Governo Bolsonaro permanece com os instrumentos de poder na mão, mas não age nem toma providências
O vandalismo nas ruas de Brasília na noite de segunda-feira foi mais um episódio que mostra esse momento inédito que o Brasil tem vivido desde a eleição. O governo Bolsonaro permanece com os instrumentos de poder na mão, mas não age nem toma providências. Ele praticamente abdicou do poder que tem, e o vazio tem que ser ocupado por quem ainda não tem os instrumentos de ação.
A palavra da autoridade foi ocupada pelo governo que não assumiu. Flávio Dino, ministro da Justiça indicado por Lula, ao lado do próximo diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, é que deram explicações, tranquilizaram a população, tomaram providências e fizeram articulação com o governo do Distrito Federal, que com suas forças de segurança controlou a situação. Tanto que eles deram uma entrevista ao lado do secretário de segurança do Distrito Federal.
A ação do novo governo ao ataque demonstra que a antecipação do anúncio de alguns ministros, como o da Justiça, foi um acerto do presidente Lula. O ministro Anderson Torres fez uma nota no Twitter, mas a articulação estava sendo feita pelo futuro comandante da pasta.
As cenas lamentáveis, com queimas de carro e de ônibus e impedimento do acesso de ir e vir, mostram que o ministro Alexandre de Moraes acertou na cerimônia de diplomação ao usar palavras fortes como extremistas, golpistas, antidemocráticos e criminosos.
A omissão e leniência do governo federal é criminosa. Porque o crime pode ser praticado por ação ou omissão. O presidente Bolsonaro silencia para não ser envolvido, mas seu silêncio o responsabiliza.
O episódio de ontem dá um sinal de que as forças de segurança precisam se preparar e agir preventivamente para a posse do novo governo. Os manifestantes não são muitos, não têm condições de parar a cidade, então fazem um vandalismo itinerante. É uma minoria radicalizada.
Além disso, os golpistas estão bem aparelhados, estão hospedados em hotéis, circulam de carro por Brasília, tem boa infraestrutura montada nos locais de manifestação com banheiro químico e alimentação. Há informações que alugaram casas. Estão amparados por capital, por financiamento e a origem desses recursos tem que ficar esclarecida. Este dinheiro está financiando ataques contra a democracia. (O Globo – 13/12/2022)