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Diversidade 23 repudia decreto que revoga política de participação popular

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O Diversidade 23 divulgou, nesta sexta feira (12), nota de repúdio (veja abaixo) ao decreto do presidente Jair Bolsonaro que revoga a política de participação popular.

Nota de repúdio ao decreto que revoga política de participação popular

O Diversidade 23, núcleo LGBTI do Cidadania, repudia a revogação da politica nacional de participação popular pelo Decreto nº 9759, de 11 de abril de 2009.

É importante dizer que o processo de participação popular visa integrar governo e sociedade em busca de um país melhor, além de ser instrumento de controle social sobre os atos da administração pública e um instrumento de cobrança para melhoria de politicas públicas dos diversos grupos sociais: mulheres, negros, LGBTIs, indígenas, portadores de doenças crônicas, pessoas com deficiência, dentre tantos outros. 

A Constituição Federal de 1988 classificou o Brasil como um Estado Democrático de Direito, elegendo a democracia como um dos pilares desse modelo de Estado.

A participação popular se tornou a essência do Estado Democrático de Direito, motivo pelo qual a constituição vigente, também denominada “Constituição Cidadã”, inovou criando diversos mecanismos que possibilitassem o exercício da democracia direta e participativa, sendo que, para alguns casos (orçamento participativo), obrigou a sua observância para realização da própria gestão pública. Por conseguinte, a noção de cidadania ganha outro significado, ampliando a atuação da sociedade, que anteriormente se restringia à escolha dos governantes.

É essencial chamar a atenção do Governo Federal para o mandamento do parágrafo 1º do artigo 1º da Constituição Federal, onde se determina, como em qualquer Estado Democrático de Direito, que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”.

Dessa forma, qualquer ato que resulte na revogação de instrumentos de participação social se revela ato verdadeiramente inconstitucional e passível de ter seus efeitos sustados pelo Poder Judiciário, o que, inclusive, não se descarta no momento.

Há que se ir além.

A lei complementar 101 de 04 de maio de 2000, a lei de responsabilidade fiscal, com suas alterações promovidas pela lei complementar 131 de 27 de maio de 2009, a lei da transparência, assim determina:

“…
Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.

 § 1o   A transparência será assegurada também mediante: 

I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; 

II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; e
…” (g.n.)

O desmonte da política nacional de participação popular contraria preceitos basilares de transparência assegurados não apenas pela Constituição, mas também pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Nota-se que o governo que se elegeu com a bandeira da transparência e honestidade, contrariando suas promessas de campanha, visa transformar, cada vez mais, a administração pública em um bunker inacessível à população, onde uma minoria de sujeitos, majoritariamente composta por abastados homens brancos, que não representam a diversidade, tampouco a realidade socioeconômica da população brasileira, unilateralmente instituem regras, alheios às reais necessidades do povo.

Em que pese o principio da discricionariedade da administração publica, que na prática é o poder de exercer atos de interesse da administração, conforme quesitos de conveniência, oportunidade e justiça, referido princípio não é absoluto, encontrando limites na lei e acima de tudo na Constituição. Uma vez verificado que a discricionariedade foi exercida de maneira ilegal, ou abusiva, os atos decorrentes de seu exercício deverão ser anulados, seja de ofício por quem o editou, seja por apelo à prestação jurisdicional.

Por fim, o Cidadania, por meio do Diversidade 23, manifesta sua indignação e repúdio à edição do Decreto nº 9759, de 11 de abril de 2009, que pelas razões apontadas se reputa eivado de inconstitucionalidade, além de atentar contra o exercício direto da democracia pelos cidadãos e, ainda, claramente visar silenciar a voz das minorias. Confia-se que os demais Poderes da República não se curvarão aos desmandos do Governo, que visam corroer o Estado Democrático de Direito e se manterão ativos e vigilantes, adotando as devidas ações para correção da arbitrariedade contra a qual aqui se insurge.

Brasília, 12 de abril de 2019.

Diversidade 23

Daniel Coelho defende autonomia do BC e rebate Ciro Gomes

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O líder do Cidadania na Câmara, deputado federal Daniel Coelho (PE), criticou nesta sexta-feira (12) a postura do ex-ministro e candidato a presidente em 2018 Ciro Gomes (PDT). Após o governo Bolsonaro assinar o projeto de lei que dá autonomia ao Banco Central, o pedetista chegou a dizer que a medida pode “destruir a sustentação do povo brasileiro”. Na visão do deputado, no entanto, é a manutenção da instituição “nas mãos dos políticos” que causa prejuízos ao País.

A afirmação de Ciro foi feita nesta quinta-feira (11), na sede nacional do PDT, em Brasília, logo após o presidente Jair Bolsonaro anunciar a medida, em solenidade no Palácio do Planalto.

“Se começar a privatizar os dois últimos bancos públicos e entregar o Banco Central ao predomínio do sistema financeiro, simplesmente se está destruindo a sustentação do povo brasileiro. Isso é daqueles casos de a gente ir para a rua e quebrar tudo”, afirmou Ciro.

Já na visão de Daniel Coelho, o controle do banco por parte do poder público serve “para fazer populismo” em ano de eleição.

“Bom é o Banco Central na mão dos políticos para fazer populismo em ano de eleição! Quando Marina [Silva] fez essa proposta em 2014, também foi duramente atacada pelos velhacos. Parece ser uma regra desse time: ‘se funciona no mundo democrático, não façam por aqui, vai que dá certo também’”,  escreveu o líder do Cidadania em sua conta no Twitter.

Segundo especialistas, a autonomia deve favorecer a redução da taxa de juros do Brasil e aumentar a capacidade de planejamento dos investidores. José Julio Senna, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), que já foi diretor do Banco Central, é um dos que pensam dessa forma. Em sua tese, a medida reduzirá as chances de mudanças na política monetária do País, diminuindo a sensação de risco.

Projeto de Carmen Zanotto que dá prazo ao SUS para diagnóstico de câncer será votado pelo Senado nesta terça-feira

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O projeto de lei que garante aos pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) com suspeita de câncer o direito a biópsia no prazo máximo de 30 dias, contados a partir do pedido médico, será votado pelo plenário do Senado Federal, na próxima terça-feira (16).

De autoria da deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania-SC), a proposta (PLC 143/2018) determina que o limite de até 30 dias valerá para os exames necessários nos casos em que a neoplasia maligna (termo médico que se refere aos tumores cancerígenos) seja a principal hipótese do médico.

“A aprovação deste projeto avança na luta dos milhares de pacientes que aguardam nas filas do SUS para garantir que os exames que confirmem o diagnóstico desta doença terrível sejam realizados o mais rápido possível, afirmou a deputada, que preside a Frente Parlamentar Mista da Saúde do Congresso Nacional.

Segundo a parlamentar do Cidadania, o objetivo é acelerar ainda mais o acesso a medicações e cirurgias necessárias pelos pacientes. Ela avaliou que a falta de prazo também para os exames diagnósticos é uma lacuna na lei atual.

O PLC 143/2018 faz parte da pauta prioritária da bancada feminina. O relator da matéria na CAS  (Comissão de Assuntos Sociais ),  senador Nelsinho Trad (PSD-MS), ressaltou que o momento da detecção do câncer impacta decisivamente no percentual de pessoas que morrem por causa da doença.

“Lei dos 60 Dias”

O projeto complementa a lei que já estipula o início do tratamento pelo SUS em no máximo 60 dias a partir do diagnóstico do câncer (Lei 12.732, de 2012), também de autoria da deputada Carmen Zanotto.

Estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer) apontam que 300.140 novos casos foram registrados entre os homens e 282.450 entre as mulheres, somente em 2018. Já os últimos dados de mortalidade por câncer disponíveis apontam para 107.470 homens e 90.228 mulheres no ano passado.

IBGE: Setor de serviços registra queda de 0,4% em fevereiro

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Após crescer 0,8% em dezembro, o setor de serviços caiu pela segunda vez consecutiva em fevereiro (-0,4%), na comparação com janeiro. O resultado eliminou o ganho do fim de 2018, uma vez que janeiro já havia sido negativo (-0,4%), acumulando perda de 0,9% no primeiro bimestre. Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), divulgada nesta sexta-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“Junto com a queda em janeiro, essa baixa elimina por completo o avanço que havia ocorrido em dezembro (0,8%). Com isso, o setor permanece oscilando nesse patamar de volume 11,4% abaixo do pico da série, que aconteceu em janeiro e novembro de 2014”, explica o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.

“O fato é que não conseguimos observar nenhum tipo de recuperação mais consistente para o setor de serviços”, complementa.

A pesquisa identificou queda em três das cinco atividades analisadas pela PMS, como transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (-2,6%), outros serviços (-3,8%) e serviços prestados às famílias (-1,1%). Os serviços profissionais, administrativos e complementares mostraram estabilidade e o único que obteve alta foi o de informação e comunicação (0,8%).

“O setor de transportes lidera em termos de impacto negativo no índice geral, sendo a terceira taxa negativa seguida. É a queda mais intensa dessa atividade desde julho de 2018. Houve pressão do transporte aéreo de passageiros, também pela alta em janeiro, ainda que, em tese, o ajuste sazonal sirva para compensar um pouco disso”, explica Rodrigo.

“O segundo impacto negativo é o de outros serviços, que é extremamente heterogêneo. Houve recuo na atividade imobiliária e de serviços financeiros auxiliares, que inclui a administração de bolsa de valores. Já os Serviços prestados às famílias recuaram 1,1%, praticamente eliminando o ganho entre outubro de 2018 e janeiro. A pressão negativa veio principalmente de restaurantes e hotéis”, completa o gerente da pesquisa.

Contudo, quando analisado outros tipos de comparações, o setor de serviços apresentou alta de 3,8% quando comparado ao mesmo período de 2018. Além disso, houve alta de 2,9% no acumulado do ano e de 0,7% no acumulado de 12 meses.

Rodrigo, porém, lembra que houve impacto do calendário no resultado positivo de fevereiro.

“Tivemos dois dias a mais em fevereiro de 2019, contra 18 do ano passado. Isso propicia a realização de um maior número de contratos de prestação de serviços. Se tivéssemos o mesmo número de dias, o crescimento seria de 0,9%, uma taxa positiva, mas bem menos intensa que essa de 3,8%”, disse.

O acumulado dos dois primeiros meses de 2019 também mostrou variação positiva em relação ao bimestre inicial de 2018 (2,9%). É a primeira taxa positiva na comparação deste período desde 2014. O acumulado nos últimos 12 meses, por sua vez, ficou em 0,7%, ponto mais alto desde março de 2015.

A receita nominal dos serviços teve queda de 0,4% na comparação com janeiro e altas nas outras comparações: 6,5% em relação a fevereiro de 2018, 6% no acumulado do ano e 3,6% no acumulado de 12 meses (Com informações do IBGE e agências de notícias)

Quando a paródia do #Olhar23 não supera o realismo fantástico das bolhas ideologizadas e idiotizadas

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Se você achava que surrealismo ou realismo fantástico fossem apenas movimentos artísticos ou gêneros literários, estava bastante enganado. É porque não tínhamos vivido ainda essa inigualável experiência da eleição de Jair Bolsonaro, o meme que virou presidente.

É disso que trata a realidade paralela do #Olhar23. Um olhar crítico, bem humorado, irônico e irreverente sobre as sandices do bolsonarismo, esse fundo de poço atingido pela nossa política. Uma parceria do #BlogCidadania23 e do #ProgramaDiferente (veja abaixo) que traz alguns personagens lunáticos e típicos dessa nova era das bolhas ideologizadas, idiotizadas e retrógradas.

Afinal, quem são Salvador Dalí, Luis Buñuel ou André Breton para quem tem Damares Alves, Ernesto Araújo e Vélez Rodriguez ou Abraham Weintraub, a dupla “seis por meia dúzia” da Educação? Pra que perder tempo com a obra de Gabriel García Márquez se temos as lives de Olavo de Carvalho?

Quem ainda se espanta com as aberrações de novelas como O Sétimo Guardião, Roque Santeiro e Saramandaia, ou de cidades fictícias como Tubiacanga, Serro Azul, Greenville, Resplendor e Asa Branca, depois de conhecer a Brasília dos Bolsonaros ou o Rio de Janeiro de Crivella, Witzel e da gangue de governadores presos, além de outras tragicomédias diárias tipicamente brasileiras?

Pois então venha conhecer o Bolsominion que comemora o aumento da pontuação da Carteira de Habilitação, ideia genial de Bolsonaro para proteger motorista infrator da “indústria de multas”; ou o Olavista que comenta a entrevista do guru Olavo de Carvalho no programa Conversa com Bial, recebendo ainda a crítica da Intelectual Petista. Quando a realidade é mais ridícula que a paródia, estamos f******.

Elena Landau: Peter Pan

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Aqueda da aprovação do governo Bolsonaro, confirmada em mais uma pesquisa, vem acompanhada de revisão para baixo nas projeções de crescimento para este ano. Não é mera coincidência. Gastou-se rapidamente o cacife político de um primeiro mandato e as expectativas empresariais refletem esse desgaste: PIB abaixo de 2%. Planos de investimentos parecem estar em suspenso até que o cenário sobre a possibilidade de aprovação da reforma da Previdência fique mais claro.

O governo tenta reagir criando uma pauta positiva com anúncios dos bons resultados nos leilões de concessões e importantes avanços na agenda da desburocratização. O Congresso, por sua vez, colocou a reforma tributária na pauta. Pelo jeito, não querem ficar a reboque do governo. O secretário Marcos Cintra foi pego de surpresa e suas ideias foram atropeladas, o que não é de todo ruim.

A proposta que está na mesa é a de Bernard Appy, do CCiF. Boa notícia, porque seu projeto de simplificação do sistema tributário em torno do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) foi apresentado aos candidatos nas eleições e longamente debatido por especialistas da área ano passado. É meio caminho andado. Que a mudança venha rápido, já que, frente à estagnação, a tentação de se apelar para incentivos setoriais é grande.

Parece incrível que, mesmo após o desastre da política de desonerações e subsídios via BNDES do governo Dilma, em pleno 2019 essas ideias voltem a circular. O governador João Doria, assessorado por Meirelles, não hesitou em usar o ICMS para manter a fábrica da GM em São Paulo. Mesmo se autointitulando a modernidade do PSDB, recorreu ao que há de mais velho na política industrial brasileira: incentivos fiscais para automóveis.

Não há apelido que resolva, não existe inovação alguma. Continua sendo uma atividade que, apesar de todo apoio recebido do Estado, isto é, dos pagadores de impostos, não consegue produzir carros que tenham competitividade internacional. O que já se gastou de dinheiro do contribuinte, nacional ou estadual, com apoio à indústria automobilística certamente seria melhor empregado em transportes públicos alternativos, menos poluentes. Recente tese de doutorado*, defendida na PUC/RJ, calcula que o trabalhador brasileiro leva em média 84 minutos indo e vindo de casa para o trabalho.

Para uma jornada de 8 horas, ele gasta 17% só neste deslocamento. Mas vamos colocar mais carros nas ruas. As razões para incentivos localizados feito esse são sempre as mesmas: salvar empregos que seriam perdidos com o fechamento da fábrica. Uma decisão de curto prazo para dar fôlego a uma atividade que não consegue sobreviver em ambiente competitivo. Evidente que a preservação de postos de trabalho é importante.

Porém, mais relevante é a criação de empregos de alta produtividade, beneficiando os trabalhadores em geral. Em vez de dar benefícios fiscais à GM, por que não diminuir o ICMS sobre energia ou telecomunicações, por exemplo. Um corte de impostos horizontal que beneficiaria toda a economia paulista, além de reduzir o peso desses serviços no orçamento familiar. Um dos grandes efeitos positivos da unificação em torno do IVA é acabar com a possibilidade de guerra fiscal que uma política como a de Doria pode gerar.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, em recente entrevista reclamou de forma veemente e deu seu recado. Mas São Paulo não é caso isolado. O uso de incentivos é mais generalizado do que se imagina. Um exemplo importante é a Zona Franca de Manaus que em 2014 obteve uma prorrogação constitucional até 2073, sem qualquer avaliação técnica e isenta dos benefícios gerados por uma renúncia fiscal anual de R$ 20 bilhões anuais.

Há no STF uma demanda para que o IPI não pago gere um crédito tributário a quem comprou insumo produzido lá. Isso mesmo, um crédito tributário com base em um imposto que não foi pago! Se vencedora, essa tese, serão mais R$ 16 bilhões. Para justificar o injustificável começaram a divulgar a ideia de que Zona Franca é um importante cinturão de proteção ambiental, sem que haja um único estudo consistente a apoiar o argumento.

Para se ter ideia do que significam esses recursos concentrados para poucas empresas numa única região, basta dar uma pesquisada rápida no orçamento federal e ver gastos sociais que beneficiam milhões de brasileiros em todo o país todo, como: Bolsa Família (R$ 30 bilhões), Fundeb (R$ 13 bilhões) ou Abono Salarial (R$ 17 bilhões). As indústrias na Zona Franca, assim como a automobilística em SP, se recusam a amadurecer.

Pelo jeito, serão indústrias nascentes pelo resto da vida. Sofrem da síndrome de Peter Pan. É compreensível, crescer não é fácil. *Para um bom resumo da tese, ver artigo de Maína Celidonio, “Mobilidade Urbana”, Estudo Estratégico, Observatório Sebrae, março 2019. (O Estado de S. Paulo – 12/04/2019)

Ives Gandra da Silva Martins: Parlamentarismo: realidade ou utopia?

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As sucessivas crises que o regime presidencial adotado pela Constituição de 1988 gerou levaram a Academia Internacional de Direito e Economia e o Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP a editar livro sobre o sistema parlamentar de governo, que contou com a participação de 26 professores de diversas universidades e do relator da Assembleia Constituinte, Bernardo Cabral. Pode ser acessado graciosamente no site www.gandramartins.adv.br.

Por ter sido o coordenador da obra, o estudo introdutório foi por mim redigido, seguido daquele do relator da Lei Suprema. Nele procurei mostrar a evolução do exercício do poder, através da história, com quatro momentos fulcrais para o Ocidente. São eles: a elitista democracia ateniense, onde desaguaram as principais escolas filosóficas da civilização grega; a instrumentalização do direito para a conquista dos povos da civilização romana; a introdução do sistema parlamentar na Inglaterra em 1688-1689; e a implementação do sistema presidencial nos Estados Unidos (1776-1787).

Durante o século 19, tais sistemas influenciaram a política europeia e a dos países que se tornaram independentes.

O Brasil, que conheceu um estável parlamentarismo durante o Império, veio, com a Carta Magna de 1891, a adotar o presidencialismo, nos moldes americanos, por decisiva influência de Rui Barbosa. Sofreu tal sistema duas rupturas de monta (193 0 e 1964) e inúmeras tentativas frustradas de rompimento.

Todos os países latino-americanos que seguiram o modelo norte-americano, no período, sofreram também violações constantes e continuam sofrendo até hoje, com ditaduras que renascem a todo momento, como a da Venezuela.

Lijphart escreveu, em 1984, livro intitulado “Democracies: Patterns of Majoritarian and Consensus Government in Twenty-one Countries” — a meu ver ainda o melhor a comparar os dois sistemas de governo, que muitos preferem apenas a denominação de regimes —, encontrando entre os países de expressão que não sofreram rupturas institucionais depois da Segunda Guerra Mundial 19 nações parlamentaristas e uma presidencialista (Estados Unidos).

Ao verificar, à luz de 18 critérios distintos, a governança e a razão do sucesso do sistema parlamentar, anotou principalmente a separação dos chefes de governo e de Estado, inexistente no presidencial, e o fortalecimento de partidos políticos, que permite o florescer de carreiras políticas, com congressistas eleitos comprometidos com suas ideias.

Uma das grandes características do sistema parlamentar é a responsabilidade do governante: eleito o primeiro-ministro, ele só continua no poder se for responsável. Em caso contrário, o voto de desconfiança poderá afastá-lo — algo impossível no sistema presidencial, em que o processo “traumático” do impeachment, só possível em hipóteses restritas, paralisa a nação enquanto o pedido tramita pelo Parlamento.

De rigor, o sistema parlamentar é o da “responsabilidade a prazo incerto”, pois eleito um irresponsável cairá sem traumas. E, eleito um responsável, poderá continuar longamente no poder — como ocorreu com Margaret Thatcher, por 11 anos a primeira-ministra britânica.

O sistema presidencial é o da “irresponsabilidade a prazo certo”. Eleito um irresponsável haverá a necessidade de tolerá-lo ou afastá-lo com a dolorosa solução do impeachment. De 5 presidentes eleitos depois de 1988, já tivemos 2 impeachments.

O livro foi editado antes da eleição do atual presidente da República, que, nestes primeiros tempos, ainda está em fase de ajustes de sua equipe, não representando, o presente artigo, qualquer juízo de valor sobre o seu governo.

É que, como velho parlamentarista — presidi em São Paulo, antes de deixar a política em 1965, o único partido favorável ao sistema (Partido Libertador) —, continuo, aos 84 anos, fiel às minhas preferências da juventude. (Folha de S. Paulo – 12/04/2019)

Ives Gandra da Silva Martins, advogado e professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra