta quinta-feira (10), que a discussão sobre a formação de uma federação partidária não está se dando em torno de um candidato a presidente, mas, sim, de afinidades programáticas e convergências que apontem para quatro anos de atuação conjunta nos legislativos.

“Todos esses quatro partidos [PSDB, PDT, Podemos e MDB] têm pré-candidatos. Estamos discutindo com partidos. Isso é mais significativo do que a escolha de candidatos, porque dura quatro anos. Essa alternativa democrática pode ter uma candidatura unitária, quem sabe até com federações distintas”.

Freire disse que o Cidadania não imporá o nome de seu pré-candidato, o senador Alessandro Vieira (SE), e espera que também não haja imposição dos demais partidos. Ele ponderou, no entanto, que a busca desde o início é por um nome que unifique o campo democrático e destacou que o objetivo do partido é superar a cláusula de barreira.

“Se não houver federação, o partido terá de usar todos os seus recursos para eleger bancada [de deputados federais] e superar a cláusula de desempenho. Eu não sou presidente do partido para prepará-lo para entrar em falência. Sou presidente para, com o conjunto do partido, tentar superar os obstáculos para ele continuar existindo”, disse.

Veja os principais pontos da entrevista:

Federação ou desaparecimento

“Não é gambiarra. Distritão vinha com muita força e foi detido com a proibição de coligação e manutenção da cláusula de desempenho. Isso provocou por exemplo a fusão do DEM e do PSL. Essas duas regras fazem com que a perspectiva de pequenos partidos sejam ou a irrelevância ou o desaparecimento. Começa-se a discutir e isso é uma tendência, a busca por blocos maiores e fusões. A federação é uma forma de fazer a transição. Na política uruguaia, existe federação há 50 anos, a Frente Ampla e os partidos se mantêm. Mas ela atua na política como um partido. Com essa regra, essa reforma política, a tendência é a busca de grandes bancadas, porque fragmentação é o caos, uma relação promíscua que dá lugar a coisas como o orçamento secreto. Fazendo uma federação consciente, sabendo que tem de ter identidades, buscando convergência, você terá bancadas com sinergia”.

Regra de ouro

“Cada partido pode ter seu candidato, mas tem de discutir quem é o mais viável para representar o que nós pensamos. Não é uma corrida de cada um por si. Desde o início, o Cidadania faz parte de uma articulação política buscando uma candidatura que unifique. Não é por cima de pau e pedra que cada um vai lançar seu nome. A discussão é com os partidos, exatamente porque não é de qual será o candidato. Na questão da Paraíba, no caso do PSDB, foi definido de comum acordo uma regra de ouro de que onde você tem um candidato à reeleição esse candidato é o nome da federação”

Pré-candidatura do Cidadania

“Alessandro teve apoio, mas não se pode dar apoio maior porque, se não houver federação, o partido terá de usar todos os seus recursos para eleger bancada e superar a cláusula de desempenho. Eu não sou presidente do partido para prepará-lo para entrar em falência. Sou presidente para com o conjunto do partido tentar superar os obstáculos que ele tenha para continuar existindo. Alessandro é um grande candidato, mas o Cidadania não vai impor o nome assim como espera que ninguém imponha. Não há um candidato natural da alternativa democrática a Bolsonaro e Lula. Tudo ainda está sendo discutido”.

Esquerda reformista

“Partido está grudado às reformas e [ao combate] à pandemia, não a Bolsonaro. Toda essa oposição antirreformista não votou marco regulatório do saneamento básico, reforma da previdência. O que significar mudança e reforma terá um olhar simpático do Cidadania. A sociedade brasileira é uma das mais injustas e desiguais do mundo. E muitas dessas mudanças foram feitas até com o Bolsonaro sendo contra, mas apoio de seus líderes. Na pandemia, votaríamos contra o auxílio porque foi proposto pelo governo? Votamos com o nosso programa. A previdência, votamos com FHC, Lula, Dilma, Temer e agora com Bolsonaro. Se a esquerda tradicional não quer reforma do Estado, isso é problema dela. Não somos sistemáticos na oposição”.

Orçamento secreto

“Eu não tenho segurança. Inclusive espero que o STF tenha posição firme de dar mais transparência a esse processo. O que posso dizer é que votamos em Baleia [Rossi, nome do MDB para presidir a Câmara em 2021/2022] e somos de oposição ao governo Bolsonaro desde o início. O que não somos é aliados a essa esquerda tradicional, como grande parte do movimento comunista internacional, como o Partido Comunista Italiano, por exemplo, porque rompemos, com o fim da experiência do socialismo real, que viu esgotado seu projeto de organização social. Você bota a mão no fogo por alguma coisa? Eu boto por mim, não por ninguém. Isso seria assumir algo que você pode ser surpreendido. O que posso garantir é que o partido faz a oposição mais consequente a Bolsonaro. Não a oposição sistemática que muitas vezes vota contra o país, mantendo um Estado que garante privilégios e gera desigualdade”.

Apoio a Lula

“Lula acha ótima essa discussão, porque é como se você estivesse dizendo que ele vai ganhar a eleição, que ele vai para o segundo turno. Eu acho muito mais fácil derrotar Bolsonaro com um candidato de centro ou centro-esquerda que tenha capacidade de agregar toda a oposição a Bolsonaro, sem maior discriminação. Muitos daqueles que deram maioria a Bolsonaro também deram maioria a Lula e Dilma. Bolsonaro é inaceitável, Lula é indesejável. Estou dizendo que se porventura tivermos esse desenlace, que não é positivo, e se tivermos de derrotar o fascismo de Bolsonaro, nós derrotaremos o fascismo”.

Terceira via

“Não vai morrer por perder uma eleição. Quer acabar com um pensamento político que não é nem bolsonarista nem lulista? A sociedade vai ficar reduzida a esses dois pensamentos estratificados e atrasados? A sociedade brasileira é muito mais rica do que isso. Vamos discutir o segundo turno? Não houve nem o primeiro.”

Nazismo x Comunismo

“Não temos que discutir na história quem matou mais ou menos. Temos que condenar todos aqueles que foram déspotas e promoveram morticínios. Mas a discussão é equivocada porque o nazismo surge com a ideia de barbárie. A ideia de se contrapor a etnias, a determinados grupos minoritários, pessoas com deficiência, homossexuais, ciganos, contra a humanidade. É da humanidade, são seres humanos e precisam ser respeitados. E a ideologia nazista não respeita. Apenas os arianos, os que consideravam raça pura. O comunismo derrotou o fascismo ao lado dos aliados. Derrotou uma Alemanha de campos de concentração, do holocausto, de experimentos eugenistas, dos monstros Mengele e Eichmann. Alemanha condena isso, mas não condenou comunismo. Pode-se condenar os crimes de Stalin, e cometeu crimes, mas a ideologia fala de uma sociedade fraterna e mais igual. A doutrina não é contra a humanidade. Mas cometeu crimes. Como cometeu a Igreja. Vai se proibir a Igreja, a religião? Porque ela tem na doutrina a fraternidade, embora tenha provocado guerras e morticínios. Vai se proibir? É a mesma coisa de uma ideologia que não prega a morte, não é contra a humanidade”.

Kim Kataguiri

“Não acho que deva [ser cassado pela Câmara dos Deputados]. Ele inclusive já pediu desculpas. Ele quis bancar o liberaloide. Cometeu um grave erro. Mas não demonstrou em seu mandato visão de ser defensor de uma ideologia dessa. Não deve ser permitido que se faça proselitismo. Nosso deputado Daniel Coelho lançou um projeto interessante. Não se pode propagar essa ideologia. Isso é um crime. Você propagar que o mundo não pode conviver com judeus, ciganos, a favor de eugenia, que não permite a diversidade que o mundo tem, essa ideologia da morte tem de ser condenada.

PCB

“Tenho muita honra de ter sido militante do Partido Comunista Brasileiro, que inclusive lutou contra o senhor Bolsonaro, defensor de torturador, que também atenta contra a dignidade humana. Eu estava do outro lado, combatendo o regime que ele defendia. Regime de torturadores que assassinou seres humanos porque pensavam diferente. Isso coloca quais são as nossas posições. Não defendo mais o sistema. E não defendi os crimes de Stálin, condenei. O partido comunista condenou. Minha diferença básica com ele é que defendo a democracia, coisa que ele não sabe o que é”.

Veja a íntegra da entrevista abaixo:

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