O noticiário desta semana anunciou pelo menos três derretimentos no mundo
O mais óbvio, e mais preocupante no longo prazo, porque o mais ameaçador para toda humanidade, é a confirmação do derretimento das geleiras nas montanhas dos Andes. Este fato mostra a olho nu a tragédia do desequilíbrio ecológico, provocando mudanças climáticas que levam ao aquecimento da temperatura e à elevação no nível dos oceanos, com todas suas consequências.
Faz 60 anos que a humanidade dispõe de informações prevendo esta catástrofe, desde quando o grupo de estudos Clube de Roma publicou seu famoso primeiro informe, no início dos anos 1970. Lamentavelmente, todos sabem que a tragédia está acontecendo e em breve se transformará em catástrofe, mas pouco se faz de concreto para evitá-la. Como se no lugar de cidadãos do mundo, fossemos atores de uma peça teatral escrita por um dramaturgo.
O segundo é o derretimento do pouco que havia de qualidade na educação de base do Brasil. Imputa-se ao governo Bolsonaro e ao vírus covid-19 o fato de que nossos alunos sofrem de penúria de conhecimento em assuntos básicos, como entender o próprio idioma e fazer as quatro operações de matemática. Mas esta tragédia, de consequências trágicas para o futuro, já vinham sendo previstas e informadas por muitos especialistas e militantes de causa educacional.
Há décadas esta realidade é denunciada e propostas são feitas para resolver o problema, mas todos os governos nacionais se orgulham de aumentar o número de alunos no ensino superior e não cuidam de aumentar o número dos que terminam a educação de base, com qualidade para ser alfabetizado para o mundo contemporâneo.
Pelos discursos dos atuais candidatos à presidência, tudo indica que o derretimento da educação de base vai continuar.
Na mesma semana, o noticiário fala também do derretimento da chamada terceira via, que há meses tem sido previsto por quem analisa a política sem negacionismo e consegue ver a realidade da polarização. Este derretimento, com a continuação de suas candidaturas,não terá as consequências estruturais dos outros dois citados anteriormente, mas pode ter como consequência a reeleição do atual presidente, mantendo o Brasil no abismo em que nos encontramos. A insistência da chamada terceira via na mensagem de nem um nem outro, elimina a chance de uma possível derrota do atual presidente no primeiro turno, correndo-se o risco de quatro semanas de forte instabilidade como o Bolsonaro deseja para forçar um golpe. Também não será por falta de previsão e de aviso. (Blog do Noblat/Metrópoles – 21/05/2022)
Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador