Cristovam Buarque – Combustível: mudança boa

A decisão do governo Lula deve ser apoiada por aqueles que olham para o futuro

O governo Lula, por meio dos ministros Fernando Haddad e Alexandre Silveira, demonstrou positivo espírito de mudança com a nova regra sobre o preço dos combustíveis. Saiu do populismo de beneficiar aos atuais consumidores, mesmo sacrificando o futuro do país; sinalizou compromisso com equilíbrio fiscal, repetido diversas vezes nas sucessivas falas; apontou a necessidade de reorientação da matriz energética no transporte, da base fóssil para fontes alternativas. Muitos duvidavam que o novo governo teria a coragem política e a lucidez técnica para esta decisão, que não é fácil, porque a democracia padece de horror ao futuro e compulsão por atender aos interesses imediatos dos eleitores.

A decisão tem sido contestada pelos que olham mais para o contador em Reais na bomba de gasolina do que para o custo histórico; mais para o interesse de cada um e sua corporação no presente do que para o conjunto da população no futuro. Desprezando, por isso, os riscos de inflação estrutural, catástrofe ecológica e a esperada recessão nas economias baseadas em petróleo. A decisão do governo deve ser apoiada por aqueles que olham para o amanhã e desejam que Lula não apenas substitua a tragédia do passado, mas sinalize esperança para o futuro, enfrentando as dificuldades do presente. Este apoio deve ser dado também sugerindo medidas salicionais para estratégias que apontem um novo modelo industrial e energético.

Além das corretas medidas, de preço e tributo, sobre o petróleo, o governo deveria ter apresentado medidas de médio e longo prazo para: a) reorientação da indústria economia mecânica, predatória e protegida para economia verde, digital e eficiente na concorrência internacional; b) medidas que incentivem a substituição dos carros a combustível fóssil por carros movidos a energia elétrica; c) ampliação do parque de energia com fontes alternativas, eólica e solar; d) descentralização territorial do parque produtivo; e) apoio e melhoria da qualidade do transporte público nas cidades.

Esta semana o governo Lula mostrou que não chegou apenas para trazer a democracia de volta, mas também para apontar a uma nova maneira de governar, em direção a um novo Brasil. Foi uma boa mudança, embora ainda incompleta, por não sinalizar uma estratégia para o futuro. (Blog do Noblat – 04/03/2023)

Cristovam Buarque foi senador, governador e ministro

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