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Projeto de Carmen Zanotto destina recursos do Fundo de Segurança para combater violência contra a mulher

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A deputada federal Carmen Zanotto (PPS-SC) apresentou ao plenário da Câmara projeto destinando recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) para ações de prevenção e combate à violência contra a mulher. A proposta (PL 1610/2019) inclui os programas contra a violência do gênero entre os programas já amparados pelo Fundo, que é administrado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.

De acordo com a proposta, os recursos serão aplicados na construção de delegacias da mulher, centros de atendimento integral a mulheres e dependentes e casas-abrigos para aquelas em situação de violência doméstica ou familiar. A matéria prevê ainda destinação de verbas para os núcleos de defensoria pública e centros de perícia médico-legal especializados, além de contribuir para o fortalecimento de programas e campanhas de enfrentamento da violência contra a mulher.

O dinheiro do Fundo é proveniente da arrecadação das loterias.

“Esses recursos são muito importantes para fortalecer as políticas públicas direcionadas às mulheres, trabalhando principalmente na prevenção e no acolhimento. Precisamos urgentemente combater a violência, reduzir esses assustadores índices de feminicídio que vitimizam as mulheres em todas as regiões deste país”, argumentou Carmen Zanotto.

A iniciativa foi apresentada na Legislatura passada pelo ex-deputado Flavinho (PSB-SP) e recebeu parecer favorável das Comissões de Defesa dos Direitos da Mulher e de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. O projeto altera também a Lei Maria da Penha (11.340/2006).

Brasil é o  5º país mais violento do mundo contra as mulheres. A cada quatro minutos, uma mulher é vítima de violência. Em 12 minutos, acontece um estupro de uma menina ou de mulher no país.

Carmen Zanotto lembrou ainda que o presente projeto resgata proposta (PL 7371) que cria o Fundo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher. A iniciativa foi aprovada por acordo no Senado Federal, em 2014, mas encontrou resistência na Câmara para ser levada ao plenário.

A ideia era de que esse Fundo recebesse recursos orçamentários, de doações, de convênios e de outros rendimentos para investir em políticas de combate a esse tipo de prática, como assistência a vítimas, medidas pedagógicas e campanhas de prevenção, entre outros benefícios.

Luiz Carlos Azedo: Alô, alô, Terezinha!

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NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

Com licença, Stepan Nercessian, o ator e ex-deputado federal que incorporou o velho guerreiro Abelardo Barbosa, em Chacrinha, o musical. Morto em 1988, de câncer, aos 70 anos, se o apresentador estivesse vivo, a esta altura do campeonato, buzinaria todo mundo que manda na Praça dos Três Poderes. Buzina para o presidente Bolsonaro, que fala uma coisa e manda fazer outra; buzina para o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que pôs a Corte na berlinda; e para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que fez um acordo com o chefe da Casa Civil, Ônix Lorenzoni, para aprovar a admissibilidade da reforma da Previdência, mas levou uma rasteira do líder do governo, Major Vitor Hugo, uma espécie de patinho feio entre as lideranças da Casa, que melou a votação na Comissão de Constituição e Justiça da Casa na semana passada. “Eu não vim aqui para explicar, eu vim aqui para confundir”, diria Chacrinha.

“Foi mais um desgaste desnecessário, provocado pelo amadorismo do governo. Havíamos acordado que apenas discutiríamos a matéria e que a votação ficaria para a próxima semana. No entanto, o governo decidiu votar a matéria de qualquer jeito. O clima na comissão ficou tenso, o tumulto se instalou e o governo acabou obrigado a recuar. Acordos são feitos para serem cumpridos. Quando isso não acontece, o andamento dos trabalhos é prejudicado”, lamentou o deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR), que é integrante da CCJ e favorável à reforma com algumas alterações, em especial, a retirada do texto de mudanças no sistema de pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria Rural.

Veterano na Casa, Bueno é uma das vozes mais respeitadas da Câmara e acredita que nesta semana a admissibilidade da reforma deve ser aprovada: “O governo sabia que diversos partidos, mesmo favoráveis à reforma, defendem mudanças no texto. Não faltou tempo para um acordo em torno dessas mudanças ainda na CCJ. Mas, lamentavelmente, apenas hoje, quando o governo queria votar a reforma, o relator se reuniu com líderes para discutir as mudanças no texto. É claro que não podia dar certo. Espero que, até terça-feira, isso se resolva e possamos fazer a reforma andar”, afirmou.

Trocando em miúdos, Vitor Hugo puxou o tapete de Maia e de Ônix, ao abrir negociação com o Centrão para mudar o texto da reforma. E deixou na maior saia justa o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, que tenta reduzir os danos no projeto original. Muito criticado por ser um parlamentar de primeiro mandato e sem liderança entre os pares, Vitor Hugo negocia com os líderes do Centrão um acordo para votar a admissibilidade na reunião da Comissão de Constituição e Justiça de amanhã, aparentemente, com um aval do próprio presidente Jair Bolsonaro, que não quer assumir sozinho o desgaste da reforma, pelo contrário, faz tudo para jogar o ônus eleitoral nas costas do Congresso e ficar com o bônus político junto ao mercado financeiro.

Cargos regionais

PP, DEM, PR, MDB, PSD, PRB, Pros, Pode, PTB, SD, PSC e PHS jogam juntos para dobrar o governo e barganhar mais participação na Esplanada. Bolsonaro tira por menos, conhece a Casa e sabe que esses partidos têm capacidade de mobilizar 250 dos 513 deputados. O PT, que lidera a oposição, tem 56; seu partido, o PSL, 55. Sobram 150 deputados no meio de campo, que ora se aproximam do PT, ora do PSL. Ou seja, a força decisiva na Câmara é o Centrão, que se movimenta em bloco, negocia com o governo, flerta com a oposição, age com independência e flexibilidade tática. E quer participar do poder.

Entre os deputados do Centrão, todos já sabem que Lorenzoni está prometendo R$ 10 milhões por ano em emendas parlamentares extras, além das que são obrigatórias, mas não tem a chave do cofre do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ainda há muita desconfiança de que Bolsonaro não cumprirá o acordo e voltará com a ladainha de que essa é a velha política. Além disso, os deputados querem mesmo são os cargos regionais do governo e suas estatais.

Estão incomodados com o fato de que toda crise no governo, porém, se resolve com a nomeação de um delegado ou militar, e não de um político. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, nomeou o delegado da Polícia Federal Elmer Coelho Vicenzi como novo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O coronel da Polícia Militar Ambiental do estado de São Paulo Homero de Giorge Cerqueira assumirá a presidência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Educação e Meio Ambiente são áreas nas quais os políticos sempre tiveram alguma influência. (Correio Braziliense – 22/04/2019)

Rubens Bueno manifesta solidariedade às vítimas de atentados no Sri Lanka

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O deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) apresentou nesta segunda-feira (21) requerimento para que a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara manifeste oficialmente solidariedade e profundo pesar às vítimas, familiares e ao povo de Sri Lanka atingidos pelos ataques ocorridos durante a celebração da Páscoa.

As explosões ocorridas em igrejas e hotéis deixaram mais de 200 mortos e perto de 500 feridos. “Esses atos atrozes e covardes devem ser condenados de forma veemente por todos os povos que buscam a solução pacífica para os conflitos e a convivência nos estritos limites dos direitos humanos entre diferentes etnias e religiões”, afirmou o deputado.

O requerimento deve ser votado ainda nesta semana.

Marcus André Melo: STF sob ataque

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Da Lava Toga ao impedimento de juízes, ameaças têm sido feitas ao STF e seus ministros. Ataques a cortes supremas, como regra, originam-se no Executivo. A reação a ataques protagonizada pelos ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes é inusitada: o suspeito usual não está envolvido.

Os ataques têm autores díspares, em setores pró e contra Lava Jato, em setores minoritários tanto no Legislativo quanto na opinião pública em geral.

Há expressiva correlação negativa na América Latina entre ataques às cortes supremas (impedimento de juízes, CPIs, intervenções etc.) e a avaliação de que desfrutam junto à opinião pública. Essa é a principal conclusão de Gretchen Helmke em “Public Support and Judicial Crises in Latin America” (apoio público e crises judiciais na América Latina), 2010.

Com base em 472 casos de ataques em países da região para o período 1985-2008, a autora chega a essa conclusão levando em conta (“controlando”, no jargão estatístico) a influência de poderes constitucionais dos tribunais, a base parlamentar dos presidentes, as proteções constitucionais que as cortes desfrutam, além de outros fatores.

Não é à toa que, quando a suprema corte argentina entrou em desgraça na opinião pública devido a suas decisões sobre o “corralito”, a maioria peronista durante a Presidência de Duhalde pediu o impeachment coletivo dos seus juízes. Todos sofreram “escrachos” de seus conterrâneos, um deles inclusive ocorreu em praias brasileiras.

A influência da opinião pública é assim fundamental para as cortes supremas e ela acaba também influenciando suas decisões. As evidências dessa influência foram apresentadas para o caso americano por Lee Epstein e Andrew Martin em “Does Public Opinion Influence the Supreme Court?” (a opinião pública influencia a suprema corte?), 2010.

Nesse estudo, os autores focam decisões sobre confirmação ou reversão de sentenças de cortes inferiores em 5.675 casos no período 1953-2008.

A probabilidade estimada de uma decisão confirmatória liberal, quando a corte inferior é conservadora, é de 0.59, se a opinião pública é conservadora, mas de 0.71 se esta é liberal.

O problema é que não podemos concluir que a opinião pública influencia os juízes, porque os mesmos fatores que afetam a opinião pública também incidem sobre os juízes.

Que lições tirar desses achados para o caso em pauta?

A principal dificuldade deve-se ao alto grau de personalização da nossa corte: o expressivo apoio ao STF enquanto instituição esbarra na rejeição a ministros individuais. A revogação da decisão de Alexandre de Moraes restabeleceu o frágil equilíbrio interno, mas não resolve o problema institucional. (Folha de S. Paulo – 22/04/2019)

Previdência: CCJ da Câmara retoma nesta terça-feira análise do parecer da reforma

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A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados retomará nesta terça-feira (23) a análise do parecer do relator da reforma da Previdência, Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG). Pressionado por partidos da base governista, o parlamentar pode apresentar uma complementação ao parecer.

“O que estamos procurando trabalhar é a construção de um consenso, que permita discutir um texto final que atenda aos interesses da sociedade brasileira sem que haja uma desidratação no texto proposto pelo governo. Estamos estudando ainda. São 13 relatórios em apartado que foram feitos”, disse Freitas, após a sessão de quarta-feira (17) em que estava prevista a votação do parecer.

A previsão inicial era votar o relatório sobre a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/19 na semana passada, mas sessões tumultuadas inviabilizaram a votação. Em uma delas, a proposta de reforma chegou a ser discutida por mais de 12 horas no colegiado.

A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), afirmou que o Palácio do Planalto não faz o cálculo de quantos votos teria na comissão, mas garantiu que já reúne a quantidade mínima para o prosseguimento da proposta na Câmara. “Nós temos os votos necessários, temos 43 votos. A gente vai passar isso [na CCJ]”, disse.

Na quarta-feira (17), o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, confirmou que o governo aceitou negociar a reforma da Previdência para facilitar a aprovação do texto na CCJ da Câmara. Ele deu a declaração após se reunir com deputados do PP, do PRB e do PSL.

“Tivemos uma primeira conversa com membros de vários partidos, que têm algumas restrições ao projeto como ele se encontra. Iniciamos um diálogo, mas não existe meio acordo. O acordo tem que ser feito por inteiro. Vamos continuar a conversar”, declarou o secretário.

Segundo Marinho, o governo e os líderes da base aliada pretendem fechar o acordo até esta segunda-feira (22), para votação no dia seguinte. “Se o acordo for celebrado até sexta-feira (19) ou segunda-feira (22), na terça-feira (23) a votação se dará sem obstrução e seguiremos para a comissão de mérito.”

Após a sessão da última quarta-feira, o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), disse que o parecer do relator não estava pronto para ser votado na CCJ. “É um texto muito cruel com a maioria da população brasileira. Ou o governo muda o texto, ou ele será derrotado na CCJ”, afirmou Molon.

Tramitação

Neste momento, cabe ao colegiado apenas a análise sobre a admissibilidade do texto. Dessa forma, os parlamentares analisarão se a proposta não fere nenhum dispositivo da Constituição Federal.

Caso seja aprovada, a medida segue para análise de uma comissão especial e terá o prazo de 40 sessões do plenário para aprovar um parecer. Somente nessa comissão poderão ser apresentadas emendas, ou seja, sugestões de alterações ao texto, com o mínimo de 171 assinaturas de deputados cada uma, no prazo de dez sessões do plenário.

Para ser aprovada na Câmara, a proposta precisa ter o apoio de 308 deputados em dois turnos de votação nominal.

Regras

Pela proposta do governo, a idade mínima para aposentar será de 65 anos para os homens e 62 para as mulheres, com no mínimo 20 anos de contribuição. A idade mínima subirá a partir de 2024 e, a cada quatro anos, considerando a expectativa de vida do brasileiro. Atualmente, a legislação estabelece os mesmos 65 anos para homens e 60 para mulheres, com o mínimo de contribuição de 15 anos.

A proposta também prevê o fim da aposentadoria por tempo de contribuição, que hoje pode ser concedida após 35 anos para homens e 30 para mulheres.

O texto retira da Constituição vários dispositivos que hoje regem a Previdência Social, transferindo a regulamentação para lei complementar. Segundo o governo federal, a medida visa a conter a diferença entre o que é arrecadado pelo sistema e o montante usado para pagar os benefícios. (Agência Brasil)

Previdência: Rubens Bueno pede a Guedes estudos e detalhamento de impacto fiscal mantidos em sigilo

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Rubens Bueno é autor do projeto aprovado em comissão da Câmara

O deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) protocolou nesta segunda-feira (22) requerimento de informações pedindo ao ministro da Economia, Paulo Guedes, cópias dos estudos e pareceres técnicos que fundamentam a aprovação da Reforma da Previdência (PEC 6/2019), além de detalhamento dos valores dos impactos fiscais de cada item contido na Proposta de Emenda à Constituição, por ano, nos próximos dez anos. Segundo noticiado pela imprensa no último domingo (21), o Ministério da Economia decretou sigilo sobre os dados que embasaram PEC. A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho alega que os expedientes foram classificados com nível de acesso restrito por se tratarem de documentos preparatórios.

“A matéria é de suma importância para o restabelecimento das contas públicas do Brasil e, apesar de merecer aperfeiçoamentos em seu texto, caminha para a rápida aprovação por esta Casa. Não há o que se falar, portanto, em documentos preparatórios neste estágio. O sigilo não deve ser a regra”, argumenta o deputado, que é membro da CCJ e espera receber o material o mais rápido possível.

A reforma já está em vias de ser aprovada na Comissão de Constituição da Câmara e seguirá, então, para uma Comissão Especial.

Para Rubens Bueno, a Reforma da Previdência é necessária e todos os dados que embasaram a proposta devem ser acessados pelo Parlamento, pois contribuem para o debate.

“As discussões em torno da nova previdência, como não poderia deixar de ser, envolvem estudos e análises atuariais e contábeis sobre gastos, impactos e projeções para o futuro que principalmente o Poder Executivo tem a capacidade de promover. E esses dados devem ser compartilhados ao máximo, para o bem das discussões democráticas, do princípio republicano, da própria aprovação da Reforma e, finalmente, do futuro melhor para o país que queremos construir” reforça o parlamentar.

Após receber o requerimento, o ministro tem 30 dias para enviar a resposta para a Câmara dos Deputados, sob pena de incorrer em crime de responsabilidade. No entanto, Rubens Bueno espera que o material seja liberado antes desse prazo.

Roberto Freire: A irracionalidade anda a galope

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A irracionalidade anda a galope, escreve Roberto Freire

Governo Bolsonaro está à deriva

Temos um ex-presidente preso

Tenta-se rebaixar o Judiciário

A República está desalinhada

Um espectro ronda o Brasil, o espectro da irresponsabilidade.

Desde o processo eleitoral do ano passado, em virtude da disseminação de novas tecnologias da informação e de certa falência do modelo político brasileiro, o debate sobre o futuro do país vem se dando sobre trilhas tortas, no qual ideias e propostas altruístas e legítimas convivem com mitos, mentiras, todo tipo de manipulação e enganos. E em uma escala monumental, envolvendo em tempo real milhões de brasileiros, eleitores, cidadãos.

O próprio resultado das eleições, inquestionável, pode ser analisado por esse prisma. Em um movimento de repúdio a gestões hegemonizadas pelo PT e apoiada em amplos segmentos do conservadorismo e da direita, a maioria dos eleitores que foram às urnas optou por um conjunto de ideias soltas, meramente ideológicas, e não por um projeto de desenvolvimento com rosto, linha, com um porto a ser alcançado.

Passado o processo eleitoral, veio a política real. Um governo à deriva, um presidente que diz não entender nada de economia e que nasceu para ser militar e não para ser líder maior do País, um ministro da Justiça que alçou o combate à corrupção à instância de ideologia, um ministro da Fazenda que acredita ser o presidente, um chanceler que busca revisar a história de maneira tosca e abusiva, um guru ao estilo Rasputin com um imaginário séquito de alunos convertidos a uma religião do atraso, um ministro do meio ambiente avesso e cético em relação às mudanças climáticas, um vice que surpreende e vivifica ideias realmente republicanas, um governo com base parlamentar em crise e seu próprio partido virando mais amontoado que ajuntamento e se dividindo publicamente.

É impressionante como tudo na República está desalinhado. À esquerda e à direita, cada um tentando se salvar em seu quadrado político, ou de interesse pessoal. O outrora partido no poder, que teve tudo para deixar ao país uma boa herança pela esquerda, ficou preso ao seu líder maior hoje na prisão e não vem a público trazer nada de novo.

Outrora grandes partidos de centro e social democrata também caíram na inação em virtude de a Justiça ter lançado redes sobre seus principais expoentes políticos. Partidos fisiológicos, principalmente ao centro e à direita, continuam esperando pela fisiologia. A contra-política, ou melhor, a “nova política” imperando e a economia afundando.

Uma democracia convive com ex-presidente da República e líderes outrora proeminentes presos, com empresários intocáveis recolhidos a celas, com impeachment, com o rigor da Justiça –que sempre deve ser rigorosa, amparada na Constituição e no arcabouço legal. Todavia, pode fenecer, se conviver com movimentos que visam desacreditar a política, os políticos e, principal e especialmente, as instituições democráticas e republicanas.

Estamos a ver nas últimas semanas uma escalada perigosa para desmoralizar o Judiciário, com foco maior no seu vértice, o STF (Supremo Tribunal Federal). Colaboraram para essa situação controversas decisões e posicionamentos do STF e de alguns dos seus ministros, ressaltando-se a recente e equivocada imposição de censura a alguns veículos de imprensa no país.

A história passada e recente nos oferece exemplos de que tal escalada resulta em colapso democrático nos países que a experimentaram. À esquerda, a Venezuela de Chávez/Maduro. À direita a Hungria e a Turquia, dentre outros.

Hoje vivemos uma corrida no Congresso Nacional para ver quem consegue atingir mais rapidamente os clássicos 15 minutos de fama, daí a multiplicidade de discursos, solicitações de comissões parlamentares de inquérito, pedidos de impeachment e outras iniciativas ligeiras, apressadas.

Tudo sendo replicado nas redes sociais por milhões de mensagens, avivando não o espírito democrático dos cidadãos críticos, mas a sanha autoritária e golpista que sempre esteve presente em movimentos de direita, em alguns partidos de esquerda antidemocráticos e, claramente, em grupos da campanha e que agora formam alas dentro do governo Bolsonaro.

Na democracia e dentro da lei a crítica deve ser livre e destemida. Nenhum Poder da República e suas instituições estão livres do crivo da cidadania, mas a liberdade corre risco se houver a desmoralização de qualquer uma delas. Se há de fato denúncia de crime de responsabilidade contra o presidente ou ministro do Judiciário então se façam articulações políticas sólidas no Congresso e se decidam em relação ao caso, porém sem o fogo-fátuo e as luzes da ribalta que se apagam.

Levar um ministro ao impeachment por um processo maduro não agride a democracia, porém abrir a caixa de pandora aos 7 cantos é irresponsabilidade. Até a esperança se solta. (Poder 360 – 22/04/2019)

Luiz Carlos Azedo: Santos e dragões

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NAS ENTRELINHNAS – CORREIO BRAZILIENSE

A trilogia Deus e o diabo na terra do Sol (1964), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1968), que revolucionou o cinema brasileiro e teve grande impacto entre cineastas do mundo inteiro, apesar do contexto político em que foi realizada, trata de temas que permanecem atuais: o populismo, o messianismo e o banditismo. Messianismo e banditismo representam respectivamente Deus e o diabo, mas o maniqueísmo entre ambos, uma construção do cristianismo, não muda a realidade. Glauber tinha entre 25 e 30 anos quando produziu sua trilogia, da qual a obra mais importante, esteticamente, é Deus e o diabo, que estreou no dia 10 de julho de 1964.

O filme diz muito mais sobre a identidade nacional do que a simples alegoria do golpe militar de 1964, embora Glauber tenha sido perseguido, principalmente após o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, quando o regime se tornou uma ditadura aberta, na avaliação do ex-ministro da Educação Jarbas Passarinho. Inspirado na obra O Diabo e o bom Deus, do filósofo francês Jean Paul Sartre, Glauber adapta livremente o roteiro, para retratar a relação entre a religião e o poder no sertão brasileiro. Seus personagens, porém, são arquétipos que transcendem os contextos regional e temporal.

Manuel (Geraldo Del Rey) se liberta do patrão explorador (Mílton Roda) e, em companhia da mulher, Rosa (Yoná Magalhães), junta-se aos fanáticos liderados pelo profeta negro São Sebastião (Lídio Silva) e, depois, ao cangaceiro Corisco (Othon Bastos). O matador Antônio das Mortes (Maurício do Valle) é contratado pela Igreja e pelos latifundiários para eliminar as ameaças ao status quo que constituem tanto o líder messiânico quanto o justiceiro do cangaço. Glauber explora a literatura de cordel para tecer a trama do fanatismo religioso. Em meio a alucinações sebastianistas, revelava influências do neorrealismo italiano e da nouvelle vague, com cenas inspiradas em Luis Buñuel, Sergei Eisenstein e Akira Kurosawa. Glauber morreu aos 64 anos, consagrado como cineasta e incompreendido como gênio na cultura nacional.

A crítica ao sebastianismo e ao banditismo é sofisticada. Os discursos de Sebastião prometem o céu na terra: “Agora eu digo, o outro lado de lá, deste Monte Santo, existe uma terra onde tudo é verde, os cavalos comendo as flores e os meninos bebendo leite na água do rio. O homem come o pão feito de pedra e poeira da terra vira farinha. Tem água e comida, tem a fartura do céu e todo dia, quando o Sol nasce, aparece Jesus Cristo e Virgem Maria, São Jorge e meu Santo Sebastião”. Rosa percebe que as promessas do profeta não levarão a lugar nenhum. Sebastião também incomoda a elite local. O padre solicita a Antônio das Mortes, assassino de aluguel, que mate Sebastião e todos os seus seguidores; ele, porém, afirma ter receio de cumprir tais ordens por mexer com coisas de Deus. Antônio das Mortes tem medo de enfrentar Sebastião e seus seguidores.

Viés antropológico

Sebastião é morto pelas mãos de Rosa, após o profeta exigir de Manuel o sacrifício de sua mulher e de uma criança. Seus seguidores são mortos por Antônio das Mortes. Em fuga, Manoel e Rosa encontram o grupo de Corisco, veem uma oportunidade de mudar de vida. Diferente do messianismo, o cangaço não se baseia em uma entidade surreal para acabar com o sofrimento do povo, e sim no reconhecimento da estrutura de poder e na manutenção, por parte dela, das condições sociais a que é submetido. Eles não ficam à espera de um anjo guerreiro vir arrancar a cabeça dos inimigos, milagrosamente. O banditismo social se propõe a cortá-la. No Dragão da maldade contra o santo guerreiro, que encerra a trilogia, Glauber junta a devoção de um santo à bravura de um guerreiro e projeta um novo messianismo, quando Antônio das Mortes abandona o Dragão da maldade e adere à causa do Santo guerreiro. Insinua um certo protagonismo popular, alternativo ao poder das oligarquias e ao banditismo do cangaço.

Após 20 anos de regime militar e 34, de democracia, o Brasil ainda não se livrou do populismo, do messianismo e do banditismo, que transitaram do Brasil rural para o urbano. Muito menos do maniqueísmo que impede essa ultrapassagem. São três ingredientes da nossa política que estão aí vivíssimos, no fenômeno da eleição do presidente Jair Bolsonaro, na resiliência eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na dramática situação do Rio de Janeiro, onde o banditismo das milícias emula com o tráfico de drogas. São elementos da vida nacional retratados há 55 anos por Glauber Rocha, um viés antropológico vivíssimo da política brasileira, que atrasa e puxa o país para baixo.

Feliz Páscoa!!! (Correio Braziliense – 21/04/2019)

Fernando Gabeira: Um supremo pulo de cerca

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É uma semana que começa com o foco na reforma da Previdência, mas dificilmente esquecerá a crise aberta com a ação dos ministros Toffoli e Alexandre de Moraes. O inquérito aberto em março era visivelmente nulo. Digo visivelmente porque até eu, que não sou especialista em leis, previa que seria legalmente derrubado. Não deu outra. Raquel Dodge decidiu fulminá-lo. Não sei se ela podia decidir sozinha, ou se deveria passar pelo Supremo. Sei apenas que os argumentos jurídicos dela apenas confirmam a ilegalidade do inquérito. Para o leigo havia tantos equívocos grosseiros, uma vez que todos sabemos que existem instituições para conduzir o processo legal.

Foi uma carteirada, escrevi na época. Surpreendi-me com o fato de dois ministros articulados abrirem um inquérito e começar a fazer buscas e apreensões até o desatino final em censurar a revista “Crusoé” e o site “O Antagonista”. Dizem que Toffoli não passou em concurso de juiz. Mas, pelo que vejo em seus votos, tem cultura jurídica e certamente vai apresentá-la quando tiver de defender sua escapada além dos limites democráticos, seu ato de censura. O que sei apenas é analisar a qualidade política de sua decisão, como presidente do Supremo Tribunal Federal. Nesses critérios, ele não passaria num psicotécnico. A notícia que o constrangia acabou sendo multiplicada pelas emissoras de televisão e todos os jornais e rádio do país.

A notícia ainda um pouco nebulosa de que o amigo do amigo do pai nos códigos de Marcelo Odebrecht não continha uma denúncia aberta de corrupção. Ao investir autoritariamente sobre os veículos que a publicaram, Toffoli estimulou também a desconfiança de que há algo importante a esconder. O pior desdobramento diante do qual acho que Toffoli deveria deixar a presidência é, no fundo, essa disposição de fazer justiça com as próprias mãos, de que despreza os mecanismos legais. Num país onde nem todos são preparados para exercer sua autoridade, o exemplo de Toffoli e Moraes é uma sinalização negativa. É um estímulo aos pequenos tiranos, uma possibilidade até de multiplicá-los.

No meio da semana, Toffoli e Moraes decidiram, apesar de Dodge, seguir com o inquérito por mais 90 dias. O interessante é como dois homens da elite fazem uma interpretação tão distante do Brasil real. Tornaram-se uma piada nas redes onde se trocam mensagens assim: por ordem do Supremo Tribunal Federal seu WhatsApp foi bloqueado. Talvez o tempo tenha passado rápido demais diante de Toffoli e Moraes. Não perceberam que a liberdade de expressão tem um enorme potencial de unir as pessoas. Nem se deram conta de que a transparência é a melhor maneira de lidar com denúncias, falsas ou verdadeiras. Na verdade criaram uma situação inesperada.

Diante do resultado eleitoral, o Supremo era visto como um poder moderador num sistema de pesos e contrapesos. O Supremo pulou a cerca. Fragilizou o jogo democrático. O aspecto positivo de tudo isso foi a demonstração de um apoio amplo à liberdade de expressão. Não só, como no passado, uma defesa do trabalho jornalístico. Nos dias atuais, como todos têm a possibilidade de se expressar, a liberdade de expressão é sentida mais diretamente como um direito pessoal não apenas de receber notícias, mas de opinar. Quando ministros do Supremo se transformam num guarda de esquina nem sempre cuidadoso com os ritos democráticos, é sinal de que entramos numa fase perigosa, e isso precisa ser tratado com seriedade. Toffoli e Moraes deveriam renunciar não só ao inquérito como aos próprios cargos.

Certamente não farão isso, mas serão apenas mais dois fantasmas numa cidade onde já circulam tantos outros. Unidos podem tentar transformar o país num grande fantasma do passado, um lugar das carteiradas, do sabe com quem está falando, do prendo e mando prender, do comigo ninguém pode, do cala a boca que sou autoridade. É difícil dizer para grandes juristas que estão delirando. Espero que a realidade dos fatos cumpra esse papel. De preferência, o mais rápido possível. (O Globo – 22/04/2019)

Se a proposta da reforma da Previdência for desidratada demais, será mais um remendo, diz presidente do Ipea

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“Sistema de repartição entrou em colapso”

Para o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se a proposta da reforma da Previdência for desidratada demais, será mais um remendo para durar apenas dois, no máximo, três anos, porque o Estado brasileiro está disfuncional e inchado

ROSANA HESSEL, HAMILTON FERRARI – CORREIO BRAZILIENSE

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger, não vê alternativa para a economia voltar a crescer sem uma reforma da Previdência ampla, como a proposta pela equipe econômica liderada pelo amigo de 40 anos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, que prevê economia de R$ 1 trilhão em 10 anos.

“Se reduzir à metade disso, é mais um remendo para durar dois, três anos. Não sobrevive nem a este governo”, frisa. Doellinger avalia que o sistema atual de aposentadoria está falido e a capitalização será inevitável, mas a transição precisará ser bancada por um fundo com o tamanho dessa economia. “O sistema de repartição entrou em colapso. Já tivemos várias reformas, mas tudo era remendo. Se jogou apenas mais para frente a falência do sistema”, afirma.

Integrante do grupo que ajudou a preparar o programa econômico da campanha de Jair Bolsonaro, o economista está de volta ao Ipea depois de 25 anos. Ele se aposentou em 1994 e, agora, pretende mudar o foco da estrutura organizacional do instituto, reduzir o número de diretorias de sete para cinco e ampliar a atuação do órgão na construção de políticas públicas. Nesse sentido, critica a má gestão do gasto público. “O Estado brasileiro está disfuncional e inchou. Os gastos não pararam de crescer. Gasta-se muito e gasta-se mal”, pontua.

Para Doellinger, a reforma tributária não acontecerá nem em 2020. “A prioridade é a simplificação”, afirma. Sugere que a abertura comercial poderia começar logo, por meio “de uma redução gradativa, com um cronograma de diminuição tarifária e de entraves administrativos”. Também defende a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do pacto federativo e acredita que poderá ser encaminhada logo ao Congresso, assim que o texto da reforma da Previdência começar a andar nas comissões. A seguir, os principais trechos da entrevista de Von Doellinger:

Como o senhor chegou a fazer parte da equipe de transição e, depois, do novo governo?

Conheço Paulo Guedes há 40 anos, quando estava no Ipea, na década de 1970, e o recomendei para trabalhar no instituto, antes de eu ir para a Alemanha estudar. Desta vez, a aproximação começou bem no início da campanha de Jair Bolsonaro, antes da transição, quando ele tinha 1% de intenção de voto. O Paulo convocou um grupo com cinco economistas e eu era o único que não era de Chicago. Estudei na Alemanha. Ele falou: Você é o homem da tesoura. Tem que vir aqui. Houve um momento, quando eu estava na equipe do Tancredo Neves (ex-presidente da República), que ia assumir junto com o ex-ministro da Fazenda, Francisco Dornelles. Durante a discussão para preparar o discurso da posse, apareceu o Paulo Guedes, convidado pelo Dornelles, e surgiu a sugestão de colocar no discurso que era proibido gastar, algo que acabou sendo incluído no texto que foi lido pelo José Sarney.

Como está sendo o retorno e quais mudanças pretende implementar?

O Ipea é uma organização com pessoas de altíssimo nível. Praticamente todo mundo tem doutorado, que é até um pré-requisito. É primeiro time. Pretendo implementar uma mudança com foco na estrutura organizacional. Existem sete diretorias e vão passar para cinco. A ideia é que o órgão faça um apoio mais direcionado, voltado para a avaliação e a formulação de políticas públicas. A proposição será atender às demandas, seja do Ministério da Economia, seja de outros ministérios, e seja até de outros Poderes. Temos trabalho sendo feito junto ao Judiciário e espero trabalhar mais próximo ao Congresso. Essa é a função de um instituto de pesquisa: refletir, pensar e propor. Não só fazer estudos e avaliações, projeções e simulações. É apoiar decisões. O Ipea tem uma base de dados muito grande que consegue produzir estatística e pessoal diversificado em termos de formação.

Houve um pedido específico do ministro Paulo Guedes?

Não. Ele disse: tem que ficar atento às demandas do governo e procurar se antecipar. Temos recebido ordem de serviço dos secretários para atender. Do ministro, eu sempre tenho conversado com ele, sobre o que está acontecendo… Isso porque, desde o tempo da campanha, vínhamos discutindo coisas que eram urgentes e importantes e, obviamente, o ponto central de tudo é o ajuste do setor público, o ajuste fiscal e as reformas. O Estado brasileiro está disfuncional e inchou. Os gastos não pararam de crescer. E crescem de uma forma desordenada. Gasta-se muito e gasta-se mal. Precisamos botar nos eixos. Primeira coisa que está em discussão é a reforma da Previdência. Tem de ser prioridade, porque metade dos gastos do Orçamento são com a Previdência e estão entre os que mais crescem. Crescem, de 10% a 11% ao ano. Daqui a cinco anos, 100% (das despesas) vão ser Previdência. Daqui a sete anos, 120%. Aí não se faz mais nada. É óbvio que tem que ser prioridade.

O ministro fala muito sobre a conta de juros, que o país gasta um Plano Marshall por ano…

O juro é consequência do desequilíbrio (fiscal). Deficit nominal, sempre tivemos, por conta dos juros. Mas o deficit primário, que passou a ser registrado desde 2014, começou a criar um círculo vicioso terrível. Aumenta a dívida, que eleva a conta de juros, que expande o deficit e ninguém consegue romper isso. Temos que passar para o círculo virtuoso, com equilíbrio. Se possível, com resgate de dívida, com outras linhas de atuação, que são a privatização e a realização de ativos do Estado. O governo, por exemplo, tem R$ 700 bilhões de ativos imobiliários que não rendem nada. Isso também faz parte da realização. É o ajuste patrimonial.

Esse processo demora quanto tempo?

Pergunta de um milhão de dólares (risos). Tem de ser o mais rápido possível. Só que esperava-se, por exemplo, que a reforma da Previdência pudesse ser concluída no meio do ano, mas ninguém pode garantir. Está surgindo aí uma série problemática que tem uma fila. Eu sempre fui a favor de que algumas coisas aconteçam simultaneamente.

Se houver atraso na reforma da Previdência, o processo de transformar o país no círculo virtuoso será postergado?

As privatizações estão acontecendo. Estão sendo feitas várias vendas de ativos, principalmente, de subsidiárias de estatais.

Mas ainda são coisas pontuais e sem muito impacto financeiro no momento…

Sim. Mas tem um problema sério. Temos 136 estatais federais, entre as quais quatro ou cinco são autossuficientes. Não é preciso privatizar a Petrobras, nem Banco do Brasil, nem Caixa, que são as joias da coroa. Elas não estão à venda. Em grande parte, a venda de estatais busca minimizar prejuízo, mas contribui (do ponto de vista fiscal). Vender patrimônio da União também ajuda a reduzir prejuízo e também conseguir dinheiro para botar no caixa e reduzir a dívida.

A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) está tentando vender imóveis, mas está difícil. O mercado não está bom…

A economia está capenga. Esse é um processo demorado. Grande parte desses imóveis tem problemas, tem litígios e tem passivos. Mas temos que caminhar nesse sentido. Esse ajuste me parece fundamental. Temos essa linha de ação, que é o ajuste fiscal, que é a maior prioridade. A reforma do Estado, tendo a reforma patrimonial e uma outra, que é meu tema predileto, porque trabalhei nisso desde o tempo da campanha, que é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do pacto federativo.

Como aprovar o pacto sem fazer ajuste fiscal primeiro?

Não há condicionalidade. É possível fazer, porque são coisas complementares. O pacto federativo começa com o que a gente chamava de PEC do Orçamento para desengessar as despesas e permitir uma melhor alocação dos fundos. E uma, para permitir maior irrigação de recursos para estados e municípios. Ao mesmo tempo que faz desvinculação de receitas às despesas específicas e/ou a fundos específicos, também vai desindexar (o Orçamento). Não sei se vamos chegar a tanto, mas a minuta que está mais ou menos pronta prevê a desindexação.

Como seria essa proposta em relação ao Orçamento?

Essa PEC terá que ser ajustada, assim como os orçamentos, de modo geral. As regras do pacto federativo vão valer para todos os níveis: federal, estadual e municipal. O maior problema do engessamento, na verdade, está nos estados e nos municípios, porque eles têm maior obrigatoriedade de aplicação dos recursos líquidos em saúde, em educação. Tanto que a maior demanda por esse pacto é dos estados e dos municípios.

A desindexação vai ser geral ou atingirá áreas específicas?

Na minha preferência, é geral. Veja bem. A indexação cria despesa e alimenta a inflação. É um resquício da cultura inflacionária. É uma jabuticaba brasileira. Não existe em nenhum país do mundo. Eu posso garantir, já fiz essa pesquisa, exaustivamente. Nao existe isso na face da Terra!

Como se livrar disso? Tem que baixar um decreto?

Tem que estabelecer que acabou. Não é preciso baixar um decreto. Simplesmente escreve lá que não vai reajustar por decreto, por obrigatoriedade constitucional. Não quer dizer que não vai ter reajuste de salário. Quando não havia indexação, tinha aumento de salário. Ninguém está proibindo, engessando tudo. Não é isso. O que não pode é ter uma regra de indexação na Constituição, porque assim se perpetua esse processo de memória inflacionária para a eternidade. E cria despesa permanentemente. Por outro lado, a receita não está indexada. É o que é, o que a economia pode dar, e, atualmente, está oferecendo muito pouco. A receita está despencando. Essa é a razão do contingenciamento que precisou ser feito.

O que o ministro fala sobre a PEC que acaba com a indexação?

O ministro sempre concordou. Ele só está esperando a oportunidade para apresentá-la. Assim que for definido melhor o rumo da reforma da Previdência, será apresentada. Não é preciso esperar o término da tramitação, porque a PEC pode, por exemplo, ser enviada ao Senado desde que a Casa peça. O pacto federativo é o nome genérico dessas novas regras todas, que incluem desindexação.

O governo tem conversado com o Senado sobre o pacto?

Sim. Já houve manifestação favorável de vários parlamentares. O Senado é a casa da federação. O pacto federativo interessa a essa Casa, porque vai atender, principalmente, aos interesses dos estados, dos municípios e do governo federal.

Falando em Orçamento, uma das críticas dos economistas é que o governo ainda não apresentou medidas efetivas de curto prazo. Além da reforma da Previdência, não há outras medidas para contenção de gastos.

Mas veja só. Se está tudo obrigatório, como é que vai fazer? Quais são as despesas discricionárias com esse orçamento impositivo? Sobrou 3%. O que o governo vai ganhar?

Vai ter que aumentar imposto, então. Está sendo cogitada a volta da CPMF?

Não fala uma coisa dessas (risos). Isso é um palavrão danado.

Vai mudar o nome?

Não vai ter aumento de imposto nenhum. A meta é reduzir a carga tributária. Agora, é claro que, nas condições atuais, também não dá para começar a cortar imposto. Isso é suicídio. Mas, no médio e no longo prazos, a meta é reduzir, jamais, aumentar imposto. O governo sempre gastou e muito. Sempre se financiou com dívida e com aumento da carga tributária. Na minha época do Ipea, a carga tributária era de 21%. Hoje é de 33% a 34%, e, se somarmos o deficit nominal que é 7%, passa de 40%. Nenhuma economia pode funcionar desse jeito.

É possível retomar o crescimento com uma reforma tributária?

A reforma tributária é, em um primeiro momento, para reduzir o custo de pagar imposto, porque tão pesado quanto o imposto é o próprio pagamento do imposto. Hoje, isso pesa muito no custo da transação, porque as empresas têm dificuldades. Além do pagamento em si, a legislação é muito complicada. Todo dia sai norma nova e as empresas têm que ter equipes permanentes para se atualizar.

Isso assusta muito o investidor estrangeiro.

Isso é um custo que incide sobre a transação. É um peso morto que a empresa tem que carregar. A quantidade de obrigações acessórias que existem e vêm se acumulando, porque ninguém consegue reduzir, é, ao meu ver, a primeira coisa a fazer. Simplificar o custo de pagar imposto.

Vai demorar para fazer a reforma tributária?

A reforma em si, se quiser mexer no código tributário, terá que mudar a Constituição. É PEC. Isso vai dar muita discussão. Não é algo que aconteça, por exemplo, no ano que vem. Não acredito.

Como discutir a reforma da Previdência, o pacto federativo e a simplificação tributária no Congresso? Ainda mais com a capacidade de articulação política do governo tão limitada…

Temos que resolver esse problema político. Fala-se muito em uma articulação maior do Executivo com o Congresso e uma montagem de uma base de apoio. Tenho defendido uma outra forma de arranjo de relacionamento do governo com o Congresso. Em vez de continuar insistindo nesse tal presidencialismo de coalizão, que é o que tem sido feito desde o pós-guerra e está desgastado, a proposta é partir para um presidencialismo de cooperação. É um trabalho conjunto: o Executivo faz uma pauta de reformas e pede ajuda para o Congresso para trabalhar junto. É um convite à dança. No pacto federativo, por exemplo, quando se diz que vai acabar com desvinculação e obrigatoriedade de despesa, é, na verdade, uma desconstitucionalização de gastos. Se propõe uma lei ordinária para estabelecer critérios e objetivos. No caso da educação, colocam-se metas de alfabetização, matrículas e indicadores que mostram a efetividade das despesas. Uma vez atingidas, o gasto fica disponibilizado para outras funções.

Os objetivos seriam definidos pelo Congresso?

Sim. Legislação ordinária, através de regras fixadas. O Congresso passaria a dizer os critérios que teriam que seguir para elaborar o orçamento. E aí deixa-se de ter regras burras. Seria uma forma diferente de trabalhar. É o presidencialismo de cooperação. Essa ideia me veio da leitura do livro do sociólogo Sérgio Abranches, no qual ele faz uma análise crítica dessa experiência, mostrando como o presidencialismo de coalizão foi, ao longo do tempo, se degenerando. Tem que nomear ministros para conseguir apoio.

Com esse Congresso, como deve ser a celeridade das reformas?

Eu acho que precisava de uma aproximação maior. Com isso, todo mundo está de acordo.

Se tivéssemos um parlamentarismo, isso seria mais fácil?

No parlamentarismo, os ministros são, na verdade, parlamentares. O apoio é em função de linhas programáticas e até, em alguma parte, ideológica. Conforme a preferência do eleitorado, aquilo vai sendo composto. O ministro que vai a determinada pasta vai em função das propostas. Ele é escolhido por isso, não pelo número de votos que traz para o governo. É assim que funciona o parlamentarismo nos países europeus e em outros lugares do mundo. Não sei se é possível no Brasil. Por enquanto, não dá. Mas nós podemos caminhar um pouco no sentido de propor à classe política um tipo de aliança programática para superar a crise. Nós não vamos sair da nossa situação enquanto não resolvermos as questões das reformas.

Quanto tempo para sair da crise? Temos um cenário que havia sido traçado após a eleição que não está se concretizando, além do Ipea, todos os bancos estão revisando a projeção de crescimento. Qual o PIB potencial do Brasil?

As projeções estão apontando para o pibinho. Para superar a crise, temos que equacionar as reformas, caminhar para a abertura da economia e ter mais eficiência. A gradativa redução da proteção tarifária é uma mudança proposta pelo governo, saindo de 14% (de imposto de importação) para convergir para algo em torno de 4%, 5% ao longo do tempo. Se conseguirmos aprovar uma reforma da Previdência minimamente palatável, a reforma do Estado com ajuste patrimonial, a simplificação tributária, a redução do custo de transação e o pacto federativo, acho que muda completamente o clima. Passa-se a ter um ciclo virtuoso, porque todas as indicações são de que os investidores estão dispostos a vir para o Brasil. Se mostrarmos um pouco de serviço, eu acho que vai ter um boom de investimentos. E o crescimento poderá ser de 4%, 5% ou mais até. Porque sai de uma base bem reduzida. Se a taxa de investimentos sair da mediocridade de 15% para algo histórico de 20%, teremos crescimento de 5%, aumento de receita, ajudando o ajuste no Orçamento sem aumentar impostos, cresce o emprego e a renda.

O que seria essa reforma da Previdência “minimamente palatável”?

Aquela que gere, pelo menos, o tal de R$ 1 trilhão (de economia, em 10 anos).

Tem que ter R$ 1 trilhão?

A ideia do ministro é mais ambiciosa, porque ele quer mudar o regime da Previdência, saindo de repartição para capitalização. Essa mudança exige que se tenha uma reserva para poder bancar essa mudança. Quando se muda o regime, e essa é a experiência do Chile…

Mas há críticas sobre o regime do Chile, tanto que eles precisaram voltar atrás…

Eles fizeram alguns ajustes, mas o Chile continua crescendo a taxas do milagre brasileiro. O que acontece é que os que entraram nesse novo regime deixaram de contribuir para o regime antigo, enquanto os outros continuaram se aposentando. Ou seja, crescem as despesas e diminui a receita. Então, tem que ter um fundo para bancar o desequilíbrio que vai ocorrer. Isso foi feito no Chile. No nosso caso, também teremos de bancar esse novo regime. Não sei se isso vai ser aprovado ou não, porque é algo ambicioso.

E tem que ver quem vai administrar esse fundo, para não ocorrer o que aconteceu, por exemplo, com o Postalis. Sim.

Tem que ter um fundo soberano decente.

Esse fundo não foi bem explicado quando apresentaram a proposta de capitalização.

Não se entrou em detalhes, só em termos gerais. Eu sei que dá liberdade para os bancos credenciarem. Hoje, há liberdade para ter um fundo qualquer privado de aposentadoria num banco. Isso passaria a ser regulamentado para ter a proteção e as pessoas terem a garantia da fidedignidade das regras de aplicações de recursos e ninguém sair roubado por má gestão. Isso exige uma engenharia financeira complicada. Não é algo trivial. É um passo ousado, mas que, em algum momento, será inevitável. Antes, havia 3,5 contribuintes para cada aposentado. Hoje, é um para um, tendendo a ser menor. Ou seja, o sistema faliu. Quem está se aposentando confia que vão pagar, mas tem cada vez menos gente para contribuir. O sistema de repartição entrou em colapso. Já tivemos várias reformas, mas tudo era remendo. Se jogou apenas mais para frente a falência do sistema. Há uma tendência inexorável do envelhecimento e isso agravou o desemprego, porque as pessoas deixam de contribuir. Mas também há uma mudança grande na forma tradicional do emprego. As pessoas estão se virando por conta própria, saem do sistema formal de contribuição. Isso contribui para a falência do sistema. Temos que encontrar alternativa viável para isso. A capitalização é uma boa ideia, mas não é fácil.

O governo não pode abrir mão da economia de R$ 1 trilhão? E se cair BPC e aposentadoria rural…

Quem sabe? Se reduzir à metade disso, é mais um remendo para durar dois, três anos. Não sobrevive nem a este governo.

Com relação à reforma tributária. Qual é a proposta na mesa? É a do IVA (imposto de valor agregado)?

Tem várias propostas. Tem a do (deputado federal) Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), tem a do Bernard Appy, que eu acho boas. O Ipea mesmo tem uma proposta de IVA-dual (baseada no modelo canadense), que também acho muito boa. Mas, antes de mexer no código tributário, que altera a Constituição, é preciso fazer um processo de redução do custo de pagar imposto, da simplificação. Há muita coisa que dá para se desonerar até por decreto.

O imposto único federal que o ministro Paulo Guedes citou recentemente, como funcionaria?

É uma alternativa. O Marcos Cintra (secretário da Receita) tinha uma proposta que nós discutimos na campanha, que era de um imposto único, incidindo sobre transações financeiras. Mas ficou muito parecido com aquela maldita CPMF. Então, não se falou mais nisso. Acho que essa questão da reforma tributária ainda está muito em aberto, tanto que eu entendo que a prioridade é a simplificação.

A abertura econômica viria antes?

A abertura pode começar já, através da redução gradativa, com um cronograma de diminuição tarifária e de entraves administrativos.

Como fica o Mercosul nessa história?

Tem que ser acertado com o Mercosul. Na verdade, com a Argentina. A parte de Paraguai e Uruguai, não haveria muita dificuldade. O problema da Argentina é que está numa situação complicada.