Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais (20/07/2022)
MANCHETES DA CAPA
O Globo
Procuradores, juízes e policiais federais repudiam Bolsonaro
Temer pede ao comando do MDB adiamento da convenção
Petrobras reduz hoje o preço de gasolina em 4,9%
Zelensky cobra do Brasil fim da neutralidade
Conselho da Caixa destitui mais dois vice-presidentes
BID: Brasil é o melhor país da América Latina para parcerias público-privadas
Justiça interdita presídio para população LGBTQIAP+ após onda de suicídios
Acumulo de multas assusta motoristas
O Estado de S. Paulo
Sistema eleitoral do Brasil é modelo para o mundo, dizem EUA
Procuradores pressionam Aras a agir contra Bolsonaro
Petrobras baixa preço da gasolina em 4,9%; corte deve aliviar inflação
PF prende 15 em operação contra tráfico de cocaína em voos comerciais
Geração solar já ocupa a terceira posição como fonte de energia no Brasil
SP vai vacinar crianças de 3 a 4 anos com cormobidades
Putin visita Irã em busca de aliança contra isolamento
Folha de S. Paulo
Bolsonaro cometeu crimes em discurso
Eleições no Brasil são modelo, afirma Embaixada dos EUA
YouTube derruba live de 2021 e avalia evento no Alvorada
Petrobras reduz preço médio da gasolina em 4,9% nas refinarias
Com inflação, variedade em supermercado cai
Bolsonaro pede, e Damares recua de disputa no Senado no Distrito Federal
Deputados dos EUA pedem ações sobre Bruno e Dom
Policial mata homem negro em abordagem em Minas
Ex-paciente de cirurgião relatam deformações no RJ
Brasileiros planejam mudar nome após lei que dispensa judicialização
Valor Econômico
Renda fixa não premia opção pelo longo prazo
Petrobras reduz em 5% o preço da gasolina
Receita muda notificação de sócio por débito
Saneamento deve receber R$ 6,2 bi no CE
Calor recorde leva morte e caos à Europa
‘Apps’ de refeições trocam de fórmula
EDITORIAIS
O Globo
Mentiras de Bolsonaro são ato de campanha
Presidente prepara discurso para, em caso de fracasso, tornar um inferno a vida de seu sucessor
A apresentação de 50 minutos sobre o sistema eleitoral que o presidente Jair Bolsonaro fez diante de algumas dezenas de representantes de missões diplomáticas estrangeiras na última segunda-feira variou, como era previsto, entre a mentira e o delírio. Bolsonaro é um político em campanha, cuja pontuação nas pesquisas tem sido sofrível. Essa é a razão para mais essa pantomima a que submeteu o Brasil. Seu desempenho foi constrangedor a ponto de ninguém aplaudir no final — e de o próprio Bolsonaro ter de lembrar à plateia que tinha terminado.
Prova de fraude eleitoral, obviamente ele não apresentou, pois prova não há. As urnas eletrônicas e o sistema de apuração já foram submetidos a toda sorte de teste e estão entre os mais seguros e eficazes do mundo.
A necessidade de criar um discurso que garanta sobrevida a seu grupo político diante de uma derrota provável é uma explicação mais plausível para o teatro diplomático do que a tantas vezes anunciada tentativa de golpe de Estado. Não que o cenário pós-eleitoral se desenhe tranquilo, mas Bolsonaro se revela incapaz de alinhar as forças necessárias para ter sucesso numa tentativa de virada de mesa.
O Legislativo não embarcaria na aventura, até porque a eleição de deputados e senadores depende das mesmas urnas eletrônicas que elegem o presidente. São veementes as declarações em apoio ao sistema eleitoral do presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). E, apesar de silenciar diante das mentiras de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), comandou a votação em que as teses bolsonaristas sobre o voto impresso foram derrotadas.
O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), escolhidos como nêmesis por Bolsonaro, têm reagido com energia e propriedade a todas as tentativas de deslegitimar o sistema eleitoral. Basta lembrar a declaração do ministro Edson Fachin, presidente do TSE, depois do discurso aos diplomatas: “É hora de dizer basta à desinformação e hora também de dizer basta ao populismo autoritário”. O TSE também desmentiu uma a uma as mentiras de Bolsonaro.
Bolsonaro, ao contrário do que pretendia, não conseguiu nenhum tipo de apoio no exterior e enfrenta resistências fortes no setor produtivo. As Forças Armadas são a instituição em que o bolsonarismo deposita suas esperanças, diante da adesão aparente do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, às teses estapafúrdias sobre as urnas eletrônicas.
Mas há uma diferença entre a decisão política — absurda, é verdade — de apoiar o discurso mentiroso do presidente e uma quartelada. A perspectiva de que a cúpula militar se mobilize para evitar a votação ou para impedir a posse de outro presidente que não Bolsonaro hoje não passa de especulação sem lastro na realidade.
Bolsonaro é um político que trabalha na cizânia, depende dos inimigos para se justificar. Ele prepara tudo para, em caso de fracasso, tornar um inferno a vida de seu sucessor, com apoio da base aguerrida convencida de suas mentiras (era ela a audiência almejada do discurso, não os diplomatas). Tal comportamento promete gerar uma tensão institucional jamais vista. Mas a democracia brasileira tem condições plenas de resistir. As reações ao discurso de Bolsonaro demonstram que o Brasil é muito maior e muito melhor que ele.
O Estado de S. Paulo
Bolsonaro desonra o Brasil
Novo ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral é gravíssimo. MP, Judiciário, partidos e sociedade precisam mostrar que o Brasil, apesar de Bolsonaro, não é uma republiqueta
Não há palavras para qualificar a gravidade do que o presidente Jair Bolsonaro fez na segunda-feira passada, na reunião com embaixadores estrangeiros. Ele disse ao mundo que o Brasil não é uma democracia confiável. É um ato absolutamente inédito e insólito, que ofende as instituições nacionais, humilha o País perante a comunidade internacional e envergonha toda a população. O presidente da República – chefe de Estado e chefe de governo – pediu que as nações estrangeiras não acreditem no País e em suas instituições. Segundo Jair Bolsonaro, o sistema de votação brasileiro não é a referência internacional que, até agora, o mundo sempre reconheceu e admirou. Seria uma farsa que ele, sem nenhuma prova, munido apenas de desinformação, veio desvelar.
Com a reunião de segunda-feira, Jair Bolsonaro ratificou que não tem nenhum limite. Se chegar à conclusão de que avacalhar o País perante toda a comunidade internacional pode render-lhe algum benefício – eleitoral, golpista ou o que quer que seja –, ele o faz sem pestanejar. Não há razão pública, ou consideração sobre a imagem do País, capaz de detê-lo. Não há nem sequer resquício de vergonha pessoal. Se seus devaneios lhe ordenam que convoque embaixadores estrangeiros e lhes comunique que a eleição pela qual se elegeu foi uma fraude – e, por tabela, que a próxima também será –, Jair Bolsonaro cumpre sem pestanejar. Perante tal desfaçatez, é insuficiente afirmar que não há respeito ao cargo. Bolsonaro demonstra que, a despeito de bradar que o Brasil está “acima de tudo”, não tem o menor apreço pelo País.
Na reunião com embaixadores estrangeiros, Jair Bolsonaro traçou uma linha no chão. Não é possível ficar indiferente a tão explícito ato de desprezo pelo País. Não é possível alegar que são apenas maus modos, excessiva espontaneidade ou imponderável recusa a seguir protocolos. Há um presidente da República que ataca e desonra o próprio País. É assim que Jair Bolsonaro protege a soberania nacional? É assim que cria as condições para o desenvolvimento da economia nacional? É assim que defende os interesses nacionais perante a comunidade internacional?
Já na segunda-feira, a Justiça Eleitoral rebateu, uma a uma, todas as falsas alegações apresentadas por Jair Bolsonaro aos embaixadores. Segundo o serviço de notícias americano Bloomberg, os questionamentos do presidente Bolsonaro eram todos “velhas e refutadas teorias da conspiração”. “É muito grave acusação de fraude, de má-fé, a uma instituição mais uma vez sem apresentar prova alguma”, disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin.
De fato, na fala de Jair Bolsonaro não houve nada de novo. Nada do que disse aos embaixadores era apto a levantar alguma suspeita sobre o sistema eleitoral brasileiro. No entanto, a absoluta falta de fundamento e credibilidade não retira a gravidade das palavras de Jair Bolsonaro, que merecem cabal reprovação. Afinal, ao difundir mundo afora falsidades sobre as urnas eletrônicas, Jair Bolsonaro questiona a legitimidade de todo o regime democrático brasileiro, bem como de todos os eleitos, inclusive seus filhos.
Além de defender a segurança das urnas e a lisura do processo eleitoral, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), fez importante constatação: “Esses questionamentos (de Bolsonaro) são ruins para o Brasil sob todos os aspectos”. A atitude de Jair Bolsonaro contra as urnas – cada dia fica mais evidente que é uma campanha anti-Brasil – não gera nada de bom.
Inexplicavelmente, tendo em vista o seu cargo e, compreensivelmente, tendo em vista seu histórico público, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), preferiu o silêncio depois da reunião do dia 18. É com essa conivência que Jair Bolsonaro se sente seguro para continuar cometendo impunemente crimes de responsabilidade contra o exercício dos direitos políticos.
Mas, como falou Edson Fachin, “é hora de dar um basta à desinformação e ao populismo autoritário”. Ministério Público (MP), Judiciário, partidos políticos, parlamentares e sociedade civil podem e devem reagir. Ao contrário do que disse Bolsonaro, o Brasil não é uma republiqueta.
Folha de S. Paulo
Presidente golpista
Bolsonaro barganha com Congresso liberdade para atacar a democracia; isso tem de acabar
O presidente da República se empenha em destruir as eleições periódicas no Brasil. Como o êxito é improvável, a sua segunda linha de fogo é a de conturbar a vida cívica nacional, o que não dispensa a incitação de arruaças e sublevações.
É preciso que seja impedido pelas forças vivas da democracia.
Organizações de Estado que construíram reputação de profissionalismo ao longo das últimas décadas se atolam na lama da marcha autoritária. As Forças Armadas e o Itamaraty se metem em conspiratas contra as urnas eletrônicas.
Convidaram-se dezenas de embaixadores estrangeiros para um insólito ataque, recheado de mentiras repetidas, do chefe de Estado à cúpula do Judiciário do seu próprio país. Rebaixa-se a diplomacia brasileira às fossas da conivência golpista.
O presidente do Senado apôs à gravíssima investida algumas palavras de bom senso político. Acabou o momento de debater o sistema de votação. A emenda que estabelecia a impressão do escrutínio foi derrotada ainda na Câmara.
O presidente da Casa dos deputados calou-se, como tem se calado sobre os pedidos de impeachment acumulados em sua gaveta. Cúmplice de um chefe de governo que na opinião desta Folha há muito perdeu as condições de permanecer no cargo, acomoda-se ao casamento de interesses com o Planalto, que lhe transfere o controle das manivelas da execução do Orçamento.
Dinheiro em troca da tolerância ao bonapartismo —eis o pacto que sustenta o presidente da República no Congresso Nacional.
O governante não gasta energia com programas, não entra no jogo parlamentar para promover políticas públicas, não batalha por prioridades da gestão. Entrega os impostos cobrados dos brasileiros à rapinagem clientelista desde que o deixem livre para metralhar sustentáculos da Carta democrática.
É um jogo perigoso. Abona o chamamento a rebeliões fascistoides em caso de derrota eleitoral. Flerta com as baionetas a que o tirano gostaria de recorrer na primeira oportunidade. A representação sucumbe ante as rebeliões; o Parlamento morre sob as baionetas.
Da comunidade política, portanto, precisa partir a reação contra a escalada subversiva do presidente da República. Todos os líderes partidários devem uma manifestação urgente de apreço inequívoco pelas regras básicas da democracia.
A votação ocorrerá pela urna eletrônica, os resultados serão obedecidos, os eleitos tomarão posse nas datas previstas, e os derrotados insatisfeitos terão a via única do recurso judicial para manifestar suas queixas. A violência e o tumulto não serão admitidos.
Basta de negociar com promotores da ditadura.
Valor Econômico
Brasil terá que conviver com juros mais altos
A julgar pela rapidez em que são destruídas as instituições fiscais, os juros serão maiores e o crescimento, bem menor
A incerteza criada pelas medidas do governo para cortar impostos e ampliar os gastos durante as eleições deverá fazer o Brasil conviver com um nível de juros mais alto por muito tempo, prejudicando tanto o setor público quanto o setor privado.
Em relatório publicado na semana passada, a Instituição Fiscal Independente (IFI) calcula que, tudo somado, chega a R$ 166 bilhões o impacto das iniciativas para burlar os limites fiscais neste ano, desde a manobra para tirar do teto de gastos o pagamento de precatórios até o recente aumento de transferências de renda para a população e setores organizados.
A IFI liga os pontos e diz que, provavelmente, esse desarranjo fiscal “implicará taxas de juros de equilíbrio mais elevadas”, referindo se ao nível de juros que coloca a economia em pleno emprego, sem pressionar a inflação. O relatório nota que o Banco Central, recentemente, elevou a sua taxa neutra de 3,5% para 4% ao ano. “O deslocamento da taxa real de juros para um nível mais elevado configuraria uma mudança para um equilíbrio pior, com efeitos sobre as condições de financiamento dos setores público e privado”, registra a IFI.
De fato, o governo já está pagando, há algum tempo, uma taxa de juros mais alta para rolar a dívida pública. Em maio, o custo médio de novas emissões de títulos pelo Tesouro chegou a 11,69%, uma alta de 6,2 pontos percentuais em um período de 12 meses. Uma parte dessa alta nos custos é temporária, pois o Banco Central foi obrigado a colocar a meta da taxa Selic em um nível superior à taxa neutra para combater o forte surto inflacionário.
O fato de ser temporário, porém, não exime o próprio governo de culpa. A pandemia e a invasão da Ucrânia aumentaram preços de bens industriais e commodities, incluindo energia, metais e alimentos. Esse choque deveria ter sido pelo menos parcialmente amenizado por uma valorização cambial, já que o Brasil é exportador de produtos básicos. Mas o risco fiscal atua como um vetor de depreciação do real, ao lado do aperto monetário em economias desenvolvidas.
Os pacotes fiscais também estão provocando pressão sobre a demanda agregada, dificultando o trabalho desinflacionário do Banco Central. Além dos R$ 166 bilhões destacados pela IFI, o governo também injetou mais recursos na economia em medidas como a antecipação do pagamento do 13º salário a aposentados e pensionistas e liberação de recursos do FGTS, além da expansão do crédito direcionado.
No curto prazo, a política fiscal do governo obriga, portanto, o Banco Central a operar com uma taxa básica de juros mais alta. Assim, o setor privado paga mais caro nas suas captações e tem menos recursos disponíveis nos mercados de capitais, inviabilizando projetos de investimento.
O que preocupa, porém, são as consequências mais duradouras da política fiscal na taxa de juros de equilíbrio. Desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999, ela vinha caindo, partindo de um patamar de dois dígitos, em termos reais. Antes da pandemia, caminhava para abaixo de 3%.
Em boa medida, o Brasil tomou carona numa tendência global de queda nos juros de equilíbrio, dentro das forças da chamada estagnação secular. Fatores como o envelhecimento da população, queda da produtividade e menor demanda por capital na economia de alta tecnologia mudaram o equilíbrio entre poupança e empréstimos.
Mas houve méritos de nossa política econômica, com reformas que reduziram os prêmios de risco, como a trabalhista e previdenciária. Ultimamente, porém, houve retrocessos. Os analistas econômicos do setor privado culparam a política fiscal pela alta recente da taxa neutra, numa pesquisa feita pelo Banco Central.
Quanto mais alta a taxa neutra, maior o esforço fiscal que o governo é obrigado a fazer, durante anos, para estabilizar a dívida pública. O modelo econômico usado pela IFI mostra que, hoje, seria necessário um superávit primário de 1,4% do PIB para estabilizar a dívida bruta nos 79,6% do PIB previstos para o fim deste ano.
Mas as estimativas da IFI parecem conservadoras. Elas consideram um juro real de longo prazo de 3,88% ao ano, e que a economia entre numa trajetória de crescimento sustentado de 2% no longo prazo. A julgar pela rapidez em que são destruídas as instituições fiscais, os juros devem ser maiores, e o crescimento da economia, bem menor.