Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (15/09/2022)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Bolsonaristas tentam conter danos de ataque à jornalista
Ciro e Tebet buscam evitar migração para o voto útil
PL deixa sem fundo eleitoral 43% de seus candidatos
Moro veta campanha a fãs de Caetano e Chico e vegetarianos
MP cria custo extra na conta de luz de R$ 4,5 bi
Com tanque cheio, mas carrinho de compras vazio
Pedido de cidadania portuguesa poderá ser feito pela internet
Infarto é risco grava e silencioso para mulheres
UE planeja medidas para aliviar aumento do preço da energia
O Estado de S. Paulo
Propostas tributárias de Lula e Bolsonaro são as mais injustas
Por voto de católicos, Bolsonaro usa tática do medo contra Lula
Técnicos alertaram que corte de 60% da verba tornaria programa inviável
Farmácia Popular – Técnicos alertam que corte de 60% da verba tornaria programa inviável
Projeção aponta que 1 em cada 3 adultos deve estar obeso em 2030
Tarcísio se opõe a radicais após aliado ofender jornalista
Sai a Cracolândia, entram grades e muros
Descrescer para sobreviver, um debate em alta no mundo
Reunião de Putin e Xi discute economia e guerra na Ucrânia
Folha de S. Paulo
Bolsonarismo teme danos de ataque a jornalista
Presidente propõe corte no Farmácia Popular
Brasil é penúltimo em ranking de aposentadoria
Alagoas é estado onde mais se passa fome, diz estudo
Instituto pago pelo governo vê empate de Lula e Bolsonaro
Líder mais longevo dos usuários deixa cracolândia
Pesquisadores do Datafolha são alvo de hostilidade
Ciro e Tebet falam em conter número de negros presos
Pandemia pode estar perto do fim, afirma OMS
Com Covid, cresce taxa de suicídio de mulheres e idosos
Valor Econômico
Crédito rural de cooperativas cresce e supera banco privado
Restrições da UE afetam 40% das exportações
‘Pedágio social’ faz brasileiro pagar mais
‘Janela para pouso suave nos EUA está se fechando’
Correio Braziliense
Corrida ao GDF investe no voto dos indecisos
Partidos querem cassar deputado paulista que atacou jornalista
Fim da pandemia está perto, diz OMS
Gasolina sobe – Combustível volta a custar mais de R$ 5 no DF
Jogo do bicho – PCDF estoura esquema milionário de lavagem
EDITORIAIS
O Globo
Agressões a jornalistas são inadmissíveis
Deputado bolsonarista que agrediu colunista do GLOBO deveria ser expulso do partido e da Assembleia
São inadmissíveis em quaisquer circunstâncias agressões como a sofrida pela jornalista Vera Magalhães, colunista do Globo e apresentadora da TV Cultura, no debate entre candidatos ao governo de São Paulo na noite de terça-feira. Vera foi alvo de ataques do deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos), integrante da comitiva do candidato a governador Tarcísio de Freitas.
Num momento em que ela trabalhava numa área reservada à imprensa, Garcia se aproximou e, gravando a cena munido de um celular, passou a xingá-la, a cobrar a divulgação de informações sobre sua remuneração — que já é pública — e repetiu uma frase agressiva e descabida usada pelo presidente Jair Bolsonaro em resposta a uma pergunta de Vera no último debate presidencial. Só pôde ser contido pela segurança do evento. Vera teve de sair escoltada do Memorial da América Latina, onde era realizado o debate.
Tarcísio depois se desculpou em nome dele e de sua campanha. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também condenou o ataque em redes sociais. São manifestações desejáveis e esperadas ante tal absurdo. Infelizmente, insuficientes, pois não se trata de evento isolado. Há uma articulação contra profissionais da imprensa entre militantes que aprovam e reproduzem a atitude violenta recorrente de Bolsonaro diante de jornalistas que o desagradam. Nas manifestações do último 7 de Setembro havia faixas com slogans contra Vera — e ela está longe de ser o único alvo de ataques abjetos, dirigidos sobretudo contra mulheres, numa prova eloquente do machismo covarde que contamina a campanha bolsonarista.
Nenhum dos candidatos, é verdade, gosta das perguntas incômodas feitas por jornalistas profissionais. Bolsonaro prefere a adulação de seus braços de propaganda travestidos de veículos jornalísticos na forma de blogs, canais de vídeo na internet ou redes de televisão dóceis. Mas o papel do jornalismo profissional numa campanha eleitoral é justamente fazer perguntas incômodas. É desmascarar as mentiras da propaganda dos candidatos para informar melhor o eleitorado.
A reação de acólitos de Bolsonaro como Garcia vai muito além do aceitável. Mentir, xingar e agredir são comportamentos intoleráveis num ambiente de debate livre e democrático. Quem se comporta assim não está à altura do mandato de que foi investido. Garcia deveria, por isso, ser expulso do partido, da Assembleia Legislativa e sofrer as punições mais rigorosas cabíveis nos termos da lei.
Não pode haver espaço para ataques contra profissionais de imprensa em plena campanha eleitoral, quando o trabalho dos jornalistas se torna ainda mais necessário e essencial. Ao ofender e ao tentar constranger Vera, uma das jornalistas mais respeitadas do país, os bolsonaristas atentam contra toda a imprensa profissional, contra a democracia e contra as liberdades de que se proclamam defensores. Para além das desculpas de Tarcísio e do repúdio manifestado por outros políticos e candidatos, é preciso que esse tipo de comportamento seja combatido com firmeza pelo próprio Bolsonaro, de quem tem partido o incentivo velado aos ataques.
O Estado de S. Paulo
O que se espera do Supremo
Para enfrentar este momento crítico, o STF precisa de ministros discretos, técnicos e respeitosos com a colegialidade da Corte – o exato perfil de Rosa Weber, sua nova presidente
A ministra Rosa Weber assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com um discurso em que fez uma defesa enfática da Constituição e do Estado Democrático de Direito. A ministra ressaltou que “vivemos tempos particularmente difíceis da vida institucional do País, tempos verdadeiramente perturbadores, de maniqueísmos indesejáveis”. Lembrou que o STF tem sido alvo de “ataques injustos e reiterados”, sendo acusado de um “mal compreendido ativismo judicial, por parte de quem, a mais das vezes, desconhece o texto constitucional”.
Não poderiam ser mais precisas as palavras da nova presidente do Supremo. Os tempos são verdadeiramente perturbadores. Como também não poderia ser mais adequado para o momento atual – com os imensos desafios que o STF tem de enfrentar – o exemplo de Rosa Weber no exercício da magistratura ao longo de mais de quatro décadas; em especial, na continuidade desse exato modo de proceder – discreto, técnico e alicerçado na colegialidade – como ministra do STF desde 2011.
Os tempos atuais, insistimos, apresentam desafios imensos para o Supremo. Mas a superação desses desafios não exige nenhuma aptidão sobre-humana ou estratégias complexas, muito menos uma atuação fora do devido processo legal. O que o STF precisa é de ministros conscientes do seu papel como juízes, de suas competências e de seus deveres – exatamente como vem se portando, ao longo dos anos, a ministra Rosa Weber.
A nova presidente do STF tornou-se conhecida como a ministra que só fala nos autos. Ora, isso deveria ser a regra, e não a exceção. É vedado ao magistrado, diz a Lei Orgânica da Magistratura, “manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério”.
Em tempos de protagonismo individual, Rosa Weber notabilizou-se pelo profundo respeito ao princípio da colegialidade. No julgamento de um dos habeas corpus impetrados em favor do ex-presidente Lula, em um momento de especial pressão sobre ela, Rosa Weber lembrou que, “compreendido o tribunal como instituição, a simples mudança de composição não constitui fator suficiente para mudar jurisprudência”. Advertia, assim, para uma realidade frequentemente relevada nos dias de hoje. Um tribunal não é mera soma de vontades. A jurisprudência não é simples placar momentâneo da composição de um tribunal. São orientações com a pretensão de serem estáveis, de durarem ao longo do tempo. De outra forma, confundem e desorientam.
Nessa mesma ocasião, ao priorizar a jurisprudência do STF em detrimento de sua própria opinião pessoal, a ministra Rosa Weber deu uma valiosa lição sobre o exercício da magistratura. “A decisão judicial deve se apoiar não nas preferências pessoais do magistrado, mas na melhor interpretação possível do direito objetivo”, afirmou. Esse é o espírito – o desapego – que deve guiar todos os juízes. Eles não aplicam as suas vontades, mas a lei.
Outro aspecto notável do comportamento da ministra Rosa Weber é o cumprimento dos prazos. O STF tem muito a ganhar se, seguindo o exemplo de sua nova presidente, “não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar”, como manda a Lei Orgânica da Magistratura. O pedido de vista não é exercício de poder sobre o julgamento de um caso.
No discurso de posse, Rosa Weber citou o hino do Rio Grande do Sul: “Não basta para ser livre ser forte, aguerrido e bravo. Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. E acrescentou: “E virtude, entenda-se, digo eu, como disposição firme e constante para a prática do bem, com excelência de conduta”. A excelência de conduta de todos os ministros, em plena conformidade com a Constituição, é a defesa mais eficiente que se pode fazer do STF. E isso não é uma exigência utópica. Desde 2011, Rosa Weber mostra que é perfeitamente possível.
Folha de S. Paulo
Cartilha enviesada
Documento da Saúde sobre aborto deveria ter foco no que diz a literatura médica
São consideráveis os equívocos do novo documento do Ministério da Saúde sobre a assistência em casos de aborto. Mais uma vez, a pasta optou por encampar a retórica de grupos conservadores contrários ao procedimento, em vez de fornecer informação baseada apenas em ciência e saúde pública, como se espera de um órgão técnico.
Em sua primeira versão, divulgada em junho, o texto contrariava até a lei, ao afirmar que “todo aborto é crime”. Como se sabe, a prática é autorizada no país em três situações: gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e em caso de feto anencefálico.
Em reação a essa e outras afirmações incorretas ou deturpadas, entidades ligadas à saúde e aos direitos das mulheres acionaram o Supremo Tribunal Federal para que a cartilha fosse revogada.
Diante da pressão, o ministério promoveu audiência pública para discutir o texto —mas o encontro acabou servindo apenas para corroborar a posição governamental.
Ainda que o texto tenha sido, por fim, alterado, a nova versão, publicada no site da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, mantém informações distorcidas.
A emenda, em alguns pontos, ficou pior que o soneto —como no trecho que aborda os perigos da gravidez na adolescência.
Sem apresentar nenhuma evidência técnica, a cartilha alega que são inconsistentes os estudos que assinalam os riscos de vida de gestantes com menos de 15 anos, os quais não seriam necessariamente agravados pela pouca idade.
Grande parte dos obstetras, contudo, afirma que a gravidez na adolescência é sempre de alto risco, seja para a gestante, seja para o feto.
A nova versão da cartilha oficial vem a lume na esteira de dois episódios chocantes, nos quais meninas de 11 anos foram estupradas e engravidaram, uma em Santa Catarina e outra no Piauí.
O primeiro gerou polêmica devido ao comportamento da juíza e da promotora do caso, ambas desencorajando o aborto —permitido pela legislação, reitere-se. O procedimento só foi realizado após intervenção do Ministério Público.
Embora esta Folha há muito defenda a descriminalização e o debate sob a ótica da saúde pública, não há dúvida de que seja legítima a oposição baseada em argumentos morais ou religiosos.
Inadmissível é a instrumentalização de tais razões para negar o acesso a um direito ou balizar os serviços do Ministério da Saúde.
Valor Econômico
Mercados nos EUA têm choque de realidade com inflação
Índice de preços não caiu em agosto, sinalizando aumentos de juros maiores pelo Fed
Os investidores tomaram na terça-feira um choque de realidade com a persistência da inflação americana e os mercados locais desabaram. A diferença entre a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de agosto e o número real não foi grande – -0,1% e 0,1% -, mas o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,6% e chegou a 6,3% em doze meses. A inflação, para além dos itens mais voláteis, continua disseminada, em boa parte empurrada pelos preços dos serviços. Mais que isso, havia a perspectiva, ou ilusão, de que haveria nova queda após a ocorrida em julho, estabelecendo um ambiente em que a redução da inflação ocorreria naturalmente a partir daí. Não foi o que se viu.
As apostas para a reunião do Federal Reserve, na próxima semana, subiram de escala. Elas saíram de 0,5 ponto a 0,75 ponto para 1 ponto percentual, com 40% de chances agora, ante nenhuma previsão dessa magnitude na segunda-feira. Até a semana passada, vários dirigentes do Fed, antes de entrarem no período de silêncio, foram unânimes em prometer usar a arma dos juros o quanto for necessário até garantir uma inequívoca guinada dos índices de preços em direção à meta de 2%. A tarefa está ainda longe de ser cumprida. Nos doze meses terminados em agosto, o CPI atingiu 8,3%, apenas um pouco abaixo dos 8,5% de julho.
O presidente do Fed, Jerome Powell, agora parece determinado a enfrentar até o fim uma inflação alta razoavelmente instalada, advertiu também contra os perigos de parar o combate antinflacionário prematuramente. Suas declarações, assim como as de outros membros do Fed, por si só não colocam fora de cogitação uma alta de 1 ponto percentual na taxa básica, levando-a ao intervalo de 3,25%-3,5%.
Por outro lado, dissipou-se a expectativa, que também era do Fed, de que uma política suavemente contracionista poderia fazer o serviço de colocar a inflação de volta no leito dos 2%. Após as maiores quedas nas bolsas desde o início da pandemia, os títulos do Tesouro de 2 anos subiram a 3,75%, maior taxa desde outubro de 2007. Os investidores agora estimam que o juro dos fed funds atingirá 4% no fim do ano e 4,25-4,5% em março de 2023, fronteira a partir da qual o banco central poderia então começar a pensar em interromper o ciclo de aperto monetário.
Christopher Waller, membro do comitê de mercado aberto do Fed, que decide as taxas, foi mais explícito na defesa de juros muito restritivos, dizendo que o banco tem, diante da gravidade do problema inflacionário, “flexibilidade para ser agressivo” e que se a inflação não cair até o fim do ano, ou até mesmo subir, os juros provavelmente teriam de aumentar “bem acima dos 4%”.
Apesar da queda do PIB americano por dois trimestres consecutivos, o mercado de trabalho segue aquecido e os reajustes dos salários por hora subiram 6% em 12 meses. Diante de uma demanda nutrida pelos reajustes, ainda que abaixo da inflação, as empresas têm conseguido repassar custos aos preços, o que se reflete nas altas no setor de serviços. A política fiscal, sobre a qual Powell é reticente em comentar, e discreto ao fazê-lo, entrou na lista dos fatores que atrapalham a tarefa do BC americano. “A política fiscal não está em um caminho sustentável, e não está há algum tempo. Precisaremos voltar a um caminho sustentável mais cedo ou mais tarde”, disse Powell em conferência no Cato Institute no início do mês.
Há sinais que favorecem o declínio da inflação, além da queda dos preços dos combustíveis. Mais empresas estão agora assinalando que seus estoques estão mais altos que o normal. O mercado imobiliário está esfriando o que, aos poucos, ocorrerá com toda a economia.
A desaceleração global ajudará nesta tarefa. A produção industrial da zona do euro teve em julho a maior queda desde a pandemia, com recuo de 2,3% motivado pelos altíssimos custos da energia – antes de o BCE subir os juros com intensidade.
O aumento do ritmo de aperto da política monetária torna mais distante as chances de um pouso suave da economia americana, com uma recessão branda e curta. É difícil calibrar a dose de juros, mas, pela intensidade inflacionária, sabe-se que terá de ser razoavelmente maior que a prevista. A forte queda de 99% das ações do índice acionário da S&P na segunda-feira sugere que os investidores esperam que a perspectiva de lucros das empresas piore bastante.
Correio Braziliense
Agressividade vai de casa à política
O respeito às mulheres, a equidade de gênero e a transformação das formas relacionamento exigem acato e reconhecimento das diferenças
As agressões à jornalista Vera Magalhães, em dois debates eleitorais entre presidenciáveis e entre postulantes ao governo de São Paulo, ressaltam flagrante desrespeito à mulher no país. Nas duas ocasiões, Vera foi rotulada de “vergonha do jornalismo brasileiro”, por cumprir a principal função de fazer perguntas consideradas inadequadas ou desagradáveis na compreensão dos participantes. Nesta terça-feira, na TV Cultura, a cena protagonizada pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicano-SP), que realçou o desprezo dele e de muitos outros que ocupam cargos públicos, levados pelo voto popular, contra os profissionais da imprensa.
Além de acusá-la de ter um contrato de valor estratosférico, o deputado paulista, repetidas vezes, afirmou que Vera Magalhães envergonha a categoria, entre ofensas desprovidas de qualquer rebate na realidade. O inadequado comportamento do parlamentar, em campanha para chegar à Câmara Federal, é um retrato do machismo reinante na sociedade brasileira, que tem vitimado milhares de mulheres com agressões morais, psicológicas, físicas e atitudes letais. Ele seria tão agressivo se não fosse uma mulher?
O deplorável episódio, criticado até por correligionários do deputado estadual, é mais um que se soma a 357 casos de agressões a jornalistas nos primeiros sete meses deste ano. Deste total, 291 foram alertas de violações da liberdade de imprensa — 15,5% a mais do que em igual intervalo de tempo do ano passado —, que implicam críticas, estigmas, processos legais, restrições na internet e no acesso à informação e uso abusivo do poder estatal. Deste total, 66 — aumento de 69,2% na comparação a igual período de 2021 — foram atos graves de violência, que implicaram agressões físicas, destruição de equipamentos, ameaças e assassinatos, segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Na política, foi preciso editar a Lei 14.192/2021, que impõe regras para prevenir e combater a violência política contra a mulher. Mais uma medida para garantir igualdade de condições na disputa pelos cargos eletivos. A nova lei, que será testada este ano, criminaliza comportamentos e ações que depreciam ou estimulam a discriminação em razão do sexo feminino ou em relação a cor, raça ou etnia — atrasos que edificavam barreiras ao ingresso das mulheres na disputa política.
Os maus exemplos das autoridades — há exceções — espelham a má educação e a péssima formação que reforçam práticas de violências cotidianas contra o universo feminino. Na maioria das vezes, os homens não assumem o ato danoso contra as mulheres, mesmo quando se trata de agressões físicas. O estudo Percepções sobre controle, assédio e violência doméstica: vivências e práticas, realizado pelo Instituto Patrícia Galvão e o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), entrevistou 800 homens e 400 mulheres em todo o país. Foi constatado que só dois em cada 10 admitem que agrediram a atual ou ex-parceira. A maioria deles entende que a Lei Maria da Penha contribuiu para a redução da violência, enquanto 16% reconhecem que bater em mulher pode ser errado, mas não deveria ser crime, e 23% entendem que a lei estimula o desrespeito delas aos homens. E o respeito à mulher, como fica?
Em 49% dos homens com 60 anos ou mais e 41% com o ensino fundamental, a lei interfere na relação privada do casal. Entre os homens, só 5% reconhecem que praticaram assédio, embora 45% das mulheres tenham denunciado que tiveram o corpo tocado em local público, sem que tenham consentido.
Em todas as situações, está evidente que o machismo e a violência, nas suas mais diferentes formas de externalidade precisam ser combatidos. As mudanças na sociedade não se dão apenas com a aprovação de leis. O respeito às mulheres, a equidade de gênero e a transformação das formas relacionamento exigem acato e reconhecimento das diferenças. Tais valores civilizatórios capazes de alterar o perfil violento da sociedade dependem muito da formação educacional dos indivíduos, desde do ambiente doméstico até a escola. Sem educação e boa formação, fica difícil sair do patamar da truculência e elevar o nível da política no país.