Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (20/01/2023)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Americanas entra em recuperação judicial com dívida de R$ 43 bi
Governo troca cúpula da PF e PRF nos estados
Lula questiona resultado de BC independente
Bolsonaro diz ao TSE que minuta golpista é ‘apócrifa’
Terapia moderna contra câncer vai avançar no SUS
Oito megablocos vão reunir no Rio 3 milhões de foliões
São Sebastião, o padroeiro inspirador das artes do Rio
Reforma da Previdência de Macron paralisa França
Atos contra governo peruano se espalham
O Estado de S. Paulo
Americanas deve R$ 43 bilhões e entra em recuperação judicial
Diretores estavam entre mais bem pagos
PF vai apurar se houve omissão em investigações sobre a família Bolsonaro
Ministro defende debate sobre política e democracia em escolas
Crítica de Lula à autonomia do BC tem metas de inflação como alvo
Fiesp afirma que Josué Gomes segue na presidência da entidade
Peru – Oposição invade aeroporto e marcha por saída de presidente
Greve contra reforma da Previdência paralisa a França
Folha de S. Paulo
Militares da Presidência foram a atos golpistas diante de quartel
Defesa de Bolsonaro chama minuta de apócrifa e pede que TSE não a considere
Grupo da PGR já vê base para denunciar ex-presidente
Desemprego cai a 8,1%, menor taxa desde 2014
Americanas entra em recuperação judicial com dívidas de R$ 43 bilhões
Em nota, Fiesp confirma Josué como presidente
Paulo Pimenta – Planalto quer ir à Justiça por fake news sobre governo
Ocupação de favela no RJ faz 1 ano sob críticas
Grande protesto contra presidente do Peru chega a Lima, e mortos no país passam de 50
Crises ofuscam vitórias de Biden na metade do mandato
Valor Econômico
Justiça do Rio aceita pedido de recuperação da Americanas
Lojista aumenta preço para não vender na rede
Conselheiros independentes deixam BNDES
Economia da AL deve desacelerar
Neca Setubal articula fundo para Amazônia
Juros futuros sobem após críticas de Lula
EDITORIAIS
O Globo
É um erro superdimensionar papel do Estado na conservação de estradas
Pacote de R$ 1,7 bilhão para obras emergenciais não basta. É preciso ampliar concessões ao setor privado
Qualquer um que passe pelas maltratadas rodovias brasileiras, na condição de motorista ou passageiro, sabe que boa parte precisa de obras. O problema é consensual. A questão é como enfrentá-lo. Na quarta-feira, o ministro dos Transportes, Renan Filho, anunciou um plano de investimentos de R$ 1,7 bilhão nos primeiros quatro meses deste ano em obras rodoviárias e ferroviárias. Claro que ninguém pode ser contra iniciativas que visam a melhorar o escoamento da produção e a segurança dos viajantes, mas o governo teima em repetir fórmulas que já não deram certo.
É um erro superdimensionar o papel do Estado na recuperação da infraestrutura. Pôr recursos públicos em obras de restauração e construção de estradas pode até gerar empregos e melhorar a situação no curto prazo, mas é uma solução paliativa. As estradas precisam de manutenção permanente, e o poder público já mostrou a sua incapacidade como síndico delas.
A última pesquisa anual da Confederação Nacional do Transporte (CNT) revela a situação precária da malha rodoviária. De acordo com o levantamento, 66% das rodovias pavimentadas são classificadas como péssimas, ruins ou regulares. Embora 34% sejam enquadradas como ótimas ou boas, apenas 9% podem ser consideradas perfeitas em termos de pavimentação e sinalização (em 2015, eram 35%).
O panorama nunca foi tão crítico desde que o estudo começou a ser feito, há duas décadas e meia. A degradação não se reflete apenas em sacolejos, atolamentos, despesas mecânicas e acidentes. A má conservação provoca um consumo desnecessário de combustível que encarece a produção. Não chega a surpreender que, das rodovias classificadas como regulares, ruins ou péssimas, 75% estejam sob gestão pública (federal, estadual ou municipal). Entre as concedidas à iniciativa privada, a situação é inversa: 69% foram consideradas boas ou ótimas.
É inútil pôr neste ou naquele governo a culpa pela degradação. O problema é crônico e atravessa diferentes administrações. Segundo o estudo da CNT, para recuperar a malha rodoviária nacional com ações emergenciais de restauração e reconstrução, seriam necessários R$ 95 bilhões. É óbvio que o governo não dispõe desses recursos e, mesmo que estivessem disponíveis, seria mais sensato que fossem usados em setores essenciais como saúde, educação ou segurança.
Diante do atual estado de calamidade das rodovias, é compreensível haver um plano para tratar o problema de forma emergencial, aproveitando que o orçamento do ministério foi turbinado pela PEC da Transição. Mas o setor deveria, no médio e longo prazos, contar com investimentos privados. É fundamental não só dar continuidade, mas também ampliar o programa de concessão de rodovias. O Estado ficaria encarregado de manter apenas as que não se mostrassem economicamente viáveis. Caso contrário, serão necessários muitos outros planos de cem dias para operações tapa-buraco que não resolvem nenhum problema, a não ser talvez o de empreiteiras próximas ao poder.
O Estado de S. Paulo
Oposição indecente
É torpe a oposição que, diante dos crimes do dia 8, insinua que a culpa é da vítima; se quiserem ser levados a sério, os oposicionistas devem se livrar da imoralidade bolsonarista
Com a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro e sua subsequente fuga para o doce exílio na Flórida, criou-se uma oportunidade de ouro para que a direita civilizada finalmente se descolasse do fardo imoral e antidemocrático representado pelo bolsonarismo. Em pouco tempo – porque em política não há vácuo –, apareceram vários candidatos a ocupar a liderança desse segmento. Se ainda não se sabe bem qual é o perfil ideal desses novos dirigentes, sabe-se muito bem o que eles não devem ser: uma cópia mal-ajambrada de Bolsonaro, pois este representa, acima de qualquer dúvida razoável, tudo aquilo que a direita democrática deve incondicionalmente rejeitar.
No entanto, com a boca entortada pelo uso do cachimbo bolsonarista, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, tido como um dos mais fortes postulantes nessa disputa, mostrou que a torpeza ainda domina os espíritos dos que deveriam, ao contrário, colaborar para restaurar a estabilidade do País. Ao comentar a intentona bolsonarista em Brasília no dia 8 de janeiro, o sr. Zema, em entrevista à Rádio Gaúcha, declarou: “Me parece que houve um erro da direita radical, que é minoria. Houve um erro também, talvez até proposital, do governo federal que fez vista grossa para que o pior acontecesse e ele se fizesse de vítima. É uma suposição. Mas as investigações vão apontar se foi isso”.
Ou seja, para o sr. Zema, a barbárie bolsonarista foi um mero “erro”, e não um crime contra os Poderes constituídos e a democracia, ao passo que o governo Lula, segundo a maliciosa interpretação que viceja nos esgotos da internet, teria feito corpo mole para facilitar a vida dos vândalos e, em seguida, reclamar o papel de vítima. Fiel ao método bolsonarista de lançar dúvidas no ar para sugerir que há algum complô em curso, o sr. Zema acrescentou que se tratava apenas de uma “suposição”.
Não é digno de um governador de Estado fazer esse tipo de “suposição” motivado por seus interesses políticos pessoais. Menos ainda de alguém que tem a pretensão de liderar um segmento muito expressivo da sociedade brasileira, que não se sente representado pelas forças políticas que saíram vitoriosas da eleição de 2022.
A oposição de que o País necessita, já defendemos nesta página, deve ser exercida de forma leal, republicana, com respeito ao interesse público, aos interlocutores, à verdade factual, às leis e à Constituição. Deve ainda servir como força motriz de um processo de distensão sem o qual o tecido social pode se romper de tal forma que sua reparação se torne praticamente impossível. O que menos o Brasil precisa neste momento grave é de lideranças políticas que fomentem o caos por meio de aleivosias, conspirações e estímulos à hostilidade entre os cidadãos.
É perfeitamente plausível que os aparatos de inteligência e segurança montados pelo novo governo federal tenham, de fato, cometido falhas. Daí a insinuar que essas falhas teriam sido deliberadas, a fim de produzir supostos ganhos políticos para um governo em seus primeiros dias, vai uma distância que beira a indecência.
Ademais, o presidente Lula não foi nem de longe a principal vítima da sanha destruidora dos extremistas, muito menos o seu governo, que mal começou. A presa maior sob as garras da malta bolsonarista foi a democracia brasileira. Não alcançar a real dimensão dos fatos, nesse caso em particular, é má-fé ou ingenuidade. E nem uma coisa nem outra são atributos de quem pretende liderar a oposição ao PT com responsabilidade.
Sejam quais forem as diferenças a separar os brasileiros neste momento, manda a decência que se reconheça, sem tergiversações, que a grande inspiração para o assalto à democracia no dia 8 foram as inúmeras declarações golpistas de Bolsonaro, e não um suposto complô maquiavélico do lulopetismo. Quem não for capaz disso não tem condições de conduzir a oposição numa democracia saudável.
Este jornal se sente no dever de afirmar que, definitivamente, o espírito que deve animar a postulação do cargo de liderança da oposição ao governo de Lula da Silva é outro, diametralmente oposto ao manifestado pelo governador Zema.
Folha de S. Paulo
A bazófia de Lula
Presidente desafia o bom senso econômico, em contraste com esforços de ministros
Não satisfeito com os discursos anteriores à posse que fizeram disparar os juros de mercado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua a desafiar o bom senso em temas econômicos com autoconfiança inaudita em seu terceiro mandato.
Na quarta-feira (18), loquaz durante uma entrevista, criticou a autonomia formal do Banco Central, a seu ver uma bobagem, e defendeu uma meta de inflação mais alta —pois, afinal, o Brasil precisa crescer. “Onde estão a inflação e os juros?”, indagou o mandatário.
Também atribuiu uma suposta incompatibilidade entre responsabilidade fiscal e social à “ganância das pessoas mais ricas”. Nesta quinta (19), arengou contra “essa gente do mercado”, que para ele só aprova gastos com juros da dívida. “A gente podia não ter nem juro”, asseverou o petista.
A esta altura, é preferível acreditar que se trata de demagogia oportunista —pior será se Lula de fato acreditar em tais disparates e não estiver disposto a ouvir técnicos e estudiosos da matéria. Ou se ignorar que juros e inflação estão altos, em quase todo o mundo, porque ainda há um legado de desequilíbrios da pandemia de Covid-19.
No caso brasileiro, o fenômeno é agravado pela imprudência na gestão do Orçamento, impulsionada pela farra eleitoreira de Jair Bolsonaro (PL) e aprofundada pelo atual governo com a PEC da Gastança.
O presidente, aliás, gaba-se de trabalhar por mais desequilíbrio das contas do Tesouro Nacional, com a promessa de livrar do Imposto de Renda ganhos até R$ 5.000 mensais. Tal propositura, além de ruinosa para a arrecadação, seria péssima política pública, por subsidiar estratos com rendimentos muito acima da média nacional.
Não deixa de guardar coerência, infelizmente, com a velha e falsa tese de que a tolerância com a inflação favorece o crescimento sustentável —que Lula repete como se desconhecesse os funestos experimentos de Dilma Rousseff (PT).
Quanto aos famigerados juros da dívida, o falatório omite que o meio mais eficaz de não depender de credores é não precisar de ainda mais dinheiro emprestado.
É notável que, em contraste com a bazófia de Lula, ministros da área econômica venham dando sinais de sensatez. Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento, mostram preocupação com o ajuste fiscal. O vice Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) descartou retrocessos nas reformas previdenciária e trabalhista.
Talvez o mandatário queira principalmente manter sua base mais ideológica mobilizada, mesmo que sob o risco de sabotar a retomada do emprego e a melhora da renda. Fato é que, além da retórica, as medidas concretas tomadas até aqui não inspiram otimismo.