Nota oficial – Cidadania se solidariza com PT e repudia fundamentalismo religioso

Nota oficial

O Cidadania alerta para a cada vez mais beligerante posição de alguns pastores que, longe de representar o que pensa o diverso grupo de evangélicos brasileiros, vêm perpetrando ataques reiterados ao Estado Laico, à democracia e, em especial, ao Partido dos Trabalhadores, com o qual são conhecidas as nossas divergências.

Nos solidarizamos com o PT e nos posicionarmos terminantemente contra a postura fundamentalista e totalitária de alguns líderes que estão mais devotados à causa própria que à fé que dizem professar, do que os meliantes metidos em maracutaias no Ministério da Educação são apenas um exemplo.

As declarações recentes de alguns pastores e a campanha contra o PT vinda de certas lideranças religiosas são estarrecedoras. Atentam contra a laicidade, a democracia e a Constituição, que lhes garante a liberdade de culto, ao lançar sobre o partido o anátema do inimigo.

Concorde-se ou discorde-se de suas posições, o PT é parte da institucionalidade nacional. A democracia e o debate político comportam apenas adversários. Qual o próximo passo dos fundamentalistas? Reeditar uma Santa Inquisição e queimar na fogueira todos aqueles de que discordam? O país não é uma República teocrática nem os brasileiros que eles pensam liderar desejam isso.

Mas sua atuação vai no sentido de aprofundar a divisão e a polarização na sociedade brasileira, trabalhando contra os princípios de suas próprias religiões. Temos visto como alguns setores insuflados por fundamentalistas têm partido para a violência contra brasileiros que encontram sua fé nas religiões de matriz africana.

A liberdade garantida pela Constituição impõe o respeito à liberdade do outro. Tais agressões devem ser veementemente repelidas. Esse tipo de linguagem fantasiosa, que associa adversários a demônios, infernos e outras imagens fabricadas, é inadmissível em qualquer país que respeite os direitos humanos.

A liberdade religiosa não pode servir de escudo para interesses escusos de uns poucos nem para oprimir e agredir os que porventura pensem diferente ou professem outra fé. Tocarão fogo nas instituições democráticas porque delas discordam? Esse é um chamado ao bom senso de homens e mulheres de fé.

O verdadeiro inferno seriam desdobramentos violentos de uma eventual tentativa de golpe nas eleições de outubro, colocando brasileiros contra brasileiros. É preciso deter a marcha da insensatez. A comunidade evangélica tem de se levantar contra esse visão torta da religião, das liberdades e da democracia.

Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania

Marcelo Rubens Paiva: Democracia, por favor

Não vai ter golpe. Bolsonaro tentará melar as eleições, desacreditar a escolha das urnas. Está em campanha contra o processo eleitoral desde que tomou posse. Mas existem Judiciário e Legislativo contra ele. E agora a Defesa.

Disse o presidente da Câmara, Arthur Lira: “O processo eleitoral brasileiro é uma referência. Pensar diferente é colocar em dúvida a legitimidade de todos nós, eleitos em todas as esferas. Vamos seguir sem tensionamentos para as eleições livres e transparentes”.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi mais duro e jogou óleo na pista da motociata do golpe: “Manifestações ilegítimas e antidemocráticas, como as de intervenção militar e fechamento do STF, são anomalias graves”.

Atestado de antecedentes de militares e políticos não está em branco. Mesmo agraciado com um orçamento secreto que triplicou emendas parlamentares (de R$ 10 bilhões por ano no governo Temer, saltaram para mais de R$ 35 bilhões no atual), os “eleitos em todas as esferas”, 21 senadores, 27 governadores, 513 deputados federais e mais de mil deputados estaduais, querem legitimar a reeleição pela qual lutam desde que tomaram posse.

Uma moça rasgava folhas da chamada Constituição Cidadã na Praça dos Três Poderes (DF) no protesto em defesa de Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Ela sabe o trabalho que deu para promulgá-la na Assembleia Nacional Constituinte de 1987-88?

A vida útil de uma Constituição por aqui é em torno de 28 anos (em 200 anos de Independência, já tivemos sete delas). A de 1824 foi um rasgar da Constituinte inspirada na Revolução Liberal do Porto, que prometia um governo republicano no apagar das velas do absolutismo, o fim da tortura, escola para todos e direitos. Porém, dom Pedro decidiu governar com um Poder Moderador, o AI-5 real.

A Constituição de 1891 instituiu uma república encabeçada por generais e depois bacharéis. A de 1934 foi rasgada pela de 1937, que instaurou uma ditadura. A de 1946 foi picotada pelo golpe de 1964 e a tesoura de ferro da guerra fria.

Democracia não é só sopa de letrinhas. Deveria sobretudo garantir equidade, que não é pauta ideológica, mas do desenvolvimento econômico. Nossa obrigação é garantir que “representantes do povo instituam um Estado Democrático destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, segurança, bem-estar, desenvolvimento, igualdade e justiça”, como começa a de 1988. (O Estado de S. Paulo – 06/05/2022)

Marcelo Rubens Paiva é escritor, dramaturgo, roteirista, há anos trabalha na imprensa como cronista do mundo contemporâneo, de olhos atentos à política, cultura, neuroses urbanas de hoje e do passado

Resolução Política da Executiva Nacional do Cidadania

A Comissão Executiva Nacional do Cidadania, em respeito a seu Estatuto, e ao reafirmar sua defesa instransigente do Estado Democrático de Direito e das Instituições constitucionalmente estabelecidas, APROVA a presente Resolução:

Art. 1° Que as instâncias partidárias tenham especial atenção a dirigentes, mandatários ou filiados ao Partido, que atentem a princípios constitucionais; defendam atos antidemocráticos ou a tomada dos Poderes, sem que seja pelo processo regular das eleições, em flagrante descompasso com os valores do Cidadania, sejam primeiramente alertados do constrangimento ao Partido.

Art. 2° Havendo práticas reiteradas e irreconciliáveis nas atitudes descritas no artigo anterior, as instâncias partidárias oportunizem uma solução política, podendo inclusive formular convite para a necessária desfiliação.

Parágrafo Único – Havendo manifesta insistência, agravada por ferir o Estatuto, o Código de Ética e as Resoluções Partidárias, ficam desde logo autorizadas as medidas estatutárias, respeitado o devido processo legal e a ampla defesa.

Brasília, 10 de setembro de 2021.

ROBERTO FREIRE
Presidente Nacional do Cidadania