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Com apoio total do Cidadania, Rodrigo Neves é eleito prefeito de Niterói

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Com um engajamento total da militância do Cidadania em sua campanha, Rodrigo Neves, 48 anos, foi eleito neste domingo (27) para seu terceiro mandato como prefeito de Niterói. Ele teve 156.067 votos, ou 57,20% dos votos válidos no 2° turno, derrotando o deputado federal Carlos Jordy (PL), que terminou com 42,80% dos votos válidos, ou 116.796 eleitores.

O presidente nacional do Cidadania, Comte Bittencourt, que atuou intensamente na campanha do pedetista, destacou a importância da eleição de seu aliado de longa data. “Com a vitória de Rodrigo Neves, reafirmamos nosso compromisso com a democracia , com a boa gestão e com o desenvolvimento sustentável”, resumiu Comte, lembrando que o Cidadania foi um dos primeiros partidos a confirmar presença na chapa de candidato eleito.

Em suas redes sociais, Rodrigo Neves agradeceu os moradores de Niterói que votaram nele e prometeu fazer o melhor governo da história da cidade.

“Obrigado, Niterói! Vencemos a eleição! Vitória da democracia, da boa gestão e do compromisso com a qualidade de vida de todos os niteroienses. Hoje é um dia muito especial, e quero agradecer a todos que saíram de casa para votar em nosso projeto” disse.

Cidadania elege Ricardo Marques vice-prefeito de Aracaju

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Com 100% das urnas apuradas, o jornalista e vereador Ricardo Marques (Cidadania) está eleito vice-prefeito de Aracaju na chapa da também vereadora Emília Corrêa (PL). De acordo com o resultado final, eles obtiveram 165.924 votos, o que corresponde a 57,46 % dos válidos. O adversário, Luiz Roberto (PDT), alcançou 122.842 votos, 42,54 % dos válidos. Emília e Ricardo assumem o comando da prefeitura da capital sergipana a partir de primeiro de janeiro de 2025.

José Ricardo Marques dos Santos nasceu em 16 de maio de 1969, em Aracaju. É formado em Jornalismo e atuou na profissão por mais de 25 anos, passando pelas duas principais TVs do Estado – Sergipe e Atalaia. É filho adotivo de Joana Marques dos Santos, uma enfermeira por quem tem profundo carinho. Casado com a publicitária Cecília Machado de Jesus Marques, tem duas filhas.

Entrou na política motivado a mudar o quadro no estado de Sergipe, querendo contribuir com novos pensamentos e inspirar outras pessoas a entrarem na política também. Na Câmara Municipal de Aracaju suas principais bandeiras são transporte, saúde e emprego. Atua principalmente com projetos de assistência social nos bairros Santos Dumont, Zona de Expansão, Bugio e 18 do Forte.

“Chegamos com a força do povo e muita fé, sempre movidos pela esperança de construir uma Aracaju mais humana e digna para todos. Eu tenho um sonho para minha cidade e para o meu povo. Sonho com a liberdade das amarras da política do atraso e o começo de um novo ciclo. Sonho com uma Aracaju bem cuidada, com pessoas felizes e prósperas”, diz Ricardo Marques.

O que se move sob nossos pés?

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Há algo que se move sob nossos pés e que parece se manifestar nessas eleições municipais de 2024, gerando certo desconcerto. Trata-se de um movimento que não é evidenciado em discursos eleitorais, manifestos políticos ou mesmo em “cartas ao povo”. Ele se expressa, agora, no posicionamento do eleitorado mais pobre sancionando candidatos da extrema-direita, especialmente nas grandes cidades, embora nossa história recente não o desconheça por completo, pois ele havia anteriormente se inclinado para o outro lado do espectro político.

É um movimento que não vem de agora e que ainda não encarnou em nenhum ator político específico, embora seja instrumentalizado a cada contenda eleitoral. Antes inclinado à esquerda, mas não reivindicando nenhuma organicidade, hoje ele sofreu, ao que tudo indica um deslocamento integral, tomando um rumo invertido nas últimas eleições. Não surpreende então que notórios intelectuais de esquerda tenham julgado esse deslocamento como um fenômeno de inconsciência ou simplesmente como uma questão comunicacional, já que implicou na perda de uma massa significativa de eleitores.

Entretanto, seria um erro tratar o problema a partir da clivagem esquerda versus direita, como esse fenômeno parece se expressar eleitoralmente. Uma percepção mais acurada nos leva primeiramente a pensar esse fenômeno como uma mostra do nosso tempo. Não foi só aqui que ele se manifestou. Contudo, seria deselegante com os fatos não indicar que ele sempre foi parte da luta pela democracia e pela construção de uma democracia de massas a incorporação, não somente pelo voto, de amplas camadas populares à vida política.

Naquele contexto, o avanço da democratização significou luta e conquista de direitos sistematizados numa chave de matriz híbrida: meio europeia, meio americana. O que quer dizer que a democracia política se solidificava com lideranças e partidos políticos de perfil republicano digladiando-se pelo espaço e pela promoção de politicas públicas. Essa configuração andou de par em par com as expectativas das classes subalternas de terem seus interesses atendidos pelo Estado. Nesse percurso, as forças da democracia se dividiram, com parte buscando avanços institucionais, em nome do “social”, e outra parte procurando expressar diretamente a explosão dos interesses das classes subalternas, rechaçando quaisquer alianças políticas. Como sabemos, foi essa última fração das forças democráticas que prosperou, avançou e se metamorfoseou conforme as posições institucionais que seguiu ocupando.

Entretanto, dela não viria nem o “assalto aos céus”, nem a revolucionária chegada à “Estação Finlândia”, tampouco a hegemonia dos “de baixo”, com a imposição de um “conselhismo” à la década de 1920, ou mesmo a descida dos “barbudos” da “Sierra Maestra”, com suas referências ligeiras e retóricas a um “Gramsci sem Maquiavel” embebido no espírito narodnik da Teologia da Libertação, como escreveu Luiz Werneck Vianna. Nada disso poderia ser adotado com sucesso diante do cenário social que havia se formado, por um lado, com a modernização acelerada do regime autoritário e, por outro, com um processo de democratização que deu vazão a um individuo apenas apaixonado por seu interesse. Reconhecido como foi, era esse tipo de interesse vindo dos “de baixo” que deveria se expressar politicamente e isso foi feito principalmente pelo PT. Juntamente com a reorganização de massas, dos sindicatos, das associações de todo tipo, dos movimentos sociais urbanos e rurais, etc., um ethos passou a se manifestar incisivamente, reivindicando por todos os quadrantes a sua demanda: “eu quero o meu!”. Era a essência do liberalismo dos “de baixo” pedindo passagem.

Esse movimento, visto e sentido como expressão natural, foi se tornando hegemônico, mas sem a direção política de um ator. O PT lhe deu passagem e o controlava minimamente, mas não o dirigia. No interior dessa agremiação se entendeu, de forma instrumental do ponto de vista eleitoral, que o sistema da ordem mais a fabulação retórica da desordem poderiam dar conta dele para todo o sempre.

Contudo, o tempo das fabulações se esgotou. Aportamos definitivamente. Aqui e agora não é mais crível lançar mão de nenhuma miragem do futuro. Nosso liberalismo não pode mais reiterar o espírito pretérito das oligarquias, mas também não pode se contentar em ser “um arremate do longo processo de imposição da hegemonia da ordem privada” (Werneck Vianna), sem conquistar corações e mentes. Tampouco pode seguir como uma expressão travestida de personalismo e identitarismo que nos governou e nos governa politicamente, com pretensões de representação das classes subalternas. Esperando por novas gerações, nosso liberalismo não consegue ainda ser um liberalismo político à la Rawls porque – para ser generoso – tem rarefeitos intelectuais de vocação pública dessa estirpe e não tem, efetivamente, políticos com tal embasamento.

Sem a organicidade que se demanda classicamente, por meio do protagonismo de uma classe que o encarne, nosso liberalismo agora vem “de baixo” via Pablo Marçal e cia. Sem interpelação da política democrática esse liberalismo que, desavergonhadamente desce às profundezas do mundo dos interesses, quer agora se despir de todas as vestes ideológicas ou mesmo retóricas. Para uma esquerda que sempre se recusou a qualquer compromisso ou aliança com os liberais, com vistas à construção de uma civilização democrática, essa descoberta é avassaladora (não à toa só se fala na sempre renegada “frente ampla”). No passado, foi possível vociferar, como reforçava o ex-ministro José Dirceu, que o projeto político do PT era “governar o Brasil”. Agora, tudo indica, que isso não será mais possível, pelo menos na forma como ele pensava. O que se move sob nossos pés parece ir agora em outra direção.

Em suma, trata-se de ilusão imaginar que a derrota da esquerda nessas eleições seja uma questão comunicacional ou de inconsciência das classes subalternas. A esquerda está desafiada a enfrentar o problema em outros termos, revendo e refletindo seriamente sobre sua história mais recente e não simplesmente “atualizando o seu discurso”, como diz a maior parte da mídia. Não é surpresa nenhuma que o candidato Boulos ainda continue trabalhando com o diagnóstico de que a “extrema direita soube passar uma mensagem mais sedutora”.

A esquerda tem diante de si não uma corrida de 100 metros, mas sim uma maratona para se vencer. “Hic Rhodus, hic salta!”, essa é a senha do realismo político na ferina língua de Karl Marx. Subterfúgios não servirão de nada. (Revista Será? – 25/10/2024 – https://revistasera.info/2024/10/o-que-se-move-sob-nossos-pes/)

Eleições: O segundo turno e a opção pela direita

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NAS ENTRELINHAS

Com o mau desempenho dos candidatos progressistas, o presidente Lula deve ser o maior derrotado do segundo turno, ainda que não tenha se envolvido intensamente nas disputas, mesmo em São Paulo. O PL bolsonarista pode conquistar 10 prefeituras

Cerca de 34 milhões de eleitores estão aptos a votar neste segundo turno das eleições municipais. Vão às urnas em 51 municípios brasileiros com mais de 200 mil habitantes, dos quais 15 são capitais. São Paulo, com 9,3 milhões de eleitores, tem a disputa mais nacionalizada: o prefeito Ricardo Nunes (MDB) concorre à reeleição com o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Chega ao dia da eleição como franco favorito. Guilherme Boulos (PSol), seu adversário, é apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Somente uma virada histórica dos eleitores paulistas poderia mudar esse rumo.

Com seções eleitorais abertas a partir das 8h, também vão às urnas Belo Horizonte (MG), com 2 milhões de eleitores; Fortaleza (1,7 milhão); Manaus (1,4 milhão); Curitiba (1,4 milhão); Belém (1 milhão); e Goiânia (1 milhão). Com menos de 1 milhão de eleitores estão Aracaju, Natal, Porto Alegre, Campo Grande, João Pessoa, Porto Velho, Cuiabá e Palmas. As eleições transcorrem em ambiente de tranquilidade, exceto em Manaus, Fortaleza e Caucaia (CE), onde o Exército foi mobilizado para garantir a segurança do pleito.

Goiânia, Belém, Porto Alegre, João Pessoa e Aracaju têm eleições praticamente definidas, segundo as pesquisas. Em Goiânia, com apoio do governador Ronaldo Caiado (União), Sandro Mabel (União) consolidou sua vantagem em relação a Fred Rodrigues (PL), apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro. O pano de fundo dessa disputa é a liderança da oposição ao presidente Lula nas eleições de 2026. Em Belém, capital paraense, Igor Normando (MDB), candidato do governador Hélder Barbalho (MDB) e aliado de Lula, é amplamente favorito contra o deputado Éder Mauro (PL), apoiado por Bolsonaro.

Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) deve derrotar Maria do Rosário (PT), o que reforça as posições do MDB nas capitais. Em João Pessoa, Cícero Lucena (PP) leva vantagem em relação ao ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL), aquele da pandemia, aliado de Bolsonaro. Em Aracaju, porém, Emília Corrêa (PL), apoiada pelo ex-presidente, deve derrotar Luiz Roberto (PDT), outro governista.

Nas demais capitais, há empate técnico entre os candidatos, mas são favoritos Paulinho Freire (União), em Natal, contra a petista Natália Bonavides (PT); e Fuad Noman (PSD), em Belo Horizonte, que deve derrotar Bruno Engler (PL). A disputa em Fortaleza está acirradíssima, com vantagem para André Fernandes (PL) em relação a Evando Leitão (PT). A situação se repete em Cuiabá, entre o favorito Abílio Brunini (PL) e Lúdio (PT).

O presidente Lula será o grande derrotado do segundo turno, ainda que não tenha se envolvido intensamente nas disputas, mesmo em São Paulo. O PL deve amealhar 10 prefeituras neste segundo turno, duas em cada região do país. O União Brasil, provavelmente, nove: três no Nordeste e no Sudeste, duas no Centro-Oeste e uma no Sul. O PSD não repete o desempenho do primeiro turno, é favorito em sete grandes cidades, sendo quatro no Sudeste, duas no Sul e uma no Nordeste. Na quarta posição vem o MDB, com a joia da coroa, São Paulo, e mais cinco cidades: duas no Sudeste, as outras no Norte, no Centro-Oeste e no Sul.

O Podemos deve conquistar quatro prefeituras, à frente do PT, Republicanos e PP, com três cada. PSDB e PDT elegerão dois prefeitos; o Avante e o Novo, um cada. PL e União Brasil devem ser os grandes vitoriosos do segundo turno, o que mostra uma clara opção dos eleitores das grandes cidades brasileiras pelos partidos de direita. De certa forma, a divisão entre a centro-direita, representada pelo União Brasil, e a extrema-direita, pelo PL, não é só um confronto entre o governador Ronaldo Caiado, que pretende disputar a Presidência, e o ex-presidente Bolsonaro, que ainda imagina derrubar sua inelegibilidade. Reflete também o esgotamento da política de frente de esquerda do PT, o que fragiliza o presidente Lula. (Correio Braziliense – 26/10/2024 – https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/eleicoes-o-segundo-turno-e-a-opcao-pela-direita/)

A luz rascante de Vladimir não se apagou

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NAS ENTRELINHAS

O cinema russo e o novo cinema alemão influenciaram o cineasta, porém o que marca seus documentários é a saga sertaneja do pau à pique ao concreto armado

A morte de Vladimir de Carvalho, um dos mais aclamados documentaristas brasileiros, me surpreendeu, embora agora saiba que estava convalescendo de um infarto há três semanas, mas, nesta quinta-feira, não resistiu ao colapso renal. Não passava pela minha cabeça que esse paraibano cabra da peste, aos 89 anos, pudesse ter um infarto “passarinhando” pelas quadras do Plano Piloto. Há pouco tempo, compartilhei uma de suas caminhadas, à noite. “Deixe o Uber pra lá, vamos andando; a gente conversa mais um pouco”, me desafiou, lépido e sorridente, como um garoto.

Nesta sexta-feira, durante o velório no Cine Brasília, ex-alunos, a turma do cinema e seus velhos camaradas do antigo PCB compartilhavam a mesma surpresa. Era mais velho, mas parecia sempre o mais novo entre seus amigos e companheiros. Principalmente quanto às ideias, não era um náufrago do passado. Apesar de fazer parte do grupo de comunistas que atenderam ao chamado de Juscelino e vieram para Brasília, no rastro de Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro, alguns para implantar a Universidade de Brasília (UnB), da qual Vladimir seria professor titular de Cinema.

A militância política de Vladimir ajuda a compreender sua obra cinematográfica. Foi amigo e parceiro dos também documentaristas Linduarte Noronha e Eduardo Coutinho, respectivamente, diretores dos aclamados Aruanda e Cabra Marcado para Morrer, o filme interrompido pelo golpe de 1964 e retomado apenas nos anos 1980.

Remanescente do Cinema Novo, guarda em seu Centro de Memória a moviola que pertenceu a Glauber Rocha, com quem também trabalhou. Vladimir fez parte do antigo CPC da União Nacional dos Estudantes, em Salvador, e de uma geração de cineastas ligados ao comitê cultural do então chamado Partidão, entre os quais se destacavam Alex Viany (Cinco vezes favela), Nelson Pereira dos Santos (Vidas Secas), Leon Hirszman (Eles não usam black-tie) e João Batista de Andrade (O homem que virou suco).

Ao saber da morte do amigo, João traduziu sua emoção nas redes sociais: “Chocado com essa notícia. Vladimir, maior das nossas referências como documentarista brasileiro. Um cineasta de ampla produção, sempre voltado para as grandes questões da sociedade brasileira, as injustiças sociais e as lutas de nosso tempo.”

No velório no Cine Brasília, depois de o padre puxar a reza que encomendou o corpo de Vladimir, o cordelista Gustavo Dourado, pura emoção, declamou a plenos pulmões, como faria Maiakovski: “Dito isto, minha gente:/ Eu vou mudar de toada…/Pra falar de um sertanejo:/Luminoso camarada…/O ABC de Vladimir:/Segue em frente a jornada…/ ABC de Vladimir Carvalho:/ Reluz cinematografia…/ Vou de Camões a Cascudo:/ Augusto dos Anjos, guia…/ Da Paraíba do Norte:/O carbono da magia…”

A luz rascante dos documentários de Vladimir Carvalho era modernista, influenciada pelo cinema russo do começo do século, cujas obras colecionava clandestinamente, durante o regime militar, o que lhe valeu o apelido de Vorochenko, inspirado no cineasta ucraniano Oleksandr Dovjenko, autor do filme Terra, um clássico do cinema universal.

Ex-presidente do Diretório Central dos Estudantes da UnB, Arlindo Fernandes, hoje consultor legislativo do Senado, conta que, no final dos anos 1970, foi atrás de Vladimir para conseguir uma cópia do icônico O Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein, para exibir no cineclube da universidade, não por acaso chamado de Aruanda.

Referência para os cineclubistas de Brasília, Vladimir se recusou: “Se eu emprestar, vocês vão presos, e perco o filme”. Depois, cedeu as cópias de Outubro e Alexandre Nevski, também de Eisenstein: “Esses eles não sabem o que é!”, explicou. Entretanto, foi um grande difusor das obras de Volker Werner Herzog (Fitzcarraldo) e Rainer Werner Fassbinder (Berlin-Alexanderpratz), seus contemporâneos, ícones do novo cinema alemão que surgiu na década de 1960.

Do agreste ao Cerrado

Os jovens cineastas alemães trabalhavam com baixos orçamentos e misturavam o Neorrealismo italiano, a Nouvelle Vague francesa e a New Wave britânica. Herzog tinha um processo de produção cinematográfico único, como desconsiderar storyboards, enfatizar a improvisação e colocar o elenco e a equipe em situações semelhantes às dos personagens de seus filmes, como se eles vivessem o próprio enredo. Essa também era a realidade do nosso cinema.

A estética clássica do cinema russo e o novo cinema alemão podem ter influenciado Vladimir, porém o que marcaria seus filmes é a saga que trouxe o homem sertanejo, e as desigualdades do pau a pique do agreste nordestino, ao concreto armado de Brasília, no Cerrado do Planalto Central. Romeiros da Guia e A Bolandeira retratam a realidade nua e crua do sertão e das nossas desigualdades sociais. O País de São Saruê, sua obra-prima, fala da seca e da pobreza na região do Rio do Peixe, confrontadas com a utopia da terra da abundância.

Selecionado para o Festival de Brasília, no início dos anos 1970, Saruê foi vetado pela censura; tamanha a confusão e os protestos, o mais antigo festival de cinema do país foi proibido de ser realizado por três anos. Em Conterrâneos velhos de guerra, Vladimir retratou a construção de Brasília pela ótica dos candangos: vieram de longe para construir a Esplanada e foram expulsos para a periferia. A capital da arquitetura modernista não era deles.

No filme, é muito tensa a entrevista de Oscar Niemeyer sobre a morte de trabalhadores num dos canteiros de obra. O genial arquiteto se irrita e manda Vladimir, comunista como ele, à merda. Brasília também é a locação de Barra 68: Sem Perder a Ternura, sobre a invasão da UnB pelos militares, e Rock Brasília: Era de Ouro, que conta a história das bandas Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. Vladimir também era pop. Seu último documentário foi Giocondo Dias, ilustre clandestino, que reconstitui a operação realizada na década de 1970 para retirar do país o dirigente do PCB, isolado e em risco de vida, no auge da repressão ao partido. (Correio Braziliense – 26/10/2024 – https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-a-luz-rascante-de-vladimir-nao-se-apagou/)

Rubens cobra instalação de comissão para analisar PEC que acaba com aposentadoria compulsória

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O ex-deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) cobrou nesta sexta-feira (25) a instalação de uma comissão especial na Câmara para analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC-163/2012), de sua autoria, que acaba com a aposentadoria compulsória como medida disciplinar para juízes afastados da magistratura por estarem envolvidos em corrupção ou terem sido flagrados cometendo outras irregularidades.

Na última quinta-feira (24), cinco desembargadores foram afastados do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) por suspeita de corrupção e venda de sentenças. “Essa PEC é de suma importância para acabarmos com esse privilégio e restabelecermos o respeito. Os desembargadores afastados no Mato Grosso do Sul vão acabar sendo premiados com a aposentadoria compulsória, recebendo seus salários sem trabalhar. Isso precisa acabar”, defendeu Rubens Bueno.

A PEC 163/2012 foi aprovada em 8 de junho de 2022 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e até hoje segue parada na Câmara aguardando a instalação de uma comissão especial para analisar e votar a matéria.

“Já são 12 anos aguardando a votação dessa matéria. Nossa PEC veda a concessão de aposentadoria como medida disciplinar e estabelece a perda de cargo de magistrado nos casos de quebra de decoro. Hoje, magistrados que cometeram delitos deixam de trabalhar e tem direito a receber aposentadoria com proventos proporcionais, mesmo tendo usado o cargo para benefício pessoal”, reforça o ex-deputado e vice-presidente nacional do Cidadania.

Supersalários

Rubens Bueno ressalta ainda que há anos se luta no Congresso para a votação de matérias, como o projeto que barra os supersalários, que colocam fim aos privilégios de certos grupos do serviço público. “Esse privilégios custam bilhões aos cofres do país. São benesses, auxílios e tratamentos diferenciados que não deveriam existir e, se existem, precisam acabar. Já aprovamos aqui na Câmara, por exemplo, o projeto que barra os supersalários no serviço público. Agora, trabalhamos para que seja votado no Senado”, reforçou.

A PEC 163/2012 foi apresentada originalmente pelo ex-deputado Raul Jungmann, e depois reapresentada por Rubens Bueno e pelo ex-deputado Arnaldo Jordy (Cidadania-PA).

Atualmente, os juízes são vitalícios e só perdem os cargos e, consequentemente, as respectivas aposentadorias, por decisão judicial transitada em julgado, desde que seja por ação penal por crime comum ou de responsabilidade.

Não chamem Lula, Maduro e Ortega para jantar

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NAS ENTRELINHAS

O Brasil equilibra-se entre dois polos, os Estados Unidos e a China, o que tensiona a política externa toda vez que se aproxima demais dos parceiros do Brics

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a reunião do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, em Kazan, na Rússia, que terminou nesta quinta-feira, para estabelecer distância segura dos presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Nicarágua, Daniel Ortega, cuja entrada no grupo foi vetada pelo Brasil nos bastidores do encontro. Ampliado com mais quatro países (Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes; a Arábia Saudita ainda não oficializou seu ingresso), o bloco decidiu criar também uma categoria de países parceiros, condição que era pleiteada pelos dois países latino-americanos.

Maduro também foi a Kazan e se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, mas nem por isso o anfitrião do encontro propôs a inclusão da Venezuela, com quem a Rússia tem cooperação comercial e colaboração militar. O presidente venezuelano, ao justificar sua pretensão, invocou a condição de grande produtor de petróleo, com as maiores reservas do mundo. Nos bastidores do governo, havia dissintonia entre o assessor especial da Presidência Celso Amorim e o Itamaraty, em relação ao tratamento diplomático a ser dado à Venezuela, depois da reeleição fraudulenta de Maduro — até o líder venezuelano queimar de vez seus navios com Lula, que chamou de agente da CIA, a central de inteligência dos Estados Unidos.

Outro ex-aliado que virou desafeto de Lula, Ortega não chegou sequer a viajar para o encontro, mas reivindica a posição de parceiro do Brics e tem a oferecer ao grupo a possibilidade de utilização do Lago da Nicarágua para construção de um novo canal interoceânico, ligando o Atlântico ao Pacífico, cujo custo é estimado em US$ 40 bilhões. Ortega cassou a concessão da HK Nicaragua Canal Development Investment Co. Limited (HKND Group), com sede em Hong Kong, do magnata chinês Wang Jing, e renegocia os direitos de exploração do novo canal, de olho nos interesses da China em expandir a Nova Rota da Seda para as Américas. Ortega expulsou o embaixador brasileiro na Nicarágua por interceder, a pedido do papa Francisco, em favor da libertação de padres presos pelo regime ditatorial que o sandinista implantou.

O Brics vive um processo de expansão, por influência da China e da Rússia, mas países como a Índia, a África do Sul e o Brasil fazem restrições à ampliação do número de integrantes plenos. O grupo foi criado em 2009, a partir do acrônimo Brics, referência a quatro nações em desenvolvimento que o economista britânico Jim O’Neill identificou com características socioeconômicas semelhantes, na virada do século. A África do Sul ingressou no grupo em 2011, ou seja, 10 anos após a criação do Brics. Em 2023, por meio de uma decisão histórica, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Arábia Saudita foram convidados para ingressar no bloco. O presidente argentino, Javier Milei, esnobou o convite, enquanto a Arábia Saudita administra a própria entrada em banho-maria.

Nova ampliação

Na cúpula de Kazan, decidiu-se convidar mais 13 países a ingressar no grupo, como “parceiros”: Turquia, Indonésia, Argélia, Belarus, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda. Turquia e Indonésia, pelo tamanho e peso econômico, dificilmente aceitarão a condição de membros não plenos. Brasil, Índia e África do Sul rejeitam a caracterização do grupo como antiocidental, mas esse viés é cada vez mais acentuado pela hegemonia da China e da Rússia e pelo fato de os Estados Unidos trabalharem intensamente para afastar seus aliados do grupo.

A reunião de Kazan reforçou essa imagem, por causa do protagonismo de Putin, que ocupava a presidência rotativa do grupo e transformou o encontro numa demonstração de que os Estados Unidos e a Europa não conseguiram isolar a Rússia, em retaliação à invasão da Ucrânia. Desde Catarina, a Grande, no século XVIII, a Rússia é uma potência vista com desconfiança pelo Ocidente, mas capaz de fazer o “grande jogo” na Eurásia.

Lula não foi a Kazan, devido ao acidente doméstico, mas participou do encontro por videoconferência, criticou as guerras da Ucrânia e de Gaza, sem citá-las explicitamente, e defendeu a reestruturação do Conselho de Segurança da ONU. Equilibra-se entre dois polos, os Estados Unidos e a China, o que tensiona a política externa brasileira toda vez que se aproxima demais dos parceiros do Brics. Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-1999) e em Washington (1999-2004), avalia que a entrada dos novos parceiros tende a reforçar ainda mais essa visão.

Para Sarang Shidore, diretor do Programa para o Sul Global do Instituto Quincy, com sede em Washington DC, “os objetivos de curto prazo do bloco podem ganhar um impulso com os novos membros”. Na sua avaliação, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics, está se consolidando e pode se beneficiar de mais investimentos e de uma estrutura expandida. A ex-presidente Dilma Rousseff, que preside o banco, com apoio do presidente chinês, Xi Jinping, e de Putin, teve, nesta quinta-feira, seu mandato renovado. (Correio Braziliense – 25/10/2024 – https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2024/10/6972605-analise-nao-chamem-lula-maduro-e-ortega-para-jantar.html)

IMPRENSA HOJE

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Veja as manchetes dos principais jornais hoje (25/10/2024)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Com maior via do Rio na linha de tiro, confronto mata 3 inocentes

O Estado de S. Paulo

Magistrados de MS são afastados por suspeita de vender sentenças
CDB com alta rentabilidade gera preocupação no mercado e no BC
PL não tem votos para vencer do PT e precisa do centro, afrima Valdemar
Boulos mira eleitorado de Marçal ao aceitar desafio
Enel ressarciu menos de 1/4 dos que tiveram dano elétrico
Tiros do tráfico em direção à Avenida Brasil matam três
Empresários dizem como o Brasil pode ser líder global
Prédio do terror no centro de SP

Folha de S. Paulo

Diferença entre Nunes e Boulos vai de 18 para 14 pontos, diz Datafolha
Em BH, Fuad segue à frente com 46% ante 39% de Engler
Desembargadores são afastados por suspeita de venda de decisão em MS
Tiroteio entre PMs e traficantes deixa três mortos no Rio
Temporais causam três mortes e falta de luz no país
Promotor antecipará decisão do caso dos irmãos Menendez
IPCA-15 acelera a 0,54% em outubro, acima de projeções

Valor Econômico

Eleição tem 2º turno acirrado em 10 de 15 capitais; Nunes e Melo são favoritos em São Paulo e Porto Alegre
IPCA-15 sobe 0,54%, com sinais preocupantes
Giro financeiro da bolsa é o mais baixo desde 2019
Vale tem lucro de R$ 13,3 bi no 3º tri

Cristovam ressalta trajetória de Vladimir Carvalho

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Obrigado,
Vladimir Carvalho

Brasilia perdeu nesta manhã um dos seus símbolos. Um nome do porte dos grandes que inventaram e construíram criaram nossa cidade. O Nordeste perdeu um dos seus filhos que nunca esqueceu suas raízes paraibanas. Brasil perdeu um dos mais importantes cineasta de nossa história, um documentarista que mostrou ao país país como somos. A UnB perde um professor de imenso destaque, intimamente ligado à arte e cultura em geral. A sociedade brasileira perdeu um combatente que por décadas dedicou a militância à luta pela democracia, pela justiça social, pela paz, no heroísmo do antigo Partido Comunista, o PCB, na coerência do partido popular e socialista e agora na esperança do Cidadania. Nós, seus admiradores e correligionários, lamentamos muito esta imensa perda, com a tranquilidade de saber que ele morreu grande como viveu e com o compromisso de seguirmos seu exemplo mantendo viva sua luta.

Obrigado, Vladimir, pelos documentários que fez, pelo companheirismo que nos orgulhava, pela alegria e otimismo que inspirava, pelo exemplo que nos deixa. Obrigado e parabéns pela vida que soube viver.

Cristovam Buarque
Presidente Regional do Cidadania/DF

Cidadania lamenta a morte do cineasta Vladimir Carvalho, expoente da cultura e defensor da democracia

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Cineasta de mão cheia e um dos grandes nomes da cultura nacional, Vladimir Carvalho nos deixou nesta quinta-feira, aos 89 anos. Expoente do movimento batizado de Cinema Novo e um dos maiores documentaristas do país, Vladimir sempre teve uma relação estreita com a política e com o PCB, do qual o Cidadania é sucessor.

É com profundo pesar que a direção nacional do partido lamenta a sua morte e se solidariza com familiares e amigos. Vladimir deixa um legado que já é um patrimônio da cultura nacional, tendo dirigido filmes como Giocondo Dias, Rock Brasília, Engenho de Zé Lins, Conterrâneos Velhos de Guerra, Brasília, a Ultima Utopia, O homem Areia e O país de São Saruê. Teve como um de seus parceiros nesse movimento o cineasta Glauber Rocha.

Natural de Itabaiana, na Paraíba, se radicou em Brasília, onde também foi professor na UnB e um dos nomes que mais movimentaram o cenário cultural da capital federal.

Em nome de todos os nossos filados e dirigentes, prestamos nossas homenagens a um homem que, por meio da cultura e também na política, ajudou o país a reconquistar a democracia e levantar a bandeira da justiça social.

Jamais será esquecido!

Brasília, 24 de outubro de 2024.

Comte Bittencourt
Presidente

Regis Cavalcante
Secretário Geral