Até agora, seis mulheres acusam com detalhes o presidente da Caixa de assédio sexual, de ser um tarado agressivo, pelo menos. Amigão de Jair Bolsonaro, Pedro Guimarães era chamado de “Pedro Maluco” até por assessores do Planalto.
Era um eufemismo.
Um secretário da Cultura bolsonariano fantasiou-se de nazista, de Goebbels, em vídeo promocional. Um tipo que ora ocupa a mesma cadeira diz que seu modelo de família é o da máfia e publica fotos segurando uma pistola.
Milton Ribeiro, pastor e dito teólogo um dia aboletado no ministério da Educação, deixou que distribuíssem Bíblias com uma foto da fuça dele. Em termos de vulgaridade bolsonarista é café pequeno, vaidade blasfema, negócio comezinho em um governo que usa santos nomes em vão e em pecados ainda piores. Mas o tipo é pastor e fez mais.
Disse uma vez que crianças tinha de ser educadas com “severidade”, até que sentissem dor, insultou homossexuais e afirmava que crianças com deficiência tinham de ser apartadas na escola. Sim, fez parte da linhagem de gente inacreditável que arruinou o MEC. Quem liga?
Quando achava que ninguém estava ouvindo, dizia que acobertava pastores traficantes de influência por indicação de Bolsonaro, uma gente acusada de cobrar propina a fim de liberar verbas para prefeituras. Fora do governo, insinuou que era acobertado por Bolsonaro, que o alertou de uma operação da Polícia Federal.
O pior do Congresso, o centrão do centrão, tomou conta da Codevasf e do FNDE, por exemplo, de onde pipocam escândalos de superfaturamento e propina. O general-chefe da Abin, defensor da tortura, da ditadura passada e do golpe futuro, um dia chamara o centrão de ladrão.
Como muito bem se sabe, em 2018 o general original do samba Augusto Heleno cantou em um karaokê político do MBL uma paródia de “e se gritar ‘pega ladrão’, não sobra um, meu irmão”. Os líderes do poderoso centrão são os regentes do governo Bolsonaro, contratados a fim de evitar risco de impeachment.
Augusto Heleno não precisa mais gritar: o centrão mora na sala ao lado. No andar de baixo do Planalto, há rezas e louvores. “O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as arrebata e dispersa, porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas” —Evangelho de João.
Por falar em oficiais do bolsonarismo, generais e coronéis especialistas em logística da turma do general Pesadello, flanavam no ministério da Saúde durante o caos sanitário promovido por Bolsonaro, no maior morticínio da história do Brasil. Confraternizavam na mesa de restaurante com desclassificados que ofereciam negócios com vacina, vacina que de resto Bolsonaro sempre atacou e avacalhou.
O presidente da Fundação Palmares, dedicada à memória da cultura negra, chamou o movimento negro de “escória maldita”. “Escória do mundo” era como Bolsonaro chamava imigrantes senegaleses, haitianos, iranianos, bolivianos e sírios, em 2015. Bolsonaro também já lamentou que o genocídio indígena no Brasil tenha sido incompleto.
Ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles é objeto de um inquérito por suspeita de atrapalhar a investigação policial do tráfico de madeira e mais. Um tipo que comandou o Itamaraty, ministro das Relações Exteriores, congratulava-se por o Brasil ser um pária internacional, inspirado pelas ideias de um falecido influencer filosófico de internet, também mentor intelectual de boa parte da cúpula militar, ao menos da declaradamente bolsonarista, que não é de menos. Reclamavam da boca rica dos “políticos” porque, como se viu, não sobrava para eles.
Delegados à frente de inquéritos sobre os Bolsonaro e turma caem. O procurador-geral da República sempre fica: não se move. Etc.
E daí? Nada.
Era só para lembrar apenas parte ínfima do que é o bolsonarismo em ação: cafajestadas, boca-suja, “trozoba na hemorroida”, cafonices de ressentidos e fracassados, vulgaridades, insultos contra a diversidade humana, baixo nível intelectual, profissional e acadêmico, destruição institucional, golpismo e projeto de tirania. É um padrão. (Folha de S. Paulo – 30/06/2022)