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Agora é Moraes que precisa se justificar

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NAS ENTRELINHAS

As críticas sobre a atuação coordenada do ministro nas duas Cortes recrudesceram. Nos meios jurídicos, muitos questionam a condução dos processos pelo ministro Alexandre de Moraes

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), saiu em defesa do ministro Alexandre de Moraes, a propósito de reportagens publicadas pela Folha de S.Paulo na última terça-feira, na qual o ministro é apontado como autor de mensagens não oficiais que ordenaram à Justiça Eleitoral produzir relatórios com objetivo de embasar suas decisões no inquérito das fake news, o que seria ilegal. Segundo Barroso, “a ideia de que as iniciativas foram tomadas à margem da lei é equivocada”.

Nos bastidores, a denúncia foi o assunto da abertura da sessão do Supremo. Segundo as reportagens de Fábio Serapião e Glenn Greenwald, as trocas de mensagens entre o gabinete de Alexandre de Moraes no STF e o órgão de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), à época sob seu comando, indicam que os alvos de investigação eram previamente escolhidos pelo ministro ou por seu juiz assessor. Greenwald, jornalista norte-americano radicado no Brasil, é o mesmo que denunciou as relações promíscuas entre o então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, e os procuradores federais da força-tarefa da Lava-Jato.

Os relatórios eram refeitos quando não ficavam sob medida para decisões do ministro Moraes, como multas ou bloqueios de contas e redes sociais. As mensagens foram trocadas entre Aírton Vieira, juiz instrutor do gabinete de Moraes no STF; Marco Antônio Vargas, juiz auxiliar de Moraes durante sua presidência no TSE; e Eduardo Tagliaferro, então chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação). Esse órgão que era subordinado a Moraes na Justiça Eleitoral.

O gabinete de Moraes no STF teria utilizado a estrutura do TSE para produzir relatórios contra cerca de 20 aliados de Bolsonaro. Um dos alvos foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho. Conversas de novembro de 2022 entre Marco Antônio Vargas e Tagliaferro mostram o pedido para relacionar o parlamentar com o argentino Fernando Cerimedo, que disseminava fake news sobre a segurança das urnas eletrônicas.

“Ele quer pegar o Eduardo Bolsonaro”, “A ligação do gringo com o Eduardo Bolsonaro”, escreveu o juiz, em 4 de novembro. “Será que tem?”, respondeu Tagliaferro. Na manhã seguinte, voltaram ao tema: “Tem um vídeo do Eduardo Bolsonaro com a bandeira do jornal que fez a live de ontem, conseguimos aí relacionar ele àquilo”, informou Tagliaferro. “Bom dia! Que beleza”, respondeu o juiz auxiliar de Moraes.

Bumerangue

As mensagens foram trocadas de agosto de 2022, no período eleitoral, a maio de 2023, ou seja, após o 8 de janeiro de 2023, quando bolsonaristas invadiram e depredaram os palácios dos Três Poderes, em Brasília. Tagliaferro negou a não conformidade. “Cumpri todas as ordens que me eram dadas e não me recordo de ter cometido qualquer ilegalidade”, disse Tagliaferro.

Presidente do Supremo, Barroso expressou a opinião majoritária entre os pares, mas certamente há vozes discordantes. “Todas as informações que foram solicitadas pelo ministro Alexandre de Moraes referiam-se a pessoas que já estavam sendo investigadas. Informações voltadas à obtenção de dados referentes a condutas de reiteração de ataques à democracia e de ataques de ódio”, justificou. Segundo o presidente do STF, diversas determinações, requisições e solicitações foram feitas a inúmeros órgãos, inclusive, ao TSE, que, “no exercício do poder de polícia, tem competência para a realização de relatórios”.

O ministro Gilmar Mendes, decano da Corte, também se manifestou. Disse que “a censura que tem sido dirigida” a Moraes parte de setores que buscam “enfraquecer a atuação do Judiciário e, em última análise, fragilizar o Estado Democrático de Direito”. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, também defendeu o ministro e elogiou a “diligência, coragem, assertividade e retidão” nas manifestações, decisões e no modo de conduzir os processos.

As críticas sobre a atuação coordenada do ministro nas duas Cortes recrudesceram. Nos meios jurídicos, muitos questionam a condução dos processos por Moraes, principalmente depois que acumulou as investigações no TSE e compartilhou provas com o inquérito criminal. O ministro agora é acusado de exorbitar nos seus poderes. Parlamentares da oposição se mobilizam para pedir seu impeachment no Senado e aprovar uma anistia para os envolvidos no 8 de janeiro. É um efeito bumerangue. (Correio Braziliense – 15/08/2024)

IMPRENSA HOJE

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Veja as manchetes dos principais jornais hoje (15/08/2024)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Dino suspende pagamento de emendas impositivas
STF e PGR defendem legalidade de atos de Moraes em investigação
Avião que caiu teve falhas no degelo detectadas em 2023
Educação: Brasil atinge apenas uma das três metas do Ideb em 2023
Senado aprova que estados revertam juros da dívida em investimentos
No BC, silenciosa passagem de bastão em curso
O que propõem candidatos à Prefeitura do Rio em 6 temas
Tráfico rouba 13 ônibus e caminhões para barricadas
Mpox é emergência global, diz OMS
EUA podem obrigar Google a desmembrar operações

O Estado de S. Paulo

Prefeito é alvo principal em debate marco por briga entre Boulos e Marçal
Estados com dívidas poderão elevar despesas com teto de gasto flexível
Eduardo Braga – ‘O imposto do pecado virou arrecadatório’
STF e PGR apoiam Moraes, acusado de direcionar ações contra bolsonaristas
Ensino no Brasil fica estagnado e longe da maioria dos objetivos
Dino suspende emendas impositivas e Câmara reage
Vini Jr. e Mbappé começam com título e parceria no Real Madrid
Governo dos EUA cogita propor que Google divida negócios

Folha de S. Paulo

Colegas do STF, governo e PGR defendem conduta de Moraes
Ministro escolhia alvos e pedia ajustes em relatórios
Oposição vê em revelação chance para Bolsonaro
Brasil e China se aproximaram nos últimos 50 anos, mostram gráficos
Educação segue abaixo dos índices pré-pandemia
Desempenho do ensino médio paulista recua
Esther Dweck – Servidor terá de trabalhar mais para estar no topo
Marçal e Boulos trocam ofensas em debabe pela Prefeitura de SP
EUA avaliam dividir Google após caso de monopólio

Valor Econômico

Venda de créditos judiciais se torna alternativa a empresas que precisam fazer caixa
STF suspende emendas até a adoção de mais transparência
Arcabouço é incapaz de deter avanço do déficit estrutural
Americanas divulga prejuízo de R$ 2,27 bi no ano passado
Cúpula dos Poderes atua e defende Moraes
Multimercado perde espaço na indústria de fundos

Semana difícil para o governo no Senado

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NAS ENTRELINHAS

A desoneração da folha de pagamento é uma batalha perdida para o governo, que enviou projeto de lei para compensar a perda de arrecadação, depois da derrubada dos vetos

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pretende votar ainda nesta semana os projetos da desoneração da folha de pagamento de empresas de diversos setores da economia, da dívida dos estados e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66/2023, que prevê o parcelamento especial de débitos dos municípios.

A desoneração da folha de pagamento é uma batalha perdida para o governo, que enviou o Projeto de Lei 1.847/2024 depois da derrubada dos vetos à desoneração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Congresso. Segundo Pacheco, ainda há divergências com o governo. A Lei 14.784, de 2023, prorrogou a desoneração por quatro anos, mas deve ser substituída pelo projeto a ser votado ainda nesta quarta-feira.

Existe concordância do governo de que não deve alterar impostos, principalmente a contribuição social sobre o lucro líquido. Busca-se um acordo para compensação da desoneração da folha de pagamento com medidas que não representem aumento de imposto. Entre essas propostas, estão a repatriação de recursos no exterior, a regularização e a atualização de valor de ativos. “Eu acho que nós conseguimos virar a página da questão da desoneração esta semana”, disse Pacheco.

O governo já fez acordo com o presidente do Senado sobre o Projeto de Lei Complementar (PLP) 121/2024, que institui o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), para promover a revisão dos termos das dívidas dos estados e do Distrito Federal com a União. Apresentado por Pacheco em julho, o texto tem como objetivo apoiar a recuperação fiscal dos estados e do Distrito Federal, além de criar condições estruturais de incremento de produtividade, enfrentamento das mudanças climáticas, melhoria da infraestrutura, segurança pública e educação.

Nesta terça-feira, em Brasília, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e toda a bancada gaúcha pressionavam o governo para aumentar e agilizar o repasse de recursos para que o estado possa se reerguer economicamente, depois da tragédia ambiental deste ano. Leite pleiteia o repasse ao estado do valor da compensação previdenciária de funcionários públicos que passaram a trabalhar para o governo estadual. O montante pode chegar a R$ 1 bilhão. Segundo o governador, é um instrumento de apoio da União ao RS, em um momento de baixa arrecadação do governo gaúcho, parte por reflexo do rescaldo das chuvas que atingiram o estado em maio deste ano.

O governador tucano também disse que outra sugestão apresentada à União foi a antecipação do pagamento de precatórios federais por parte da União referentes à imunidade tributária da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento), desestatizada em 2023. “Embora nós tenhamos privatizado a companhia de saneamento, no processo de privatização nós deixamos esse precatório como um ativo para o estado. A gente trouxe como um elemento em que a União pode fechar um acordo com o estado”, disse Leite. Nas contas do governo gaúcho, o valor a ser pago por meio dos precatórios pode chegar a R$ 1,2 bilhão.

Precatórios e dívidas

A PEC 66/2023, que também deve ser votada pelo Senado, trata exatamente do pagamento de precatórios e da regularização das dívidas previdenciárias, mas no âmbito municipal. A ideia é incluir os estados na emenda constitucional. Há conflitos de interesses da federação, estados que pretendiam de um modo e outros estados de outro, há estados endividados e não endividados, estados cujo fundo de equalização pela distribuição do FPE (Fundo de Participação dos Estados) são favorecidos, outros são menos favorecidos.

Segundo Pacheco, há um senso geral no Senado de que esse problema da dívida dos estados é o maior problema federativo do Brasil. “É uma ilusão achar que IPCA mais 4% sobre esse histórico de dívida vai ser um dia pago. Não será. Há esse sentimento geral dos estados, do governo federal, do Ministério da Fazenda, do Senado Federal. Pacheco se articula com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para negociar em bloco com o governo.

Outro assunto polêmico são as chamadas emendas Pix, que transferem recursos diretamente do Orçamento da União para prefeituras, sem necessidade de destinação do valor ou projetos. As decisões do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que limitam a execução das emendas orçamentárias individuais do tipo transferência especial, estão sendo contestadas pelos parlamentares. Pacheco pretende que o assunto seja resolvido pelo Congresso.

“As emendas parlamentares são institutos legítimos de participação no Orçamento por aqueles que são representantes votados pelo povo brasileiro, que têm a compreensão das necessidades dos muitos municípios, dos muitos estados do Brasil, mas, ao mesmo tempo, sempre se exigindo transparência, regularidade, previsibilidade, isonomia, que é algo que, nessa discussão toda no Supremo, tem se ventilado muito”, ressaltou. (Correio Braziliense – 14/08/2024)

IMPRENSA HOJE

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Veja as manchetes dos principais jornais hoje (14/08/2024)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Câmara aprova taxar transmissão da prividência privada na herança
Funcionários da Voepass já haviam relatado problemas no sistema de degelo
Gabinete de Moraes acionou TSE de maneira informal para municiar investigações no STF
Serviços têm maior alta em 2 anos e pressionam inflação
PT lança cartilha para orientar seus candidatos a falar ao eleitor evangélico
BNDES vai ampliar repasse de dividendos à União
Ex-rival, Freixo declara voto em Paes; ‘realidade no Rio e no Brasil agora é outra’
Rio tem o frio mais intenso em 13 anos
Bota-abaixo do condomínio do tráfico na Maré
Venezuela: Amorim sugere a Lula que Brasil defenda novas eleições

O Estado de S. Paulo

Subsídios tornam conta de luz no País alta apesar de energia barata
Incentivo cria distorção, afirmam analistas
Avança tributo sobre plano de previdência deixado como herança
Lula sugere nova eleição na Venezuela para superação da crise política
Moraes usou TSE fora do rito regular para investigação no STF, diz jornal
Corpos de vítimas voltam para Cascavel
Quase metade das maiores redes varejistas vende pelo WhatsApp

Folha de S. Paulo

Moraes usou TSE fora do rito para investigar bolsonaristas no Supremo
Câmara aprova 2º projeto que regulamentação da tributária
Corpos de vítimas do acidente aéreo da Voepass são transportados para Cascavel (PR)
Lula sugeriu convocar novo pleito na Venezuela
Não foi preciso intervir no dólar, diz Campos Neto
TCU faz governo liberar R$ 1,35 bi ao Judiciário
Marçal omite empresa e mais de R$ 22 mi à Justiça
Nunes lidera entre evangélicos em 2º turno contra Boulos
Sobrevivente de Hiroshima morre aos cem anos em SP

Valor Econômico

Com seca de IPOs, receita de bancos de investimento recua 12% no ano
Gasto do INSS para 2025 pode estar subestimado
Desconto em crédito rural no RS terá limite
Galípolo alivia mercado e cresce pressão por alta de juro
Moraes usou TSE fora do rito, afirma jornal; ministro nega
Câmara aprova projeto sobre gestão do IBS

Delfim Netto foi um camaleão na política

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NAS ENTRELINHAS

Delfim foi um protagonista da modernização brasileira, na qual o positivismo foi o caldo de cultura da direita e, depois, da esquerda

A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher esteve no Brasil em 1994, no governo Itamar Franco, quando o Plano Real ainda era um “experimento econômico”. Estava em pleno curso a transição à nova moeda, e o xis do problema era o comportamento da inflação. Thatcher fora convidada por Jorge Paulo Lemann, ainda dono do banco Garantia, que viria a ser vendido para o Credit Suisse, em 1998.

A Dama de Ferro lotou o auditório do Maksoud Plaza, um edifício de 23 andares na região central de São Paulo, que ainda era uma referência de tradição e glamour para artistas, celebridades e autoridades, cenário de novelas e palco de shows históricos. Thatcher tinha deixado de ser ministra havia quatro anos, mas era a principal referência para os que desejavam fazer a reforma do Estado brasileiro, com a privatização das empresas estatais, como ocorreria nos anos seguintes. O Brasil era a 10ª economia do mundo.

O petista Luiz Inácio Lula da Silva era o favorito nas eleições para presidente da República, mas começara a perder a eleição, por se recusar a apoiar o governo Itamar e apostar no fracasso do Plano Real, induzido pela economista Maria da Conceição Tavares. O ex-governador Orestes Quércia (PMDB), que havia deixado o Palácio dos Bandeirantes com um acervo de obras de infraestrutura, prometia um plano de metas inspirado em Juscelino Kubitschek. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-ministro da Fazenda, ungido candidato por Itamar, já tinha o apoio do antigo PFL e tentava esvaziar ou remover candidatos concorrentes. Um deles era Paulo Maluf, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo da antiga Arena, o então PDS (hoje PP), o candidato derrotado por Tancredo Neves, em 1985, no colégio eleitoral.

Cheguei à redação crente que estava com a manchete do jornal. No aquário, o chefe de redação e o editor de política sorriram. “Daqui a pouco vamos entrevistar o Maluf”, disseram. Não deu outra, o ex-prefeito disse que a candidatura dele era irremovível. Mesmo assim, fui conferir: houve a reunião na terça-feira. Na saída, quando perguntei a Maluf se retiraria a candidatura, ele negou. Esperidião Amin (PP-SC), então presidente do PDS, também. Mas Delfim piscou o olho e sorriu. Liguei para ele. “Maluf vai desistir, pediu apenas para ter uma conversa com Fernando Henrique antes de anunciar”, confidenciou-me. Foi o que aconteceu.

Geisel e Dilma

Como “animal político”, Delfim Netto era um camaleão, capaz de transitar de uma posição para outra e se adaptar às circunstâncias, como artífice das conexões do grande empresariado paulista com o poder. Graças a isso, se manteve influente por tanto tempo, mesmo sendo um dos signatários do Ato Institucional nº 5, que institucionalizou o fascismo durante o regime militar.

“Eu estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente”, o mesmo ministro que fez essa afirmação na reunião (gravada) de assinatura do decreto que lançou o país na sua maior escuridão política, mais tarde, seria aliado de Fernando Henrique Cardoso, que fora afastado da Universidade de São Paulo, e conselheiro dos presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos perseguidos pelo regime militar.

Delfim Netto foi o mais jovem ministro da Fazenda a ocupar o cargo, aos 38 anos, quando assumiu a pasta, em 1967, e comandou a economia nos governos militares de Costa e Silva e Médici. Foi o pai do chamado “milagre econômico”, cuja estratégia teve como pilares a ampliação da presença do Estado na economia, o aumento das exportações e a captação de investimentos estrangeiros. Para justificar a concentração de renda, cunhou a frase famosa: “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”.

Após deixar o cargo na Fazenda, ocupou o posto de embaixador do Brasil na França, em 1975, durante o governo de Ernesto Geisel. No governo de João Figueiredo, assumiu o Ministério da Agricultura e, em seguida, o do Planejamento. Depois da redemocratização, foi eleito deputado federal por cinco mandatos consecutivos e permaneceu como figura de destaque nos meios econômico e político. O simples oportunismo não explica essa transversalidade política. Delfim foi um protagonista da “revolução passiva” da modernização brasileira, na qual o positivismo foi o caldo de cultura da direita e, depois, da esquerda. Delfim acreditava no Estado como principal indutor do progresso. Isso explica o seu camaleônico transformismo político. (Correio Braziliense – 13/08/2024)

IMPRENSA HOJE

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Veja as manchetes dos principais jornais hoje (13/08/2024)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

Após reprimir atos de rua, regime Maduro aperta cerco contra uso das redes na Venezuela
Candidatos à reeleição adotam táticas distintas sobre cumprir novo mandato até o fim
Para ampliar arrecadação, governo quer limitar uso de créditos tributários
Caixa-preta do avião da Voepass não guardava alguns datos sobre o voo
Obituário/Delfim Netto – O mais poderoso ministro
Fogo, fugas e medo na Grécia

O Estado de S. Paulo

Mudança no repasse de royalties privilegia Estado de ministro
ANM diz que priorizou municípios produtores
Galípolo afirma que elevação dos juros ‘está na mesa’ do Copom
Financiamentos de infraestrutura do BNDES crescem 143% em um ano
STF vai julgar se apurações do Cenipa podem ser provas em ações judiciais
Investigações revelam investida do PCC para eleger vereadores
Delfim Netto – Em 6 décadas, foi de ministro da ditadura a conselheiro de Lula e Dilma
Márcio Souza – Escritor e ensaísta, foi grande intérprete da cultura amazônica
EUA enviam força naval para Israel se defender do Irã
Russos fogem de ucranianos

Folha de S. Paulo

Alta de juros está na mesa do Banco Central, diz Galípolo
Governo previa gasto com BPC, mas adiou corte
Golpe e roubo de celular dão prejuízo de R$ 71 bilhões
Avião teve colisão e ficou em manutenção antes da queda
Atuação de Boulos como professor é esparsa na prática
Morre aos 96 Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda
EUA cogitam anistia para Maduro sair do cargo, diz jornal
Incêndio florestal na Grécia se espalha até Atenas e causa retirada de moradores
Rússia desocupa mais uma área após invansão da Ucrânia

Valor Econômico

Déficit da balança da indústria atinge o maior valor da última década
Empresas mais pessimistas com a inflação
Licitação de saneamento no Piauí é adiada
Delfim Netto, ‘ex-czar da economia’, morre aos 96
Avon pede proteção contra credores nos EUA
Israel e EUA se preparam à espera de ataque do Irã

Quem sabe o destino das emendas secretas?

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NAS ENTRELINHAS

O ministro do Supremo Flávio Dino baixou duas liminares duríssimas para acabar de vez com o “orçamento secreto”. Deputados e senadores têm R$ 49 bilhões em emendas

Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski, baseado na vida real, é um clássico da literatura universal, escrito no século 19, a partir de uma história policial: o caso de um crente antigo (raskolnik em russo) que matou duas mulheres com um machado, cujo julgamento teve cobertura jornalística. A partir desse crime, Dostoiévski retrata a crise de consciência de Rodion Raskolnikov, o protagonista do romance.

O romance é uma resposta atemporal de Dostoiévski a ideais niilistas da juventude radical nos anos 1860. O escritor queria mostrar o que a perda da fé em Deus e o abandono da base moral poderiam causar, a partir da história de Rodion Raskolnikov, que deixa a universidade por falta de dinheiro para pagar os estudos. Algumas pessoas pensam que podem ser melhores do que as outras. O jovem concluíra que há dois tipos de pessoas: as comuns e as extraordinárias. Se julga o segundo caso, mas precisa provar a si mesmo.

Então, decide matar a velha senhora agiota para quem ele deu relógio em troca de algum dinheiro. Se compadece de Semion Marmeladov, um ex-oficial bêbado, cuja história familiar é uma tragédia. Dá a ele seus últimos trocados. Por uma carta de sua mãe, fica sabendo que a irmã se casará com um homem rico só para pagar sua universidade. Foi o gatilho para convencê-lo de que deveria matar a agiota para financiar seus estudos. A irmã adotiva da mulher, que voltou para casa antes da hora, também foi assassinada.

Raskolnikov recebe uma intimação policial, mas a acusação é não ter pagado o aluguel. Desmaia ao sair da delegacia, quando ouve o policial comentar a respeito do assassinato. Enterra tudo que roubou. Ao descobrir que Marmeladov morreu atropelado por um cavalo, entrega o restante do dinheiro para a viúva de Marmeladov. Sua filha Sônia o convida para o funeral.

Decide visitar a polícia com um amigo para pegar de volta o dinheiro que a agiota assassinada extorquira dele. Na ocasião, o detetive Porfiri Petrovich comenta seu artigo sobre pessoas extraordinárias, autoras de grandes ideias, que pensam ter o direito de infringir a lei para fazer bem à humanidade. Raskolnikov imagina que o policial suspeite dele. Sônia, a quem confidenciara o crime, o convence a contar o que fez e promete acompanhá-lo ao campo de prisioneiros da Sibéria. Porfiri também sugere que confesse o crime. Enfim, ele faz isso. Ninguém sabia que Raskolnikov era o assassino, exceto ele próprio.

Verbas do Orçamento

O ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino baixou duas liminares duríssimas para acabar com o chamado “orçamento secreto”. Deputados e senadores têm R$ 49 bilhões em emendas ao longo de 2024, uma parcela das quais é conhecida como “emendas pix”, que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu que fossem auditadas pela Controladoria-Geral da União. A decisão contrariou os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Amanhã, haverá uma reunião de líderes da Câmara para discutir como reagir à decisão do ministro. Os deputados temem uma devassa na destinação das emendas, principalmente as “emendas pix”, que não têm nenhuma transparência, embora esse seja um dos princípios constitucionais do Orçamento da União. O Supremo proibiu a existência do “orçamento secreto”, sob a presidência da então ministra Rosa Weber.

As emendas de deputados e senadores na Lei Orçamentária passaram de R$ 9 bilhões em 2015 para R$ 49 bilhões em 2024, conforme dados do “Siga Brasil – Painel Emendas”, site mantido pelo Senado. Na Lei Orçamentária de 2020, as “emendas RP 9”, que são feitas pelo relator da Comissão Mista de Orçamento, chegaram a 20 bilhões. Em 2021, R$ 16 bilhões. Em 2022, R$ 8 bilhões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o governo com R$ 15 bilhões de “emendas RP 9” herdadas do governo Bolsonaro. Ainda restam pagar R$ 5 bilhões.

As “emendas pix” foram criadas para burlar a proibição do “orçamento secreto”. Chegam a R$ 15 bilhões neste ano, sem nenhuma transparência e controle. Alguns até destinaram verbas para obras em estados diferentes dos quais foram eleitos, o que o ministro Dino agora proibiu. Há troca de destinação dos recursos por ajuda eleitoral. Tudo em segredo. A CGU tem até setembro para preparar um relatório sobre as dez cidades que mais recebem repasses de emendas e uma análise sobre os riscos por trás das “emendas RP 8”, que podem virar caso de polícia.

O Tribunal de Contas da União (TCU) mapeará as emendas até 21 de agosto e terá 180 dias para colocar no Portal da Transparência informações completas sobre padrinhos e destinatários de “emendas RP 8 e RP 9”. A CGU também auditará os repasses feitos de 2020 a 2024 por meio de “emendas pix” e como a verba foi gasta na ponta. Nada disso seria necessário se os relatores do Orçamento abrissem essa caixa-preta. Ninguém sabe para onde foi o dinheiro, mas eles sabem. (Correio Braziliense – 11/08/2024)

IMPRENSA HOJE

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Veja as manchetes dos principais jornais hoje (12/08/2024)

MANCHETES DA CAPA

O Globo

IA vira arma de extremistas para promover ataques
Avião da Veopass que caiu tinha ‘dano estrutural’ recente
Petrobras tenta avançar em diversificação, apesar de queda no investimento
Estrangeiros voltam para a Bolsa, mas incerteza não acabou
Por sucessor, Lira prepara acenos à bancada evangélica e ao agro
Rio registra um confronto entre quadrilhas rivais por dia
C’est fini, Paris
Relação com Maduro deve ficar estremecida

O Estado de S. Paulo

Cenipa recupera caixas-pretas; corpos começam a ser liberados
Avião operava sem anotar todos os dados
Governo, Ministério Público e STF se movimentam para regular big techs
Prevista para 2033, universalização do saneamento deve atrasar 10 anos
COB exalta mulheres e culpa ‘ventos’ por resultado
Estradas de SP terão mais 649 radares a partir de janeiro
EUA discutem anistia para Maduro deixar poder, diz jornal
Rússia reconhece avanço da Ucrânia em seu território

Folha de S. Paulo

Paris 2024 – Brasil tem menor PIB per capita entre os 15 países mais laureados
Óscar Arias – ‘Lula deveria ter dito para Maduro sair do poder’
‘Bancada chinesa’ une agronegócio, esquerda e centrão
Com 24 mortos no acidente, Casvavel vive luto coletivo
2 em 3 cidades do país nunca tiveram prefeitas
Crise de moradia tensiona disputa pela prefeitura de SP
Pedir demissão também envolve respeito e estresse

Valor Econômico

Recuperação extrajudicial cresce com a adesão de grandes empresas
Paris passa tocha olímpica para LA
‘Nata’ do varejo vende R$ 1,1 tri ao ano
Dólar cai mais, mas alívio vai só até R$ 5,40
Câmbio melhora rentabilidade de exportação
Crédito rural tem forte recuo em julho

Mesa, escola e bola

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A desigualdade na qualidade do ensino ainda domina o jogo

O presidente Lula demonstra indignação com a realidade das famílias sem comida farta à mesa nem diploma universitário na parede. Daí sua ênfase no ProUni, nas cotas, no Fies, na abertura de universidades públicas e no apoio às particulares. Graças a ações como essas, o Brasil mudou o perfil racial e social da população com acesso ao ensino superior. Porém, a desigualdade educacional conforme a renda e o endereço do aluno não diminuiu. Apesar dos avanços na democratização da educação, aumentou a distância entre pobres e ricos quando comparamos a qualidade do ensino.

Além da persistência do analfabetismo pleno ou funcional entre as pessoas de baixa renda e os afrodescendentes, a educação de base com excelência continua restrita aos alunos que podem pagar boas escolas ou aos poucos que conseguem matrícula em raras escolas públicas de qualidade, quase todas federais. Apesar do substancial aumento nas matrículas do ensino fundamental, o mesmo não ocorreu com a frequência, a assistência, a permanência e o aprendizado em si. Poucos terminam o ensino médio com o conhecimento necessário para pleitear ingresso no superior. Raríssimos obtêm vaga nos disputados cursos de boas universidades. A exclusão continua ao longo dos estudos e até mesmo depois de formados.

A bola permite que a elite do futebol não decorra do elitismo social. O Brasil precisa ‘redondear’ suas escolas

A desigualdade não desaparecerá enquanto o acesso a escolas de base com qualidade continuar restrito. Universidade para todos é uma ilusão demagógica se o sistema educacional não superar a divisão entre “escolas senzala”, para a maioria pobre, e “escolas casa-grande”, para a minoria rica. O entorno do presidente precisa perceber que os produtos da mesa são comprados, mas a educação universitária é conquista de cada indivíduo, desde que tenha acesso à escola pública de qualidade. A mudança necessária não está em políticas que aumentem as vagas para ingresso no ensino superior. Está em garantir a universalização do egresso oriundo de escolas com a máxima qualidade para todos.

O Brasil já fez esse movimento com o futebol: a bola redonda e as regras do jogo permitem que a elite futebolística não decorra do elitismo social; os craques chegam pelo talento, não pela renda da família. Mais do que vagas no ensino superior, o Brasil precisa “redondear” suas escolas: todas com a mesma qualidade suficiente para cada brasileiro ter o mapa que lhe permita buscar sua felicidade e as ferramentas que o ajudem na construção de um país melhor.

Aqueles que, por vocação, desejarem continuar poderão usar a persistência e o talento para levar o Brasil a um Prêmio Nobel, tanto quanto a bola redonda leva nossos melhores jogadores à Copa do Mundo. Quando isso acontecer, teremos produtividade para criar renda nacional suficiente e estrutura distributiva eficiente que permitam a cada família comprar o que precisa para a mesa. Até lá, felizmente temos bolsas, cotas e financiamentos como forma provisória de reduzir a penúria e evitar a condenação permanente do Brasil.

Ocorre que a maioria pobre, que jamais aceitaria ver seus filhos condenados a jogar com bolas quadradas e os filhos dos ricos com bolas redondas, aceita que as escolas com qualidade sejam reservadas aos que podem pagar. Talvez por isso, apesar de sua indignação diante da desigualdade social, o presidente Lula nunca tenha se convencido a definir uma estratégia para “redondear” as escolas. (Revista Veja – 09/08/2024)

O mundo de cabeça para baixo

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A ferro e fogo, não é possível alimentar otimismo em relação ao mundo atual. Tudo parece de pernas para o ar.

O Reino Unido embarcou na aventura do Brexit, bandeira patrocinada pelos conservadores liderados pelo populista Boris Johson. Deu no que deu, a crise social e econômica se instalou em escala maior da que já seria natural em função da pandemia (2020) e da crise energética (guerra da Ucrânia). O Partido Conservador se desgastou, não entregou o prometido. A oposição trabalhista promoveu sua reinvenção com a superação das ideias anacrônicas e atrasadas da ala esquerda dominante e produziu um giro ao centro. Com isso, deu uma goleada nas eleições. Assumiu o primeiro-ministro, Keir Starmer, há poucas semanas, com uma agenda moderada e reformista. Que ótimo! A poeira baixou? Ledo engano. Nada disso. As ruas do Reino Unido ardem em protestos violentos contra os imigrantes, particularmente os de origem islâmica.

A crise do Reino Unido revela as vísceras da sociedade contemporânea. As redes sociais, preciosos instrumentos para educação à distância, difusão cultural ou campanhas humanitárias, por exemplo, são também ferramentas nas mãos de lideranças de extrema-direita, que não se esquivando do uso aberto de fakenews para mobilizar audiência, estimularam sem dissimulação a violência racista. O estopim das cenas violentas foi uma mentira veiculada pelos movimentos radicais de direita de que o cruel assassinato à faca de três crianças britânicas foi cometido por um radical islâmico que chegou ao Reino Unido à barco em 2023. Ocorre que Axel Rudakubana nasceu no Reino Unido e o crime nada teve com terrorismo.

As redes extremistas estimularam as pessoas a invadirem as casas de cidadãos de orientação islâmica e os agredir. O primeiro-ministro progressista disse que é preciso regular as redes sociais. Alguns democratas defendem que não, em nome da liberdade de expressão. As coisas, assim, ficam turvas e confusas.

O extremismo radical, parta de onde partir, é condenável, emburrecedor e destrutivo. Nem todo islâmico é terrorista. A imigração não é de esquerda, nem direita. Nem toda a esquerda admira Stalin, Maduro, Miguel Diaz, Daniel Ortega, Kim Jong-un, Xi Jiping ou, a bola da vez, Nicolas Maduro. Nem todos de direita admiram Trump, Ali Khamenei, Putin, Erdogan, Milei, Lukashenko ou Orbán. O mundo não é colorido apenas de preto e branco. Há muitos tons de cinza e um arco-íris a explorar. É razoável cidadãos da Alemanha, França, Itália, Inglaterra, EUA se sentirem incomodados com uma massiva invasão de imigrantes em seu espaço de vida. É muito mais razoável, pessoas jogadas na miséria – na África, na Ásia e na América Latina – migrarem em busca de sua sobrevivência. Afinal, não é isso que o liberalismo prevê: livre circulação de capitais, mercadorias e mão de obra. Não? Trabalhadores não? A extrema direita tenta capitalizar tema tão complexo e jogá-lo no colo da esquerda. Mas a mais consistente, equilibrada e humanista política em relação à imigração foi feita pela estadista de centro-direita alemã, Angela Merkel. “Não fale isto, articulista. Assim você nos confunde. A vida só tem dois lados. Não embaralhe as coisas” – diriam alguns leitores,

Corta a cena. Atravessemos o Oceano Atlântico. Alguém com no mínimo dois chips na cabeça e com um pouco de isenção acredita que temos uma democracia na Venezuela? Com a exclusão e prisão de opositores, repressão à imprensa livre, expulsão pela fome ou por perseguição de 7 dos 32 milhões de venezuelanos, sumiço das atas eleitorais, aparelhamento do Poder Judiciário e do Ministério Público? Maduro é de esquerda, e essa é a esquerda. Culpa do imperialismo? Mas Bóric, presidente chileno de esquerda, junto com o ultraliberal argentino Milei e o líder de centro-direita uruguaio, Luis Lacalle Pou, condenaram Maduro e a farsa eleitoral venezuelana, que rompeu com esses países. E os líderes de direita da Rússia e Irã, associados ao autoritarismo comunista chinês, apoiaram Maduro. “Meu caro escriba, acabe logo este artigo, porque está ficando complicado demais. Só sabemos raciocinar binariamente por polarização” – imploraria o leitor angustiado, confuso e aflito. Ainda bem, para ele, o espaço acabou.

Ainda assim, finalizo com o poeta itabirano: “Não serei o poeta de um mundo caduco…”. (Blog Democracia Política e novo Reformismo – 10/08/2024)