Alessandro Vieira defende investigação da gestão Pazuello-Elcio Franco no Ministério da Saúde

Senador diz que troca de técnicos por fardados na pasta gerou uma ‘ocupação militar’ na saúde pública (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

O líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE) afirmou nesta quarta-feira (07) na sessão da CPI da Pandemia que é preciso investigar o papel do coronel da reserva Elcio Franco, então número 2 do Ministério da Saúde e hoje considerado pela comissão um dos principais suspeitos pelas irregularidades que na pasta, com compra de vacinas e insumos – enquanto milhares de brasileiros morriam por Covid-19.

Elcio é diretamente ligado ao ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello.  O depoente de hoje da CPI, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias – preso ao final do depoimento – afirmou que a negociação de vacinas passou pelo coronel da reserva, braço direito de Pazuello .

Na avaliação de Alessandro Vieira, ocorreu uma espécie de “intervenção militar” no Ministério da Saúde, no momento de maior crescimento da pandemia. Com Pazuello chegaram mais de 20 militares da ativa e da reserva, segundo o senador, que ocuparam postos estratégicos antes a cargo de técnicos.

“O ministério passou a trabalhar melhor com os militares, o seu setor foi melhor atendido?”, perguntou Alessandro Vieira.

“Nenhum melhora, nenhum ganho”, confirmou Dias.

AstraZeneca

Foi em fevereiro que outro notório militar, agora investigado, o coronel Marcelo Blanco introduziu o esquema agora investigado pela CPI: uma proposta de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, para pronta entrega. Só que negociada por supostos intermediários.

Blanco levou a Dias proposta da empresa Latin Air Supply, depois Davati Medical Supply, com a oferta das vacinas. Na mesma época, Elcio Franco ficou responsável por assinar os principais contratos da pasta, inclusive com o contrato com a Davati.

“O nome disso é negociata”, afirmou Alessandro Vieira, para quem é inexplicável que Roberto Dias, e os militares que o cercavam, nunca tivessem suspeitas do suposto intermediário da Davati, o cabo da Polícia Militar Luis Paulo Dominghetti.

“O senhor consegue imaginar uma razão, minimamente racional, para que o coronel Blanco não tenha encaminhado essa proposta para o secretário-executivo, também coronel Élcio, e tenha optado por encaminhar pra vossa senhoria?”, perguntou a Dias o senador Alessandro Vieira e ele ficou mudo

“Com sua experiência, o senhor tem perfeitas condições de reconhecer um picareta, um estelionatário, quando ele senta na sua frente”, apontou o senador.

Como já afirmado na CPI, em fevereiro, durante um jantar em Brasília, o então diretor de Logística teria pedido propina de US$ 1 por dose de vacina da AstraZeneca, na negociação que envolveria 400 milhões de doses. No jantar, estava o Coronel Blanco, e José Ricardo Santanna, que trabalhou na Anvisa. Dias negou que tenha havido uma reunião para fechar a propina e, para incredulidade da CPI, explicou que a reunião foi “incidental” e ocorreu quando “saiu para tomar um chope” com o amigo Santanna, e Blanco apareceu com Dominguetti.

kits para testes

O senador Alessandro Vieira lembrou que passou pelas mãos de Dias outro contrato suspeito, no valor de R$ 133,2 milhões, com a empresa Life Technologies, para a compra de 10 milhões de kits de insumos para testes de Covid-19.

Dias só cancelou o contrato após uma ação de cobrança do TCU (Tribunal de Contas da União). O contrato foi questionado pela própria área técnica do ministério, para quem o produto era diferente do que havia sido pedido, e pela Diretoria de Integridade.

“O senhor assina o contrato e só depois aponta que tem problemas nele?”, questionou Alessandro Vieira.

“Sim, senhor”, confirmou Dias.

“É uma sequência de fatos inusitados. Vacinas negociadas por cabos e reverendos. Processos de aquisição bilionários sem o mínimo de critério. São os tempos de hoje”, disse o senador.

Freire: salvo-conduto do Exército a Pazuello fortalece escalada golpista de Bolsonaro

Presidente do Cidadania cobra impessoalizaras e articulação de todas as forças de oposição, sem exceção, em torno de candidato único em 2022

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, alertou nesta quinta-feira (3) que a decisão do Alto Comando do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello, que participou de uma manifestação política ao lado de Jair Bolsonaro, fortalece a escalada golpista do presidente. Na avaliação de Freire, o Exército optou por contemporizar, contrariando frontalmente o Estatuto dos Militares, mesmo sob risco de instalar a anarquia nas Forças Armadas, o que desperta grande preocupação sobre a estabilidade democrática do país.

“O Alto Comando subordinou-se à extrema-direita e à degradação institucional imposta por Bolsonaro, que avançou em sua escalada golpista. A solução que encontraram pra superar a crise Pazuello abre as portas para a indisciplina e a politização das Forças Armadas. Tem graves implicações para o momento e para as eleições de 2022. Esse cenário impõe duas ações a todas as forças democráticas, sem qualquer exceção: lutar pelo impeachment e unir-se em torno de um único candidato no ano que vem. O golpismo subiu de patamar, não pode haver exceção nessa unidade”, argumenta.

Ele cobra que as conversas sobre o pleito do ano que vem sejam feitas agora também em novo patamar. Se necessário for, até mesmo com a escolha de outra liderança ainda não posta no cenário que viabilize tanto eleições livres quanto a vitória. O ex-deputado lembra o exemplo do marechal Henrique Teixeira Lott, então ministro da Guerra, que desarticulou um golpe em 1955 e garantiu a posse do presidente eleito Juscelino Kubitscheck.

“Como hoje não temos nas Forças Armadas um ministro como ele para deter a escalada golpista, quem sabe tenhamos de encontrar um novo Lott candidato a presidente para garantirmos as eleições de 2022. Pode parecer despropositado a alguns ou alarmista, mas também em 55 a articulação golpista vinha do Palácio do Planalto. Uma especulação que nasce do grave ato de subordinação do Exército à vontade de Bolsonaro, contrariando o próprio estatuto. Não acredito em bruxas, mas essa acabou de passar voando sobre Brasília”, sustenta.

O presidente do Cidadania aponta ainda os recentes episódios envolvendo a atuação de policiais militares extrapolando de suas funções, deixando duas pessoas cegas na manifestação de domingo em Pernambuco e prendendo um professor em Goiás, que circulava em um carro adesivado com a frase “Fora, Bolsonaro genocida”. “Cito apenas dois. Há vários outros. Se essa sucessão de episódios não nos servir de alerta, o que servirá?”, questiona.