Andrea Jubé: “Terceira via precisará de muita composição”

Diante da rápida ascensão do ex-juiz Sergio Moro nas pesquisas sobre a sucessão presidencial, o pré-candidato a presidente pelo Cidadania, senador Alessandro Vieira (SE), nega a intenção de retirar o nome da disputa pela vaga de presidenciável que representará a terceira via.

Ambos se projetaram na cena nacional pelo combate à corrupção e atuação na segurança pública.

Moro comandou a Operação Lava-Jato, mas depois foi julgado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como ministro da Justiça do governo Bolsonaro, reacomodou chefes de facções em presídios diferentes, desarticulando organizações criminosas.

Como delegado, Alessandro Vieira chefiou a Polícia Civil de Sergipe. Ele desbaratou um esquema de desvio de recursos públicos, incomodou aliados do governo local e acabou exonerado da função. Ganhou projeção na cena nacional pela atuação na CPI da Covid.

“Eu e o Moro temos um ponto de partida parecido, mas estamos em estágios diferentes de formação política”, disse Vieira à coluna. Ele vai completar três anos de mandato, adquiriu vivência parlamentar e desenvolveu outra percepção da política. “Já é um ponto de distância do momento que ele está vivendo agora”, delimitou.

Em contrapartida, Vieira reconhece que Moro está em outro patamar de visibilidade. Segundo ele, compatível somente com a de outros presidenciáveis, como Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes (PDT). Os perfis se assemelham, mas “são corridas diferentes”.

Ambos são aliados. Vieira conversa de três em três dias com Moro. O senador nega desconforto com o jantar oferecido na última semana pelo líder do Cidadania, deputado Alex Manente (SP) ao ex-juiz. Cinco dos sete deputados federais da legenda participaram. Mas os três senadores da bancada, e o presidente do partido, Roberto Freire, não compareceram.

“Fui avisado [do jantar], e alguns desses deputados sequer estarão no Cidadania no ano que vem. Eu gosto das coisas sempre muito claras: se não faz sentido a caminhada no partido, não faz sentido trabalhar pelo pré-candidato do partido”, diz o senador.

Nas trocas de telefonemas com Moro, Vieira diz que conversam sobre o início de caminhada política do magistrado. “Moro anunciou o [Affonso Celso] Pastore como mentor econômico, é um excelente nome. Mas eu sugeri que ele procure gente que olhe para a redução da desigualdade também, porque na construção do Brasil que a gente quer, tem que estar esse tema”.

Vieira também sustenta que Moro e os defensores da Lava-Jato não devem abandonar a defesa da operação, que teve decisões e provas anuladas pelo STF. “O defensor do petismo encontrou um álibi de que a Lava-Jato foi suspeita”, criticou. “Então vamos esquecer a Lava-Jato, e falar do Mensalão, processo completo, com condenações de toda a cúpula partidária por compra de base eleitoral, que é o que o Bolsonaro está fazendo”, criticou.

Alessandro Vieira também mantém diálogo com outros presidenciáveis, e cita a senadora Simone Tebet (MDB-MS), com quem compartilhou os holofotes da CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de cuja postulação desconfia: “não acredito que ele leve esse projeto adiante”.

Vieira alerta que diante do quadro de destruição generalizado em vários setores do governo, será preciso “muita composição” entre as forças políticas, até definirem um projeto de reconstrução do país em comum, e quem vai liderar a terceira via.

Para Alessandro Vieira, Sergio Moro preenche a lacuna do combate à corrupção, que identificou em outros pré-candidatos. Contudo, diz que o ex-juiz revela-se “incipiente” em outros setores, como a educação e desigualdade social.

Nesse quesito, Vieira acredita se destacar porque tem atuado nessas áreas. É vice-presidente da frente parlamentar da educação, e exerce a mesma função na frente parlamentar da renda básica.

Foi relator do projeto que assegurou repasse de R$ 3,5 bilhões para ampliar o acesso à internet dos alunos da rede pública. Teve emendas aprovadas no substitutivo da medida provisória de criação do Auxílio Brasil.

Vieira também é um dos articuladores de um texto alternativo à PEC dos Precatórios. “O governo patrocina uma emenda que desorganiza o teto de gastos, cria um mercadão paralelo de precatórios, tudo o que não é razoável para quem tem um projeto econômico robusto de país”, criticou.

“A etapa que estamos vivendo na corrida eleitoral é de apresentação de perfis e de projetos. A gente vai testar isso, e avançar na maratona”.

Alckmin

Declarações do ex-governador Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, ontem a sindicalistas animaram entusiastas da chapa em que ele desponta como vice do ex-presidente Lula. “Essa hipótese caminha”, afirmou. Mas a corrida tem mais obstáculos, além do dilema do quase ex-tucano.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira – partido que receberia Alckmin -, voltou a afirmar que para a chapa vingar, antes vem o acerto com o PT. “Não podemos resolver essa questão isolada de outras muito importantes”. O PSB não abre mão do apoio do PT à candidatura de Márcio França ao Palácio dos Bandeirantes.

Em outra frente, o presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), liderança da Força Sindical, considera a “ideia boa”, mas prematura. Diz que escolha de vice é pauta para maio ou junho do ano que vem.

Paulinho é enfático de que Alckmin deveria se filiar a uma legenda do centro político. “O Lula já tem a esquerda. Minha função é levar o Lula para o centro para ganhar no primeiro turno”, afirmou à coluna.

Questionado se a biografia de Alckmin em si não bastaria para alçar a candidatura de Lula ao centro, o líder do Solidariedade discorda. “Se eu pudesse orientar, diria para o Alckmin ir pro PSD ou MDB”. (Valor Econômico – 30/11/2021)

Andrea Jubé, jornalista e advogada, começou a acompanhar de perto os bastidores políticos em Brasília em 2007. Desde 2013, é repórter da editoria de Política do Valor

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