Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (02/08/2022)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
EUA matam sucessor de Bin Landen na al-Qaeda
Destruição nuclear está ‘a um erro de cálculo’, diz ONU
Simone Tebet terá a senadora Mara Gabrilli (PSDB) como vice
Nunes Marques mostra força nas escolhas de Bolsonaro para STJ
Marco Aurélio Mello – ‘As instituições são perenes’
Fux e Fachin fazem defesa da votação eletrônica
Mortes em ações policiais no Rio crescem apesar do uso de câmeras
Processos parados no tribunal da Receita ultrapassam R$ 1 trilhão
Influencers mirins no foco do debate sobre trabalho infantil
Tecnologia ajuda a incluir neurodivergentes na sociedade
Primeiro cargueiro com grãos parte da Ucrânia
O Estado de S. Paulo
Câmara acelera projeto que retira poder de governadores sobre PM
Com Mara Gabrilli como vice, Tebet aposta em chapa feminina
Contas não comportam reajuste amplo a servidor e auxílio a R$ 600
Mercado projeta deflação no ano em preços controlados pelo governo
Ministério vai comprar antiviral para varíola dos macacos
Pai acusa parque de diversões de negligência na morte de menino
Com drone, EUA matam sucessor de Bin Laden na chefia da Al-Qaeda
Russos usam usina nuclear ucraniana como escudo
Folha de S. Paulo
EUA anunciam ter matado Zawahiri, líder da Al Qaeda
Bolsonaro diz acreditar que pode ser preso ao deixar o cargo
Guerra nuclear está a um erro de cálculo, afirma ONU
Mourão vê em textos ‘pânico desnecessário’
Entidades de imprensa defendem democracia
Advogados lançam carta por liberdades e pró-presidente
Maioria não lembra em quem votou ao Congresso
Dois escolhidos para o STJ são vitória de Kássio
Auxílio de R$ 600 não basta para 56% dos beneficiários
Censo começa entrevistas após dois anos de atraso
Valor Econômico
Teles se antecipam e 5G estreia dia 4 em S. Paulo
Estados compensam perda de ICMS
Ensino superior passa por transformação
Nunes Marques influencia em escolha para STJ
Capital paulista teve o julho mais quente desde 43
EDITORIAIS
O Globo
É preciso rever o corte na verba das universidades
Instituições federais correm risco de parar por falta de dinheiro para pagar contas básicas como luz ou água
Feitos com o intuito de reduzir o prejuízo dos desvarios eleitoreiros do presidente Jair Bolsonaro noutras áreas, os cortes no orçamento das universidades federais poderão acarretar a paralisia delas antes do fim do ano. Como mostrou reportagem do GLOBO, ao menos 17 correm o risco de interromper atividades nos próximos meses por falta de dinheiro para pagar contas básicas, como luz ou água, serviços essenciais de manutenção predial, além de bolsas, auxílio estudantil, equipamentos e insumos. Em 2022, as federais perderam mais de R$ 400 milhões em recursos discricionários — verbas do Orçamento que podem ser remanejadas — destinados ao pagamento dessas despesas.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das maiores do país, já avisou que o dinheiro só dá até setembro. Se não houver uma recomposição orçamentária, terá de suspender contratos e parar atividades de ensino e pesquisa. A do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que em 2022 amargou o segundo menor orçamento de sua história, alega que “já foram realizados todos os ajustes internos possíveis”. A de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais, terá de reduzir as bolsas acadêmicas e a quantidade de alunos atendidos pela assistência estudantil, uma lástima.
Em várias instituições, os cortes já causam danos. A Federal de Lavras (Ufla), em Minas, teve de demitir 150 funcionários terceirizados que trabalhavam em limpeza, conservação e segurança. A manutenção também ficou ao léu na Federal de Alagoas (Ufal), que ainda se recupera dos estragos das tempestades de maio em Maceió. A reitoria não tem recursos para consertar telhados, infiltrações e reativar salas interditadas. Os cortes não afetam apenas o orçamento deste ano, já que muitas universidades terão de empurrar débitos para 2023. A Unifal projeta dívida de R$ 20 milhões.
Nas federais, os cortes são mais sentidos porque o orçamento discricionário já vinha em queda, apesar do aumento das despesas resultante da inflação. Em 2011, o total destinado a elas foi de R$ 12 bilhões. Em 2021, já caíra a R$ 4,4 bilhões, sob a justificativa de que as universidades passaram a funcionar com ensino remoto. Em 2022, com a volta das aulas presenciais, o orçamento subiu para R$ 5,1 bilhões, valor insuficiente para pagar as contas, segundo as instituições. Elas reivindicam recomposição pelo menos ao nível de 2019, quando receberam R$ 5,7 bilhões.
Não é difícil entender a decisão orçamentária perversa tomada pelo governo. O Congresso autorizou aumento nas despesas para ampliar o Auxílio Brasil às vésperas da eleição e para conceder benesses a categorias específicas como caminhoneiros e taxistas, de olho no retorno eleitoral imediato. Ao mesmo tempo, para cumprir as normas fiscais, escolheu cortar em setores essenciais como educação e saúde.
É preciso rever com urgência os cortes no orçamento discricionário das federais. Não tem cabimento que elas precisem paralisar atividades por falta de dinheiro para suprir as necessidades mais básicas. Não se está falando de gasto supérfluo, mas de conta de luz, serviço de limpeza e segurança. Pior ainda que isso aconteça depois de dois anos de prejuízos incalculáveis à educação em todos os níveis, em razão da paralisação durante a pandemia. Criar uma situação que leva ao fechamento de salas de aula justamente quando todas as atividades são retomadas é o cúmulo do desleixo com a educação.
O Estado de S. Paulo
Bombas no caminho do próximo governo
Desarranjo fiscal, dívida mais cara, juros altos e baixo potencial de crescimento formam o legado previsto para o futuro presidente da República
Baixo crescimento econômico e alta dívida pública estão no horizonte brasileiro há muitos anos, mas o futuro pode ser mais sombrio com a herança deixada pelo atual governo. O Tesouro Nacional poderá enfrentar em 2023 um aumento de R$ 63 bilhões no custo de sua dívida e uma perda de recursos de R$ 178,2 bilhões, segundo cálculos de economistas do mercado. Empenhados em conquistar ganhos eleitorais, o presidente Jair Bolsonaro, ministros e parlamentares aumentam gastos, cortam impostos e criam enorme desarranjo fiscal para a União, os Estados e os municípios. Somados os três níveis de governo, o corte de receita poderá atingir R$ 281,4 bilhões, de acordo com projeções de especialistas. O próximo governo enfrentará economia estagnada, maiores gastos, juros maiores, inflação ainda elevada e compromissos inflados com medidas eleitoreiras.
Economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), de outras organizações multilaterais e também do mercado identificaram há muito tempo o escasso potencial produtivo do Brasil, sua rigidez fiscal e seu elevado endividamento público. Previsões de médio e de longo prazos dificilmente incluem taxas anuais de crescimento superiores a 2%. Maior dinamismo só será possível com mais investimentos em capital fixo – máquinas, equipamentos, infraestrutura e outras obras – e em formação de capital humano. O País tem feito muito menos que o necessário em todas essas frentes. Para fazer mais, precisará de mais poupança, interna e externa, de melhores padrões de gestão pública e de um retorno duradouro às práticas de planejamento.
Como as contas oficiais são muito rígidas e sobra pouco dinheiro para investimento, principalmente em nível federal, o governo da União precisará reativar as parcerias público-privadas. Isso dependerá de uma administração muito mais competente que a dos últimos anos. Dependerá, também, de maior confiança na gestão das contas públicas e na condução de projetos. Contas públicas mais confiáveis serão essenciais para a redução dos juros e, portanto, para a mobilização de capitais privados para projetos de desenvolvimento.
Nenhum cenário tão luminoso é perceptível, nos próximos anos, a partir das condições atuais. Com o desarranjo fiscal deixado pelo atual governo, o poder federal terá muita dificuldade para administrar suas contas, conter o endividamento e investir em áreas estratégicas como educação, saúde, ciência e tecnologia. Também será complicada a mobilização de capital privado para obras de infraestrutura, se o quadro geral permanecer incerto e os juros continuarem muito altos.
Algum ganho econômico e fiscal ocorrerá, muito provavelmente, se o novo governo, como é natural esperar, for melhor que o do presidente Bolsonaro. Mas seu espaço de manobra será com certeza limitado pela herança encontrada a partir de 1.º de janeiro. Pelas últimas estimativas do mercado, o primeiro ano será muito difícil e alguns obstáculos, como juros altos, estarão presentes pelo menos até 2025.
A inflação no próximo ano ainda ficará em 5,33%, segundo a mediana das projeções colhidas pelo Banco Central na pesquisa Focus. Nesse caso, o teto da meta, fixado em 5%, será superado pelo terceiro ano consecutivo. A taxa básica de juros, a Selic, estará em 11% no fim de 2023 e em 8% no encerramento de 2024, muito alta, muito custosa para o Tesouro e muito inconveniente para o consumo, a produção e o investimento em capacidade produtiva. Até lá se terá completado metade do mandato do novo presidente.
A mediana das estimativas do mercado aponta para o Produto Interno Bruto (PIB), segundo a pesquisa, expansão de apenas 0,40% em 2023, 1,70% em 2024 e 2% em 2025. Com esse crescimento muito vagaroso, inflação ainda alta e juros elevados, a modernização do sistema produtivo será difícil e a criação dos empregos necessários, muito improvável. Isso compõe boa parte da herança prevista, por enquanto, para o próximo presidente. Resta, de toda forma, a expectativa de encerramento, em 31 de dezembro, de quatro anos excepcionalmente ruins.
Folha de S. Paulo
Política envenenada
É preocupante cenário em que cidadãos deixam o debate de lado por medo de reação virulenta
Vai mal a política brasileira. Segundo o Datafolha, 49% dos eleitores no país deixaram de debatê-la com familiares e amigos para evitar que uma conversa tranquila se transforme em colérica discussão.
E não se diga que a atitude brota do vazio ou, o que dá no mesmo, do puro preconceito. Entre os entrevistados, 54% disseram já ter vivido nos últimos meses algum episódio de constrangimento, intimidação verbal ou ameaça física em razão de suas posições políticas.
Mesmo quem não enfrentou esse tipo de situação conhece motivos para temê-la. Não faz nem um mês que um militante petista foi assassinado por um bolsonarista, num crime precedido por gritos como “aqui é Bolsonaro” e “Lula ladrão”.
Trata-se de caso extremo, e felizmente o único a chegar tão longe na escala da tragédia. Mas houve outros que, se não tiveram a mesma violência, também contribuem para certo recato que passou a encobrir as convicções políticas.
Para não ir longe nos exemplos, lembre-se que, dias antes do homicídio de um petista, um ato com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Rio de Janeiro foi alvo de um artefato explosivo.
O clima radioativo em torno da política, contudo, não decorre apenas desses episódios. De maneira difusa, um radicalismo crescente acompanha discordâncias programáticas e preferências partidárias em toda parte, não só no Brasil.
Segundo especialistas que estudam crises de democracias, as redes sociais têm sua parcela de culpa no acirramento de ânimos.
Por meio de mecanismos diversos, mas sobretudo pelo estímulo às opiniões veementes, essas gigantes da tecnologia fomentam uma lógica de ressonância entre iguais e firme rejeição aos diferentes.
Transposto para a vida real, o ambiente das redes se traduz no oposto da política —em vez da discussão saudável sobre os rumos da cidade, do estado ou do país, tem-se a fúria facciosa dos que não aprenderam a conviver com a divergência.
A isso se soma a presença de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência. O político que já incentivou seguidores a, nas suas palavras, “fuzilar a petralhada”, é o maior divulgador da visão tacanha segundo a qual adversários políticos são inimigos.
Quando debater política deixa de ser normal e se torna um problema, a cidadania se retrai e o sectarismo se insinua no tecido social —um cenário que só interessa a quem não dispõe de bons argumentos para convencer a população.
Valor Econômico
Rápida retomada do mercado de trabalho não é sustentável
Melhora deve ter vida breve e pode ser revertida no próximo ano, quando se esgotarão os estímulos eleitorais de curto prazo
O mercado de trabalho vem mostrando rápidas melhorias nos últimos meses. O número de desocupados diminui, enquanto crescem as contratações. Baseados nesse desempenho mais positivo, alguns bancos até aumentaram a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Nos detalhes, porém, os resultados deixam a desejar. O número de informais é recorde, a renda real vem encolhendo e os trabalhadores com menor escolaridade estão ficando para trás. Além disso, a perspectiva é que a melhora terá vida breve e pode ser revertida no próximo ano, quando se esgotarão os estímulos de curto prazo que o governo implementou para atrair apoiadores nas próximas eleições.
De acordo com a Pnad Contínua, apurada pelo IBGE, a taxa de desemprego caiu para 9,3% no segundo trimestre, bem abaixo dos 11,1% do primeiro trimestre e dos 9,8% do trimestre móvel encerrado em maio. Há um ano, a taxa estava em 14,2%, e agora chega ao menor patamar para o período desde o segundo trimestre desde 2015, quando tinha ficado em 8,4% e o país entrava em recessão.
O segundo trimestre fechou com 10,1 milhões de desempregados, 15,6% ou 1,9 milhão de pessoas a menos do que no primeiro trimestre; e 32% a menos, ou 4,8 milhões de pessoas, do que no mesmo período de 2021. A população ocupada, incluindo empregados, empregadores e funcionários públicos, era de 98,3 milhões de pessoas, recorde para a série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Isso representa alta de 3,1% em relação ao primeiro trimestre, ou 3 milhões de pessoas ocupadas a mais, e 9,9%, ou 8,9 milhões de pessoas a mais do que no primeiro trimestre do ano passado.
As estatísticas do Ministério da Previdência e Emprego também são positivas. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou, em junho, a criação de 278 mil empregos com carteira assinada. Foi o terceiro mês consecutivo de crescimento, acumulando 1,3 milhão no semestre. A expansão é alavancada pelo setor de serviços, que está recuperando o espaço perdido durante o auge da pandemia, e foi responsável por praticamente metade das vagas de junho. Nem todas as atividades retomaram o patamar anterior à pandemia, porém, e há pontos frágeis nessa recuperação.
O número de trabalhadores informais é recorde – 39,3 milhões de pessoas -, desde que começou a série histórica desse dado, no quarto trimestre de 2015. A conta leva em consideração os trabalhadores sem carteira assinada, inclusive auxiliares domésticos e por conta própria sem CNPJ. A taxa de informalidade é de 40% da população ocupada. Dos cerca de 3 milhões que arrumaram emprego no segundo trimestre, 36,8%, ou aproximadamente 1 milhão, tiveram que se contentar em não ter a carteira assinada.
Há ainda um número não desprezível de pessoas que nem isso consegue: são aqueles sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, grupo que ainda não voltou ao nível de ocupação anterior à pandemia. Levantamento feito por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) a partir de microdados da Pnad Contínua constatou que o número de trabalhadores menos escolarizados era de 20,14 milhões no fim do primeiro trimestre, 5,2% a menos do que os 21,25 milhões do primeiro trimestre de 2020.
As demais faixas, com ensino fundamental completo, médio completo ou superior completo, recuperaram as perdas causadas pela pandemia. A defasagem é atribuída ao fato de que o setor de serviços, que tem espaço para os de menor qualificação, ainda não se recuperou completamente.
Mais um sinal de fragilidade do mercado é a renda média dos trabalhadores, que está 5,1% abaixo da de um ano atrás, indicando que os salários estão deprimidos diante da insegurança em relação à continuidade da recuperação da economia.
Parte das instituições financeiras receia uma piora do mercado de trabalho ao longo do segundo semestre, com as incertezas causadas pelas eleições, os efeitos defasados da alta de juros doméstica e externa. Mas outra parte prevê esse quadro mais negativo só para 2023, apostando que os negócios serão aquecidos pelos estímulos dados pelo pacote eleitoral do governo e medidas para baixar a inflação. O Bradesco, por exemplo, acaba de elevar a previsão para o PIB deste ano de 1,8% para 2,3%, cenário que inclui a queda da desocupação até 8% ao final do ano. O BNP Paribas prevê 2,5%. Mas há um consenso: para 2023 a melhor hipótese é de estabilidade do PIB.