Cristina Serra: Máquina mortífera no Planalto

Enquanto políticos, juristas e analistas em geral discutem se o que Bolsonaro comanda é genocídio, extermínio, mortandade ou carnificina, o criminoso ri da discussão semântica, dobra a aposta e ataca outra vez. Agora, nega vacinas para crianças. O massacre de 620 mil brasileiros nos cemitérios não basta. O vírus pede mais sangue, e Bolsonaro se dispõe a despachar a encomenda.

No costumeiro estilo miliciano, ele expande a truculência e parte para cima da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que autorizou a imunização para crianças entre 5 e 11 anos. Até pouco tempo atrás parceiro do delinquente em protesto negacionista e, hoje, ao que parece, distanciado do Planalto, o diretor-presidente da Anvisa, Barra Torres, pediu proteção policial para servidores e diretores da agência, tamanha a gravidade das ameaças.

Não é só a Anvisa que recomenda a imunização para os pequenos. A OMS, países da União Europeia, Estados Unidos e vizinhos aqui na América Latina fazem o mesmo. Mas o Ministério da Saúde é comandado pelo sabujo Marcelo Queiroga, que diz precisar de mais tempo para estudar o assunto e que só irá decidir em janeiro, depois de uma consulta popular. Daqui a pouco vai dizer que a vacinação precisa ser decidida em plebiscito.

Faz sentido. Se não tem impeachment para tirar esses bandidos do poder, eles sentem-se à vontade para lubrificar as engrenagens da máquina mortífera. A Covid mata crianças e também faz delas agentes transmissores do vírus para todos que lhes são próximos. Negar a proteção da vacina é de um grau de perversidade difícil de assimilar, mas o que esperar de alguém que defende a tortura, como Bolsonaro, a não ser podridão humana?

O que ainda impressiona é que nenhuma instituição política e/ou jurídica do país seja capaz de deter esse assassino. Instituições e seus representantes inertes são cúmplices da morte e da naturalização da desgraça que nos assola e nos condena a mais um ano com o genocida no poder. (Folha de S. Paulo – 21/12/2021)

Cristina Serra é paraense, jornalista e escritora. É autora dos livros “Tragédia em Mariana – a história do maior desastre ambiental do Brasil” e “A Mata Atlântica e o Mico-Leão-Dourado – uma história de conservação”

Leia também

Direito à crítica não pode degenerar em ataque pessoal

publicado no site contraponto em 19 de maio de...

Uma nova luta de classes se formando

Uma questão central, hoje, tem que ver com a...

Papa Francisco: uma perda imensurável para o mundo moderno

Confira artigo de Renata Bueno, dirigente do Cidadania, ex-vereadora...

Humanismo e Frente Ampla

Aprendi com a vida o quanto é importante assimilar...

Como fortalecer o diálogo entre organizações de pacientes e Legislativo Federal?

Estratégias para os movimentos sociais fortalecerem a interlocução e...

Informativo

Receba as notícias do Cidadania no seu celular!