Bruno Boghossian: Mesmo com avanço, vacina será problema político para Bolsonaro em 2022

Presidente cristaliza imagem de adversário da imunização ao questionar eficácia

Jair Bolsonaro insiste em ser um adversário da vacinação. Na semana passada, ele alegou que os imunizantes contra a Covid-19 são experimentais e questionou sua eficácia. Na terça (15), o presidente disse a apoiadores que vai vetar a criação de um certificado que regularia o acesso a espaços públicos e privados para quem já recebeu as doses.

O presidente está na contramão da população. A última pesquisa do Datafolha apontou que 91% dos brasileiros já se vacinaram ou pretendem se vacinar. Só 8% recusam a imunização –número que chegou a 23% no fim do ano passado, antes da aprovação da Coronavac e da vacina da AstraZeneca pela Anvisa.

A teimosia tem potencial para se tornar um problema político. Aliados de Bolsonaro acreditam que o peso da pandemia sobre sua popularidade deve diminuir com o avanço da imunização. O presidente, no entanto, se esforça para cultivar a imagem de inimigo da vacina. Esse comportamento pode continuar fresco na memória dos eleitores em 2022.

Mesmo que Bolsonaro queira enterrar o assunto, seus rivais devem bater na tecla durante a campanha. A candidatura de João Doria (PSDB) pode não decolar, mas o governador paulista vai agitar todos os dias a bandeira da vacinação e criar um contraponto ao presidente.

As declarações de Bolsonaro fazem eco num segmento restrito, mas podem extrapolar essa bolha. Grupos antivacina se inspiram no presidente para espalhar mentiras como a teoria de que os imunizantes deixam o corpo magnetizado. Se a recusa à vacinação crescer, o país terá dificuldade para atingir um patamar mais alto de imunização, necessário para conter variantes do coronavírus.

Bolsonaro ainda não se vacinou contra a Covid-19, apesar de ter esse direito há mais de dois meses. O presidente prefere lançar dúvidas sobre a imunização, com o objetivo de criar o discurso de que só demorou para comprar doses para o país porque a vacina é experimental. O eleitor vai julgar esse contorcionismo no ano que vem. (Folha de S. Paulo – 16/06/2021)

Bruno Boghossian, jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA)

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