MANCHETES DA CAPA
O Globo
Inflação causa surpresa ao BC, e mercado já prevê juro maior
Bancada evangélica pressiona contra CPI do MEC
Destruição do garimpo é recorde em área ianomâni
OMS prevê conta de luz sem taxa extra até o fim do ano
Anatel obrigará operadoras a bloquear ligações de robôs
Obituário/Eduardo Guardia – Ex-ministro da Fazenda e sócio do BTG Pactual, aos 56 anos
Entrevista/César Fernandes – ‘Conselho de Medicina teve posição dúbia’
Mãe e filho vivem horror em sequestro na Barra
Macron tem o desafio de cooptar esquerda no 2º turno
Ucrânia à espera de nova ofensiva
Agência decreta ‘calote seletivo’ da Rússia
O Estado de S. Paulo
Sem aval do Mercosul, Brasil quer cortar taxa de importação
Piauí ganha 52 ‘escolas fake’ e tem 99 com obras abandonadas
Inflação ‘surpreende’ BC e mercado prevê nova alta de juros
Processos na Justiça podem custar R$ 1 trilhão, admite governo
‘Agressão não me desmotiva’, diz bandeirinha atacada
Economista Eduardo Guardia morre aos 56 anos
Cidade de SP tem caso de sarampo; Estado investiga 25 relatos
Prefeitura descarta desfiles de rua em abril, mas blocos querem fazer festa
Tela de Adriana Varejão é vendida por R$ 6 milhões
Furto de cabos provoca ‘apagão’ de semáforos
Frente contra Le Pen no 2º turno inclui da esquerda à direita moderada
Folha de S. Paulo
Campeã de licitações manteve encontros sem ata com governo
BC avalia acelerar alta de juros ante inflação indomadas
Morre aos 56 anos Eduardo Guardia, ministro da Fazenda de Temer
CGU diz que gestão Doria superfaturou aventais na crise
Capitólio volta a receber turistas
Rússia se prepara para batalha que pode pôr fim à Guerra na Ucrânia
Primeiro turno revela mudanças na França
Valor Econômico
Em ano eleitoral, Estados aceleram investimentos
PEC pretende esvaziar poder das agências
Ambev muda foco e aposta no varejo digital
Desglobalização deve frear o PIB mundial
Aumentam na Justiça ações por ‘gordofobia’
Guerra muda geopolítica da energia
Venda de vacinas é revista para baixo
EDITORIAIS
O Globo
Desmandos no MEC precisam ser investigados
A cada nova revelação fica mais claro que, aparelhado pelo bolsonarismo, o MEC virou um balcão de negócios voltado para atender às demandas políticas do Centrão
O Ministério da Educação se transformou numa fonte aparentemente inesgotável de transtorno e denúncias contra o governo. Começou com a revelação de que pastores estranhos aos quadros do MEC eram presença assídua na pasta, onde decidiam sobre as verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em negociações escusas que, segundo prefeitos, envolviam pedidos de propina em troca da liberação de recursos.
A cada nova revelação fica mais claro que, aparelhado pelo bolsonarismo, o MEC virou um balcão de negócios voltado para atender às demandas políticas do Centrão, e não às necessidades prementes da claudicante educação brasileira. O último dos muitos desmandos é a promessa de construir 2 mil escolas em cidades do interior para as quais não há recursos disponíveis, enquanto existem 3.500 obras paralisadas por falta de verbas, como revelou reportagem do Estado de S. Paulo. Considerando o orçamento atual, a construção das unidades levaria cinco décadas. O projeto, em pleno ano eleitoral, foi apelidado de “escolas fake”.
Os descalabros no FNDE são a consequência esperada da entrega do fundo ao Centrão. A gestão está a cargo do presidente Marcelo Ponte, apadrinhado do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. O diretor de Ações Educacionais, Garigham Amarante, foi indicado por Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Resultado: faz-se política partidária onde deveria haver política educacional, fundamental para recuperar o atraso depois de dois anos de escolas fechadas durante a pandemia.
Como revelou O GLOBO, o FNDE, sob comando do Centrão, destinou R$ 4,1 milhões à compra de caminhões para transporte de merenda escolar. Do total, R$ 3,1 milhões (75%) beneficiaram 14 cidades governadas por prefeitos do PP, partido de Ciro Nogueira. Nove ficam no Piauí, seu reduto político. Os recursos foram repassados pelo orçamento secreto, via o famigerado mecanismo das emendas do relator.
Também rondam o FNDE denúncias de corrupção. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União mandou suspender a licitação para compra de 3.850 ônibus escolares por preços 55% acima do mercado. Bolsonaro, que vive propagandeando um governo imune à corrupção, alegou que o problema foi descoberto pelos próprios organismos de fiscalização. Não é bem assim. Embora a área técnica do FNDE e a Controladoria-Geral da União tenham levantado a suspeita de sobrepreço, Ponte e Garigham ignoraram as ressalvas e autorizaram a licitação.
Os escândalos no MEC ensejaram um movimento para instalar uma CPI no senado. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chegou a reunir 27 assinaturas, mas a força-tarefa do governo convenceu três senadores a retirar apoio. É pouco provável que prospere uma CPI em ano eleitoral, com o governo blindado pelo Centrão. Independentemente disso, as instituições de controle têm obrigação de se debruçar sobre a pilhagem em curso no MEC, em especial no FNDE, cujo orçamento soma R$ 46 bilhões, dos quais R$ 5 bilhões em verbas discricionárias e emendas parlamentares. Ainda que não houvesse roubalheira, seria um escândalo distribuir recursos sem critérios objetivos, com base no toma lá dá cá. Manipular ou desviar verbas da educação quando há escolas que não têm sequer água potável é um crime.
O Estado de S. Paulo
Governo fake, corrupção real
O governo Bolsonaro empenha-se na produção de casos de mau uso de dinheiro público, como na Educação, e demonstra notável eficiência para proteger o presidente
O Ministério da Educação (MEC) autorizou a construção de 2 mil escolas sem que houvesse a respectiva dotação no Orçamento, em afronta escancarada às leis orçamentárias e de responsabilidade fiscal. Na feliz expressão da reportagem do Estadão que revelou mais esse escândalo do governo que se jacta de ter acabado com a corrupção, trata-se de “escolas fake”, destinadas somente a enfeitar os discursos de campanha dos bolsonaristas.
As “escolas fake” são a mais perfeita tradução de um governo igualmente “fake”. Quase nada do que foi prometido na campanha que elegeu Jair Bolsonaro para a Presidência em 2018 saiu do papel, das reformas às privatizações. Mas, agora está claro, não é só incompetência; é vocação: o governo de Bolsonaro está estruturado para atender aos interesses do Centrão, que, em troca, mantém o presidente no poder, a despeito das inúmeras razões para seu impeachment. E agora, em ano eleitoral, essa mesma máquina funciona freneticamente para conquistar votos, para o presidente e para os parasitas que se associaram a ele na tarefa de se apropriar do Estado para a satisfação de seus objetivos privados.
Se o governo é “fake”, a corrupção, no entanto, é bem real. A manipulação obscura do Orçamento talvez seja o caso mais grave, já que esconde dos cidadãos os critérios de distribuição de recursos públicos. Mas está longe de ser o único.
Durante a pandemia de covid-19, por exemplo, o País, já indignado com a incompetência do governo para lidar com a crise, soube, estupefato, que integrantes do Ministério da Saúde tentaram negociar a compra de vacinas fora do horário de expediente e num shopping de Brasília. Agora, é o Ministério da Educação que se tornou uma usina de escândalos, que se juntam ao aparelhamento ideológico promovido pelo bolsonarismo. Ao longo de toda a pandemia, o governo federal cruzou os braços para a situação do ensino e dos estudantes, mas se mostrou muito eficiente na produção de casos de mau uso do dinheiro público.
Antes das “escolas fake”, o Estadão havia revelado que, mesmo depois de advertido por órgãos de controle, o MEC, num processo de compra de ônibus escolares, seguia oferecendo até R$ 480 mil por unidade que valia, no máximo, R$ 270 mil. O edital foi ajustado só depois que o caso veio à tona. Houve também o caso, revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, da compra de kits de robótica com sobrepreço para escolas sem água encanada. Não tinha infraestrutura mínima, não tinha prioridade no ensino, mas tinha superfaturamento.
Até o momento, o Palácio do Planalto dá sinais de que não está preocupado em sanear os processos do MEC ou de qualquer outro órgão do governo. Empenha-se apenas em impedir – todos os seus movimentos se orientam neste sentido – que as investigações sobre os escândalos avancem.
Bastou a movimentação de alguns senadores para viabilizar a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os casos escabrosos do MEC – medida de elementar prudência perante tantos casos de mau uso dos recursos públicos – para que o governo rápida e eficientemente agisse para demover alguns parlamentares. Ou seja, o governo que passou todo o mandato de Bolsonaro demonstrando cavalar incompetência na articulação com o Congresso para aprovar reformas exibe agora inaudita eficiência para impedir que uma nova CPI fustigue o governo, algo delicado especialmente em ano eleitoral.
A repentina diligência do Palácio do Planalto gerou resultado imediato. Na sexta-feira passada, os senadores Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Styvenson Valentim (Podemos-AC) e Weverton Rocha (PDT-MA) retiraram seu apoio para abertura da CPI da Educação. Uma vez que os indícios de corrupção no MEC só aumentam, não se sabe se o governo conseguirá de fato barrar a investigação do Congresso. De toda forma, uma coisa é inegável: quando o objetivo é proteger o presidente, escamoteando a incompetência administrativa, a obscura manipulação do Orçamento e os negócios esquisitos conduzidos pelos operadores do governo, a gestão Bolsonaro adquire uma espantosa vitalidade.
Folha de S. Paulo
Segunda rodada
Pleito francês volta a opor Macron à ultradireidista de imagem suavizada Le Pen
Realizado no domingo (10), o primeiro turno da eleição presidencial francesa repetiu em linhas gerais o cenário do pleito anterior, de 2017. Assim como há cinco anos, os dois primeiros colocados foram Emmanuel Macron e Marine Le Pen.
Enquanto o presidente centrista alcançou 28% dos votos, ante 24% em 2017, a candidata de ultradireita amealhou 23% dos sufrágios, pouco mais do que os 21% conquistados na outra disputa.
Verificou-se novamente o desencanto dos eleitores com os partidos tradicionais de centro-direita e de centro-esquerda, consolidando o ocaso das forças que dominaram a política francesa a partir do pós-guerra. Os Republicanos, herdeiros do gaullismo, conquistaram cerca de 5% dos votos. Já o Partido Socialista obteve menos de 2%.
Após um início de mandato envolto em grandes expectativas, Macron enfrentou no governo uma série de percalços, crises e protestos massivos, como o dos “coletes amarelos”. Logrou, contudo, conservar um núcleo estável de apoiadores e busca agora ser o primeiro presidente francês reeleito desde Jacques Chirac, há 20 anos.
Para isso, promete tanto reajustar o salário mínimo como manter a impopular, mas necessária, elevação da idade de aposentadoria.
Já Le Pen, que disputa a Presidência pela terceira vez, empreendeu nos últimos anos uma bem-sucedida estratégia para se tornar mais palatável ao eleitor médio, deixando o discurso ideológico em segundo plano. Abandonou, nesse movimento, propostas como a saída da França da União Europeia e a criminalização do aborto.
No pleito, esse movimento tático foi beneficiado pela candidatura do esquerdista Éric Zemmour, cujo discurso francamente radical fez com que Le Pen soasse mais moderada na comparação. Pragmática, ela centrou sua campanha nas classes populares e nos impactos da recente alta da inflação.
Sua plataforma, contudo, preserva propostas abertamente discriminatórias contra imigrantes, como a realização de um plebiscito para redefinir a nacionalidade francesa, de modo a assegurar a prioridade dos “verdadeiros cidadãos” no acesso a habitação e emprego.
Outras promessas de cunho xenófobo versam sobre a “erradicação de ideologias islamitas” do país e multas para mulheres que usem véu em espaços públicos.
Se há cinco anos Macron triunfou sobre Le Pen pelo dilatado placar de 66% a 34% no segundo turno, hoje analistas colocam em dúvida a repetição dessa frente ampla a seu favor. Não resta dúvida de que ele segue favorito para se manter na Presidência, mas o risco de Le Pen — e a direita radical— chegar ao Palácio do Eliseu nunca foi tão grande como agora.
Valor Econômico
Extrema direita avança na França e ameaça Macron
Macron percebeu que terá de se engajar em sua própria campanha para evitar um desastre francês e europeu
Emmanuel Macron derrotou os partidos tradicionais franceses, como o Socialistas e Republicanos, com um movimento centrista construído do zero, em 2017. Cinco anos depois, os resultados do primeiro turno divulgados na noite de domingo mostram que a extrema direita e a extrema esquerda avançaram, colocando em dúvida uma vitória que parecia certa e ameaçando o precário equilíbrio da União Europeia. Marine Le Pen, do ultradireitista Reunião Nacional, passou para o segundo turno, como era esperado, mas as pesquisas imediatamente registraram que a disputa será bem mais apertada, longe dos 66% a 34% de Macron diante da rival na eleição anterior.
O presidente obteve 27,8% dos votos, ante 23,1% de Le Pen e 22% de Jean-Luc Mélenchon, do esquerdista França Insubmissa, que mal completou seu sexto ano de vida. Na nova paisagem política, em que os partidos tradicionais tiveram votação pífia, em especial o Partido Socialista, com Anne Hidalgo (1,8%), surgiram mais forças de direita radical, como a Reconquista, de Éric Zemmur, que em determinado momento ameaçou Le Pen e atingiu dois dígitos nas pesquisas (7,1% dos votos nas urnas). Com Valérie Pétresse, a direita gaulista dos Republicanos teve alguma esperança, logo desvanecida (4,8% dos votos).
Confiante, Macron mal se dedicou à campanha eleitoral, pelo menos não tanto quanto fez com relação às infrutíferas negociações para mediar o conflito da Rússia contra a Ucrânia. O assunto foi logo substituído por outro entre as inquietudes dos franceses, que prestaram atenção na nova roupagem de Le Pen, mais preocupada com preço dos combustíveis, desemprego, e carestia, o que lhe rendeu o apoio das áreas rurais atrasadas e do que restou da classe operária em cidades industriais decadentes. Macron foi melhor no norte do país, entre as pessoas empregadas, com maior renda e escolaridade.
A margem de vitória do presidente sobre sua rival foi maior do que em 2017, mas a onda direitista se fortaleceu e há muita incerteza sobre qual será a posição dos eleitores de Mélenchon no segundo turno. Uma dos traços da política francesa é que tanto a extrema direita quanto a esquerda são nacionalistas e têm algumas bandeiras comuns. Mélenchon é contra a Otan e vê com bons olhos a autocracia de Vladimir Putin, como Le Pen. Ambos são eurocéticos e apoiam políticas protecionistas. Macron é reformista, flexibilizou as regras trabalhistas, diminuiu impostos para empresas e os ricos e está empenhado em elevar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos.
Macron paira sobre as questões nacionais, o que lhe rendeu a imagem de “imperial” e de pouco conectado com os problemas cotidianos dos franceses, enquanto Le Pen se esforçou todo o tempo para parecer o contrário disso. Mélenchon disse que nenhum voto deveria ir para ela, mas em nenhum momento até agora insinuou apoiar Macron.
Pesquisas indicam que um quarto dos eleitores do França Insubmissa não irá votar no segundo turno e há uma fração deles que escolherá a candidata direitista. Atitude diferente tiveram partidos de esquerda sem votação expressiva. Os verdes e comunistas prometeram votar em Macron, assim como a direita republicana, mas é Mélenchon que pode mover o fiel da balança.
A extrema direita francesa nunca figurou tão bem em eleições no pós-guerra (Gideon Rachman, FT, ontem) e um sucesso na França colocaria em xeque os pilares da União Europeia em um momento político em que ela é particularmente vulnerável. Angela Merkel, a líder alemã que comandou o bloco por mais de uma década, saiu de cena. O novo chanceler alemão, Olaf Scholz, titubeia em relação a Putin pela dependência dos alemães da energia russa. Macron procura assumir a liderança política europeia, mas o avanço da direita é uma sombra ameaçadora a suas pretensões – uma derrota destruiria sua carreira política.
Le Pen mudou a direção dos discursos, mas o manual populista está intacto em seu programa, intacto. Ela se diz representante do povo contra as elites, defensora da nação contra o globalismo e do nacionalismo xenófobo. Propõe, por exemplo, que as leis francesas tenham primazia sobre as da UE. Seu discurso pareceu menos agressivo, até porque outros direitistas fizeram o papel de agitar o espantalho da imigração, como Zemmur, que prometeu repatriar 1 milhão de pessoas em cinco anos.
Macron percebeu que terá de se engajar em sua própria campanha para evitar um desastre francês e europeu. Segue sendo o favorito, mas doze dias de campanha é tempo suficiente para o azar.