Estadão: Simone Tebet vai invocar esperança contra ‘desencanto’ e ‘pessimismo’ de eleitor

Angústia e decepção são sentimentos de eleitores indecisos captados por pesquisa qualitativa feita a pedido do MDB (Foto: Reprodução)

Felipe Frazão – O Estado de S. Paulo

O comando da pré-campanha da senadora Simone Tebet (MDB) à Presidência da República vai invocar a mensagem da esperança diante do atual cenário de desalento do País. A estratégia será adotada para dar tração ao nome da chamada terceira via e tentar romper a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Uma pesquisa qualitativa encomendada pela Executiva Nacional do MDB identificou no eleitorado os sentimentos de decepção e angústia, algo mais marcante do que o registrado nas últimas disputas ao Palácio do Planalto. Associado principalmente ao aumento do custo de vida e a constantes ameaças de desemprego, o pessimismo agora aparece ao lado de sensações como solidão, instabilidade e abandono.

O desencanto com a situação do Brasil e o seu impacto no cotidiano surgiram em observações de grupos de eleitores indecisos. O quadro de incerteza e frustração de sonhos e projetos, com aumento da miséria e da desigualdade social, impressionou o marqueteiro Felipe Soutello, da pré-campanha de Simone. “Desde os anos 1990 não vemos tanta tristeza e decepção em viver no Brasil, além de falta de expectativa de futuro. São as piores qualitativas em décadas”, disse Soutello.

Para a maioria dos entrevistados, a responsabilidade pela crise não é somente da pandemia de covid-19, mas, sim, do chefe do Executivo. Feita recentemente, a pesquisa teve o objetivo de mensurar impressões de homens e mulheres de todas as regiões que ainda não têm certeza sobre quem escolher para o comando do País e podem mudar o voto.

A aliança em torno de Simone reúne o MDB, o PSDB e o Cidadania, grupo que se autointitula “centro democrático”. Ainda desconhecida, a senadora oscilou de 2% para 1% das intenções de voto na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada. Já na pesquisa da FSB, a senadora chega a 3% e vence Bolsonaro num eventual segundo turno.

A cúpula do MDB afirmou que, quando começar o horário eleitoral na TV e no rádio, a partir de agosto, Simone pode crescer. Eleitores sem convicção do voto buscam um candidato que represente uma novidade, mas não querem um “outsider” na política e temem um aventureiro. A alternativa, para eles, é um nome com experiência, sem suspeitas de corrupção, que transmita confiança e capacidade de unificar o País.

O MDB identificou que ter lançado uma candidata foi percebido como um diferencial, mas que ser mulher não basta. Parte dos eleitores procura um nome que demonstre competência para administrar, reduzir as desigualdades sociais e resolver problemas, como alta da inflação e desemprego. Não foi à toa que, em um dos comerciais do MDB, Simone disse que era necessário promover o acesso à “comida barata”.

Fadiga

Estrategistas de outras campanhas ao Planalto também notaram o sentimento de fadiga por parte da população e tentam calibrar o discurso dos presidenciáveis. Segundo marqueteiros consultados pelo Estadão, foi possível notar nas propagandas do PL uma tentativa de mostrar Bolsonaro ao lado do povo, como alguém próximo das pessoas, e de vinculá-lo ao Auxílio Brasil.

Lula, por sua vez, aposta em mensagens como “cuidar de gente”, em tom messiânico. Ciro Gomes (PDT) destaca ainda mais as críticas ao modelo econômico e ao “voo de galinha” do Brasil, que, na sua avaliação, impede a geração de empregos de qualidade e provoca aumento da pobreza.

Hoje, 33 milhões de pessoas passam fome no País. A inflação se mostra resistente. Já são dez meses com o IPCA-15, a prévia do índice oficial, acima de dois dígitos. Números divulgados pelo IBGE na sexta-feira passada marcam 12,04%. “Os dados (da qualitativa) são plausíveis. A maior parte dos indecisos está na faixa de zero a dois salários mínimos, um contingente mais vulnerável à inflação em alta, que reduz o seu já muito limitado poder aquisitivo”, disse o cientista político Antônio Lavareda. (O Estado de S. Paulo – 29/06/2022 – https://www.estadao.com.br/politica/simone-tebet-vai-invocar-esperanca-contra-desencanto-e-pessimismo-de-eleitor/)

No Brazil Forum UK 2022, Eliziane Gama defende democracia e ampliação da participação da mulher na política

‘Não podemos mais permitir a continuidade do retrocesso que estamos vivenciando hoje no Brasil’, disse a senadora em evento de estudantes de Oxford (Fotos: Reprodução/Brazil Forum UK 2022)

A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA), disse neste domingo (26), ao participar do Brasil Forum UK 2022 (veja aqui o vídeo), no Reino Unido, que os principais desafios para 2023 são a ampliação da participação da mulher brasileira na política e a defesa da democracia contra os retrocessos promovidos pelo atual governo.

“Vejo que dentre os vários desafios para 2023 está um que é a maior participação das mulheres da política, porque o Brasil hoje é um dos piores países do mundo no que se refere a representação feminina na política. Nas Américas, o País só perde para o Haiti. Apesar de ser a maioria da população, a participação da mulher no Brasil se dá apenas entre 13% e 14%. Precisamos e devemos melhorar a participação das mulheres para melhorar também a qualidade da política”, disse a parlamentar, representante do Congresso Nacional no evento.

O Brazil Forum UK é uma iniciativa desenvolvida por estudantes brasileiros no Reino Unido, ligados à London School of Economics and Political Science e à Universidade de Oxford. O objetivo, de acordo com os organizadores, é o debate dos principais desafios da política na atual conjuntura, a reconstrução do País e a garantia da democracia brasileira.

Eliziane Gama participou do painel ‘Amanhã vai ser maior? Os novos desafios da política brasileira de 2023’, com a professora Rosana Pinheiro-Machado, do Departamento de Ciência Política e Sociais da Universidade de Bath; a deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ); e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ).

Ao iniciar sua apresentação, a parlamentar disse esperar que a pergunta do painel – ‘Amanhã vai ser maior?’ – seja na verdade uma afirmação em função de que o Brasil precisa ‘de um amanhã maior do que está vivenciando’ na atualidade.

Mulheres na política e orçamento

Líder da Bancada Feminina do Senado, Eliziane Gama disse que ampliação da participação das brasileiras na vida pública vai melhorar a qualidade da política. Segundo ela, para vencer essa barreira será necessário a redução da violência de gênero, com um ‘orçamento consequente’ para a execução de políticas públicas femininas.

“Em 2020, a Casa da Mulher Brasileira tinha uma previsão orçamentária de R$ 28 milhões, mas só recebeu R$ 1 milhão. A distância do que é projetado e do que é executado é muito grande. Toda política de combate a violência contra mulher foi reduzida, de R$ 70 milhões para R$ 40 milhões [nos últimos quatro anos]. Melhorar a participação da mulher na política é melhorar a representatividade”, defendeu.

A senadora fez um balanço do avanço dos projetos para garantir a presença das mulheres nos ‘órgãos de comando e liderança’ do Parlamento brasileiro.

“Evoluímos muito no Congresso Nacional com a garantia de assento cativo no colégio de líderes [no Senado e Câmara]. Esse olhar para dentro das decisões de comando [do Parlamento] é essencial para ampliar a representação das mulheres e aí sim, nós teremos, não há dúvida nenhuma, um dia maior do que o dia de hoje”, disse.

Terceira via

Sobre as chances da candidata da terceira via para a presidência da República representada pela senadora Simone Tebe (MDB-MS), Eliziane Gama considerou que o ‘processo é dinâmico’ e chamou a atenção para o contexto pré-eleitoral ‘incentivado pela política do ódio’.

“Há uma clara polarização [do processo eleitoral], então, não será simples para gente que faz a defesa da terceira via furar esse bloqueio para chegar no segundo turno”, disse, ao citar a desistência da pré-candidatura do ex-governador João Doria e classificar Tebet de ‘extremamente qualificada e competente’.

“Sou otimista, sou brasileira e acredito que a gente possa chegar ao segundo turno [com a candidatura da terceira via]. Muito embora tenha a plena convicção de que o desafio é muito grande e das barreiras que nós teremos que suplantar para de fato chegamos ao segundo turno das eleições”, analisou.

Eliziane Gama ponderou, no entanto, que o processo eleitoral de 2022 não pode ser uma barreira para a ‘unidade em torno do fortalecimento da democracia’.

“Não podemos mais permitir a continuidade do retrocesso que estamos vivenciando hoje no Brasil. Então, nós temos hoje várias candidaturas e precisamos pactuar, no segundo turno, a unidade. E se [a candidatura da terceira via] chegar ao segundo turno, ganhar a eleição”, disse.