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Arnaldo Jardim: O PRA precisa avançar

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O Programa de Regularização Ambiental (PRA) voltou a ganhar atenção com a Medida Provisória (MP) 867/2018, que estende até 31 de dezembro de 2019 o prazo para adesão, terminando em 31 de dezembro de 2018. A comissão mista da MP já aprovou seu plano de trabalho e realiza na próxima quarta-feira (10) audiência pública para debater a proposição.

A discussão da MP é oportunidade para detalhar e assim consolidar juridicamente artigos do Código Florestal. Há muito tempo queremos que o Código Florestal seja efetivamente implementado. Sabermos que se trata de uma legislação completa, detalhada e moderna. Demonstra que a defesa do meio ambiente é compatível com a produção de alimentos.

Beneficia desde a agricultura de alta escala até os pequenos produtores rurais, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais e assentados da reforma agrária, todos abrangidos pelo Código Florestal.

A demora do STF em julgar arguições do Ministério Público, retardou a implantação do Código e assim comprometeu a recuperação ambiental. Também houve falhas dos próprios governos (federal e estaduais). É urgente caminhar com esta questão porque, ao contrário do que muitos insistem em afirmar, a produção agrícola pode se harmonizar com preservação e ninguém cuida mais dos recursos naturais do que o nosso agricultor.

Muito se fala em desmatamento, vamos aos fatos utilizando os números do Cadastro Ambiental Rural (CAR) nacional, levantamento feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

De toda a extensão territorial brasileira, as plantações estão presentes em apenas 7,8% das terras. 25,6% são formados por áreas destinadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais. Ou seja, há mais que o triplo de espaços preservados do que cultivados nas propriedades rurais.

Soma-se ainda: as pastagens nativas representam 8%, as plantadas chegam a 13,2%; as unidades de conservação integral chegam a 10,4% do território brasileiro; 13,8% das terras brasileiras são de reservas indígenas e 16,5% são de vegetação nativa em terras devolutas e não cadastradas.

É preciso destacarmos isso: a área destinada à vegetação protegida e preservada é de 66,3% – dois terços do Brasil inteiro. Temos ainda mais vegetação com as florestas plantadas, que ocupam 1,2% do território. Já a infraestrutura preenche 3,5% do País.

Fazendo um comparativo, o total de áreas protegidas, preservadas e não cadastradas equivale à superfície de 48 países da Europa. Não é mais possível colocar sob os ombros do agricultor a deterioração do planeta.

É preciso, portanto, valorizar e defender o homem do campo de ataques ideológicos e sem critérios. São “fake news” que atrapalham este setor econômico brasileiro que há anos só apresenta resultados positivos. Citando apenas dois exemplos: nos próximos 10 anos, nossa produção de grãos deve crescer 30% e a de carnes 27%.

O PRA é um atestado de sustentabilidade da nossa produção para o mundo, extremamente relevante para alcançar novos mercados internacionais. Ao mesmo tempo, atrai investimentos de importantes players mundiais que exigem sustentabilidade pra firmar parcerias.

No Estado de São Paulo, temos uma Lei, que fundamenta o Programa, aprovada já há muito tempo pela Assembleia Legislativa. Ela ainda aguarda julgamento pelo TJ/SP para poder ser implantada. Atraso causado – mais uma vez – pela intervenção do Ministério Público, quem perde com a indefinição é o produtor rural e o meio ambiente.

Participei recentemente, em Sertãozinho, do fórum “Soluções Agroambientais”, organizado pela Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo) e que apresentou inovações importantes para esta harmonização entre meio ambiente e agricultura. Um dos destaques é a parceria com o Legado Das Águas Votorantim para a compensação da reserva legal e destaco a participação do Secretário Marcos Penido representando o Governo Dória.

A Canaoeste também lançou seu aplicativo para agilizar a comunicação de incêndio, fazer o check-list das adequações da propriedade com relação ao programa de prevenção a incêndios e servir de ponte para a comunicação entre associação e associado, numa demonstração de proatividade que merece ser saudada.

O setor tem feito sua parte, agora precisamos definitivamente caminhar com o PRA e mostrar que o agricultor brasileiro é capaz de fornecer não apenas alimento, mas também oxigênio, água, solo. O agricultor gera emprego, renda, riqueza, sustentabilidade e merece nosso apoio, nossa confiança!

Arnaldo Jardim é deputado federal pelo Cidadania de São Paulo

Fernando Gabeira: Pobre Brasil do aqui e agora

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O que fazer quando o presidente e o chanceler de seu país dizem, em Israel, que o nazismo foi um movimento de esquerda? O ideal é dar de ombros e seguir na vida cotidiana. Essas afirmações bombásticas são feitas para provocar debate. Não tenho tempo para ele. Sinto muito pelos professores de História no Brasil. Terão de explicar como um movimento de esquerda invadiu a União Soviética, uma espécie de meca da esquerda mundial naquele período. E como milhões de pessoas morreram a partir desse fogo amigo. Os professores de História terão de se consolar com os de Geografia, que ainda acham que a Terra tem uma forma arredondada. São colegas com uma tarefa mais dura: explicar que a Terra não é plana, como querem os novos ideólogos.

Estamos passando por uma revisão completa. Seus autores se acham geniais. O chanceler Ernesto Araújo disse que o nazismo é de esquerda, dentro do Museu do Holocausto, em Israel. Ali, o nazismo é considerado um movimento de extrema direita. Mas o chanceler disse que há teorias mais profundas. Os judeus, que sofreram com o nazismo e ergueram um museu para lembrar suas vítimas, são superficiais: ainda não descobriram a verdade das obscuras teorias conspiratórias que embalam o governo brasileiro. A direita embarca na canoa usada pela esquerda no passado recente. Não há mais respeito às evidências ou provas científicas. O que importa é a versão. Não houve desvio de dinheiro público, apenas procuradores e juízes perseguindo honestos políticos.

Eles convergem na tentativa de conformar os fatos às suas convicções ideológicas. O que foi aquela gritaria na Câmara? Nada mais que uma aversão compartilhada à palavra tchutchuca. Suspeito que direita e esquerda são machistas da mesma maneira que suspeito que a Terra seja arredondada, e o nazismo tenha sido um movimento de extrema direita. Tenho pavor dessas gritarias noturnas na Câmara. Na minha época descobri: servem apenas para prejudicar o sono. Saem todos tensos e irados e têm dificuldade em dormir. Só isso. Uma reforma da Previdência é coisa séria. É possível alterar a proposta do governo. Mas é muito difícil negar a importância de alguma reforma, antes que a Previdência quebre como na Grécia.

Há mais de um século a esquerda desenvolve suas técnicas de provocação. Guedes precisa mais que o curso de alguns dias para enfrentá-la com êxito. Minha experiência mostra que nessas constantes trocas de insultos, sempre alguém vai insinuar que o outro é gay. Com o tempo, certas pessoas se acostumam. É o meu caso. Tive a sorte, como na música de Cazuza, de ser chamado de viado e maconheiro. O único problema era ser chamado de apenas um desses dois nomes. Ficava esperando o outro como se estivesse faltando algo. É como a piada de um homem que vivia no andar de baixo, e todas as noites o vizinho de cima chegava meio bêbado e tirava as botas ruidosamente. O homem reclamou. O bêbado voltou do botequim, jogou a bota esquerda com força, mas se lembrou do vizinho. Tirou a bota direita com muito cuidado, silenciosamente. O vizinho de baixo não dormiu esperando que ele jogasse a outra.

Todas aquelas pessoas xingando as outras na Câmara: não há nada de pessoal naquilo. Apenas histeria política. É preciso superar logo essa fase de sensibilidade à flor da pele. Entender que é o país que está em jogo. E não depende apenas da reforma da Previdência. A política externa toma um rumo radical, sem que o tema seja discutido adequadamente no Congresso. Nesse sentido, é uma política tão autoritária como a que nos ligou ao bolivarianismo. Não expressa a visão nacional.

O Ministério da Educação não funciona. Todos as semanas demitem e contratam. A ida do ministro Vélez à Câmara mostrou que não tem projeto. Exceto o de reescrever sua parte da história do golpe militar. Ele é modesto diante do chanceler que quer reescrever a história da Segunda Guerra Mundial e levar sua mensagem cristã a todos os recantos do mundo. O velho cardeal Richelieu já dizia no século XVII: o homem é imortal, sua salvação está no outro mundo. O Estado não dispõe de imortalidade: sua salvação se dá aqui ou nunca. (O Globo – 08/04/2019)

Fernando Exman: Cem dias, momento de reflexão e inflexão

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A marca dos 100 dias do mandato do presidente Jair Bolsonaro chega, para autoridades do próprio governo, como uma oportunidade para a reflexão em relação ao que foi realizado até agora, como foi feito e o que precisa mudar. Algumas dessas mudanças já são palpáveis. Outras ainda estão em gestação, mas todas elas são consideradas essenciais por auxiliares do presidente para que o Executivo consiga melhorar a sua imagem entre os eleitores que não se consideram bolsonaristas e mantenha um ambiente de otimismo entre empresários e investidores.

A avaliação das realizações feitas nos primeiros 100 dias de governo é uma tradição americana e passou a ser utilizada como referência em outros países, inclusive no Brasil. No entanto, a efeméride acabou se transformando numa armadilha política que o próprio Palácio do Planalto criou e agora está tentando desarmar.

Em janeiro, no afã de esfriar o noticiário negativo sobre movimentações financeiras suspeitas envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), um dos filhos do presidente, a Casa Civil reuniu a imprensa para divulgar um conjunto de 35 metas prioritárias para os primeiros 100 dias de governo. Bolsonaro estava fora do país, participando do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e de pronto o documento passou a receber críticas por não ter sido formatado com outras do governo e excluir a reforma da Previdência Social. Justamente a proposta – e promessa de campanha – mais aguardada pelo mercado.

Na prática, o governo acabava de criar uma referência para a cobrança de suas realizações. Com isso, facilitou o trabalho de uma oposição que até hoje se preocupa mais em discutir como se organizar no Congresso e manter a campanha de libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que monitorar para valer o trabalho do Executivo.

Deve-se ponderar que a divulgação da agenda pode ser defendida como um avanço na prestação de contas e transparência do setor público. Por outro lado, ela acabou levando o próprio governo a ter que transformar uma data que poderia ser de apresentação de resultados concretos em mais uma plataforma de anúncios e compromissos a serem efetivados.

Entre as metas divulgadas, algumas atenderam diretamente ao eleitorado bolsonarista, como o decreto que facilitou o acesso a armas, o projeto de lei anticrime e a retirada do Brasil do padrão de passaporte do Mercosul. Outras obtiveram – e com justiça – um reconhecimento mais amplo, como os leilões da área de infraestrutura e a redução de cargos de confiança na máquina federal.

No entanto, nesse período Bolsonaro preferiu apostar na defesa de pautas capazes de animar sua militância, mas que não tinham relação direta com as metas prioritárias de seu próprio governo. Essa mesma agenda acabou colocando a Presidência como alvo de críticas e no epicentro de uma série de polêmicas. Foi o que ocorreu, por exemplo, com as discussões sobre a orientação ideológica do nazismo, o comportamento do folião no Carnaval, a narrativa do golpe militar e até mesmo a utilidade do horário de verão.

Nesse ritmo, Bolsonaro acabará colocando entre suas prioridades outras bandeiras caras à ala ideológica de seu governo, como a substituição das urnas eletrônicas, o abandono das regras do acordo ortográfico e até mesmo o fim da tomada de três pinos. Corre o risco de perder a chance de investir seu capital político na necessária aprovação da reforma da Previdência.

Há no governo quem mire outras frentes de batalha. Não é à toa, portanto, que na área de comunicação do governo ocorre mais uma mudança, justamente às vésperas da marca dos 100 dias, com a alteração do perfil da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Antes focada na busca por irregularidades em contratos assinados por gestões anteriores, agora a Secom deve tratar de ampliar a audiência do presidente, que tem usado as redes sociais como principal plataforma de divulgação de suas ideias, projetos e realizações. Isso porque cresce a pressão no governo para que Bolsonaro use mais sua prerrogativa de presidente da República e aproveite a capilaridade da rede nacional de rádio e televisão para levar sua imagem e seu discurso a toda população.

Outra crítica interna feita à estratégia até então adotada foi a ausência de viagens nacionais na agenda do presidente, pendência que tende a ser resolvida em breve. Até o momento, Bolsonaro privilegiou viagens internacionais ou compromissos fora do Palácio do Planalto quase sempre relacionados às Forças Armadas. Agora, estão previstas uma viagem para Campina Grande (PB) e outra para a região Norte, onde poderão ser lançadas medidas concretas relativas às metas fixadas para os 100 dias, como o 13o salário para beneficiários do Bolsa Família e iniciativas para o desenvolvimento de tecnologias de dessalinização de água.

No Planalto, outro objeto de questionamento é o processo de tomada de decisão do presidente. “A gente acha que convenceu ele de manhã e à tarde volta tudo como antes”, lamenta um assessor.

O mandato de Bolsonaro está apenas no início. Há tempo suficiente para mudanças de rota, mas é preciso senso de urgência devido às preocupantes perspectivas de desaceleração da economia global e foco no que realmente importa: retomada do emprego e reativação da economia doméstica.

Ainda na época da transição entre os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, um experiente líder do Centrão projetava: o presidente eleito logo seria levado a entender que seu discurso contra os partidos políticos tradicionais fora útil na campanha eleitoral, mas poderia representar um entrava para seus planos no Congresso Nacional. “Em seis meses ele percebe, mas aí a conversa com a gente vai ser num patamar diferente”, dizia essa liderança. Levou menos tempo do que esperavam os líderes do Centrão. Bolsonaro os convidou para uma conversa no Palácio do Planalto depois de aproximadamente três meses de tomar posse. (Valor Econômico – 09/04/2019)

Fernando Exman é coordenador do “Valor PRO” em Brasília – E-mail: fernando.exman@valor.com.br

Rubens Bueno quer anular censura da Caixa contra lotéricos

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Rubens Bueno é autor do projeto aprovado em comissão da Câmara

O deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) apresentou nesta terça-feira (09) Projeto de Decreto Legislativo (PDL 99/2019) para retirar da Circular 816/2019 da Caixa Econômica Federal itens que na prática estabelecem uma espécie de censura contra os lotéricos de todo o Brasil. Pela regra estabelecida no documento que dispõe sobre a “Regulamentação das Permissões Lotéricas”, a instituição impede a livre manifestação de opinião dos lotéricos em relação a Caixa nas redes sociais ou qualquer outro meio. A desobediência ao item pode acarretar, inclusive, na revogação da permissão em caráter unilateral.

Na avaliação do parlamentar, a regra é uma verdadeira “lei da mordaça” que tenta sufocar o movimento reivindicatório dos lotéricos que há anos vêm lutando por melhores condições de trabalho e de negociação de contratos com a Caixa.

“Trata-se de verdadeiro cerceamento ao direito de livre expressão a todos os empresários lotéricos do Brasil. Por óbvio, não cabe a uma circular emitida pela Caixa limitar o direito à livre manifestação do pensamento e de livre expressão, previstos no artigo 5º de nossa Constituição Federal. Sem dúvida, esse item da Circular exorbita da intenção do documento de regulamentar as permissões lotéricas e, por essa razão, estamos pedindo a exclusão desse ponto do documento”, explica o parlamentar.

Rubens Bueno se refere, entre outros, ao item da circular, assinada no último dia 3 de abril, que estabelece que “o empresário lotérico não deve manifestar-se de forma lesiva à imagem da CAIXA ou das Loterias CAIXA, nas redes sociais ou em qualquer outro meio”.

Na avaliação do parlamentar, além de cercear o direito de livre manifestação, trata-se de uma regra de avaliação subjetiva que poderá servir para que a instituição “amordace” empresários que lideram um movimento justo que reivindica melhorias nas relações entre os lotéricos e a Caixa.

“Aqui na Câmara temos inclusive uma Frente Parlamentar em Defesa dos Lotéricos que luta pela revisão da relação contratual com a Caixa. As lotéricas são responsáveis pela distribuição, renda e bancarização da população deste país. A Caixa as utiliza para chegar à população e as transformou em agências bancárias, mas paga taxas abaixo das praticadas no mercado bancário”, explica.

Existem hoje no Brasil mais de 13 mil casas lotéricas. Elas empregam cerca de 70 mil trabalhadores, atendem 120 milhões de pessoas e, em muitas cidades, são o único estabelecimento disponível para a realização de serviços bancários.

No #ProgramaDiferente, o centenário do arquiteto Sérgio Bernardes

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O #ProgramaDiferente (veja abaixo) registra o centenário de nascimento do carioca Sérgio Bernardes, sua paixão pela arquitetura e o seu trabalho genial e revolucionário, realizado entre os anos 50 e os anos 90, e sempre tão atual. É interessante ainda notar o contraponto político e ideológico entre Sérgio Bernardes e seu sócio, parceiro e amigo mais famoso, Oscar Niemeyer. Será que tem polarização entre esquerda e direita até na arquitetura?

Cristovam Buarque: O monstro da corrupção

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Pouco adiante do discreto e quase escondido posto de combustíveis que deu origem ao nome da Operação Lava-Jato, está o monumental Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, ostensivamente visível a quem circula na região. Os dois prédios estão ligados pelo título desse marcante livro intitulado muito oportunamente Crime.gov, dos policiais federais Jorge Pontes e Márcio Anselmo. Enquanto o posto representa, simbolicamente, a operação que desvendou a corrupção de bilhões de reais, desviados sob a forma de propina, o estádio é o monumento, a prova física do sistema de corrupção no Brasil.

Muito tem sido escrito sobre corrupção no Brasil e, especificamente, sobre a Operação Lava-Jato. Por isso, quando decidi ler o Crime.gov, achei que seria mais uma obra, sem novidades. Mas ele vai muito além, como seus autores indicam em certo trecho, ao dizerem que, a partir de um certo momento das investigações, eles perceberam que estavam diante do pedaço de uma enorme baleia: o sistema e as consequências da moderna corrupção brasileira.

Como notícias na mídia, outros livros descrevem prisões, delações, malas com dinheiro em salas ou carregadas em saídas de pizzaria, mas o Crime.gov mostra o sistema político corrupto que se consolidou com um comando central, ramificações precisas em consolidada promiscuidade entre políticos e empresários; não apenas cobrando e pagando propinas, mas usando também outras formas de beneficiamentos; integrando o braço político e eleitoral com o braço executivo governamental, na definição de obras; e agindo em todo o território nacional e no exterior, tanto em governos quanto em obras, nos mostra a maldita baleia do Estado corrupto. Por isso, é um livro que deve ser lido e divulgado para esclarecer a dimensão dessa tragédia imoral e para evitar interpretações que tentam diminuir a gravidade da corrupção ou justificá-la com o indecente argumento que seu fim afeta negativamente a economia, viciada na propina como um adicto em cocaína.

O livro ilustra e nos desperta para o fato de que mesmo a baleia que eles descobriram a partir das ações em posto de gasolina ainda é uma parte do monstro que não foi mostrado em sua totalidade. Citando o Augustine Rujanda, os autores lembram que a corrupção provoca desperdícios, persistência e exacerbação do subdesenvolvimento e da pobreza, distorção das decisões gerenciais e afugenta investimentos. Mas o livro nos desperta para ver o monstro ainda maior das consequências do roubo de dinheiro público, não apenas ao beneficiar políticos corruptos, mas também ao sacrificar o povo e o país.

O Mané Garrincha ainda seria uma corrupção, mesmo que nenhuma propina fosse desviada para o bolso de políticos. O desperdício de quase R$ 2 bilhões para construção desse estádio, com sua monumentalidade, para jogos na Copa do Mundo, e praticamente inoperante após, é roubo de dinheiro público que deveria ter sido utilizado em saneamento básico para milhares de famílias que moram a poucos quilômetros de distância dele, ou para equipar escolas degradadas no Distrito Federal, ou melhorar a saúde e a segurança. Independentemente da corrupção no comportamento de políticos propineiros, o Mané Garrincha e centenas de outras obras no Brasil representam a “corrupção nas prioridades” da política inconsequente e descomprometida com os interesses públicos.

Da mesma maneira, perto do Estádio Mané Garrincha, o prédio do Ministério Público Federal, apesar de não pesar sobre ele qualquer denúncia de “corrupção de comportamento” em sua construção, e abrigar um serviço fundamental para o país, inclusive na luta pela moralidade pública, representa uma forma de corrupção. Porque o uso de dinheiro público para construir prédios luxuosos no meio da pobreza, da falta de moradia, representa uma “corrupção da ostentação”, que faz parte da ideia de Crime.gov. O uso de mordomias é “corrupção dos privilégios”, que rouba recursos públicos que poderiam atender às necessidades do povo, no lugar de pagar ajuda de aluguel para quem tem casa própria enquanto o povo não tem moradia decente.

O livro Crime.gov é uma excelente contribuição para o entendimento da baleia da corrupção no comportamento dos políticos, mas precisamos de outros que mostrem todo o monstro que caracteriza o sistema público, não apenas político, brasileiro nas suas diversas formas de corrupção. A leitura da obra de Jorge Pontes e Márcio Anselmo fica como um excelente livro que nos esclarece, nos horroriza e nos desperta. (Correio Braziliense – 09/04/2019)

Cristovam Buarque, ex-senador, professor emérito da UnB (Universidade de Brasília)

INSS paga R$ 640 milhões acima do teto a 5.239 beneficiários, diz jornal

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INSS gasta cerca de R$ 640 milhões por ano com benefícios acima do teto

Previdência – Levantamento feito a pedido do ‘Estadão/Broadcast’ mostra que há no Brasil 5.239 pessoas que recebem mais que o limite de R$ 5,8 mil do INSS, sobretudo anistiados políticos e ex-combatentes; o maior benefício chega a R$ 52,6 mil por mês

Idiana Tomazelli eAdriana Fernandes – O Estado de S. Paulo

O INSS gasta por ano cerca de R$ 640 milhões com o pagamento de benefícios acima do teto de R$ 5,8 mil. Um levantamento feito a pedido do “Estadão/Broadcast” mostra que apenas um beneficiário do Rio de Janeiro, um anistiado político, por exemplo, recebe por mês uma aposentadoria de R$ 52.661,88, o equivalente a quase 53 salários mínimos. No total, são 5.239 brasileiros que ganham acima do teto, números que chamam a atenção em um momento em que se discute o endurecimento das regras da aposentadoria por conta do rombo bilionário da Previdência.

Os anistiados estão entre as categorias de benefícios que seguem legislações específicas e que, por isso, não se submetem ao teto, como todos os aposentados e pensionistas da iniciativa privada. Também estão nesse grupo ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial, aposentadorias e pensões de ex-ferroviários e de aeronautas. O INSS também concede pensão especial a portadores da Síndrome da Talidomida, substância comercializada no Brasil e que acabou ocasionando má formação em bebês quando consumida por gestantes. Os valores das reparações ficam entre R$ 6,2 mil e R$ 10,1 mil mensais. Por outro lado, existem pensões previdenciárias por morte, aposentadorias por tempo de contribuição e por idade que também estão sendo pagas acima do teto.

Uma das pensões é de R$ 33.763,00 ao mês. Esses benefícios, por sua vez, deveriam estar sujeitos ao limite do regime do INSS e são alvo de uma reavaliação pelos técnicos do governo. No caso dos anistiados políticos, há ainda uma questão extra, que o governo agora tenta reverter: hoje, eles não pagam contribuição previdenciária. Pela proposta da equipe econômica, eles passariam a recolher nos mesmos termos aplicados ao regime de servidores civis da União – ou seja, sobre a parcela que ultrapassa o teto do INSS. Com isso, eles pagariam uma alíquota progressiva que pode chegar a 22%, quando o benefício exceder R$ 39 mil.

Ao todo, são 378 beneficiários entre aposentados e pensionistas de anistiados que ganham acima do teto do INSS e passariam a recolher a contribuição. Eles custam aos cofres públicos R$ 82,8 milhões ao ano. “Embora não seja um benefício previdenciário, como também não são a inatividade e pensão militares, é um benefício similar, e, para sermos justos com todos, também devem contribuir”, defende o secretário de Previdência do Ministério da Economia, Leonardo Rolim.

O Rio é o Estado que mais concentra benefícios acima do teto, com 1.157 beneficiários. Em São Paulo, são 1.125. “Todos os benefícios que não sejam abrangidos por legislação especial e que estejam sendo mantidos em valores acima do teto do RGPS estão sendo objeto de análise de conformidade pela Diretoria de Benefícios do INSS”, afirmou o órgão ao Estadão/ Broadcast.

Previdência: Relator apresenta nesta terça-feira parecer na CCJ da Câmara

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O relator da reforma da Previdência (PEC 9/19), deputado federal Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), apresenta nesta terça-feira (9) o parecer na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara. O texto terá a admissibilidade analisada, verificando se está dentro do previsto pela Constituição. O mérito será discutido por uma comissão especial.

A proposta da reforma da Previdência é considerada prioritária pelo governo federal. Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi à CCJ defender a reforma.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o deputado federal Marcelo Freitas durante reunião com parlamentares do Partido Social Liberal (PSL).

Segundo Guedes, a proposta pode ser comparada ao sistema de repartição simples – em vigor hoje e no qual os trabalhadores pagam os benefícios dos aposentados – a um avião sem combustível que se dirige para alto-mar.

O presidente Jair Bolsonaro, em várias ocasiões, afirmou que, sem a reforma, será insustentável o sistema a partir de 2022. Guedes reiterou a afirmação do presidente da República.

Tramitação

A proposta será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, que se pronunciará sobre sua admissibilidade, no prazo de cinco sessões do plenário. Nesta fase, a CCJ analisa basicamente se a proposta fere alguma cláusula pétrea da Constituição, como direitos e garantias individuais, separação dos Poderes.

Na comissão especial, será examinado o mérito da proposição. Essa comissão terá o prazo de 40 sessões do plenário, a partir de sua formação, para aprovar um parecer.

Somente na comissão especial poderão ser apresentadas emendas, com o mínimo de 171 assinaturas de deputados cada uma, no prazo de dez sessões do plenário.

Após a publicação do parecer e intervalo de duas sessões, a proposta será incluída na ordem do dia do plenário, onde será submetida a dois turnos de discussão e votação.

Entre os dois turnos, há um intervalo de cinco sessões do plenário. Para ser aprovada, a proposta precisa ter, em ambos os turnos, 3/5 dos votos dos deputados (308), em votação nominal.

Em seguida, o texto vai para o Senado onde será submetido a uma nova tramitação. Uma vez aprovado pelos senadores, o texto será promulgado pelo Congresso Nacional, tornando-se uma emenda à Constituição. (Agência Brasil)

Sergio Moro vai ao Senado para debater pacote anticrime com Marcos do Val

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Moro vai ao Senado debater pacote anticrime com um dos relatores da proposta

Responsável por analisar o endurecimento do Código Penal, Marcos do Val (PPS-ES) disse ter sofrido ameaças

Amanda Almeida – O Globo

Depois de registrar ter sofrido ameaças anônimas, o relator de um dos projetos do pacote anticrime, Marcos do Val (PPS-ES), recebeu, nesta segunda-feira, a visita do Sergio Moro (Justiça) para discutir pontos do texto. O senador é responsável pela parte do pacote que trata do endurecimento do Código Penal. Ele não quis adiantar pontos do seu relatório, mas destacou que concorda com a prisão depois de condenações em segunda instância, prevista na proposta de Moro.

– Hoje, se prende muito, mas se prende mal. Então, é importante o regime fechado na segunda instância para que a gente possa colocar os grandes criminosos presos – disse o senador.

O pacote anticrime foi protocolado por Moro na Câmara. Como o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a prioridade dos deputados é a reforma da Previdência, um grupo de senadores, liderados por Eliziane Gama (PPS-MA), consultou o ministro sobre apresentar no Senado textos idênticos aos três projetos dele. Moro deu aval e a senadora protocolou as propostas há duas semanas.

Na Câmara, o texto que faz alterações no Código Penal é analisado por um grupo de trabalho. O relator, Capitão Augusto (PR-SP), admitiu retirar da proposta a previsão de prisão após condenação em segunda instância judicial. Isso porque o tema divide os deputados, o que, para ele, pode travar a discussão sobre todo o pacote.

Marcos do Val disse que pedirá audiências públicas com especialistas sobre o projeto, antes de apresentar seu relatório. Ele prevê que entregará o seu parecer em maio. Segundo ele, Moro ouviu as sugestões de alteração em trechos do projeto e não demonstrou resistência. O senador diz ainda que Moro está “otimista” com uma tramitação mais rápida dos seus projetos no Senado.

– Ele está mais otimista que aqui vai tramitar mais rápido, até porque, na Câmara, o foco é outro – disse o senador.

Moro falou rapidamente depois de sair do gabinete do senador. Disse que ouviu “críticas e sugestões” e está confiante.

Ameaças

Sobre as ameças relatadas por Marcos do Val, Moro disse que as investigações estão em andamento. Na semana passada, o senador registrou boletim de ocorrência na Polícia do Senado e procurou a Presidência da Casa e o Ministério da Justiça para relatar ter recebido ameaças por um e-mail apócrifo. Segundo ele, o texto foi encaminhado a caixas de mensagem dele e de sua família e continha informações como endereços residenciais.

“Vamos cobrar da sua irmã! Já estamos com todos os dados e horários de toda a sua família”, diz o texto, acrescentando: “nos aguarde, vagabundo”.

Depois do registro, o senador relatou ter recebido outra ameaça, dessa vez a relacionando à aprovação do pacote. “Vou falar direta e sinceramente: se o pacote antricrime foi aprovado, pode dar adeus à sua família”, diz a mensagem.

– Já foi identificado que é um grupo. Não é uma única pessoa. Toda minha família já está com a proteção – disse o senador, acrescentando que facções criminosas podem estar envolvidas.

Luiz Carlos Azedo: Olavista de carteirinha

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NAS ENTRELINHAS – CORREIO BRAZILIENSE

A nomeação do economista Abraham de Bragança Vasconcelos Weintraub para o comando do Ministério da Educação, pelo presidente Jair Bolsonaro, no lugar do atrapalhado colombiano Ricardo Vélez Rodrigues, reforça a orientação ideológica que o antecessor tentou implementar na pasta, ao contrário do que muitos que criticavam o ministro defenestrado esperavam. Weintraub é discípulo do escritor Olavo de Carvalho, ideólogo do clã Bolsonaro, e militante de primeira hora da campanha eleitoral do atual presidente da República. A diferença é a experiência como gestor, no mercado financeiro, além de pertencer à cozinha do Palácio do Planalto, pois participou da equipe de transição do governo e é muito ligado ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de quem era o braço direito até agora.

Um vídeo na internet intitulado “Marxismo cultural x Economia”, no qual faz uma palestra ao lado de seu irmão Arthur, revela as ideias básicas do novo ministro, que estão em linha com as de Bolsonaro e do seu ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araujo. Na visão dos Weintraub, é preciso fazer uma cruzada contra o “marxismo cultural”, que domina as universidades do Brasil e do mundo, entre as quais, a de Havard. Numa leitura enviesada de Max Weber, sociólogo alemão, os dois irmãos fazem uma defesa enfática do protestantismo como eixo de resistência às ideias de esquerda e católicas, que seriam responsáveis pelo atraso da Europa ibérica e da América Latina. Citando Alemanha, Japão e China, também fazem apologia da política de terra arrasada como via de crescimento.

A nomeação de Weintraub foi uma solução doméstica para uma disputa entre olavistas, militares e técnicos do próprio ministério. Em tese, Weintraub tem mais capacidade de articulação política e trânsito no Palácio do Planalto, mas nada garante que o ministro terá autonomia para formar a própria equipe. Provavelmente, terá que arbitrar os conflitos existentes e, ao mesmo tempo, enfrentar os que surgirão quando começar a implantar a nova política educacional de Bolsonaro. A Educação não é a especialidade do novo ministro, que sempre esteve mais focado na reforma da Previdência.

Lista tríplice

Embora a prioridade do governo seja o combate ao analfabetismo e a implantação de novos currículos escolares, o ministro Vélez notabilizou-se por declarações e propostas polêmicas, além de uma sucessão de nomeações e demissões na pasta. Entre as trapalhadas, um e-mail do ministro pedindo aos gestores de escolas que enviassem ao MEC vídeos mostrando as crianças cantando o Hino Nacional e lendo o slogan da campanha eleitoral de Bolsonaro.

Vélez anunciou dois novos secretários executivos que não foram aceitos pelo governo. A educadora evangélica Iolene Lima foi demitida antes de ter assumido; a secretária da Educação Básica, Tânia Leme de Almeida, em seguida, pediu demissão após descobrir que o nível de alfabetização das crianças não seria mais avaliado. A mudança fora pedida pelo seu secretário de Alfabetização ao presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Marcus Vinícios Rodrigues, que foi demitido. Vélez manteve a avaliação. O ministro também criou, no Inep, uma comissão para vigiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e identificar “questões com teor ofensivo a tradições”. A última proposta polêmica foi a de mudar os livros didáticos para negar o golpe de 1964 e a implantação de uma ditadura militar no país.

A grande interrogação sobre a nova política é a gestão das universidades, cujas listas tríplices para nomeação de reitores são mera formalidade, pois há eleições diretas e o mais votado costuma ser o escolhido reitor. A eleição mais recente foi a da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maior subordinada à pasta, na qual foi eleita a médica Denise Pires (Chapa 10), professora do Instituto de Biofísica (IBCCF). Das 76.957 pessoas aptas a votar (4.270 professores, 9.189 técnicos e administrativos e 63.498 estudantes), apenas 20.887 votaram (3.189 professores — 74,6%; 4.591 técnicos — 49,9%; e 13.107 estudantes — 20,6%).

A chapa 10 obteve 9.427 votos. A chapa 40, liderada pelo professor Oscar Rosa Mattos, da Escola Politécnica e da Coppe/UFRJ, obteve 8.825 votos, e Chapa 20, encabeçada por Roberto dos Santos Bartholo Junior, da Coppe/UFRJ e da Faculdade de Letras, teve 2.281 votos. Não existe vinculação formal entre a eleição e a indicação da lista tríplice pelo Colégio Eleitoral pela UFRJ designado para fazer as indicações ao ministro, mas o resultado da consulta sempre é respeitado.(Correio Braziliense – 09/04/2019)