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Câmara conclui votação da reforma e mantém economia de R$ 933 bilhões, destaca O Globo

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Texto chega com força ao Senado

MANOEL VENTURA, GERALDA DOCA, MARCELLO CORRÊA E CÁSSIA ALMEIDA – O Globo

BRASÍLIA E RIO- Após a aprovação do texto-base da reforma da Previdência em segundo turno, o governo concentrou esforços ontem para evitar mudanças que desidratas-sem o projeto. A Câmara dos Deputados analisou oito destaques (propostas para alterar pontos específicos), que tinham potencial de reduzir em R$ 459,9 bilhões a economia prevista de R$ 933,5 bilhões em dez anos. Todos os destaques foram rejeitados com ampla margem de votos, o que mostra que a reforma seguirá para o Senado com mais força para angariar o apoio dos parlamentares.

Com base no placar do segundo turno — 370 votos a favor e 124 contra —, especialistas dizem que o projeto deve ser aprovado com facilidade no Senado, sem mudanças, o que evitaria que ele voltasse à Câmara. A principal batalha nesta etapa da tramitação será ai nclusão de estados e municípios em uma proposta de emenda à Constituição (PEC) paralela.

No fim da votação dos destaques, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi cumprimentar os parlamentares: — Vim agradecer a aprovação da reforma, o excelente trabalho de coordenação feito pelo presidente Rodrigo Maia. Estou muito satisfeito e muito feliz com o apoio da Câmara dos Deputados.

Segundo o economista Paulo Tafner, especializado em Previdência, as discussões na Câmara foram acompanhadas de perto pelos senadores, o que ajudará na tramitação na Casa: — Sob a ótica fiscal, os números que a Câmara entrega de economia de R$ 900 bilhões são muito expressivos. Há dois anos, com o projeto do presidente Temer, se conseguiria uma economia de R$ 420 bilhões. Conseguimos mais que dobro em apenas dois anos. O projeto deve passar facilmente no Senado.

Com o plenário mais vazio ontem do que na quarta-feira, dia da aprovação do texto-base, o governo teve que buscar deputados em gabinetes e ministérios para votar. Um dos destaques que mais mais preocupavam o governo derrubava as regras de pensão por morte previstas na reforma. O destaque foi rejeitado por 339 votos a 153. A votação durou quase duas horas. O ganho fiscal da medida é de R$ 139,3 bilhões em dez anos.

O benefício é pago aos dependentes do segurado do INSS ou do servidor público. A pensão será de 60% do valor que recebia o trabalhador, mais 10% por dependente adicional, até o limite de 100% para cinco ou mais dependentes. O texto garante, porém, pagamento de pelo menos um salário mínimo nos casos em que o beneficiário não tenha outra fonte de renda formal. Essa condição foi inserida durante a votação do texto-base, numa negociação com a bancada evangélica. O governo cedeu para evitar que toda a mudança sobre as pensões caísse.

PORTARIA SOBRE RENDA

Para cumprir o acordo, o governo publicou ontem portaria explicando o que será considerado renda formal do dependente para efeito de concessão de pensão por morte. A renda obtida com aluguel de imóveis ou trabalhos sem carteira assinada não seria considerada. A oposição não saiu satisfeita.

— Em que pese o entusiasmo pela portaria governamental, ela trata da renda formal. Ela não é uma garantia de que a viúva receberá um salário mínimo — disse o deputado Afonso Motta (PDT-RS).

Relator da proposta, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) afirmou que o acordo avançou e que só terão o valor da pensão reduzido a 60% do mínimo as viúvas que tenham renda formal maior do que um salário mínimo.

— As viúvas que não têm renda de até um salário mínimo receberão um salário mínimo. Mas as que têm renda maior vão entrar na regra geral. E aquelas que têm filhos dependentes vão receber mais do que aquelas que não têm filho dependente. É uma regra justa, é uma regra que existe no mundo — disse.

Outro destaque que deu trabalho para o governo foi uma proposta do PSOL que pretendia reverter restrições ao pagamento de abono salarial (o abono do PIS) previstas no texto. A proposta foi rejeitada por 345 votos contra 139. Com isso, está mantida a regra prevista na reforma estabelecendo que terão direito ao benefício trabalhadores que recebem até R$ 1.364,43. O PSOL queria manter a regra atual, que garante o abono a quem ganha até dois salários mínimos.

A Câmara rejeitou também dois destaques do PT, mas sem impacto fiscal relevante. Um deles pretendia retirar da reforma o requisito de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) — pago a idosos e deficientes cujas famílias têm renda mensal per capita de até 1/4 do salário mínimo. Essa definição de pobreza está expressa em lei.

Outro destaque rejeitado do PT pretendia retirar do texto a regra que regulamenta a contribuição para o INSS de trabalhadores intermitentes. Pela reforma, só contará como tempo de contribuição o mês em que o trabalhador recolher para o INSS sobre o salário mínimo da categoria. A Câmara rejeitou ainda destaque do Novo que tinha como objetivo endurecer as regras de transição para acesso à aposentadoria.

O PDT pretendia mexer na regra de transição válida para trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público. A intenção do partido era retirar o pedágio de 100% a ser pago pelos trabalhadores que pretendem se aposentar aos 57 (mulheres) e 60 (homens). O impacto era estimado em R$ 110 bilhões. O texto foi rejeitado por 352 votos a 136.

INCLUSÃO DE ESTADOS

Para a economista Ana Carla Abrão, sócia da consultoria Oliver Wyman, vê a discussão do tema mais controlada no Senado, que já tem o entendimento da “urgência e necessidade da reforma”, e também uma aprovação fácil: — É uma casa mais homogênea. Na Câmara, há forças políticas muito distintas.

Já quanto à PEC paralela para inclusão de estados e municípios, Ana Carla elogia a intenção do Senado, mas está pessimista quanto à aprovação na Câmara:

— A iniciativa é válida, importante, reforça a ideia de que a reforma vai passar mais facilmente no Senado. Mas, quando a PEC chegar à Câmara, pode haver reversão. Mesmo que a probabilidade de aprovação seja baixa, ela é importante, pois mostra uma responsabilidade com o país e os estados.

Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (08/08/2019)

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MANCHETES

O Globo

Câmara conclui votação da reforma e mantém economia de R$ 933 bilhões
STF derruba decisão que mandava Lula a presídio
Salles ataca Noruega em sessão na Congresso

O Estado de S. Paulo

Câmara conclui Previdência e mantém pilares da reforma
Governo quer dividendos de estatais para fechar contas

Folha de S. Paulo

Após reação de políticos, STF proíbe transferência de Lula
Corregedor da Procuradoria abriu mão de apurar Deltan
Câmara rejeita pauta opositora que alteraria Previdência

EDITORIAIS

O Globo

Segundo turno da reforma é fato inédito

Nunca mudanças tão profundas na Previdência conseguiram tramitar com algum êxito no Congresso

A aprovação em segundo turno pela Câmara do texto-base da reforma da Previdência é inédita. Pois jamais alterações de alguma profundidade no sistema previdenciário foram aceitas pelo Congresso.

Nas tentativas feitas —com graus diferentes de abrangência —, nos mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de Lula e de Dilma Rousseff (os dois do PT),não havia na classe política tanta consciência dos efeitos deletérios de uma grave crise fiscal como a que o país vive, de forma mais visível, desde 2013/14. Nas gestões petistas, acrescentava-se a rejeição ideológica a qualquer corte de gastos.

Ainda havia espaço de trânsito fácil na classe política da ideia de que bastaria aumentar gastos públicos para se gerar crescimento. Algo derivado de teses de Keynes mal digeridas.

Infelizmente, foi necessária a mais profunda e longa crise de que se tem notícia —agravada com a política do “pé no acelerador” executada pela dupla Lula-Dilma —para políticos pelos menos intuírem que não há saída fácil para um desequilíbrio tão grave e extenso como o que o país vive.

Déficits primários (excluindo o pagamento de juros) começaram a ser acumulados em 2014, e isso continuará por pelo menos mais dois anos. Assim, a dívida pública disparou de 50% para quase 80% do PIB, marca que deve ser ultrapassada até que esta e outras reformas surtam efeito, a economia volte a se mover e consequentemente a arrecadação tributária suba.

Também teve papel pedagógico o fato de uma inflação quase sempre de um dígito não poder mascarar as perdas fiscais, o que obriga a Federação a se ajustar. Mesmo contra os pendores dos políticos populistas, de esquerda e de direita.

Na segunda votação do texto da reforma na Câmara, o projeto teve 370 votos a favor, nove a menos que o placar do primeiro turno, mas ainda muito acima do mínimo necessário à aprovação na Câmara de uma emenda constitucional, 308 votos.
A Câmara iniciou ontem à tarde a votação dos destaques feitos pela oposição, na tentativa de desidratar a reforma. Um dos mais importantes, apresentado pelo PCdoB, visava a derrubar do projeto as novas regras da concessão de pensão por morte.

Como todo o sistema previdenciário, este benefício tem regras irreais, distantes da realidade brasileira. Esta pensão representa um gasto de 3% do PIB, enquanto no conjunto dos países mais ricos, com representação na OCDE, é de 1%. O ajuste nas regras foi mantido por 339 votos contra 153. Outro indicador de maturidade de políticos.

No Senado, para onde o projeto irá, a ser submetido também a dois turnos de votação, será importante a formulação de uma proposta de emenda constitucional, a “PEC paralela”, a fim de estender a reforma a estados e municípios, o que foi impossível na Câmara. A fórmula garante que o que já for aprovado seja sancionado.

Sem a ampliação da reforma aos estados e municípios, a crise fiscal persistirá.

O Estado de S. Paulo

Produção e vendas de autos têm novo impulso

O aumento da produção e das vendas de veículos em julho pode ser interpretado como indício de um promissor aquecimento do consumo interno. Segundo relatório da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram produzidas em julho 266,4 mil unidades, representando um crescimento de 14,2% em comparação com o mês anterior (233,2 mil), sendo este o melhor julho desde 2013. Do lado das vendas no mercado interno, registrou-se no mês passado um avanço de 9,1% (243,6 mil unidades) em relação a junho (223,2 mil).

Em confronto com o mesmo mês do ano passado, o aumento foi de 12%, taxa muito expressiva tratando-se de bens duráveis de preço mais elevado. “Estamos com otimismo moderado. Temos de ter certo cuidado, mas existem elementos na economia atual que podem impulsionar um segundo semestre melhor”, afirma Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade. Entre estes fatores, o mais relevante é a recente redução da taxa básica de juros (Selic) de 6,5% para 6% ao ano, sendo correntes no mercado financeiro projeções de que essa taxa pode cair para 5,5% no final deste ano ou nos primeiros meses de 2020.

O que se espera é que a baixa da Selic venha a ter um efeito mais pronunciado sobre as taxas de juros cobradas do consumidor. A isso se alia a expectativa de aprovação final da reforma da Previdência, o que atuará diretamente para desanuviar o ambiente de negócios, principalmente se for seguida da tramitação no Congresso Nacional de uma reforma tributária ampla, ainda em fase de esboço. A situação poderia ser ainda melhor para a indústria automotiva não fosse a queda na exportação, resultante da prolongada crise do mercado argentino. Em julho, as vendas externas do setor foram de 42.115 unidades, um recuo de 15,3% em comparação com o mesmo mês de 2018 (49.705).

O esforço das montadoras para incrementar as vendas externas para outros países latino-americanos, como a Colômbia e o México, tem tido bastante êxito, mas os resultados têm sido insuficientes até agora para compensar a retração da exportação para a Argentina. O levantamento da Anfavea informa, ainda, que as vendas de máquinas agrícolas caíram 9,4% em julho em relação ao mês anterior, não passando de 3,9 mil unidades.

Capricho infantil

O presidente Jair Bolsonaro não poderia ter sido mais claro ao revelar o sentimento que o animou a assinar a Medida Provisória (MP) 892/2019, publicada no Diário Oficial da União no dia 5 passado. A medida, que dispensa as empresas de capital aberto de publicarem suas demonstrações financeiras em jornais de grande circulação – bastando a publicação dos balanços no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) –, foi a “retribuição” do presidente ao tratamento supostamente hostil que ele diz receber da imprensa desde a campanha eleitoral. “(Fui eleito) sem televisão, sem tempo de partido, sem recursos, com quase toda a mídia o tempo todo esculachando a gente. (Chamavam- me de) Racista, fascista e seja lá o que for. No dia de ontem, retribuí parte daquilo (com) que grande parte da mídia me atacou”, disse Bolsonaro durante a cerimônia de inauguração de uma fábrica de medicamentos em Itapira (SP).

É importante que se diga de pronto que nada há de errado na propositura de uma alteração do dispositivo da Lei 4.404/1976 – a Lei das Sociedades Anônimas – que determina que a publicação dos balanços das empresas de capital aberto seja feita “no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar onde esteja situada a sede da companhia, e em outro jornal de grande circulação”. Evidente que cabe discutir a pertinência desta exigência legal quase no fim da segunda década do século 21. Há alguns anos, aliás, as próprias empresas de comunicação têm pensado em soluções tecnológicas para continuar levando informação ao público por meios outros que não a impressão em papel. Entretanto, a MP assinada pelo presidente Bolsonaro, tal como foi concebida, não é uma medida de natureza progressista e liberal. Longe disso.

Trata-se de uma agressão frontal à liberdade e à independência da imprensa por meio da constrição abrupta de suas receitas, meta que os ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff sempre ameaçaram alcançar, mas jamais tiveram a ousadia de levar a cabo. Movido por um misto de ignorância do papel do jornalismo nas sociedades democráticas, inaptidão para o cargo e rancor pela legítima fiscalização do exercício do poder pela imprensa – tomada como um gesto de hostilidade pessoal –, Jair Bolsonaro mira nos grandes veículos de comunicação, como se pôde ver no regozijo irônico com que anunciou a medida, mas acabará por fechar jornais regionais que têm na receita advinda da publicação dos balanços empresariais uma de suas mais importantes fontes de financiamento.

Exatamente por esta razão, o Congresso Nacional teve o cuidado de prever na Lei 13.818/2019, aprovada em abril, um período de transição para o novo modelo de publicação das demonstrações financeiras por meio eletrônico. De acordo com o referido diploma legal, os jornais teriam até o dia 1.° de janeiro de 2022 para se preparar para a mudança. O tempo seria suficiente para que as empresas jornalísticas buscassem fontes alternativas de receita no mercado. Ao editar a MP 892 apenas três meses após a aprovação de uma lei sancionada por ele, Jair Bolsonaro avilta a Constituição e o Congresso, posto que a medida provisória em questão não preenche os requisitos essenciais de urgência e relevância. O Congresso dará um exemplo de correção e de respeito às liberdades se devolver a MP 892 ao Planalto, impondo a seus signatários um período de reflexão sobre os alicerces e os limites do poder. O presidente Jair Bolsonaro não tolera a imprensa independente porque não é capaz de controlá-la.

Em sua história de 144 anos, não foram poucas as tentativas de calar O Estado de S. Paulo com ações semelhantes às dele. Porém, ao contrário do que pode pensar o presidente da República, os grandes veículos de comunicação não dependem da chamada publicidade oficial. Não irão falir pela ação da caneta presidencial e continuarão a publicar o que for de interesse público. As vítimas da retaliação ignóbil serão pequenos e médios jornais e as populações de suas cidades, que deixarão de ter poderosas fontes de informação e de fortalecimento dos laços comunitários.

O alto índice de perda de água

O problema do saneamento básico no País não se limita à necessidade de expansão das redes de água e esgoto, que hoje deixam 35 milhões de brasileiros sem acesso à água potável e 100 milhões fora do serviço de coleta de esgoto. Esses índices colocam o Brasil na 106.ª posição no mundo nesse setor. Como se isso não bastasse, é também muito elevado o índice de perda de água potável – em média 38,3% –, de acordo com o estudo Perdas de Água 2019, do Instituto Trata Brasil, o que agrava o problema e torna ainda mais urgente a busca de uma solução.

Segundo o estudo – feito com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), em parceria com a GO Associados –, as perdas físicas de água (vazamentos, erros de leitura dos hidrômetros, furtos) foram de 3,5 bilhões de metros cúbicos, suficientes para abastecer 30% da população brasileira durante um ano. Em termos financeiros, a perda de faturamento representou para o País um prejuízo de R$ 11,3 bilhões. Esse valor é superior ao total de recursos investidos nos serviços de água e esgoto de todo o Brasil em 2017.

As perdas são separadas em reais e aparentes, uma distinção importante para que a população tenha uma ideia precisa do que se passa e dos muitos problemas a serem resolvidos. As perdas reais são as decorrentes de vários tipos de vazamento das redes. As aparentes são as causadas por ligações clandestinas, conhecidas como “gatos”; por hidrômetros parados ou com defeitos; e por erros de leitura. Fica clara a necessidade de investir muito mais do que se tem feito na manutenção das redes e na melhoria da fiscalização. Essa decisão não pode tardar, tendo em vista o histórico das perdas. Entre 2013 e 2017, os dois tipos de perdas aumentaram, o que mostra deterioração contínua da situação.

Não admira que, em termos de faturamento, as perdas de água do Brasil (39,2%) sejam mais altas do que as de países menos desenvolvidos como Bangladesh (21,6%), Senegal (33,2%), Uganda (33,5%), África do Sul (33,7%) e Etiópia (38%). Mesmo nas regiões que apresentam os melhores resultados, a situação é ruim. Em todas elas, o índice de perda de água é alto: 34,14% no Centro- Oeste, 34,35% no Sudeste, 36,54% no Sul. No Nordeste (46,25%) e no Norte (55,14%), os índices são desanimadores. No Norte, como se vê, mais da metade da água produzida não chega à população. As exceções ficam para três municípios paulistas: Santos, com bons índices de perda de água (14,32%) e de faturamento (15,89%), Limeira (respectivamente 18,62% e 12,92%) e Campinas (20,91% e 12,97%).

O presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, resume bem o problema: “O aumento das perdas mostra que há um problema de gestão e que os investimentos na redução não vêm sendo suficientes para combater o problema. Mais preocupante é pensar que num momento de crise hídrica não será suficiente pedir que a população economize água, se as empresas continuarem perdendo bilhões de litros por deficiências diversas”. Lembra a seguir que “a redução de perdas é o maior manancial que o Brasil possui”. Dentre as recomendações do estudo para evitar o desperdício de nosso “maior manancial”, destaca-se o aumento dos investimentos. Na situação em que se encontra hoje o saneamento básico no País, os investimentos – tanto para a redução das perdas como para a ampliação das redes de água e esgoto – dependem fundamentalmente da aprovação pelo Congresso do novo marco legal para o setor, que facilita a entrada do capital privado.

Com as empresas estatais, que dominam no setor, sem recursos para enfrentar esse desafio, é fundamental o concurso das empresas privadas, dispostas a investir. A solução está no projeto do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que estabelece normas para “estimular a livre concorrência, a competitividade e a eficiência” no saneamento básico. Já aprovado pelo Senado, ele depende agora da manifestação da Câmara dos Deputados.

Desafios à inovação

O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) engajou pesquisadores e gestores do Brasil e dos EUA para investigar as oportunidades para a inovação no Brasil. O resultado, no livro Innovation in Brazil (a ser lançado em português), combina desde micro-perspectivas sobre empresas a panoramas de políticas públicas, na ótica de disciplinas como sociologia, ciências políticas, economia, engenharia e urbanismo. O histórico do Brasil em pesquisa e desenvolvimento é ambivalente. Há casos de sucesso, como a exploração de petróleo ou a produção de motores flex e jatos regionais.

O investimento em inovação, equivalente a 1,3% do PIB, é o dobro da média latino-americana e um pouco maior que o dos Brics (1,1%). Corresponde, porém, a metade da média da OCDE e é acentuadamente baixo em relação à iniciativa privada. No Índice Global de Inovação, o País está na 66.ª posição, com desempenho razoável em Capital Humano (48.ª) ou Sofisticação dos Negócios (40.ª), mas ruim em Instituições Políticas (80.ª) e Sofisticação do Mercado (84.ª).

A pesquisa destaca cinco pontos críticos – “as dificuldades em aplicar e subsidiar créditos e isenções fiscais; a rigidez dos regulamentos e o isolamento da economia global; a necessidade de desenvolver uma pesquisa acadêmica translacional; a instabilidade política causada pela alta rotatividade no governo; e a necessidade de financiar organizações de pesquisa e tecnologia” – e cinco orientações para enfrentá-los.

Primeiro, remodelar o engajamento na economia global em relação à inovação, o que implica reduzir barreiras a tecnologias de ponta e a imigrantes qualificados, e promover políticas para atrair inovação de multinacionais e colaborações derivadas de investimentos estrangeiros. Depois, alinhar políticas industriais e de inovação. Se o desenvolvimentismo fomentado historicamente pelo País criou cadeias e mercados de trabalho, também restringiu o acesso a insumos de tecnologia e inibiu a capacidade inovadora dos produtores. Não se trata de desfazer as políticas existentes, mas de corrigi-las e complementá- las com estratégias de inovação.

Um terceiro tema é o financiamento. O modelo estatista é prolífico em instituições públicas voltadas para a inovação. Porém, o presidencialismo de coalizão as submete às lideranças amadoras e voláteis apontadas pelos partidos, resultando em baixo desempenho e coordenação. Casos de sucesso, como Embraer ou Embrapa, são isolados e dispersos. Institutos como o Senai Inovação, a Mobilização Empresarial pela Inovação ou o Centro de Engenharia da Fapesp vêm contornando os vícios do estatismo. A Embrapii, uma organização social federal, prevê um conselho formado por membros da iniciativa privada e da academia, transfere a institutos de pesquisa avalizados as decisões sobre os projetos e vincula seus parceiros à aplicação de recursos em inovação.

Em quarto lugar, é preciso fortalecer nas universidades a capacidade translacional, isto é, a interpenetração entre as pesquisas teóricas e as aplicadas, com mais parcerias com a indústria, mais capacidade de patenteamento e licenciamento e menos tarifas sobre insumos necessários à pesquisa e desenvolvimento.

O último tema é a promoção de setores estratégicos. As políticas gerais de inovação no Brasil tendem a se dissipar nos ciclos e convulsões governamentais. Mais eficientes foram as ações com alvo certo. Serão ainda mais, se melhor combinadas à iniciativa privada e dirigidas a áreas nas quais o País já é forte, como a agropecuária, ou promissor, como a energia renovável, ou àquelas pouco integradas à economia global, mas nas quais ele tem experiência e pode ser competitivo, como eletrônicos, têxteis e alimentos processados.

Todas essas possibilidades, contudo, dependem de uma renovação de fundo. Nos países desenvolvidos, a contribuição da iniciativa privada aos sistemas de inovação é maior e decisiva. Se o Brasil não desconstruir sua cultura desenvolvimentista, seguirá perseguindo o desenvolvimento de longe.

Folha de S. Paulo

Médicos nos rincões

Programa de Bolsonaro para levar profissionais a locais remotos apresenta virtudes, mas custos, que recairão sobre governos futuros, suscitam dúvidas

Foi relativamente bem recebido o programa Médicos pelo Brasil, concebido pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) para substituir o Mais Médicos, marca de Dilma Rousseff (PT). A nova iniciativa pretende levar 18 mil profissionais a postos de difícil preenchimento, a maioria deles no Norte e no Nordeste.

O Médicos pelo Brasil apresenta virtudes, de fato. A primeira delas é não ter a pretensão de reinventar a roda: propõe-se implantação gradual, à medida que se encerrem os contratos do Mais Médicos.

Os candidatos serão selecionados por meio de prova objetiva e terão sua progressão na carreira vinculada a indicadores de desempenho. Depois de passarem no teste de admissão, ficarão dois anos em estágio probatório, durante o qual devem fazer uma especialização e apresentar trabalho de conclusão.

A partir daí, a cada três anos o médico terá a oportunidade de avançar na carreira, conforme avaliação por critérios como número de atendimentos, qualidade do pré-natal e acompanhamento de pacientes com doenças crônicas.

Também haverá bônus para quem se dispuser a trabalhar em áreas em que as condições são mais difíceis. Os salários variarão entre R$ 12 mil, no estágio, e R$ 31 mil.

A razão real para a repercussão favorável no meio, porém, é que a proposta apresentada pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se aproxima da tão falada carreira de médico de Estado, pleito recorrente da categoria. Ainda assim, há diferenças importantes.

Para início de conversa, a contratação se dará pela CLT, não pelo regime dos servidores públicos. Aparentemente, não estão previstas nem a estabilidade no emprego nema inamovibilidade — o que, ressalte-se, faz todo o sentido.

Embora atraente no papel, o programa precisará passar pelo teste da realidade. O Mais Médicos só conseguiu fixar cubanos em áreas críticas, como aldeias indígenas ou cidades muito remotas, porque o profissional não tinha alternativa.

No Médicos pelo Brasil, ele está habilitado a disputar qualquer emprego, público ou privado.

Não menos complicada semostra a questão dos recursos. Tomando-se o vencimento prometido aos que conseguirem efetivar-se, de R$ 21 mil mensais, teremos, com a ocupação de todas as vagas, um gasto anual de quase R$ 5 bilhões apenas com salários — sem contar benefícios trabalhistas e outras contratações, como as de enfermeiros.

A maior parte da despesa, diga-se, ficará para administrações futuras. A viabilidade do programa dependerá, assim, do complexo processo de ajuste do Orçamento.

Polícia politizada

Não é novidade que setores das polícias ignoram em certas ocasiões as regras do Estado de Direito e cometem arbitrariedades.

Embora não seja, obviamente, o único país do mundo a enfrentar esse tipo de desvio, sabe-se que o Brasil convive com preocupante histórico de excessos das forças de segurança, não raro voltados contra populações vulneráveis.

Mais recentemente, tem se notado a extensão inquietante de atitudes abusivas a situações relacionadas à liberdade de expressão e manifestação política.

O caso mais rumoroso, ocorrido no domingo (4), foi a retirada de um torcedor de futebol da arquibancada da arena do Corinthians, em itaquera, por gritar termos chulos ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), presente à partida.

A alegação da PM, de que a atitude poderia gerar reações de partidários do presidente e causar tumulto, é excêntrica. Não se discute que torcedores muitas vezes incentivam conflitos, mas é impensável que todo tipo de diatribe emitida por um indivíduo num estádio se converta em caso de polícia.

O episódio revelou-se ainda mais grave pelo fato de o torcedor ter relatado maus tratos por parte dos agentes, que só o liberaram dez minutos antes do final do espetáculo.

Acertou o clube ao divulgar no-tana qual “reitera seu compromisso com a democracia e a defesa do direito constitucional de livre manifestação” — e lembra que presidentes da agremiação foram alvos de manifestações de torcedores, aceitáveis se não forem violentas.

Um dia antes, no sábado (3), também em São Paulo, dois policiais militares abordaram militantes do PSOL, partido de oposição ao presidente Bolsonaro e ao governador João Doria (PSDB), num encontro de mulheres da sigla, na sede do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal.

Sem nenhum amparo legal, um homem e uma mulher da PM entra-ramno local e pediram documentos e nomes dos presentes. Ao ser contestada, a policial respondeu que já possuía todas as informações sobre o evento —um encontro banal e legítimo de militantes.

No dia 23 de julho, três agentes da Polícia Rodoviária Federal adentraram a sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam), em Manaus, para, ao que parece, intimidar ativistas que organizavam um protesto contra Bolsonaro, então prestes a visitar a cidade.

Tais exibições de truculência apontam, sobretudo, uma inadmissível politização em decisões de agentes públicos que deveriam zelar pela impessoalidade e pelas garantias constitucionais.

Não há como ignorar a correlação entre esses desvios e a retórica beligerante e irresponsável de autoridades como governadores e, claro, o presidente da República.

Aprovação da reforma da Previdência abre novo horizonte para o Brasil, avalia Rubens Bueno

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“Estamos abrindo um novo horizonte para o Brasil ajustar as suas contas, alcançar o equilíbrio fiscal e retomar a confiança no país para a atração de novos investimentos. Esse é o primeiro passo, mas temos ainda muitos desafios pela frente para alavancar a nossa economia e voltar a gerar empregos”, avaliou nesta quarta-feira (07) o deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR), após a aprovação final da reforma da Previdência pela Câmara. O texto segue agora para o Senado.

Para o deputado, que sempre defendeu a necessidade da aprovação de uma reforma da Previdência, a missão do Congresso ainda é grande. “Temos pela frente a análise da reforma tributária, para simplificar e desburocratizar nosso sistema e promover uma justiça fiscal, além de nos debruçarmos sobre projetos capazes de gerar emprego e renda a curto e médio prazo. Apesar de algumas turbulências políticas, muitas delas geradas pelo próprio governo, estamos avançando”, afirmou.

Rubens Bueno defende ainda que o tema da reforma da Previdência volte a ser analisado para que estados e municípios possam ser incluídos na reforma. “Já estamos trabalhando pela apresentação de uma proposta paralela nesse sentido. Isso é fundamental para fazermos a lição de casa completa. Vai dar uma folga nos orçamentos de estados e municípios, muito comprometidos com o pagamento de aposentados, possibilitando a aplicação de recursos públicos em áreas como saúde, educação e infraestrutura”, ressaltou.

O deputado lembrou também que, muitos dos que criticam hoje a reforma, propuseram a mudança no passado e não tiveram competência para aprová-la. “Seja por interesses eleitorais ou mesmo por incompetência, acabaram não dando prioridade a um tema essencial e acabaram empurrando o país para a crise. Por isso, hoje vivemos um momento crucial: ou fazemos as reformas ou o país despenca ladeira abaixo”, finalizou.

Irmãos Batista e Bertin deveriam estar presos, afirma Paula Belmonte

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A deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF) disse, em reunião da CPI do BNDES, que os irmãos Joesley e Wesley Batista e os irmãos Bertin, Natalino e Silmar Roberto, deveriam estar na prisão por causa de empréstimos irregulares obtidos junto ao banco de desenvolvimento. “Deveriam estar na cadeia porque causaram prejuízo não só ao povo brasileiro, mas também ao BNDES”, disse ela, durante o depoimento de Silmar Bertin.

 

Respondendo a uma pergunta de Paula Belmonte, Silmar disse que, em 2007, o BNDES passou a ter participação de 27,5% no frigorífico que leva o seu sobrenome. A instituição aportou nada menos que R$ 25,5 bilhões na empresa. O empresário contou também que a companhia selou uma sociedade com José Roberto Bumlay na produção de açúcar e álcool. Bertin assegurou, no entanto, que não havia propina na relação com o banco estatal.

 

Paula Belmonte chamou atenção para o fato de o levantamento feito para que o BNDES injetasse dinheiro no frigorífico não ter sido realizado por profissionais especializados nessa tarefa, mas apenas por advogados. Segundo a deputada, o banco descobriu que a empresa dos irmãos Bertin estava usando o capital aportado nela para pagar dívidas, mas isso não gerou uma atitude mais dura da diretoria da instituição. Uma segunda e última parcela de recursos foi inserida pelo banco nos cofres da companhia em meio à esdrúxula situação.

A parlamentar do Cidadania checou com o depoente que, após aberto o capital da Bertin, uma cota de R$ 200 milhões foi vendida por apenas R$ 17 mil, um negócio que ostenta até mesmo assinaturas falsificadas. Silmar Bertin respondeu que entrou na justiça para reverter o prejuízo, mas “não deu em nada”. “Por causa de ilegalidades cometidas no BNDES, muitos ficaram sem emprego, outros passaram fome, jovens entraram na ilegalidade. Bilhões saíram do banco e foram para pessoas que não geraram emprego”, disse a deputada.

Produção industrial brasileira cai no mês de junho; comércio varejista tem ligeiro aumento

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A produção industrial brasileira caiu em dez locais pesquisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) conforme revelada, nesta quarta-feira (7), pela PIM (Pesquisa Industrial Mensal). Segundo o estudo, os recuos mais acentuados ocorreram nos estados do Rio de Janeiro (-5,9%), em Pernambuco (-3,9%) e na Bahia (-3,4%).

Além desses, o Instituto também identificou queda nos estados do Paraná (-2,3%), São Paulo (-2,2%), Santa Catarina (-1,2%), Ceará (-0,9%), Minas Gerais (-0,9%) e Mato Grosso (-0,6%), além da Região Nordeste (-1,2%), que é a única região pesquisada de forma conjunta.

No caminho inverso, cinco estados apresentaram alta. Entre eles o Pará (4,9%), Rio Grande do Sul (2%), Amazonas (1,8%), Espírito Santo (1%) e Goiás (0,1%).

Quando comparado com o mesmo período de 2018, onze dos 15 locais pesquisados tiveram queda. Os maiores recuos foram observados no Mato Grosso (-13,6%), Espírito Santo (-13,2%) e em Minas Gerais (-12%). Apenas quatro estados tiveram alta: Amazonas (5,4%), Rio Grande do Sul (3,5%), Pará (2,7%) e Ceará (0,7%).

Já no acumulado do ano, nove locais tiveram recuo na produção, sendo o maior deles o Espírito Santo (-12%). No caminho inverso, seis estados tiveram alta com destaque para o Rio Grande do Sul (8,0%) e Paraná (7,8%).

No acumulado dos últimos 12 meses, nova locais tiveram queda, novamente com destaque para o Espírito Santo (-4,5%). Dos seis locais em alta, a maior delas foi observada no Rio Grande do Sul (9,4%).

Comércio

O IBGE também divulgou nesta quarta a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) que revelou crescimento tímido de 0,1% no mês de junho e de 0,6% no acumulado do ano. Segundo a pesquisa, a variação positiva se deu devido a estabilidade registrada no mês de maio.

Ao analisar o acumulado de 12 meses, a alta é de 1,1%. Contudo, o varejo teve quedas de 0,1% na médio móvel trimestral e de 0,3% na comparação com junho do ano passado. Quando comparado ao mês de maio, rês dos oito setores pesquisados tiveram alta: tecidos, vestuário e calçados (1,5%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,3%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,1%).

Quatro segmentos tiveram queda entre eles combustíveis e lubrificantes (-1,4%), móveis e eletrodomésticos (-1%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2,4%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-0,8%). Já a atividade de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo manteve-se estável.

Atlas da Violência: “Não podemos mais continuar perdendo brasileiros para o crime”, diz Alex Manente

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O deputado federal Alex Manente (Cidadania-SP) que a Segurança Pública é um desafio enorme para o Brasil, principalmente em três frentes. “Temos de combater o crime, a corrupção e a impunidade”, disse o parlamentar, ao comentar o Atlas da Violência 2019 – Retratos dos Municípios, divulgado pelo Ipea (instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). “Não podemos mais continuar perdendo brasileiros para o crime.”

O Brasil é recordista mundial em violência letal, responsável por 14% dos homicídios do planeta. O País possui 5.570 cidades. MaAtlas da Violência: “Não podemos mais continuar perdendo brasileiros para o crime”, diz Alex Manentes, 50% dos homicídios estão concentrados em apenas 120 municípios, segundo o Atlas da Violência, com dados referentes a 2017. Ou seja, em 2,1% dos municípios brasileiros ocorreram metade dos 65.602 homicídios do País.

No Estado de São Paulo, são 8 cidades entre as mais violentas do Brasil. São Bernardo, onde o parlamentar nasceu e mora, é uma delas.

“Melhorar esses índices é preocupação constante de prefeituras, estados e do governo federal. Para isso, é necessário investir em várias frentes. Na prevenção, o foco deve estar na educação, na zeladoria urbana e na assistência social. Na repressão, o desafio está em investir em mais inteligência, em equipamentos para os órgãos de segurança e nas pessoas que fazem a Segurança Pública no Brasil”, avaliou Alex Manente.

O deputado destacou ainda que seu mandato, além dos projetos de lei de combate à impunidade, como a PEC da prisão em segunda instância, também luta por uma segurança mais eficiente, atraindo recursos federais pro Estado de São Paulo. “Recentemente, indicamos R$ 1 milhão para a Polícia Militar comprar viaturas e equipamentos, por exemplo”, frisou.

“Sabemos que os desafios a serem superados são muitos. Mas não podemos mais continuar perdendo brasileiros para o crime. Por isso, vamos continuar trabalhando pelo Brasil, com a certeza de que temos o apoio de muita gente disposta a construir um Brasil do bem”, concluiu.

 

Luiz Carlos Azedo: A ameaça externa

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Nas entrelinhas

“A China é o maior parceiro comercial do Brasil; os Estados Unidos, o segundo. O choque entre ambos transforma a economia brasileira numa espécie de marisco”

A primeira fala séria de uma autoridade de primeiro escalão do atual governo sobre a situação internacional não veio do Itamaraty, veio do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ontem, no debate Como fazer os juros caírem no Brasil, promovido pelo Correio. Segundo ele, no momento, a maior ameaça à economia brasileira é a guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China, o México e parte da Europa. A escalada da guerra comercial, que agora virou uma guerra cambial, continua, e seus efeitos negativos estão se espalhando pelo mundo.

Quando os Estados Unidos começaram a sobretaxar importações, especialmente da China, se imaginava que o efeito seria um pouco mais de inflação e, consequentemente, a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos e na Europa. Segundo Campos Neto, o que houve foi outra coisa: queda da inflação, em razão da baixa atividade econômica. Como já estava muito baixa ou negativa na maioria dos países desenvolvidos, nesse cenário, a taxa de juros deixou de ser um instrumento para aumentar a atividade econômica.

Além da guerra comercial, segundo Campos Neto, dois problemas afetam a economia global, inclusive a brasileira: o envelhecimento da população europeia, a exemplo do que aconteceu no Japão, e a escalada de tensões políticas em decorrência das atitudes de Trump. É o caso da crise dos EUA e da Inglaterra com o Irã e seu impacto no Estreito de Ormuz, na rota do petróleo que abastece o Ocidente. Na política mundial, as ações intempestivas de Trump são um fator de instabilidade econômica, pois inibem a tomada de decisões quanto aos investimentos.

Campos Neto não disse, mas a realidade escancara: o alinhamento automático do presidente Jair Bolsonaro com Trump — cujo lance mais polêmico é a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o estratégico posto de embaixador do Brasil em Washington — está em contradição com essa realidade do cenário internacional. Corrobora e segue a reboque de uma política internacional danosa à nossa inserção na economia global. A China é o maior parceiro comercial do Brasil; os Estados Unidos, o segundo. O choque entre ambos transforma a economia brasileira numa espécie de marisco. Agarrar-se ao rochedo não impede o impacto da onda.

Crescimento

“O que virá por aí?”, indaga o presidente do Banco Central. Sua única certeza é de que teremos baixo crescimento econômico, em praticamente todas as economias do planeta. É por essa razão que as expectativas dos analistas de mercado e investidores com relação ao desempenho da economia brasileira, mesmo com uma alvissareira aprovação da reforma da Previdência, são pessimistas ou moderadas. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o mundo vai crescer 3,2% neste ano e 3,5% no próximo, um décimo menos tanto em 2019 como 2020. A projeção de crescimento do Brasil para este ano foi reduzida de 2,1% para 0,8%; diminuiu também a estimativa de 2020, que passou de 2,5% para 2,4%.

A aprovação da reforma da Previdência é um alento para o mercado, mas não basta para relançar a economia. O governo precisaria irrigar a economia com mais recursos, porém, estão cada vez mais escassos. No momento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta fazer isso com a liberação dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que resolve apenas o problema do endividamento excessivo das famílias de baixa renda, já que o limite de saque por trabalhador é de R$ 500.

Outra opção seria usar as reservas e comprar títulos públicos no mercado para inundar a economia de dinheiro vivo, a fórmula usada nos Estados Unidos e na Europa para sair da crise de 2008. O Banco Central também pode baixar ainda mais os juros, que continuam escorchantes no mercado financeiro, porque a inflação permanece abaixo da meta. (Correio Braziliense – 07/08/19)

Elio Gaspari: Itaipú, uma usina de encrencas

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O repórter José Casado disse tudo: “Sob Bolsonaro, (Itaipu) virou fonte de convulsão na outra margem do Rio Paraná.” A maior hidrelétrica do continente nasceu de um litígio e, graças a meio século de costuras diplomáticas, virou uma proeza binacional. Em poucos meses de conversas impróprias, voluntarismos e tráfico de influência, o Brasil viu-se metido num escândalo. Logo em Itaipu, usina construída por um ex-oficial do Exército que passou pela vida pública sem nódoa. José Costa Cavalcanti foi ministro de Minas e Energia e do Interior, assinou o Ato Institucional n°5 e dirigiu a construção de Itaipu. Tinha pouca graça, talvez nenhuma. Morreu pobre, em 1991.

Logo na usina de Costa Cavalcanti estourou o escândalo de um acordo matreiro firmado entre os governos de Bolsonaro e de seu amigo Mário Abdo, “Marito”, como ele o chama. Quando o caso estava no escurinho de Assunção, o ministro Sergio Moro revogou o status de refugiado que havia sido concedido em 2003 a três paraguaios que vivem no Brasil.

Espremendo-se uma história onde entram picaretas paraguaios, o empresário suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP) e diplomatas invertebrados, tudo poderia vir a se resumir ao seguinte: retirando-se um item do acordo, como foi feito, uma empresa brasileira, a Leros, compraria energia paraguaia para vendê-la no mercado brasileiro. Graças a algumas tecnicalidades, seria possível que ela pagasse 6 dólares por um Megawatt, vendendo-o, numa boa, por 30.

Na sua picaretagem, um jovem advogado paraguaio dizia falar em nome do vice-presidente Hugo Velázquez e apresentava seu pleito como um ricochete do desejo da “família presidencial do país vizinho”. Apanhado com a divulgação de mensagens trocadas com o presidente da estatal de energia de seu país, o moço informou que perdeu seu celular. (Ele é filho da ministra encarregada de combater a lavagem de dinheiro)

O presidente da estatal paraguaia de energia demitiu-se e botou a boca no mundo. Caíram a mãe do moço, o chanceler e o embaixador em Brasília. Arriscavam cair também o presidente Mário Abdo e o vice. Salvaram-se rasgando o acordo, no que foram acompanhados por Bolsonaro no dia seguinte. A costura pode ter levado meses, o desmanche deu-se em menos de uma semana. Hoje todo mundo garante que nunca ouviu falar dessa história.

Itaipu existe graças ao trabalho silencioso de presidentes e diplomatas que sempre evitaram acordar o sentimento nacionalista do Paraguai. Com a trapalhada do acordo, desmanchou-se um trabalho de meio século.

Em 2023, o tratado que permitiu a construção da usina deverá ser renegociado e lançou-se a semente da discórdia, com o Brasil sendo acusado de ter jogado bruto pelo presidente da estatal paraguaia que se demitiu.

Faz tempo, o engenheiro Octávio Marcondes Ferraz, construtor da usina de Paulo Afonso e um dos patriarcas da Eletrobras, batia de porta em porta dizendo que não se deveria fazer Itaipu com o Paraguai. Seria melhor construir três hidrelétricas na Bacia do Paraná, mas em território brasileiro. Tinha o apoio do senador gaúcho Paulo Brossard. Não foram ouvidos, mas nenhum dos dois seria capaz de pensar que o Brasil se meteria numa encrenca tão vulgar. (O Globo – 07/08/19)

Helio Beltrão: Trump, câmbio e a volta da Guerra Fria

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Reagir irracionalmente ao inevitável pode gerar nova crise de grandes proporções

O dólar voltou a beirar os R$ 4, e o Brasil é mais uma vez um minúsculo chihuahua atordoado em meio a uma briga de cachorro grande. A preocupação dos mercados internacionais é que a guerra comercial que já dura dois anos entre China e Estados Unidos descambe para uma desestabilizadora guerra cambial A ascendência econômica da China inquieta os americanos, que têm reagido deforma intempestiva.

Desde 1979 a economia chinesa cresceu a uma taxa de quase 10% ao ano no decorrer da expansão sustentável mais vertiginosa de um país em toda a história, que tirou 800 milhões de chineses da pobreza ao se abandonarem as políticas econômicas socialistas. Em dólares nominais, a economia da China pode superar a dos EUA em menos de 20 anos.

As reações desastradas dos EUA têm sido inspiradas por um mercantilismo atávico do século 18. Trump imprimiu um populismo protecionista e desistiu da longa política de dólar forte. Considera equivocadamente que o déficit comercial com a China é tóxico e que as tarifas de importação sobre produtos chineses são mais prejudiciais à China do que aos americanos, que pagam mais por tais produtos. Seu protecionismo é sádico, mas sofre como masoquista.

A intensificação da guerra comercial por Trump via anúncio de tarifas adicionais gerou pressão para a moeda chinesa se depreciar. Na segunda (5), rompeu-se o nível psicologicamente relevante de yyuans por dólar.

Desgraçadamente, o governo americano interpretou a esperada depreciação como uma manobra deliberada e oficialmente decretou o país como manipulador de taxa de câmbio, o primeiro caso desde 1994.

Se há alguma manipulação, é o oposto do que se imagina: o banco central chinês tem torrado reservas para sustentar artificialmente a moeda, ou seja, haveria desvalorização ainda maior caso não interviesse!

Até agora a disputa cambial tem sido uma “Guerra Fria” na qual os principais bancos centrais se eximem de intervir diretamente nos mercados de moedas como na guerra convencional. Mas, como não querem que sua moeda permaneça forte, alternativamente promovem corte de juros, injeção forçosa de dinheiro novo, juros negativos e tuítes beligerantes.

Há um precedente para uma eventual guerra cambial. Após décadas de crescimento, o Japão do início dos anos 1980 era a potência ascendente que superaria os EUA até 2000,previa-se. Como hoje, o dólar estava forte, e havia um grande déficit comercial. Em 1985, no Acordo do Plaza, os EUA convenceram seus parceiros do G5 a intervir nos mercados para desvalorizar o dólar diante do iene.

A estratégia logrou desvalorizar o dólar em 40%, mas não corrigiu o estrutural déficit comercial como Japão. Com sua moeda fortalecida, os conglomerados japoneses passaram a comprar tudo nos EUA, de siderúrgicas ao Rockefeller Cen-
ter, gerando um pânico irracional. O dólar seguiu desvalorizando mesmo após cessarem as intervenções.

Assustados e desejosos de conter a queda do dólar, os EUA costuraram um novo acordo de intervenções em 1987, o Louvre, que fracassou: a moeda continuou desvalorizando, e produziu-se o crash da Bolsa na Segunda-Feira Negra, em outubro daquele ano.

Durante os últimos 20 séculos, as maiores economias do mundo foram China e índia, exceto nos últimos dois séculos, 19 e 20, devido à ascensão do capitalismo no Ocidente. Com a chegada da economia de mercado ao Oriente, o século 21 representa apenas a volta à normalidade, como retorno da populosa Ásia à liderança. Reagir irracionalmente ao inevitável pode gerar conseqüências não previstas e uma nova crise de grandes proporções. (Folha de S. Paulo – 07/08/19)

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil

Nome do governo para Comissão de Desaparecidos é rejeitado, destaca O Globo

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Com voto de Dodge, conselho do MP barra nome do governo para comissão

JAILTON DE CARVALHO – O Globo

BRASÍLIA

O Conselho Superior do Ministério Público Federal rejeitou a indicação, feita pelo governo Bolsonaro, do procurador da República Ailton Benedito para a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. Por seis votos a quatro, o conselho firmou o entendimento de que houve pelo menos dois erros formais na tentativa do governo de emplacar Benedito, militante bolsonarista, no cargo já ocupado hoje pelo também procurador Ivan Garcia Marx. Um dos votos decisivos foi o da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que mudou de posição sobre o tema.

A decisão ocorre no momento no qual o presidente Jair Bolsonaro busca um nome para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR) e cogita apontar ao posto alguém fora da lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). O favorito, no momento, é o subprocurador Augusto Aras, que não disputou a eleição. Dodge, que também não concorreu na votação interna do MPF mas vinha articulando sua recondução, passa ater chances mais reduzidas, ainda mais depois de votar contra o governo ontem.

A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos teve a sua composição alterada na semana passada, com a mudança de quatro dos sete integrantes. A lei que trata do grupo afirma que os cargos são “de livre escolha e designação” do presidente, mas
impõe pré-requisitos para quatro vagas: um deve ser membro do Ministério Público Federal; um da comissão de Direitos Humanos da Câmara; um que tenha vínculo com familiares mortos ou desaparecidos durante a ditadura militar; e outro do Ministério da Defesa.

O Conselho Superior entendeu que a indicação de Benedito para substituir Marx é irregular porque teve como origem um convite do secretário de Proteção Global do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Sergio Augusto de Queiroz, enquanto, pela lei, o ato deveria ser do presidente da República. Mas, para o Conselho, mesmo que a indicação fosse de Bolsonaro, ainda seriam necessárias a aprovação da procuradora-geral e do próprio Conselho Superior. O argumento é que a Constituição dá autonomia administrativa ao MPF, o que incluiria a movimentação funcional de um procurador.

— A disposição da lei não prevalece sobre a Constituição. Então, a indicação deve ser avalizada pela procuradora-geral e pelo Conselho Superior —explicou, ao GLOBO, o subprocurador-geral Nicolao Dino, autor do primeiro voto contra Benedito.

Ailton Benedito faz campanha no Twitter contra a esquerda e a favor da atuação de militares durante a ditadura. A votação da indicação teve início na sessão anterior do conselho, em 4 de junho, e estava cinco a zero a favor dele. Na retomada dos debates, Dino observou que o atual representante do MPF na comissão, Ivan Marx, ainda não foi destituído. Foi com esse argumento que Dodge justificou sua mudança de posição.

O vice-procurador-geral, Luciano Maia, fez o voto mais contundente contra indicação de Benedito:

— Desaparecidos e mortos não são fatos daquele período duro da ditadura apenas. Mortos e desaparecidos doem ainda hoje.

PLANO DE REAÇÃO

A rejeição ocorre em um momento de turbulência no MPF. Há uma forte resistência na categoria à possibilidade de Bolsonaro indicar como novo PGR um nome de fora da lista tríplice da ANPR. Nos grupos de mensagens dos procuradores, já são discutidas formas de protesto caso não seja respeitada a lista. Algumas das possibilidades aventadas são organizar um ato no dia da posse, com os participantes se colocando de costas para o novo PGR,e a recusa para ocupar cargos do alto escalão da gestão.

O risco de despertar a revolta da categoria é um dos argumentos apresentados por interlocutores de Bolsonaro para ponderar ao presidente a possibilidade de considerar um nome da lista. Um auxiliar da área jurídica do Planalto avalia que, mesmo se o novo PGR quiser alinhar a gestão aos interesses de Bolsonaro, não teria à disposição nomes suficientes para ocupar cargos de nomeação exclusiva para subprocuradores. Com isso, pondera esse auxiliar, seria impossível ao PGR “controlar” totalmente áreas como a de direitos humanos e a de meio ambiente, como quer o governo. (Colaboraram Aguirre Talento e Gustavo Maia).